Programa da Rádio Nacional de Angola em parceria com o Ciberdúvidas

Há funcionário de um dos canais da Rádio Nacional de Angola (RNA) que, não tendo suficiente hombridade para se identificar, preocupa-se com o uso correcto da língua contestando este ou aquele erro comum, a maioria sem nenhum fundamento. O de 28.01.2014 foi relativo a designação da nossa selecção. Pois eu oiço o programa desse sujeito, que nem mesmo possui formação em Letras, mas em Comunicação Social, que o assunto a que ele se debruçou está tratado nas páginas do Ciberdúvidas. Muito bem. Ontem, durante a transmissão de seu programa pela RNA, o jornalista nos informou que desapercebido e despercebido são sinónimos.

A Rádio Nacional de Angola, da qual dependem todas das Emissoras Regionais e Províncias, formando assim a poderosa força que é a Comunicação Social, não está bem de jornalistas (em se tratando de conhecimento da língua).

É com tristeza que percebo que um jornalista da Rádio Nacional de Angola inventa mais uma vez. Ele (pasmem!) dá desapercebido como sinónimo de despercebido, numa invenção digna do mais refinado Professor Pardal. Como confiar num jornalista desses, que só traz lambanças? Cada argumento traz no mínimo três equívocos, podendo chegar a dezenas. Foi-se o tempo em que se assistia a um programa de rádio e se aprendia. Se nós formos consultar qualquer dicionário português (sim, lá dos lusitanos) não encontraremos sinonímia entre desapercebido e despercebido. Mas o referido jornalista angolano achou de, unilateralmente, dá-los como sinónimos.

Um órgão de comunicação social como a Rádio Nacional de Angola deveria cuidar um pouco mais do nosso património cultural, o idioma, divulgando ao público um argumento razoável, mais digno. Esperávamos que, em a parceria com o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, houvesse mais seriedade no órgão, com a eliminação de erros. Não houve. O seu funcionário, aliás, recentemente, cometeu a agravante de elucidar os ouvintes, nestes termos: “Desapercebido e despercebido são sinónimos”. Angola Nova, como se vê, não é tão jovem assim…

O problema, como se vê, é desconhecimento mesmo, e não lapso ocasional.

Se essa frase fosse dita por um outro jornalista, até que se aceitaria. Mas o jornalista da RNA, ao vivo e a cores, dizer uma asneira dessas é, realmente, de causar profundo desânimo.

Ora, jornalista: em que dicionário o senhor viu desapercebido como sinónimo de despercebido? Diga, jornalista: qual é, afinal, o seu dicionário?

Mambos da Língua – o tu-cá-tu-lá do português de Angola é o novo programa que a Rádio Nacional de Angola passa a emitir, a partir desta segunda-feira, dia 3 de Fevereiro, em todos os seus canais, de Luanda e de todo o país, em colaboração com o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

Eis aí mais uma prova de que a Rádio Nacional de Angola não se emenda mesmo. Mostra que não honra o título de líder que ostenta. Um líder não pode ser um frouxo. Um líder não pode ser um pateta. Um líder tem de dar o exemplo. Um líder tem de ter respeito, para ganhar respeito.

Não só há meses, mas há anos venho a observar as lambanças dessa emissora, que parece comprazer-se em propagar erros de todos os tipos. Um líder tem de comportar-se como um líder autêntico, ou seja, tem de ser exemplo, espelho.

Como confiar num líder que, ao usar a língua, só coloca os pés pelas mãos? Que tipo de jornalismo é esse que não conhece regras elementares da nossa língua? Em que escola se formaram esses jornalistas?

A RNA é líder de audiência, sim, todos reconhecemos, porque é um facto, mas o que ela divulga de coisa errada é uma festa!

Pois é, jornalista: se o jornalismo radiofónico angolano fosse um pouquinho exigente, o senhor não teria chegado a empunhar um microfone.

Podem estar a pensar que tenho alguma coisa contra os jornalistas. Nada! Eu tenho é muita coisa contra todos aqueles que prestam desserviço à Educação, contra todos aqueles que prestam desserviço ao Ensino, contra todos aqueles que prestam desserviço ao país. Jornalistas ou não. Os profissionais que exercem cargo ou função de responsabilidade devem ter conhecimento ou preparo compatível, caso contrário estão no lugar errado, escolheram a profissão errada. Devem buscar outros rumos. Para não prejudicarem os outros, para não irem de encontro aos anseios dos professores, esses abnegados, que é educar (formar e informar), a fim de que as pessoas possam, bem-formadas, melhor servir o país. Que, em suma, somos todos nós. Só por isso…

Não consigo entender, embora muito esforço faça, por que o Ciberdúvidas aceitou emitir um programa em parceria com a Rádio Nacional de Angola. Refiro-me ao programa Mambos da Língua – o tu-cá-tu-lá do português de Angola.

Quem tem o costume de ouvir a Rádio Nacional de Angola há-de ter notado que na sua pena ocorrem poucas transgressões às normas gramaticais. Sei que os seus funcionários são zelosos por suas penas e corrigem-se, quando não acertam. Por isso, este artigo não teve outro propósito senão o de colaborar com eles.

Littera Lu
Enviado por Littera Lu em 07/02/2014
Reeditado em 07/02/2014
Código do texto: T4681827
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