POLÍTICAS EDUCACIONAIS, VIOLÊNCIA E JUVENTUDE

1 Introdução

O enfrentamento a violência juvenil acaba por desenvolver um mentalidade negativa, “do nós contra eles”, pensamento este que só aumenta a paranoia do jovem não sentir amado e bem quisto. Como não se sentem parte de uma família ou comunidade, acabam se juntando com outras adolescentes e jovens em gangues, desenvolvem seus próprios códigos sociais e regras valorizando conceitos como respeito, honra e vingança. Dentro do seu grupo, mantém o status através de atos de lealdade que quase sempre quer dizer defender sua honra a qualquer custo. De repente, estes pequenos adolescidos, com baixa auto-estima sentem que fazem parte de um conjunto de relações construídas com base no respeito e lealdade, e cujo símbolo máximo muitas vezes é a arma.

Eles contam suas histórias sem demonstrar qualquer emoção à violência é vista como algo que faz parte de suas vidas. Os depoimentos são chocantes e consternadores. Enquanto os números da violência apresentam tendência de queda em várias modalidades, os crimes com uso de armas brancas e de fogo envolvendo jovens estão cada vez mais brutais. Histórias de crimes assim chocam a sociedade e nos levam a pensar sobre a necessidade de se criar leis mais “severass” para prevenir ou punir e resguardar a vida. O fato é que a cultura armada não pára de crescer e as leis por si só não são a única resposta para o problema.

Acirraram-se as discussões sobre a questão da violência juvenil e as possíveis soluções para a mesma, mas, estas enveredam pelo caminho da simplificação inócua: penas mais duras e redução da idade penal. Obviamente, este não é o caminho mais assertivo, mas sim, políticas sociais eficientes que traga efetividade preventivo nas áreas de educação, esporte, lazer, saúde e trabalho.

2 Juventude e as Raízes da Violência

Muitas razões têm sido enumeradas ao longo dos séculos, para justificar a pobreza, a má distribuição de renda, o altíssimo ideal de consumo de nossa sociedade, o predomínio do ter sobre o ser como critérios de valor do ser humano, o sistema capitalista, a falta de políticas públicas adequadas e efetivas, a maldade humana, etc. As razões da violência juvenil é o resultado da junção de tudo isso e um pouco mais.

Quando nascemos, não há noções ético-morais, muito menos clareza sobre os conceitos, o certo ou errado, melhor ou pior, normal ou anormal, feio ou bonito, isso é apreendido nas relações interpessoais e por influências da cultura. Contenta-se em apenas com que é fator natural, mas com o passar do tempo estes valores morais, bem como os preconceitos e ideologias de seu grupo social. Com o passar do tempo, aos poucos, num processo que domesticação, os filhos vão aprendendo, sendo educados pelos pais, irmãos, parentes, amigos e afins, responsáveis pela “boa educação” do sujeito. Então, inicia-se um longo e doloroso processo de adequação a um modelo de normalidade e perfeição compartilhado e estimulado pelo sistema educacional.

Esse sistema educacional é seletivo e excludente, quem não se encaixa no perfil das políticas que o rege, simplesmente está fora. O homem precisa sobreviver e construir sua história. Se as políticas responsáveis pela formação do sujeito de direito são falhas e não contemplam as suas necessidades, alternativas são criadas para suprir as necessidades dos cidadãos e como nos ensina a história, toda vez que o Estado é negligente e permissivo, inúmeros são os problemas instalados. Neste contexto quem mais sofre são os jovens que estão neste período de transição de afirmação e ficam a mercê de ideologias, falsos sonhos que pode determinar a vida dos jovens.

O filósofo Espinosa apresenta uma pergunta que nos ajuda a pensar: “Uma pessoa que nasce cega tem uma deficiência, uma imperfeição ou está apenas experimentando este mundo de uma forma diferente da maioria?” Esta questão dá origem a muitas outras: Em que momento alguém pode ser considerado feios, magros, anormais, burros, superiores, bonitos, gordos, inteligentes, normais, inferiores, quais são os parâmetros para tal? Em que momento deixa-se de lado o simplesmente ser e passa-se a fingir que se é algo que não se é para parecer normal e ser aceito?

Em que momento abandona-se a perfeição divina e passam-se a se sentir seres incompletos que necessitam de “falsos deuses”, dinheiro, beleza, poder, cargos, títulos, para sentir que tem valor, negando assim a essência de sua vida, ou seja, rastros de violência e mãe de muitos males?

