Infância: Educando para a interdimensionalidade em Edgar Morin

A educação interdimensional forma um homem mais apto, essencial para a construção de uma sociedade (Costa).

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho cumpre a propedêutica ao apresentar a dimensionalidade da pessoa, bem como a sua interação e relação constante, que perpassa toda e qualquer perspectiva educacional reducionista e se propõe a discutir as dimensões mais pertinentes da vida humana, estimuladas a partir da infância sob a concepção educacional de Edgar Morin.

A educação infantil passa a ter múltiplas facetas, formas e perspectivas, pois são inúmeras as teorias educacionais que procuram compreender a criança e estabelecer condições, as melhores possíveis, para que ela se desenvolva e explore todo seu potencial. Cada situação engendradora destas novas perspectivas está segundo Marx, carregada de ideologias (MARX, 2004), então, por mais que o discurso esteja compilado teoricamente e alinhado a preocupação com a formação integral, não leva em conta o sujeito em suas múltiplas dimensões e possibilidades, mas sim se evidencia várias maneiras unilaterais e uníssonas de compreensão de uma única perspectiva da fase do desenvolvimento.

Para Morim, a contemporaneidade trouxe os novos arranjos educacionais ao rol das discussões, a cerca das políticas educacionais, necessidades estas, frutos de nosso tempo, em que a correria prevalece e se terceiriza a educação, menosprezando a fase única da vida, infância, responsável por preparar a pessoa para a vida adulta (MORIM, 2000, p. 58). A infância é este período prenhe em que educação, seja no espaço social familiar ou na escola, se dá por meio da aprendizagem formativa e aos poucos se concretiza sob a infinidade de métodos intermediada por meio da interdisciplinaridade, mas que não contempla a dimensionalidade da vida.

A educação é por natureza constituinte do homem, o homem nasce bom segundo Rousseau, porém a sociedade deseduca a criança e se faz necessário que se estabeleça regras que favoreça a momento da construção e relação dos saberes que é a infância, aos poucos vai fazendo sentido e adquirindo significado e assim educa a criança (1973, p. 176):

Cheio de entusiasmo que sente, o mestre quer comunicá-lo ao aluno; pensa comovê-lo tornando-o atento às sensações com que se comove ele próprio. Pura tolice! É no coração do homem que está à vida do espetáculo da natureza, para vê-lo cumpre senti-lo. A criança percebe os objetos, mas não pode perceber as relações que os unem, não pode perceber a harmonia a doce harmonia de um concerto.

Skinner afirma que para que ocorra a aprendizagem, “um comportamento é ensinado através de reforços imediatos e contínuos a uma resposta emitida pelo organismo que seja mais próxima da desejada” (WEISS, 2001). A partir dos reforços imediatos e a as relações a criança vai compreendendo dentro de suas limitações e estabelecendo a partir da capacidade humana natural racional síntese dos conteúdos aprendidos, assimilando as informações que lhe faça sentido.

O processo que evidencia a aprendizagem é a leitura e escrita desenvolvida com mais propriedade pela escola que tem objetivo que consiste em oferecer as condições para que as crianças contato direto com a leitura e a escrita formal e possam usar as ferramentas disponibilizadas, livros e material pedagógico, para melhorar a compreensão do mundo sendo capazes de construir e contar suas próprias histórias, a partir das histórias que ouviram ou acabaram de ler, otimizando assim, a aprendizagem e a capacidade de entendimento da realidade que o cerca, promovendo assim a emancipação social do meio social em que vivem (MARX, 2004).

Em Assim Falou Zaratustra, Nietzsche, resgata a escrita e a leitura como pressuposto de participação e construção dos novos arranjos educacionais a cerca da formação verdadeira a partir da infância. “De todo escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu com seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito”. (NIETZSCHE, 2004, p. 45).

2 EDUCAÇÃO INTERDIMENSIONAL

A educação interdimensional é uma constante nas novas políticas educacionais, pois a partir da visão psicológica da pessoa, passou-se a perceber que quando se desenvolve apenas uma das dimensões da vida humana e verifica-se que “na relação consigo mesmo, o homem parece cada vez mais marcado pelo solipsismo, pela ansiedade e pelo medo, entregando-se aos anestésicos da cultura de massa”. (COSTA, 2008, p. 13) Em meio a essas problemáticas educacionais, uma solução pertinente é o desenvolvimento das potencialidades, aptidões e talentos humanos em meio à complexidade que envolve a educação infantil.

