Quando vale a pena ser professor

Escrevi há um bom tempo, aqui no Recanto, um texto com o título "Onde o professor tem valor", que mencionava um suposto respeito do imperador japonês, que não se curva diante do professor por este ser de nobre profissão, etc., etc. Explico naquele mesmo texto que as coisas por lá não são bem assim.

Porém, descobri, aqui pertinho, onde realmente o professor tem valor. Vejam:

Fui chamado para apagar, em menos de um mês, um incêndio que a educação formal tem deixado queimar por, pelo menos, onze anos, tempo regular que um aluno leva até chegar ao curso superior. O incêndio que falo é o fraco, e às vezes, nenhum, desempenho do aluno nas redações. Os focos deste incêndio, no meu caso, são três cidades do interior do Amazonas: Manaquiri, Tefé e Santa Isabel do Rio Negro.

Mas, engana-se quem pensa que esse desempenho rarefeito na escrita é sintoma exclusivo de comunidades ribeirinhas ou de grupos isolados pelo país. É problema nacional dramático do Oiapoque ao Chuí, sejam em megacentros ou em vilarejos. Cito essas três cidades por serem sedes de Polos da Universidade Aberta do Brasil, ligados à Universidade Federal do Amazonas, onde são oferecidos os cursos de Licenciatura em Ciências Agrárias e Artes Visuais, ambos na modalidade a distância.

Pois bem: deparei-me mais uma vez com a realidade regional de distâncias, rios, tecnologia limitada e isolamento de comunidades por causa da vazante.

Vi alunas tendo que dormir em colchonetes no chão na sede do Polo, por não poderem ir e vir todos os dias para as aulas presenciais, pois moravam em comunidades distantes.

Também ouvi histórias de como alunos precisam percorrer quilômetros de rodovia maltratada até chegarem ao polo.

Sofri a falta de energia e de sinal de internet. E até agora, quase três semanas depois dessas viagens, ainda tenho as marcas dos mosquitos nos braços.

Mesmo com esses entraves, considero um trabalho bom. Vi a disposição dos alunos, recebi um sem-número de agradecimentos, e outro sem-número de pedidos para voltar e continuar as aulas. Senti-me até uma celebridade, com tanta gente querendo tirar foto comigo, rsrsrs.

E esses agradecimentos e convites é que deveriam mover o professor, pois são reflexos, respostas a um trabalho de dedicação. Mostram que o trabalho, mesmo ainda incompleto, não foi em vão. Um professor que não recebe agradecimentos nem convites para voltar precisa urgentemente rever seus conceitos, valores e prática.

Não estou falando do professor bonzão que "passa" todo mundo, que vai para o barzinho depois da aula com os alunos, o "prof" divertido. Nunca fui a um barzinho com aluno nenhum e, na maioria das vezes preciso dizer que os textos não estão bons, como, infelizmente, é de se esperar.

Estou falando de um professor que trabalhe para despertar no aluno o estímulo para aprender e a capacidade de acrescentar algo produtivo na vida dele. Essa foi minha experiência no mês de outubro, mês do meu aniversário. E não há salário que pague isso: um professor ser alvo de tantos agradecimentos.