PROFESSORES: REFÉNS OU CÚMPLICES?

PROFESSORES: REFÉNS OU CÚMPLICES?

Jorge Linhaça

Desde que o nefasto Mário Covas assumiu o governo do estado de São Paulo, em 1995, até os dias de hoje com seu afilhado Geraldo Alckmin à frente do estado, a educação paulista entrou em uma decadência sem precedentes.

A maquiagem dos números pode dar uma ideia de que as coisas melhoraram, afinal o índice de reprovação caiu drasticamente. Mas a verdade é que esse índice só caiu por causa da manobra esperta de Covas que, ameaçado pelas promessas de que não receberia mais financiamentos de órgãos internacionais, caso os índices de retenção não despencassem, inventou, no final da década em questão, um sistema de recuperação da recuperação, concentrando o ano letivo no mês de janeiro a fim de “salvar” da reprovação alunos que se recusaram a estudar o ano todo.

Eu lecionei para esses alunos e a regra que nos foi imposta era que, desses alunos, menos de 10% poderiam ser reprovados. Sim, acreditem, tínhamos a obrigação de aprovar 90% dos reprovados pelos colegas, lecionando em caráter emergencial nesse período.

De lá para cá a coisa só piorou, aprovação automática, acintes aos professores, polícia sentando a borracha nos descontes, um exército de burocratas, apoiados pela “Veja” ,treinados para desmentir todos os casos de violência de alunos nas escolas e uma APEOESP que jamais se preocupou realmente com a educação e sim com manter os de sempre à salvo das salas de aula.

A rotatividade de professores tornou-se uma arma nas mãos de um governo que age de absoluta má fé em relação à educação. Os bônus anuais oferecidos pelo (des) governo paulista levam em conta a presença dos professores em sala de aula independente da qualidade do ensino ministrado.

A quantidade de professores afastados por doenças psicológicas é absurda, já que ninguém consegue manter a sua plena sanidade lecionando nas escolas estaduais se quiser realmente tentar educar alguém. Só não adoece quem vai lá apenas assinar o ponto.

A exclusão de disciplinas como filosofia, sociologia, psicologia e tantas outras da área de humanas dos currículos do ensino paulista, sob a desculpa de priorizar o português e a matemática, foram orquestradas para alijar os alunos do contato com professores que, pela sua própria formação, levavam os alunos a pensar e refletir sua condição na sociedade.

Os professores, diante desse quadro, maquiado pela mídia partidária, ou tornam-se reféns de uma desejada estabilidade e manutenção de seus cargos até a aposentadoria (que graças ao mesmo partido deixou de ser em regime especial) ou aceitam o papel de cúmplices do sistema, felizes por fingir que ensinam quando estão ali apenas para garantir a miséria que recebem no fim do mês.

A diferença entre um e outro é a atitude em relação à educação, é o sentir que é inerente aos verdadeiros educadores, o que se contrapõe à acomodação dos que estão lá apenas pelo salário.

Mas, o que me causa maior pavor, é pensar que vários professores de hoje, são fruto desse sistema educacional perverso, ou seja, (des) “aprenderam” dessa maneira e por isso lhes parece normal e caridoso ajudar alunos analfabetos a se formarem.

Temos cegos guiando multidões de outros cegos por esse estado afora. Pessoas que cresceram acreditando na lei do menor esforço para garantir o seu sustento.

Ainda que se mude o curso das coisas hoje, levaremos mais algumas décadas para reverter esse quadro.

Décadas? Sim! Afinal de 1995 até 2014, lá se vão 19 anos de alunos empurrados para o certificado de conclusão do ensino médio. Destes, milhares buscam faculdades que lhes permitam dar aulas e boa parte deles acaba por estar diante de uma classe, replicando o mesmo descaso com a educação.

Assim, as antigas vítimas do sistema, tornam-se cúmplices do mesmo e repetem os mesmo maléficos erros de seus (de) formadores, sendo carrascos das próximas gerações.

E ainda devemos somar a esse quadro os pais omissos, que não educam seus filhos e jogam nas costas dos professores o básico da educação, o respeito pelos outros.

Não é raro sabermos de pais que agridem verbal ou fisicamente professores que deram nota baixa para seus filhos ou lhes cobram postura dentro de sala de aula. E tudo isso acaba em impunidade.

Antes que falem alguma asneira, não estou fazendo discurso político, estou apenas constatando fatos reais. Aqueles que ficam felizes por seus filhos saírem da escola como analfabetos funcionais hão de discordar, mas estes são tão ou mais culpados que esses professores.

A escola não pode ser vista como um depósito de crianças para o qual os despacham seus filhos para ter sossego em casa e poder assistir novelas.

Escola também não é substituta dos pais, a escola é um lugar para se aprenderem disciplinas específicas, se obter conhecimentos gerais, que podem ou não ser agregado para a vida de cada um. Mas estes pais de hoje, também frequentaram essa mesma escola deformadora do caráter.

Assim sendo o planejamento a médio e longo prazo para criar gerações de analfabetos funcionais, incapazes de interpretar dois parágrafos juntos, vem surtindo o efeito desejado por aqueles que desejam perpetuar-se no poder à custa do emburrecimento da sociedade como um todo. Afinal, é muito mais fácil manipular pessoas que são incapazes de analisar fatos e se contentam em ler as manchetes dos jornais ou ouvir e seguir a opinião da mídia.