O ser humano é Sapiens/demens (sábio e louco), uma dupla de características contrárias ou antagônicas, mas complementares e outras mais que Edgar Morin aponta como construtora da interdimensionalidade complexa do ser humano que vive em constante relação e inter relação.

O século XXI, século dos saberes, deverá abandonar a visão unilateral que define o ser humano pela racionalidade (Homo sapiens), pela técnica (Homo faber), pelas atividades utilitárias (Homo economicus), pelas necessidades obrigatórias (Homo prosaicus). O ser humano é complexo e traz em si, de modo bipolarizado, caracteres antagonistas:

O ser humano é complexo e traz em si, de modo bipolarizado, caracteres antagonistas:

Sapiens e demens (sábio e louco)

Faber e ludens (trabalhador e lúdico)

Empiricus e imaginarius (empírico e imaginário)

Economicus e consumans (econômico e consumista)

Prosaicus e poeticus (prosaico e poético). (MORIM, 2000, p. 58)

Pavlov, a partir de seus experimentos estabelece o conceito de reflexo condicionado que passou a indicar mudanças nas respostas em função dos estímulos estabelecidos, de um organismo ao ambiente, tendo em vista o seu desenvolvimento. Esta teoria foi elaborada a partir de experimentos com animais, e depois incorporada no modo de pensar em relação ao homem. A visão psicológica estabelece que o processo educacional seja amplo e também condicionado pelos sistemas informações e processos educacionais que moldam e “informa” a criança.

Já Piaget, em sua teoria do desenvolvimento humano, percebe que a aprendizagem pressupõe a interferência do sujeito sobre sua realidade social; ao aprender pela própria realidade social, o sujeito amplia sua capacidade de compreensão e significação de seu espaço. Portanto, o sujeito participa e interage com o meio, pois o conhecimento não está fora do sujeito, no meio, mas o conhecimento é construído a partir da relação e interação ativa deste sujeito sobre o meio que ele significa e compreende (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999, p. 103).

Para Piaget conhecer um objeto é agir sobre ele, modificá-lo, transformá-lo e compreender o processo dessa transformação, é necessário que aja uma ressonância concomitante que leva o sujeito ao rompimento das barreiras do conhecimento proporcionado pela curiosidade que leva a relação de aprendizagem. Piaget compreende a partir do encadeamento rico dos estímulos provenientes do meio que causam uma reação do organismo considerando que há uma incorporação das coisas e pessoas a atividade própria do sujeito de acordo com a faixa etária de cada um (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1999, p. 127).

Edgar Morim percebe que o desenvolvimento da criança no processo educacional é estabelecido em uma linha muito tênue que se dá por meio de um contrato entre o “educando e o educando educador” e o quanto antes é imprescindível que o educador esteja atento as mudanças, pois ao “notar cedo as pequenas mudanças, ajuda-o a adaptar às maiores que ocorrerão”. (JOHNSON, 2010,71).

Na obra premiadíssima, Quem Mexeu no Meu Queijo, o autor Johnson Spencer, traz a discussão importante sobre as mudanças próprias do devir natural do desenvolvimento humano e ressalta que precisamos sair da inércia da falsa segurança que construímos nas redomas e casulos que aos poucos vamos construindo e nos impedem de desenvolver em qualquer área específica. O “educando educador” (LOURENÇO, 2012, p. 349), precisa astuciosamente ficar atento para auxiliar a criança a se desenvolver ao máximo suas potencialidades e aptidões em suas múltiplas dimensões.

“A mudança ocorre continuam a mexer no queijo. Antecipe a mudança, prepara-se para o caso do queijo não estar no lugar. Monitore a mudança, cheire o queijo com freqüência para saber quando está ficando velho, adapte-se rapidamente a mudança quanto mais rápida você esquece o queijo velho, mais rápido pode saborear um novo. Mudança, saia do lugar assim como o queijo. Aprecie a mudança, sita o gosto da aventura e do novo queijo. Esteja preparado para mudar rapidamente muitas vezes, continuam mexendo no queijo.” (JOHNSON, 2010,77).