A vida está, portanto, imersa neste sonho, que se torna pesadelo compartilhado, que violenta a verdadeira natureza, coloca a todos na camisa de força de uma pretensa normalidade e ensina a ser intolerantes com tudo aquilo que difere deste padrão, não há espaço para o signo de diferença, tolerância e aceitação. Tudo o que difere e discorda deve ser execrado. Nasce então violência que se conhece tão bem na realidade atual.

3 Juventude

A juventude moderna é retrato de conjuntura de nossa sociedade, está dividida e fragmentada a partir se seus estilos e comportamentos próprios assumidos em determinados grupos. Sejam pelo seu modo de vestir falar, andar, gostos musicais, onde se encontram o que fazem, dentre outros. Cada estilo diferente recebe um nome, e é caracterizado pelo seu estilo de vida característico, por exemplo:

As tribos urbanas, são constituídas de microgrupos que têm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. Essas agregações apresentam uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir. Um exemplo conhecido de tribo urbana são os punks.

A expressão "tribo urbana" foi criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, que começou usá-la nos seus artigos a partir de 1985. Segundo Michel Maffesoli, o fenômeno das tribos urbanas se constitui nas "diversas redes, grupos de afinidades e de interesse, laços de vizinhança que estruturam nossas megalópoles. Seja ele qual for, o que está em jogo é a potência contra o poder, mesmo que aquela não possa avançar senão mascarada para não ser esmagada por este".

Roqueiro é a denominação da principal tribo urbana do rock, no entanto termo também é utilizado pela mídia para se referir aos astros deste tipo de música, embora estes não sejam necessariamente integrantes da tribo urbana.

Os rockeiros costumam transparecer um ar de rebeldia em relação aos padrões sociais mais comuns. É frequente estarem constantemente vestidas com roupas de cor preta, principalmente camisetas estampadas com caveiras e bandas favoritas, calças jeans ou skinny preta, alguns usam pulseiras spikes. No inverno, muitos usam jaquetas pretas. Costumam ir aos shows de rock que acontecem em suas cidades e alguns montam bandas de garagem com amigos. Costumam também demonstrar interesse em aprender a tocar guitarra, baixo elétrico e bateria, instrumentos típicos para se fazer rock.

Os "hippies" eram parte do movimento de contracultura dos anos 1960 tendo relativa queda de popularidade nos anos 1970 nos EUA, embora tenha tido muita força em países como o Brasil somente na década de 1970. Uma das frases idiomáticas associada a este movimento foi a célebre máxima "Paz e Amor".

As questões ambientais, a prática de nudismo, e a emancipação sexual eram ideias respeitadas recorrentemente por estas comunidades.

A partir do fim da década de 1970 o conceito de cultura punk adquiriu novo sentido com a expressão Movimento Punk, que passou a ser usada para definir sua transformação em tribo urbana, substituindo uma concepção abrangente e pouco definida da atitude individual e fundamentalmente cultural pelo conceito de movimento social propriamente dito: a aceitação pelo indivíduo de uma ideologia, comportamento e postura supostos comum a todos membros do movimento punk ou da ramificação/submovimento a que ele pertence, como afirma MOTA, 2011, p. 35.

O movimento punk é uma forma mais ou menos organizada e unificada, com o intuito de alcançar objetivos seja a revolução política, almejada de forma diferente pelos vários subgrupos do movimento, seja a preservação e resistência da tradição punk, como forma cultural deliberadamente marginal e alternativa à cultura tradicional vigente na sociedade ou como manifestação de segregação e auto-afirmação por gangues de rua. A cultura punk, segundo esta definição, pode então ser entendida como costumes, tradições e ideologias de uma organização ou grupo social.

Apesar de atualmente o conceito movimento punk ser a interpretação mais popular de cultura punk, nem todos indivíduos ligados a esta cultura são membros de um grupo ou movimento. Um grande número de punks definem o termo "punk" como uma manifestação fundamentalmente cultural e ideologicamente independente, cujo aspecto revolucionário se baseia na subversão não-coerciva dos costumes do dia-a-dia sem, no entanto, se apegar a um objetivo preciso ou a um desejo de aceitação por um grupo de pessoas, representando uma postura distinta do caráter politicamente organizado e definido do movimento punk e de seu respectivo interesse na preservação da tradição punk em sua forma original ou considerada adequada.

