A DIALÉTICA EDUCACIONAL

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR¹

[...] padrão de pressupostos básicos – inventados, descobertos ou desenvolvidos por um determinado grupo, na medida em que aprende a lidar com seus problemas de adaptação externa e integração interna – que funcionou suficientemente bem para ser considerado válido e, portanto, para ser ensinado aos novos membros como o modo correto de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas.

Schein

Preliminarmente é importante envolver o diálogo educacional com dois profissionais distintos e com histórias diferentes: o supervisor e o orientador educacional, porém, com diversos aspectos ideológicos, filosóficos, sociológicos, políticos, religiosos, laicos, psicológicos comuns, a saber: 1º) – dificuldades de definição e estabelecimento do âmbito da ação, de reconhecimento e de aceitação pelos demais educadores: professores, pais, gestores ou diretores, psicólogos, psicopedagogos, psicanalistas, etc; 2º) – participação na equipe técnico-pedagógica de gestão da instituição escolar em todos os níveis de escolaridade; 3º) – lutas constantes pelo aprimoramento da Educação como um processo formal e ou informal, isso relativamente falando em cada no mundo formal e no mundo informal, segundo a cultura e o universo individual e ou coletivo das partes construtoras do processo educacional em cada especificidade. É importante lembrar de que tudo isso só será possível através de lições ( planejamento, metodologia,monitoramento e avaliação) e de atividades meios, consistindo assim na analise de situações diárias e concretas dos profissionais, segundo suas atividades ou ações específicas em cada situação. Tanto é assim que, Frison (2000, p. 20, enfatiza que “ a construção de uma parceria entre orientação, supervisão e professores redimensiona as práticas pedagógicas, pois encontram a solução dos problemas no coletivo, através do diálogo e do planejamento de acordo com a realidade, visando alcançar os objetivos propostos e uma maior qualidade na aprendizagem”. E isso é fato, contra fato não se tem argumento, a não ser que seja uma mera contradição em se querer afirmar o contrário sobre isso. De modo que “o orientador e o supervisor caracterizam-se como mediadores e articuladores do processo educativo, priorizando a construção de uma escola participativa e transformadora desta sociedade individualista, excludente e discriminatória. O fazer destes profissionais deve refletir uma visão dialógica e dialética no exercício de ação-reflexão-ação”, ex-vi afirmação da mesma autora antes citada (2000, p. 25).

A supervisão e a orientação educacional na escola estão articuladas entre si envolvendo quatro grandes lições: planejamento, metodologia, monitoramento e avaliação.

No bojo da equipe técnica da instituição escolar deve existir a articulação do supervisor e do orientador educacional, visando a construção do projeto pedagógico pretendido ou almejado em cada especificidade e objetivos pretendidos. O investimento na qualidade da Educação realizada ou pretendida, no desenvolvimento profissional e bem assim do pessoal, professores e demais funcionários, tudo em sendo elaborado em conjunto com todos os envolvidos, técnicos, não técnicos e educadores. Deve necessariamente existir na instituição escola um plano de formação continuada desses agentes educadores formais e informais. Não se pode falar em Educação de qualidade sem isso. Tanto é assim que nesse sentido, existem inúmeros depoimentos de teóricos assim enfatizando, dentre os quais, Vasconcellos (2004, p. 151), que enfatiza: “[...] a equipe escolar tem um campo de atuação da maior importância: ajudar os docentes a repensarem suas propostas, reverem as rotinas, romperem com o formalismo (enciclopedismo, informações desconectadas, classificações, metalinguagem) dos conteúdos pré-estabelecidos. De certa forma, a reflexão sobre sua proposta de trabalho envolve uma série de outras questões muito importantes para a construção da identidade profissional: visão de mundo, opção por um quadro de valores, posicionamento frente à realidade social conflitiva, etc., mas com a vantagem de se dar a partir do contexto bem definido de sua atuação como professor, tornando-se consequentemente, muito mais pertinente e realmente formativa”. Assim sendo, tudo isso só será possível sob a égide da lei e da jurisprudência escolar, enquanto legislação do amparo, da defesa e da proteção da gestão democrática no âmbito educacional institucional, inclusive. Vem daí a sua construção de novos contornos em termos de instituições educativas. Diante disso, Martins (2002, p. 128), menciona que: “[...] a flexibilidade curricular; flexibilidade de organização administrativa e financeira, com a consolidação da implantação de processos de descentralização e autonomia às redes de escolas; avaliação contínua e somativa de alunos, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; aproveitamento de estudos concluídos com êxito”. Se pensar o contrário é brincar de se fazer planejamento para engavetamento. E ponto final. Portanto, o Projeto Político Pedagógico de uma instituição educacional é justamente a construção de um projeto diferente em todos os aspectos e sentidos, jamais existirá duas escolas com as mesmas intenções e vontades, pensar da mesma maneira ao construir tal documento por mais de uma escola é ter um “espírito santo de orelha”, que levará ao fracasso a instituição e a execução do referido projeto, se é que se pode chamar isso como “projeto”. A construção do projeto pedagógico de uma escola se deve acima de tudo objetivar a melhoria da qualidade da Educação em sentido amplo, favorecendo a formação do sujeito, ajudando assim a criticar e construir a sua própria cidadania. O Projeto Político Pedagógico de uma escola é o fio negativo e ou positivo que fará acender a luz no final do túnel, onde necessariamente na visão de Oliveira e Grinspun (2009, p. 143) deve está presente os fatores do tipo: “1º) – pesquisa diagnóstica, na ou para a escola; 2º) – atividades que não contemplem somente a questão do conhecimento e dos conteúdos junto aos alunos, mas que tenham uma maior abrangência; 3º) – atividades extra-muros da escola, relacionadas com algum tipo de trabalho voltado para a comunidade; 4º) atividades junto aos professores para promover nos alunos a gosto pela leitura; 5º) proposta de um trabalho de reflexão e análise que possa ser integrado ao processo educacional e que promova a questão dos valores e sentimentos; 6º) – proposta de uma atividade que incentive a formação da cidadania”. E isso é apenas algumas das ações que devem ser contempladas no Projeto Político Pedagógico da escola. Daí a importância que tem o planejamento educacional institucionalizado. Isso é apenas um modesto exemplo de como se construir a primeira lição do processo do dialogo educacional que se refere apenas ao planejamento.

