EDUCAÇÃO, COMPLEXIDADE E A INCOMPREENSÃO

RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar a “compreensão, como saber necessário a educação no presente e no futuro”, bem como a sua interrelação, que perpassa toda e qualquer perspectiva educacional reducionista e fragmentária. A partir de Edgar Morim, se discute as dimensões mais pertinentes da vida humana, como: sabedoria, loucura, trabalho, ludicidade, empiria, economia e consumismo, etc. Dimensões que fazem parte de situações corriqueiras da vida, que são estimuladas a todo instante pela vida moderna e que não são consideradas pertinentes para povoar e compor o ambiente escolar na preparação educacional do individuo para que se torne sujeito de sua própria história neste século dos saberes e da complexidade. Para Morin, a contemporaneidade trouxe os novos arranjos educacionais ao rol das discussões, a cerca das políticas educacionais, que são frutos de “nosso tempo”, onde a correria prevalece e se terceiriza a educação necessária por formar a pessoa para a vida adulta compreensiva. A escola é este espaço de complexidade e laboratório da compreensão, onde também se dá educação, pois, por meio da aprendizagem formativa, aos poucos se concretiza sob a infinidade de métodos intermediada por meio da interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Faz-se necessário repensar o que foi pensado, discutir as idéias de outrora e trazer para o centro dos espaços educacionais o diálogo, o respeito, o outro, a fim de conscientizar os indivíduos sobre os benefícios sociais e culturais das relações humanas pautadas pela ética da compreensão. O outro, deve ser respeitado como outro, porque evoca a alteridade e porque revela a própria identidade humana, com quem somos convidados a conviver desenvolvendo-se na realidade social que nos cerca e construindo uma sociedade mais humana, compreensiva e feliz.

PALAVRAS-CHAVE: Compreensão. Complexidade. Educação. Pensar.

EDUCACIÓN Y COMPLEJIDAD EL MALENTENDIDO

RESUMEN

El objetivo de este trabajo es presentar "la comprensión, el saber necesario la educación en el presente y el futuro", así como su interrelación, que impregna toda perspectiva educativa fragmentario y reduccionista. De Edgar Calico, discutir los aspectos más relevantes de la vida humana, como la sabiduría, la locura, el trabajo, la alegría, el empirismo, la economía y el consumismo, etc. Las dimensiones que forman parte de situaciones de la vida cotidiana, que son estimulados en todo momento por la vida moderna y no se consideran relevantes para las personas y hacer que el ambiente de la escuela en la preparación educativa de los individuos para convertirse en sujetos de su propia historia en este siglo del conocimiento y la complejidad. Para Morin, los nuevos arreglos contemporáneos trajeron el papel educativo de los debates acerca de las políticas educativas, que son el resultado de "nuestro tiempo", donde prevalece la fiebre y subcontrata la educación necesaria para formar una completa a la edad adulta. La escuela es el espacio de la complejidad y la comprensión de laboratorio, que también da la educación, ya que, a través del aprendizaje formativo materializa gradualmente bajo la plétora de métodos intermediados a través de la interdisciplinariedad y la transdisciplinariedad. Es necesario repensar lo que se pensaba, discutir las ideas del pasado y traer al centro de los espacios educativos para el diálogo, el respeto de unos a otros con el fin de educar a la gente sobre los beneficios sociales y culturales de las relaciones humanas basada en la ética comprensión. El otro debe ser respetado como el otro, ya que evoca la alteridad y porque revela la identidad humana, con el que se nos invita a vivir en la realidad social que nos rodea y el desarrollo de la construcción de una sociedad más humana, la comprensión y feliz.

PALABRAS CLAVE: Comprensión. Complejidad. Educación. Pensar.

1. INTRODUÇÃO

Edgar Morin nasceu em 8 de julho de 1921, graduou-se em Economia Política, História, Geografia e Direito. É um dos mais arrojados defensores da incorporação dos problemas cotidianos ao currículo escolar e a interligação dos saberes. Morin faz uma critica ao ensino fragmentado sem uma reforma do pensamento e afirma que o ser humano é reducionista por natureza e, por isso, é preciso esforçar-se para compreender a complexidade e combater a simplificação. Reformar o pensamento é essencial para se construir uma sociedade pautada pela ética da compreensão.

