Bestas, deuses ou analfabetos?

Wilson Correia

“O homem que vive isolado, que é incapaz de partilhar os benefícios da associação política ou não precisa partilhar porque já é autossuficiente, não faz parte da pólis, deve, portanto, ser ou uma besta ou um deus” (Aristóteles).

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais” (Bertolt Brecht).

Não sou besta. Não sou deus. Nem quero ser analfabeto político. Por isso, não me omito. Para mim, a omissão é só outra forma de mentir. E como, aliado a isso, entendo que o pior cego é aquele que impede o outro de enxergar, na condição de educador eu não estou interessado em abrir olhos somente, mas, sim, em fundar horizontes.

E o horizonte que vislumbro hoje é o da possibilidade da emergência de uma prática política que eleve nosso entendimento sobre a arte de governar o bem comum, a coisa pública. Isso, sei, pode parecer apenas frase de efeito. Porém, a dramaticidade da condição brasileira atual nos impele aos embalos do desejo, do sonho e da utopia.

Vivemos um momento histórico em que a economia, habitante do reino da necessidade, logrou êxito ao empreender a tarefa de subjugar a política, situada no reino da liberdade. Se a economia se sujeita à determinação, à política é reservada a potencialidade da escolha. Logo, são nossas autonomia e autodeterminação que estão em jogo e precisam gravemente ser avaliadas, recolocadas.

A necessidade econômica e suas determinações tolhem nossa ação de escolha política livre exatamente por fazer com que sejamos impedidos de verbalizar, com sinceridade, as razões e os motivos pelos quais damos à nossa cidadania um determinado rumo, e não outro.

E aí, em meio a esse processo, aquela vontade de não ser besta, deus ou analfabeto político encontra vários e robustos obstáculos. Empecilhos, aliás, que ferem de morte o senso democrático, esse que pede a autonomia soberana de todo cidadão na hora de decidir que postura política adotar e que caminho trilhar no embate pela conquista, exercício e manutenção do poder.

É aí, então, que vejo como significativo o papel da educação, via para a aquisição de conhecimentos necessários à potencialização da liberdade, ainda que relativa, qualificadora de toda existência humana, política e cidadã.

Quando um país não valoriza a educação, ele desmerece o papel que o conhecimento desempenha na busca de emancipação humana. Alcançando esse objetivo, uma nação cria bestas e fortalece pequenos deuses –pior para nós quando um e outro se tornam analfabetos políticos, esses que aniquilam a liberdade em nome de nossas necessidades materiais.