A metodologia deve ser a segunda grande lição enquanto ação do supervisor e do orientador educacional. Preliminarmente se deve escolar o tipo de metodologia que venha orientar a escola, tendo em vista que envolve justamente representação curricular. Assim, o currículo é um plano pedagógico e institucional que serve para orientar a aprendizagem dos alunos de maneira ou forma sistemática. Tal definição em sentido amplo tem conotações especificas e diversificadas segundo os autores que a formulam. De modo, por exemplo, uma dentre inúmeras classificações mencionamos três formas para a organização curricular: a) o currículo formal, como sendo aquele que serve para transmitir conhecimentos organizados por disciplinas, para estudos isolados dos diversos problemas e ou processos concretos envolvendo o contexto social, bem como para aprendizagem através de acumulação de informações adquiridas em livros e por pessoas diversas; b) o currículo por assuntos ou interdisciplinar, como sendo aquele que tem estrutura indutivo teórica, onde implica na seleção e ordenação de objetos e ou assuntos diversos tirados da realidade vivenciada pelos alunos, onde o aluno é estimulado a investigação e a compreensão de problemas que surgem, através da construção ativa do conhecimento; c) o currículo integrado é justamente o plano pedagógico e a organização institucional escolar, articulando dinamicamente o trabalho com o ensino, envolvendo teoria e prática, comunidade e ensino, e que estão presentes todos os problemas e hipóteses de possíveis soluções do pano de fundo com todas as características sociais e culturais do meio em que se encontra inserido. A título de se obter um melhor entendimento do que realmente seja a importância da metodologia no âmbito escolar e suas reais relações com o currículo, recomendamos a leitura da fábula: “O projeto educativo dos urubus”, de autoria de Alves (2003, p. 28), cujo texto nos apresenta inúmeras metáforas envolvendo o currículo escolar, o processo de planejamento, sua implementação, acompanhamento e avaliação. O que vale dizer que o supervisor e o orientador educacional devem atuar coletivamente, evitando assim o fator surpresa como no caso da fabula. A comunidade deve ser sempre ouvida para se sentir atualizada e defender suas pretensões.

O monitoramento ou acompanhamento do processo educacional, se isso não ocorrer, for desviado, vem daí as incorreções, portanto, deve tomar proporções que ao longo do processo educacional se tornam impossíveis de serem reparadas. É o caso do dito popular, a “emenda saiu pior do que o soneto”. Portanto, o orientador e o supervisor educacional, dentro do projeto de avaliação institucional, também conhecida por interna e ou endógena, devem envolver atividades de monitoramento para se saber como o processo está sendo conduzido. No tocante a avaliação externa, isso já é oficialmente projetado, conduzido e executado pelas avaliações do ENEM, do SAEB, da Prova Brasil, dentre muitos outros tipos de avaliação adotados pelos governos: federal, estaduais e municipais. Somos um país com estrutura continental, temos 5.670 municípios, distribuídos em 26 Estados membros, o Distrito Federal e o Território de Fernando de Noronha. Cada unidade da federação nacional tem liberdade para monitorar o trabalho pedagógico segundo as orientações curriculares nacionais e suas próprias especificidades estaduais, municipais, territoriais e ou até locais. Os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais¹ é a orientação maior em termos de orientações curriculares nacionais por cada área de conhecimento.