A educação do sujeito precisa ter comprometimento com a compreensibilidade e com a vida, preparando-o para que possa ser um cidadão de bem que cumpra seus direitos e deveres em harmonia entre “seus iguais” na construção de um mundo melhor. Entretanto, o que se percebe é que o outro ao invés de evocar alteridade e respeito, torna-se vítima pelo simples fato de ser diferente, para tal problemática Edgar Morin, evoca iminentimente a ética da compreensão.

2. COMPLEXIDADE

A complexidade é neologismo que tem desdobramento importantíssimo para Edgar Morin, compreendida a partir de seu sentido etimológico, complexus, e significa o que foi tecido junto. Complexo não é somente o que é difícil de ser entendido, mas elementos que são inseparáveis na constituição de um todo como o afetivo, o mitológico, o econômico, o político, o psicológico que fazem parte da constituinte multidimensional do humano e onde há uma interdependência, inter-interação entre o objeto de conhecimento e seu contexto, o todo e as partes, as partes e o todo e as partes entre si (MORIN, 2003a, p. 38).

A complexidade favorece a compreensão, no sentido em que oferece condições para o entendimento da realidade. A construção do conhecimento pertinente de uma realidade social complexa mais humana, onde se comporta as inúmeras formas de diferenças e manifestações, que diminui o risco da cegueira, da incompreensão, possibilita condições para se formatar uma nova visão da realidade e transformação social da mesma.

3. A COMPLEXIDADE QUE COMPORTA A PERTINÊNCIA DO CONHECIMENTO

A complexidade é a junção da unidade e da multiplicidade e no campo dos saberes favorece a formação integradora do sujeito. O conhecimento pertinente comporta a complexidade no sentido em que a integra no rol das discussões e políticas educativas das variadas maneiras e formas de compreensão de uma mesma informação.

Por exemplo, a economia, que tem como objeto a escassez e por meio dos números estatísticos frios, não está inseparável das necessidades e das paixões humanas, pois fazem uso de instrumentos e conhecimentos específicos e complexos como ferramentas da Estatística para mensurar, quantificar os desejos de compra das pessoas, que determina os investimentos e estratégias que trarão retornos financeiros, e que controlam a inflação e determina a expansão ou a restrição na política econômica de um determinado país.

Além desses saberes complexos, o autor propõe que sejam integrados os saberes que advêm das artes, pois, a literatura, a poesia e as artes não são apenas meios de expressões estéticas, mas também meios de conhecimento. É preciso que o homem se olhe interiormente, para se perceber como sujeito ativo de sua história. Essa é uma tarefa complexa que exige esforço pessoal de cada indivíduo e em meio às dificuldades corriqueiras que nos encerram, somos convidados a progredir no conhecimento pessoal nesta realidade complexa de múltiplos saberes. Em Os sete saberes necessários à educação do futuro, na qual faz indicações para a educação, Morin (2003a, p. 52) afirma:

O humano é um ser a um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural, que traz em si a unidualidade original. É super e hipervivente: desenvolveu de modo surpreendente as potencialidades da vida. Exprime de maneira hipertrofiada as qualidades egocêntricas e altruístas do indivíduo, alcança paroxismos de vida em êxtases e na embriaguês, ferve de ardores orgiásticos e orgásticos, e é nesta hipervitalidade que o Homo Sapiens é também o Homo Demens. O homem é, portanto, um ser plenamente biológico, mas, se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível.

O conhecimento pertinente é complexo, pois está arraigado a multiplicidade das dimensões humanas e é o humano que a partir de sua capacidade de representação que significa e compreende culturalmente seu meio e age conscientemente para melhorá-lo.

A pertinência do conhecimento comporta o contexto em que se dá a significação e o sentido da existência humana, o global que é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo. A educação compreensiva comporta em seu bojo o multidimensional e o complexo, realidades que tem o objetivo de reduzir as antinomias e reducionismos, as disjunções hiperespecializadas , que inviabiliza a apreensão do que é tecido junto, e, sobretudo da redução unilateral e falsa racionalidade que acaba por eliminar elementos humanos do homem, isto é paixões, emoções, dores e alegrias.

A inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e reducionista rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntivos, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional. É uma grande inteligência que acaba por ser normalmente cega. Destrói no embrião as possibilidades de compreensão e de reflexão, reduz as possibilidades de julgamento corretivo ou da visão em longo prazo. (MORIN, 2003a, 43).

