HILTON JAPIASSU: um educador da inteligência.

O primeiro dever do Educador consiste em despertar no educando o espírito de busca, a sede da descoberta, da imaginação criadora e da insatisfação fecunda no domínio do saber.

Japiassu

Mestre Japiassu é destas estrelas que penetram a imensidão de nossas ignorâncias derruindo portos-seguros. Nele, Inteligência sem crítica e autocrítica é paronóia, é cairmos numa pedagogia “presidial” cercada apenas por saberes objetivos, é nos conformarmos, na expressão “serresiana”, com uma “cidade de extralúcidos regionais, embora cegos à totalidade”.

Educar para a Inteligência exige uma Pedagogia da Incerteza, aquela que repele o sujeito “cabeça bem feita”. O domínio da dominação dos fenômenos, numa paráfrase a Morin, é que nos interessa posto suscitar inúmeros e complexos problemas. Razão e saber objetivo não abarcam o ser das realidades, amiúde, se impõem, digamos, tanto por violências quanto por coações cínicas. Não é à toa que Habermas nos adverte: “o espírito cientificista nos engana quanto às profundas diferenças que continuam existindo entre as suas abordagens metodológicas”. Do “que sei eu” montaigneano à questão kantiana “que posso saber, como e em que condições” há mais segredos do que pregam o positivismo e o realismo. As categorias do absoluto, do perfeito e do infinito não são propriedades da ciência, a despeito, claro, de suas relatividades. A credulidade numa única maneira de se fazer ciência é mito cegador.

Educação para a Inteligência põe o educando num estado de consciência dos Sentidos sem negar nossas dimensões mágicas, trabalha a meta-história nos ensinando com os mais variados construtos simbólicos. Uma de suas marcas é o ataque aos dogmas e aberturas progressivas à crítica. Este processo, no ensino do mestre, é muito duro. É emancipação genuína, “exige que assumamos o medo, o desamparo e a incerteza”. É uma pedagogia anti-neurótica por nos inquietar frente aos problemas incertos da vida. Possibilidades lógicas nem sempre asseguram possibilidades reais. É uma paronóia em que, não poucas vezes, a universidade tem caído. Sobretudo, diz ele, quando tenta incutir nos alunos a expectativa ilusória de estar em condições de poder fornecer-lhes uma espécie de templo sagrado do saber, a consciência de que poderão superar os erros ou de que estarão de posse da história.

A tremenda lição do mestre de Carolina é: “a ação educativa sempre supõe a reforma de uma ilusão, um processo contínuo de retificação das ilusões perdidas”. Portanto, só é possível uma educação para a inteligência se nosso instrumento de trabalho se estribar no pensar, no aprender a aprender, no, segundo suas próprias palavras, construir e reconstruir, no fazer perguntas e questionar o já sabido. Constitui, enfim, tarefa do educador provocar nos alunos desequilíbrios ou necessidades psicológicas, desejo de pesquisa, espírito de busca, sede de descoberta. Bem-vindo, mestre, ao Tocantins – “Kalanguinho” – CUICA – campus de Palmas.