A avaliação é compreendida por Fenili (2002, p. 44), como: “o processo de avaliação configura-se como um perfeito arco-íris, uma vez que se apresenta com diferentes nuanças de cores, pois se trata de um processo de construção que comporta divergências, atitudes, crenças e valores enraizados na nossa cultura. Como nos diz a lenda do arco-íris, ao final do mesmo, há um pote de ouro, que aos nossos olhos é inatingível. O processo de avaliação ideal parece similar a este pote de ouro, porém poderemos alcançá-lo através da construção coletiva de um projeto político-pedagógico”. É evidente de que a avaliação é sem sombra de dúvida um desafio complexo na ação do professor e muito mais ainda na ação do supervisor e do orientador educacional. Tocante aos orientadores e supervisores educacionais, tais profissionais são os responsáveis pelas observações e analises das legislações especificas em ternos nacionais, estaduais e municipais, dando, portanto, origem aos sistemas de avaliações da escola em cada sistema de ensino. Os instrumentos de avaliação institucional são construídos a partir de tais observações e analises dos resultados obtidos ou reais. Tanto é assim que Hoffmann (1996, p.66), menciona que “quando a finalidade é seletiva, o instrumento de avaliação é constatativo, prova irrevogável. Mas as tarefas, na escola, deveriam ter o caráter problematizador e dialógico, momentos de trocas de idéias entre educadores e educandos na busca de um conhecimento gradativamente aprofundado”.

Finalmente, fica aqui nossa contribuição, até onde nos foi possível dissertar sobre as quatro grandes lições: planejamento, metodologia, monitoramento (ou acompanhamento) e avaliação a luz dos profissionais educacionais: orientadores e supervisores educacionais, diante da problemática nacional, estadual e municipal em que todos nós estamos envolvidos diariamente. E até porque Grundy (apud SACRISTÁN, p.. 14), nos informa que o currículo “[...] não é um conceito, mas uma construção cultural. Isto é, não se trata de um conceito abstrato que tenha algum tipo de existência fora e previamente à experiência humana. É, antes, um modo de organizar uma série de práticas educativas”. E conclui o referido teórico de que o currículo nada mais é do que “[...] expressão do equilíbrio de interesses e forças que gravitam sobre o sistema educativo num dado momento, enquanto que através deles se realizam os fins da educação no ensino escolarizado. [...] O currículo, em seu conteúdo e nas formas através das quais se nos apresenta aos professores e aos alunos, é uma opção historicamente configurada, que se sedimentou dentro de uma determinada trama cultural, política, social e escolar; está carregado, portanto, de valores e pressupostos que é preciso decifrar”. Com a palavra para a reflexão do nosso cotidiano os nossos colegas gestores, professores, orientadores e supervisores educacionais.

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¹ Endereço para acessar este CV:

http://lattes.cnpq.br/5755291797607864

² http://espacoescolar.com.br/sua-pesquisa/parametros-curriculares-nacionais-pcns/

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REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. Estória de quem gosta de ensinar. Campinas: Papirus, 2003.

FENILI, R.; OLIVEIRA, M. E.; SANTOS, M. B.; ECKERT, E. R. Repensando a avaliação da aprendizagem. Revista Eletrônica da Enfermagem. V.4, n. 2, 2002. p. 42-48. Disponível em: www.fen.ufg.br. Acesso em: 03 abr. 2010.

FRISON, Lourdes Maria Bragagnolo. A perspectiva do especialista em educação: um olhar sobre a orientação educacional – avanços e possibilidades. In.: Seminário Interdisciplinar em Supervisão Escolar e Orientação Educacional. Santa Cruz do Sul: Unisc, set.dez., 2000.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Mediação, 1996.

MARTINS, Ângela Maria. Autonomia da Escola: a extensão do tema nas políticas públicas. São Paulo: Cortez, 2002.

OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de; GRINSPUN, Mirian Paura Sabrosa Zippin. Princípios e Métodos de Supervisão e Orientação Educacional. Curitiba: IESDE Brasil S/A., 2009.

SACRISTÁN, J. Gimeno. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 1998.

SCHEIN, E. H. Organizational Culture and Leadership. 2.ed. San Francisco: Jossey-Bass, 1989.

VASCONCELLOS, Celso S. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do Projeto Político Pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad,

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 21/09/2014
Reeditado em 21/09/2014
Código do texto: T4970540
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