A educação do presente e do futuro precisa possibilitar que os educandos tenham contato com o conhecimento em sua maior amplitude, complexidade, favorecendo o desenvolvimento do sujeito na multidimensionalidade, formando-o para a integralidade e a compreensão e jamais parcelada e reducionista.

Jacques Delors, ao fazer sua abordagem educacional na elaboração do relatório Educação: Um tesouro a descobrir, para a UNESCO, trouxe à tona a discussão sobre os quatro saberes que perpassam toda a vida do sujeito em suas várias dimensões para assumir as responsabilidades da vida adulta com determinação e responsabilidade, colaborando para a disseminação do conhecimento e autopromoção do mesmo.

A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa, espírito, corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal e espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado, especialmente graças a educação que se recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstancias da vida. (DELORS, 2003, p. 97).

O conhecimento é perfilado em sua constante interação e relação que liga e religa saberes, que significa e re-significa a cultura com o intuito de construir uma realidade que faça sentido e tenha ressonância na vida das pessoas. A educação compreensiva precisa fazer sentido na vida dos educandos, educadores e familiares e contribuir para o desenvolvimento total do indivíduo que compreende e entende o outro, como outro que contribui para a formação humana do homem, tornando-o sensível para absorver todas as formas de conhecimentos e formação que agrega e o torna melhor como pessoa.

A proposta educativa de Edgar Morin procura contemplar todo o sujeito em suas múltiplas fases do desenvolvimento humano, com o intuito de que o indivíduo possa crescer e desenvolver todas as suas potencialidades respeitando os limites da liberdade do outro, em um processo que constrói o conhecimento e estabelece novas fronteiras epistemológicas.

4. A CEGUEIRA, BARBÁRIE E FORMAÇÃO CULTURAL DO SUJEITO INCOMPREENDIDO

Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão (MORIN, 2003a,). Essa afirmativa de Edgar Morin no primeiro capítulo do livro Os sete saberes necessários a educação do futuro, remete a vigilância epistemológica, pois ignorar este sinal seria retrógrado e desfavorável ao conhecimento pragmático que é exaltado por sua hegemonia metodológica. Os erros mentais, intelectuais, metodológicos e das cegueiras pragmáticas precisam de especial atenção. Os erros mentais estão presentes em nossa memória o tempo todo e pode nos deixar a mercê de falhas e sujeitos a erros e ilusões. Por exemplo, existem falsas lembranças que juramos ter vividos e não passam de confusões mentais que nos colocam em dúvida.

A elaboração do conhecimento está construída em frágeis argumentações e impregnadas de racionalização, concepções deterministas, materialistas, espiritualistas e estruturalistas que podem trazer o espectro da barbárie.

É na sociedade, nos grupos sociais que o homem tem a possibilidade de desenvolver a prática da educação compreensiva justificada pela ética do dever, vivenciando assim a maturidade da razão sem a necessidade de terceiros e regras que determinem o que se deve ou não fazer, mas vive-se por justificação do imperativo categórico que educa o sujeito para a compreensão e vivência com o outro sem preconceitos causados pelo signo de diferença.

A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social. (MORIN, 2003a, p 56).

A cultura, espaço de conhecimento, é o laboratório onde o sujeito pratica a vivencia com o diferente e compreende quais as ideologias e interesses que as fomenta. Para que se possa continuar a desenvolver o individuo para a educação compreensiva, se faz necessário proporcionar que os espaços multiculturais dos saberes tenham lugar para a pluralidade e para o diálogo amistoso, já que o homem é uma resultante complexa e multidimensional que ultrapassa qualquer conceito.

Em nossa realidade, como antídoto para a incompreensão, se faz necessário pensar um caminho educacional que leve em conta todas as dimensões que compreende o sujeito em sua maior amplitude, pois reduzir o humano é correr um grande risco de cindir e tolher as potencialidades naturais inerentes ao sujeito.

Como afirma Kant, que “quem não tem cultura é um bruto e quem não tem educação é um selvagem” (1996, p. 16), então a racionalização ao tentar impor exclusivamente os processos racionais para explicar a realidade acaba por simplificá-los, limitando e fragmentando a vida humana, impedindo a racionalidade, começam a aparecer os riscos e centelhas da barbárie.

