O professor e sua função nos dias atuais

O conhecimento já esteve preso às quatro paredes. O único capaz de fazê-lo chegar à mente do aluno era um ser especial chamado professor. Como poucos podiam pagar por este profissional, ele era restrito às elites. Aprender era coisa pra gente rica e lugar de pobre era nas ruas, roças ou cozinhas. Dificilmente algum pobre conseguiria chegar dentro daquelas paredes. A função desse mestre era mesmo de poço de conhecimento – ele era o responsável de colocar o conhecimento na mente do aluno. Com o passar do tempo, pobres conseguiram ingressar nas quatro paredes do saber. Como tornar o conhecimento algo caro, restrito aos que poderiam pagar, de novo? É aí que surge a internet. Uma fonte inesgotável de conhecimento disponível fora da sala de aula, mas cara. Os pobres foram empurrados para as quatro paredes; os ricos descobriram que o conhecimento está no mundo –fora das salas – de forma virtual. O professor muda a sua função: não é mais detentor da sabedoria, mas um mero aplicador e fiscalizador de tarefas.

A verdade sobre a função do professor pode ser definida por duas linhas bem opostas: a função do mestre na escola tradicional e a função do mestre nos dias atuais. Na escola tradicional, o docente era detentor de todo o saber – era inquestionável e o discente tinha por obrigação beber dessa fonte. O desejo de qualquer pessoa que pudesse pagar pelo saber era restringir esse saber – a sala de aula e poucas mentes docentes eram os guardiões. O problema é que os pobres começaram a chegar à escola. O professor tradicional e sua função de somente ensinar já não era mais tão útil e seguro para guardar algo tão importante para a elite. A postura foi mudar o lugar onde seria guardado o saber e mudar radicalmente a função do mestre em sala. Surgiu a internet.

Nos dias atuais, filhos de pobres estão a toda na escola pública, e com a ajuda dos pais e muitos gestores públicos, cobrando de professores que ensinem. Uma armadilha. Com a internet, um professor é uma gota d’água no meio do oceano do conhecimento. É tão pequeno. Os meninos carentes estão lá, nas quatro paredes esperando que aquele professor da escola tradicional venha e preencha as suas cabeças com o máximo de saber. Mal sabem que o conhecimento foi liberto – está fora das salas de aula, mas custa muito caro. Há uma confusão na mente dos mestres. Eles sabem que tais pedagogias já se ultrapassaram – sua função é outra - e que ele deve ser apenas o agente aplicador e fiscalizador de tarefas feitas pelos alunos. A palavra da vez é - pesquise na rede! Como sempre, as escolas particulares já deram esses passos, mas os filhos de pobres continuam enganados. Para piorar ricos ainda pagam Pedagogos para criarem pedagogias mirabolantes – adivinhem quem são as cobaias nesses projetos?

Tendo em vista os aspectos observados, é perceptível que a função do professor muda conforme um pequeno grupo detentor do poder quer que ela mude. Escolas, teorias pedagógicas, agentes, todos são usados nessa empreitada. Ao longo de toda história duas tendências se opõem – a tradicional e as contemporâneas. Aquela, com o professor na sua função de dono do saber; esta, do mestre apenas como mediador, aplicador e fiscalizador das tarefas dos alunos. A verdade é que sempre houve alguém manipulando o saber. Protegem seus filhos e usam os filhos de pessoas mais carentes para seus projetos pessoais – se der certo bem, se não der também. Nota-se que a função do mestre descrita na segunda tendência é a melhor. Torna o aluno agente do seu próprio conhecimento. Mas há a necessidade de se padronizar tal tendência nas escolas públicas assim como já é praxe nas particulares. Esse é o desafio: dá ao professor uma única função e disponibilizá-la tanto aos ricos quanto aos pobres.