CINDERELAS E PETER PANS, GENTE QUE NÃO QUER CRESCER

Adolescência que se prolonga no tempo é um assunto recorrente e preocupante. Ainda mais, porque basta olhar em volta e a gente logo percebe que os adolescentes velhos estão infestando o planeta. E o pior é que eles contam com o aval da própria familia, que sofre na pele os resultados dessas irresponsabilidades. (E sofre calada, talvez por reconhecer sua parcela de culpa nesse estado de coisas). Antes de qualquer mal entendido, deixe-me explicar o que entendo por "adolescente-velho": é aquele adulto que não cresceu emocionalmente e se recusa a assumir sua adultez, que não assume suas responsabilidades, que leva a vida na sombra de outro adulto. O adolescente-velho é um verdadeiro parasita social. Lamentavelmente, é mais um parasita a engrossar a fileira dos indesejáveis. Suga tudo, até a alma dos adultos. Só não os mata fisicamente porque de bobo ele não tem nada. E por acaso ele vai matar a galinha dos ovos de ouro? Nada a ver com pessoas velhas que procuram manter-se alegres e joviais. Isso é outra coisa, uma atitude que deve ser aplaudida, respeitada e estimulada pela sociedade.

Mas de onde surgiu essa figura do 'adolescente-velho'? Não sei, acho que é resultado de todo um contexto de coisas, de novos valores, de coisas "certas" que são empurradas goela abaixo nas escolas, na tv, nas reuniões disso e daquilo, tudo muito "especializado", etc, e que dão a tônica sobre como os pais devem se comportar na "moderna" educação dos filhos. É muito passar-a-mão-na-cabeça, é muita falta-de-cobrança, é muita falta de autoridade, é muito perdão. E o emocional da criança, sem qualquer conexão com as exigências reais da vida, vai ficando capenga. E as crianças vão crescendo. Eu falei crescendo? Sorry, encompridando os ossos, aumentando a estatura. Só isso. Responsabilidade zero. Emocional ibidem. E o resultado aí está, bem na nossa cara. Crianças e jovens sem noção, passionais, perversos, maltratando pessoas e animais, comentendo desatinos nas escolas, nas ruas, nos teatros, na vida..., -- a propósito, lembra aquelas que desdenharam e apuparam o pianista? --, são filhos de quem? Dessas cinderelas e peter-pans que não quiseram e não querem assumir suas responsabilidades de adultos. Que tal mudar e quebrar esse circulo vicioso? Acho muito bom, pois estamos indo direto pro beleléu. Só não vê quem não quer.

© Marli Soares Borges, 2013