Mas optar pela racionalização é condicionar o humano ao determinismo pragmático impedindo o florescer de suas potencialidades, pois o homem é um conjunto complexo de paradoxos e antíteses que coexistem simultaneamente e precisa ser respeitado e compreendido como tal, afirma Morin (2003a, p. 58).

O século XXI deverá abandonar a visão unilateral que define o ser humano pela racionalidade (Homo sapiens), pela técnica (Homo faber), pelas atividades utilitárias (Homo economicus), pelas necessidades obrigatórias (Homo prosaicus). O ser humano é complexo e traz em si, de modo bipolarizado, caracteres antagonistas:

Sapiens e demens (sábio e louco)

Faber e ludens (trabalhador e lúdico)

Empiricus e imaginarius (empírico e imaginário)

Economicus e consumans (econômico e consumista)

Prosaicus e poeticus (prosaico e poético).

A compreensão precisa estabelecer diálogo entre as dimensões humanas, o sábio precisa compreender as razões do louco, o trabalhador a importância do lúdico, o empírico aceitar o imaginário como expressão humana legítima, o econômico conviver com o consumista, o prosaico permitir o poético em uma adida relação harmônica que se completam e coexistam no palco do espetáculo da vida complexa.

Um bom exemplo de desequilíbrio destas dimensões é apontado por Morin na barbárie dos campos de concentração, que foi exacerbado a racionalização e instrumentalizadas todas as potencialidades humanas em nome de um objetivo bildre e torpe. “O campo de concentração tornou-se cada vez mais racional quando os métodos industriais foram aplicados à morte, a racionalidade instrumental culmina em Auschwitz”, ou seja, incompreensão e intolerância instalada é barbárie certa (MORIN, 1986, p. 271).

Theodor Adorno, importante filósofo, aponta como uma das principais causas para a ocorrência das barbáries, como a de Auschwitz, a identificação cega com o poder coletivo que carrega um arsenal de justificativas racionalizadoras. Trata-se da própria razão instrumentalizada e total falta de compreensão que gera a cegueira que evolui para a bárbárie.

Mas aquilo que gera Auschwitz, os tipos característicos ao mundo de Auschwitz, constituem presumivelmente algo de novo. Por um lado, eles representam a identificação cega ao coletivo. Por outro lado, são talhados para manipular massas, tais como os Himmler, Höss, Eichman. Considero que o mais importante para enfrentar o perigo de que tudo se repita é contrapor-se ao poder cego de todos os coletivos. (ADORNO, 1995, p. 127).

Por tudo o que já vivenciamos e evoluímos é válido aprofundar a concepção de razão aberta ou de racionalidade. É válido pensar a concepção de razão crítica e autocrítica da complexidade humana. Pensar a educação compreensiva no presente e no futuro se faz necessário aprofundar a partir do diálogo o conjunto dos esforços dos educandos, educadores e familiares com o objetivo comum de encontrar caminhos que possam auxiliar no seu desenvolvimento e concretização de uma educação que prepara o sujeito para viver a vida e suas circunstâncias.

A educação compreensiva quer construir um caminho para a superação da barbárie, minimização da cegueira e formação cultural do sujeito para a compreensão autônoma e emancipadora, objetiva e subjetiva, onde há espaço para o outro com sua alteridade e diferença.

5. CONCLUSÃO

A ética da compreensão se propõe a acolher sem julgamento e avaliar quais são as reais causas que estão por trás de cada situação. A ética da compreensão passa pela empatia, simpatia, identificação, projeção e generosidade e compreende o outro como outro a partir de uma justificativa intersubjetiva.

O outro deve ser respeitado como outro, porque evoca a alteridade e a diferença e porque revela a própria identidade humana, a quem e com quem se deve conviver desenvolvendo a realidade social que nos cerca construindo uma sociedade mais humana. Que a partir da compreensão possamos colaborar na construção da realidade social complexa, repensando o pensamento e compreendendo o outro objetiva e intersubjetivamente

6. REFERÊNCIAS

ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. Trad. Wolfang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a Descobrir: Relatório para a comissão internacional sobre educação para o século XXI. 8.ed São Paulo. Cortez; Brasilia, DF: MEC: UNESCO, 2003.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessário a educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 8ª ed. São Paulo: Cortez. Brasília, DF. UNESCO, 2003a.

_____. Cabeça bem feita. Repensar a reforma. Reformar o pensamento. Trad. Eloá Jacobina. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003b.