SOBREVIVÊNCIA E FELICIDADE

Precisamos fazer um recadastramento dos nossos conceitos, sem, contudo, abolir a ética, se quisermos modernizar nosso relacionamento social e obter mais êxito profissional e pessoal. Em suma, precisamos ser mais objetivos do que foram nossos pais. Objetividade, aqui, é sinônimo de competitividade. Não cabe mais uma educação abstrata, pois seus resultados não são produtivos do ponto de vista da sobrevivência, que é a palavra certa para definir nosso foco na vida. A questão do recadastramento dos conceitos é fundamental para a nossa sobrevivência. Trago aqui o resultado de uma pesquisa de campo que finalizei hoje, dia 05 de março de 2013. Durante uma semana tirei algumas horas para ficar nas ruas do Centro de São Lourenço conversando com pessoas conhecidas e de classes econômicas diferentes. Minha pesquisa consistia numa única pergunta: Está passeando? E as respostas foram as mais diversas: alguns responderam que estavam procurando emprego; outros, indo trabalhar; outros iam resolver um pepino na prefeitura; outros, pagar as contas; outros, resolvendo problemas dos filhos; outros, pegar remédio na farmácia popular; outros, marcar consulta na Policlínica ou pegar exames prontos... Enfim, diversas respostas semelhantes e objetivas foram dadas, sempre na direção de resolver problemas. Uma pessoa alcoolizada me respondeu que estava vivendo a vida. Ninguém me respondeu que estava procurando a felicidade ou que a estava vivendo. Logo, no dia a dia, ninguém está procurando e nem vivendo a felicidade, nem mesmo eu a procuro. No entanto, às vezes carregamos por toda a nossa existência a sombra dessa abstração, e quase sempre justificamos nossas derrotas com a alegação de que o importante é ser feliz. Assim sendo, precisamos parar de conceituar nossas buscas pelo termo felicidade e por outros termos abstratos. “O importante não é ser feliz”, porque “ser feliz” não é alguma coisa que se possa realizar pessoalmente e nem socialmente. O problema é quando substituímos, inconscientemente, o nosso foco na vida pela abstração ética da felicidade, porque nos confrontamos com uma sociedade cada vez mais objetiva nas suas buscas pelo desempenho pessoal. Ninguém vai declarar, numa entrevista de trabalho, que tem como objetivo a felicidade ou que quer aquele emprego para poder ser feliz. Temos buscas objetivas, e nenhuma delas é uma abstração, conforme minha pesquisa demonstrou. A palavra felicidade é uma abstração que tira o foco dos nossos empreendimentos. Com certeza, a pessoa mais qualificada para sobreviver vitoriosamente no mundo moderno é aquela que define melhor seus objetivos. A idéia de felicidade é uma fantasia que não significa nada de objetivo, nada de concreto, e os conceitos de competitividade e de sobrevivência passam pelo desenho exato das metas que desejamos atingir. Assim sendo, precisamos recadastrar nossos conceitos das finalidades. A pessoa definida no desejo de montar uma empresa de comércio de biscoitos está mais competitiva do que a outra que só quer ser feliz. Portanto, priorizar a felicidade é o mesmo que não priorizar nada e não definir nada. Frases condicionadas do tipo: “O que importa é você ser feliz, não o que você vai conseguir na vida”, são propícias para promover a derrota social do indivíduo, e a derrota social sempre vem acompanhada de desânimo, de pobreza financeira e econômica, de desgosto familiar, etc. Devemos recadastrar nosso foco na vida e abolir a palavra felicidade dos nossos arquivos de condicionamento social, bem como abolir todas as palavras que não significam finalidades concretas e bem definidas, pois precisamos ser cada vez mais competitivos e trabalhar com projetos pessoais bem desenhados. O mundo já saiu da fase da ética abstrata, onde se filtrava o comportamento pela fantasia de palavras que não significavam nada e que até hoje ninguém sabe o que significa, como felicidade, amor, compaixão, piedade, etc., todos termos de abrangência abstrata e que não definem nenhum tipo de comportamento. O ideal é quebrarmos o tabu da felicidade, o impacto que essa palavra causa na nossa psique, e trabalharmos nossas metas com conceitos mais definidos do que pretendemos atingir. Em suma, a palavra felicidade não estabelece meta nenhuma, logo nada pode ser atingido.

Marco Aurélio Rodrigues Dias
Enviado por Marco Aurélio Rodrigues Dias em 05/03/2013
Código do texto: T4172577
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