Educação: um caso a se pensar em cidade de pequeno porte

Lúcio Alves de Barros*

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Em recente pesquisa - com apoio da FAPEMIG e da Faculdade ASA - efetuada na cidade de Brumadinho (MG) em uma escola estadual, alguns achados foram de capital importância acerca das experiências no trabalho e nas violências vivenciadas pelos docentes. Mas antes de descrever alguns aspectos é necessário dizer que não é por ser uma cidade de interior de pequeno porte, ou talvez esquecida pelos desavisados e críticos de plantão, que ela não seja um bom objeto passível de pesquisa e contribuição ao campo acadêmico. Pelo contrário. Vejamos:

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Em primeiro lugar, cumpre mencionar a inexistência de uma “violência dura”, de grande clamor público e de uma “criminalidade violenta” ou casos nos quais a polícia em todo momento tem que atuar. Os professores entrevistados afirmaram a inexistência destas práticas dentro e fora da escola, que, por sinal é muito organizada, limpa e cuidada. As violências encontradas são de pequeno porte como incivilidades, maus tratos e indisciplina.

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Em segundo, é curioso e digno de admiração o respeito dos professores em relação aos estudantes. Os docentes, com larga experiência e formação, alguns tendo até mestrado, demonstraram uma “força sem igual”. Acreditam categoricamente na educação como prática libertadora e que estão auxiliando e “formando pessoas” para melhores dias. Muitos, inclusive, asseveraram que já conseguiram recuperar as esperanças de muitos adolescentes e jovens que andavam descrentes com a vida. A ação dos professores neste sentido é de “gestor de emoções” o que vem auxiliando na formação dos alunos e nas relações cotidianas.

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Em terceiro lugar, é bom deixar claro que lecionar em uma escola pública do interior parece agradável e bom para os docentes pesquisados. As estratégias de defesa dos professores nestas escolas não passam de ações cotidianas construídas na base da solidariedade e na sociabilidade com os responsáveis. Em uma cidade de interior as pessoas se conhecem, ainda trocam informações e tem acesso umas às outras em vários espaços de relações sociais. Não por acaso professores entram em contato com os pais - alguns antigos amigos de infância - e descrevem a situação e o que anda ocorrendo com o filho/estudante naquele espaço. Mais que isso, professores chegam a fazer valer sua autoridade, “chamando atenção” e recebendo respeito e admiração de pais e alunos

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Finalmente, a escola estadual (pública e gratuita) em Brumadinho, a despeito dos problemas encontrados no campo da falta de recursos e de professores devido ao jogo de designações do Estado, anda firme e com as próprias pernas. Possui professores engajados e estudantes que possuem excelentes trajetórias no interior da instituição escolar. Muitos - o que não deixa de ser um orgulho para os docentes - entraram em universidades e estão inseridos no mercado de trabalho. É digno de nota o papel da direção da escola que oferece a discricionariedade, a autoridade, o apoio, a liberdade e a defesa incondicional dos professores em casos de conflitos e negociação. É neste ambiente que encontramos a escola estadual em pesquisa. É neste ambiente que acreditamos que as escolas do interior, públicas e de qualidade, são possíveis e talvez, ofereçam um ambiente - de paz, tranqüilidade e segurança - muito mais aconchegante para os estudantes estudarem.

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*professor da FAE (Faculdade de Educação) da UEMG. Agradecimentos à Gabriela Rasuck que auxiliou na pesquisa. Sem ela, o trabalho, por certo não existiria.