Esta diferença de postura entre o movimento punk e outros adeptos da cultura é responsável por constantes conflitos e discussões, violentos ou não, que ocorrem em encontros destes indivíduos em ruas e festivais, ou através de meios de comunicação alternativos como revistas, fanzines e fóruns.

Nerd é um termo que descreve, de forma estereotipada, muitas vezes com conotação depreciativa, uma pessoa que exerce intensas atividades intelectuais, que são consideradas inadequadas para a sua idade, em detrimento de outras atividades mais populares. Por essa razão, um nerd muitas vezes não participa de atividades físicas e é considerado um solitário pelas pessoas. Pode descrever uma pessoa que tenha dificuldades de integração social e seja atrapalhada, mas que nutre grande fascínio por conhecimento ou tecnologia.

Clubber, termo em inglês, atribuído a pessoas que frequentam danceterias, que foram comuns nos anos 90, ajudou a elevar a cultura noturna pelas grandes metrópoles. Em meados da década de noventa, na Inglaterra nasceram os adeptos do movimento Clubber, que ao contrário do movimento Punk não visavam lutar por um espaço na sociedade. O que os Clubbers queriam mesmo era pura diversão. O Clubber possibilitou a música eletrônica a ganhar status e ganhar mais adeptos, juntamente com as raves. Assim como o a popularização da música eletrônica chamou atenção de muitas pessoas que vieram a se tornar Clubbers. Logo, vemos que o Clubber e a música eletrônica são totalmente ligados, e ambos cresceram juntos. Os Clubbers são apaixonados pelas musicas eletrônicas denominadas Techno, Trance, Trip-Hop, House, Jungle, além de outras derivações.

Os clubbers, em geral, se vestem de maneira extravagante e é possível reconhecer um pelas blusas coloridas, com personagens de desenhos japoneses, saias e calças coloridas, leggings, tênis coloridos. O seu armário é geralmente 50% verniz, maquiagens que brilham no escuro, estrelinhas, glitter, glimmer, sombras coloridas, piercings, tatuagens tribais, cabelos estranhos que variam de verde-limão a rosa-choque.

São as diversas manifestaçãos juvenis de seus gostos, vontade e desejos que se expressam arraigado a possibilidade de transformação de seu meio e se dá atrelado a vida. Entretanto não se valoriza como merece a força juvenil com escrevem os Cavanis “pouco está sendo feito, ainda se a formação se limita a formação intelectual e se esquece de formar o coração”. Então aparece o paradoxo de uma juventude comprometida com as mudanças, mas que não encontram ressonancia de suas idéias nem espaço para expô-las e aplicá-las.

Políticas Sociais e a Violência

Promover o debate sobre a juventude na atualidade, focalizando o contexto político, vulnerabilidade social, risco e violência, expressa em diversas formas a violação de direitos no qual está imerso grande contingente de jovens e suas famílias é a grande preocupação dos irmãos Cavanis que mesmo em distancia por meio de cartas falavam da importância de oferecer oportunidades aos jovens e diziam: “não adianta esperar por mudanças da sociedade, sem cuidar, como convém da juventude. Digo como convém, porque não basta fazer qualquer coisa, isso se faz em qualquer lugar. É preciso usar os meios aptos para conseguir o fim”. (GOFFI apud ZENOM, 2006, p.69)

“Tratando-se da juventude abandonada necessitada de continua assistência, pouquíssimas férias acontecem nestas escolas [...] Para qualquer jovem necessitado de particular assistência, ou de outros recessos [...] usam os professores de especial atenção, assíduas amorosas solicitudes: colocam em ação uma maior vigilância, mais freqüentes instruções e mais abundantes recursos [...]. (GOFFI apud ZENOM, 2006, p.68)

No plano de educação das escolas gratuitas de Veneza era previsto pelos pedagogos Cavanis atividades do gosto juvenil. Teatros erram elaborados a partir da realidade veneziana, providenciavam pra que aos feriados os jovens não ficassem ociosos envoltos em confusões, mas que utilizassem dos feriados pra incentivar a cultura e cidadania por meio do envolvimento e participação das famílias dos jovens que assistiam e aplaudiam seus jovens com heróis.