A relação do homem com o mundo é uma constante experiência que o enriquece e projeta para que se torne capaz de ir além de si mesmo. Faz-se necessário estabelecer relações motivadoras que proporcione mudanças estratégicas e qualitativas, proporcionando ao individuo maneiras novas de apreciar o “queijo” e de transcender no mundo que o circunscreve.

“O homem está no mundo e com o mundo. Se apenas estivesse no mundo não haveria transcendência nem se objetivaria a si mesmo. Mas como pode objetivar-se, pode distinguir entre um eu e um não-eu. Isto o torna um ser capaz de relacionar-se; de sair de si; de projetar-se nos outros; de transcender. Pode distinguir órbitas existenciais distintas de si mesmo”. (FREIRE, 1979, p. 30).

Educar para a interdisciplinaridade é proporcionar objetividade ao individuo para que possa escrever sua própria história e fazer o protagonismo social necessário para se desenvolver suas potencialidades e tornar-se a cada dia uma pessoa melhor. A interrelação da disciplinar possibilita a interdimensionalidade, que é o indivíduo se perceber como ser complexo de múltiplas possibilidades e se relaciona com o outro em suas várias dimensões e turbilhões de sentimentos, vontades e desejos.

O processo educacional é exigente, faz-se necessário disciplina, para despertar e treinar o sujeito a vivenciar possibilidades, seja ela, de ordem pessoal, como sentimentos e emoções ou de ordem profissional, que exige não só a força de trabalho, mas todo o potencial do indivíduo para que possa vivenciar determinada situação pontual no mundo do trabalho e proporcionar lucratividade. A educação interdimensional é um processo pedagógico muito atrelado ao sistema capitalista que prepara o indivíduo para o mercado e para a produção. Será esse o caminho?

5 CONSIDERAÇÃO FINAL

A formação interdimensional é necessário para os “tempos modernos”, mas não é sufuciente. A educação vai muito além de modelos e parâmetros que dão certo e traz resultados rápidos e alienantes, a educação do ser humano vai muito além e é tão necessária quanto a necessidade de se alimentar que o sujeita a tal barbárie. A educação traz consciência, cidadania, respeito ao outro

processo que evidencia a aprendizagem é a leitura e escrita desenvolvida com mais propriedade pela escola que tem objetivo que consiste em oferecer as condições para que as crianças contato direto com a leitura e a escrita formal e possam usar as ferramentas disponibilizadas, livros e material pedagógico, para melhorar a compreensão do mundo sendo capazes de construir e contar suas próprias histórias, a partir das histórias que ouviram ou acabaram de ler, otimizando assim, a aprendizagem e a capacidade de entendimento da realidade que o cerca, promovendo assim a emancipação social do meio social em que vivem (MARX, 2004).

Em Assim Falou Zaratustra, Nietzsche, resgata a escrita e a leitura como pressuposto de participação e construção dos novos arranjos educacionais a cerca da formação verdadeira a partir da infância. “De todo escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu com seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito”. (NIETZSCHE, 2004, p. 45).

REFERENCIAS

CHALITA, Gabriel. O sol depois da chuva. São Paulo. Editora Gente. 2º Ed. 2007.

COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Educação. São Paulo: Canção Nova. 2008.

JOHNSON, Spencer. Quem Mexeu no Meu Queijo? Trad. Maria Clara Biase. 61º Ed. Rio de Janeiro. Record. 2010.

NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Trad. Alex Marins. São Paulo. 2004.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da Educação. Trad. Sérgio Milllet. 2º Ed. Difusão Européia do Libro. São Paulo. 1973.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Trad. Moacir Gadotti e Lilian Lopes Martin. 2ª Ed. Paz e terra. Rio de Janeiro. 1979.

MARX, Karl. O Capital. Crítica da Economia Política: livro I. Tradução de Reginaldo Sant´anna, 22ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

WEISS, Aba Maria Lemme, CRUZ, Maria Lúcia Reis Monteiro?????. Rio de Janeiro. 3ª ed. DP e A. 2001.

D`ANTOLA, Arlette, org. Disciplina na Escola: Autoridade versus autoritarismo. São Paulo. EPU. 1989.

Edvaldo Lourenço
Enviado por Edvaldo Lourenço em 01/03/2013
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