Mediação de Leitura, mais que uma história, um processo de encantamento.[i]
 
Renata Rimet
 
Mediar é se colocar entre as partes envolvidas, no caso da leitura, quem estaria entre o livro e o leitor se não seus pais, irmãos, tios, avôs, professores, bibliotecários, amigos e outros leitores?
 
                     Abrimos os olhos, a vida se coloca à nossa frente.                     Inevitavelmente começamos a formar um repertorio                     de histórias: a nossa história. Somos crianças e                     queremos o brinquedo, os bichos, outras crianças, o                     doce, a fantasia. Somos jovens e queremos a                     aventura, a ação, a prova, o desafio, o ato heroico, o                     primeiro amor, o riso. Somos adultos e queremos                     tudo. Somos velhos e queremos tudo de novo.

                                                                                 Celso Sisto
 
O fascínio por contar histórias nasce exatamente do prazer pela leitura, seja um conto, uma crônica, uma fábula, um mito, um romance, um poema. Para saber o que contar é preciso levar em consideração o gosto pessoal, o público e o espaço.
Mediar leitura vai muito além de contar uma história, é um processo de encantamento, interação e entrega.

A paixão, a intensidade, a transmissão de sentimentos é o que de fato permitirá a circulação da história, distribuindo-se numa espécie de consumo solidário, em que o público interage a cada novo acontecimento, cada gesto ou suspirar dos personagens.


Ainda citando Celso Sisto (2012), uma história é feita na cabeça do ouvinte, pela construção de expectativas, frustrações, reconhecimentos e identidades. Uma boa história é capaz de operar de maneira a adiar e prolongar o prazer para um outro tempo preciso, tirando da sua forma, da sua própria construção, um prazer ainda maior.

A forma como o livro é apresentado: capa, autor, imagens podem despertar ao leitor o desejo de ler, a magia se faz a partir do carisma, das lembranças e conexões que o livro remete a outras histórias.

O processo de mediar leitura é estratégico, empreendedor, dinâmico e contínuo. Vai muito além da reunião de pessoas em torno do objeto livro e do ato de ler. Ao mediar, ecos se prolongam, vão além dos fatos narrados, a curiosidade é fomentada, e o desejo pela leitura despertado.

Um comentário mais apaixonado por parte do mediador, sobre um livro, empolga e promove o interesse por saber mais a respeito.

É preciso que existam bons mediadores, que promovam e fortaleçam o elo entre leitura e realidade, proporcionando o acesso ao livro como sugere Rubem Alves, numa atividade prazerosa, sem cobranças, apenas como veículo de informação e formação da cidadania plena.
Se o dicionário nos traz como sinônimo de mediar, o termo intervir, façamos a maior das intervenções, a ponto de transformar a comunidade leitora cada vez mais ativa em nossa sociedade.

Em recente apresentação da professora Mabel Veloso, na Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, em Salvador, foi possível notar a atuação de uma Encantadora de Seres, envolvendo crianças e adultos, emocionando e surpreendendo ao lançar a semente da historinha que estava guardada na mente daqueles que a ouviam.

De forma inocente, contava uma história para crianças, emocionalmente remetia o público adulto à recordações de sua infância e de pessoas como pais e avôs que fizeram parte dela.

 A leitura estabelece um laço profundo entre a criança e o mundo, e mesmo crescida, o laço bem feito não desata, a certeza, o aprendizado, a moral da história podem ser as mesmas.


Mediação de Leitura, é sem dúvida o ato de aproximar o leitor ao texto, promovendo uma relação de cumplicidade com o livro, com a história, com o mundo, quem lê viaja e uma história bem contada nos proporcionam viagens incríveis.

Sem sobra de dúvidas, mediar leitura é mais que uma história, é um processo de encantamento.
 


REFERÊNCIAS

SISTO, Celso.Textos & pretextos:sobre a arte de contar histórias; ed. Aletria, 3ªed. Belo Horizonte, 2012. 
BORTOLIN, Sueli,13º Congresso de Leitura do Brasil, Campinas, 2001.
DIMENSTEIN, Gilberto, ALVES, Rubem.Fomos maus alunos; Campinas, SP: Papirus,2003.

 
 
 
 
[i] Apresentado na 1º Edição da Escala Cultural Bahia Minas Gerais – Belo Horizonte / 2013.
Renata Rimet
Enviado por Renata Rimet em 06/11/2013
Reeditado em 06/11/2013
Código do texto: T4559281
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