Mais do que nunca, os jovens precisam de contato, toque, sentir-se amado, querido pela sociedade. As diversas formas de violência assistida de camarote pela maioria da população é expressão desta violência natural que foge ao controle na tentativa quase neurótica de querer mostrar-se. Combinação perfeita, ingrediente acri doce utilizado pela mídia com côo trunfo certo de audiência. O “pão e circo” só muda o ringue. Pelas condições econômicas e civilizatórias que chegamos mudou-se a forma da entrega do pão, agora é “bolsa” e o circo vem até a sala, seio familiar. A violência é produto.

Abordar a ação do Estado, através das políticas sociais, para o enfretamento das questões pertinentes a juventude é de muito importância para que possa se ter seu espaço onde o jovem expressem seus sentimentos. Precisa-se mais do que nunca de líderes que incentive e motive nossa juventude a caminhar pelos caminhos do impossível pautadas na liderança que segundo James Hunter é a “habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio da força e do caráter”.

Destacar parâmetros teóricos e conceituais das temáticas em foco é de suma importância para que para que se compreenda e transforme a realidade social juvenil.

“É coisa verdadeiramente digna de lamento ver assim descuidada a obra de plantar um bom fundamento nos primeiros anos que por falta de base morrem sem fruto, e tantos ministros zelosos gastar seu tempo com os adultos” (GOFFI, 2006, p. 69).

O jovem precisa deixar de ser uma fase intermediária, para serem cidadãos capazes de exercer sua função de agente transformador da realidade. Ser pessoa capaz de perceber o outro e exercer sua vocação altruísta. O jovem preciso de seu espaço no campo social, político, religioso, mas para tal, precisa como jovem conquistar seu espaço jovem e ser agente na realidade jovem da sociedade como fizeram os jovens irmão Cavanis, para que possamos criar oportunidade de soluções e não mais problemas.

4 Considerações Finais

De fato, em uma sociedade em que meninos de oito anos desempenham cargos de vigia dos esquemas de trafico das favelas e morros dominados pelos criminosos, recebendo gratificações que chegam a superar os salários mensais de seus pais, o caminho natural destas crianças é, ao tornarem-se adolescentes, subirem na escala hierárquica do crime, galgando cargos e encargos mais importantes na mesma, como fizeram seus ídolos, poderosos chefões do tráfico.

As quadrilhas são, obviamente, parte integrante e preponderante da vida dessas comunidades pobres da periferia, esquecidas pelos poderes públicos, tendo como única presença efetiva dos mesmos naquelas áreas apenas a policia, com toda a carga negativa que esta historicamente representa para as classes menos favorecidas. O poder publico, em tais regiões, parece isentar-se de seu dever como agente captador de recursos, de programas sociais, obras de infraestrutura, dentre outras, deixando brechas sociais, que são aproveitadas pelas organizações criminosas para atuarem nessas comunidades como benfeitores, suprimindo uma responsabilidade do Estado que procura jogar a responsabilidade de educar o sujeito para as escolas não instrumentalizadas e totalmente despreparadas para lidar com tal situação e que a cada dia tornam-se mais violentas e menos espaços de formação e educação.

Para jovem favelado sem sonho, utopia lhe resta o morro, onde encontra dinheiro, fraternidade, respeito e ascensão social no ambiente onde vive, tornando-se alguém na sociedade local, embora por muito pouco tempo fora da lei, mas vividos com intensidade, entretanto, para a sociedade em geral passe a ser um marginal.

REFERÊNCIAS

BIASIO, João de. Tudo para os jovens: Os irmãos Cavanis e sua obra. Coleção Heróis; 37. Salesiana. São Paulo. 1984.

GOFFI, Tullo. Antonio e Marcos Cavanis. Trad. Manuel Rosa. Curia: Roma. 2006.

HUNTER, James C. Como se tornar um líder servidor. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

MCGINNIS, Alan Loy. O Fator Amizade. Como cativar as pessoas de quem você gosta. Trad. Euclides Luiz Colline. São Paulo. Paulus, 2006.

MOTA, Frei Rubéns Nunes da, ofmcap. Juventudes. O exercicio de aproximação. Brasilia. CRB Nacional. 2011.

MURATORI, Filippo. Jovens violentos: quem são, o que pensam, como ajudá-los?. Tradução de Antônio E. Feltrin. São Paulo: Paulinas, 2007.

Edvaldo Lourenço
Enviado por Edvaldo Lourenço em 22/03/2014
Reeditado em 22/03/2014
Código do texto: T4739893
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