RUBEM ALVES: um plantador de “Jequitibás”!

Rubem Alves, inquieto, irônico, buscando sempre caminhos novos, o interior e, ao mesmo tempo, o corpo, procura, com seus alunos, buscar a relação.

Moacir Gadotti

O pensamento de Rubem Alves é carregado de Metáforas-Sangue (estas, entendamos, o associado à travessia significativa, ao elevado, ao belo, à paixão pela Vida). Uma cultura “Jequitibá” é profundamente emancipadora, se firma no encantamento, no mistério, na essencialidade. É o contrário da alienação “eucalíptica” na qual predominam identificações patéticas. A inteligência, aqui, racionaliza-se e se molda à “organizatite” nutrida pelas cifras, pelos financiamentos e pelos negócios de todo gênero.

Um povo “jequitibaeiro” jamais desiste dos inéditos imprescindíveis à Alegria. Reage ao estabelecido e dele retira uma espécie de dínamo não só recriador, mas os próprios impulsos capazes de parir o inexistente. A lídima seriedade assiste na leitura prazerosa da existência, num acordar constante. Nossa linguagem há de passar por análises desconstrutoras dessa impessoalidade, desbravando novas relações e, no dizer de Moacir Gadotti, como um jequitibá, ter uma face, um nome, uma história a ser contada, uma esperança para além da falsa consciência ideológica.

Uma educação dos eucaliptos nada mais é do que uma religião desensinando a sabedoria. Dela, advêm lixos e inutilidades. Alguns, abrenúncio, julgam-na fundamental para vida. Na sua ironia (Rubem Alves), “fica até muito bonito: todos enfileirados, em permanente posição de sentido, preparados para o corte”. É a ação “urubuseira” espargindo tristeza por onde passa. Ora, educar, propõe, “é tornar e tornar-se pessoa”.

O educador “Jequitibá”, que nada tem a ver com professor, dialeticamente, se movimenta sobre dois grandes eixos: a crítica e a criatividade. Naquela, ensina, “os dogmas têm de ser transformados em dúvidas, as respostas em questionamento, os pontos de chegada em pontos de partida”. Nesta (criatividade), “o educador é um criador de utopias concretas, um indicador de horizontes utópicos, novas formulações e novas sínteses”. Assim, será possível tanto o compreender como o interpretar dos fenômenos que nos cercam, sobretudo, os envernizados pela ciência, pela tecnologia e pelo

capitalismo embrutecedor.

Rubem Alves, pena, se foi. Fica o seu extraordinário legado. Com ele, na síntese gadottiana, encontramos uma crítica à automatização e valorização dos educadores; ao adultocentrismo; valorização do prazer, do sentimento, da arte, da paixão na educação, na vida humana e de que o método do amor é melhor do que o racional para educar, aprender e ensinar.

Este plantador de “Jequitibás”, enfim, nos instiga: “falem sobre seus corpos, seus desejos, os desejos escondidos, falem da vergonha, da roupa, do relógio (órgão biônico acrescentado ao corpo), da culinária, da disciplina, da religião, dos mortos, da insônia ou da tortura, falem sobre o corpo dos outros. A tarefa é simplesmente ver com clareza. Os livros só são invocados como instrumentos para se ver. Ou será que nas escolas estamos substituindo o corpo pelos livros?”.