UMA REFLEXÃO SOBRE A LEITURA SIGNIFICATIVA E O PAPEL DO MEDIADOR

RESUMO
 
          Trata-se de um artigo reflexivo sobre temas do cotidiano escolar e social brasileiro. Num primeiro momento aborda aspectos da leitura ideal, traça um panorama breve da evolução da linguagem escrita e pontua aspectos que evidenciam a leitura funcional e a significativa, finaliza com a mediação de leitura como opção de encantar, despertar a curiosidade e fortalecer o hábito leitor.
 
 Palavras-chave: Leitura. Mediação. Formação do Leitor.
 
          De acordo Rubem Alves, a leitura precisa ser um processo preguiçoso - vagabundo na melhor forma de interpretação do termo -, sem obrigação de hora e lugar, apenas pelo prazer da aventura de mergulhar por mares distantes, sem utilizar equipamento; viajar de um continente ao outro através de um virar de páginas, viver todo tipo de aventura sem precisar abrir a porta de casa.
Tais sensações descritas são possíveis graças ao hábito da leitura, ao mesmo tempo, tornam-se impossíveis por diversas questões que contribuem para que a leitura não se torne hábito.
          Ao tentarmos traçar um panorama geográfico, socioeconômico, educacional e cultural do nosso país, certamente encontraremos inúmeras situações de desigualdade, ao mesmo tempo que serão inúmeras também as coincidências, os pontos em comum a serem diagnosticados, como a persistência e determinação de comunidades escolares e seus diversos atores que, de maneira articulada, apoiam professores e alunos com o intuito de aprender mais e melhor a cada dia.
          Borges (2011) nos diz que o ensino não foi o começo, o começo foi o conhecer, foi a aprendizagem. Foi aprendendo que a gente descobriu que era possível ensinar e aprender.
 
          Se partirmos do início, se retornarmos às cavernas, em meio às adversidades impostas de toda natureza, poderemos notar que os sinais e símbolos desenvolvidos pelos seres humanos, além de registrar o momento vivido, desenvolvia formas de comunicação que os protegia e facilitava o convívio em grupo; ou seja, foi observando o passado que evoluímos, foi aprendendo que ensinamos.
          O homem é um ser social, capaz de produzir linguagem, disseminar ideias; capaz de considerar cada parte da realidade histórica social e cultural sem fragmentar o todo, sem afetar cada aspecto a ser levado em consideração para uma reflexão coesa, com base em constantes observações de fatos, que não se isolam e se complementam de forma significante.
          Saímos do passado mais distante que temos notícia, mas sem perder o foco. O processo contínuo de aprender, ensinar, apreender e apropriar-se do conhecimento evolui sem perder a essência original. Chegamos ao processo da leitura propriamente dito, que se apresenta dinâmico e oferece no seu entorno a compreensão e transformação de informações e conhecimento.
          O simples fato de decodificar sinais e símbolos não reflete o apoderamento do conhecimento e tão pouco se configura compreensão do significado do material lido, pois no momento que a leitura abraça a compreensão, ler passa a ser o mais importante instrumento do aprender, significativamente.
 
 
A leitura que transforma
 
          Quando tratamos do tema Leitura que transforma, situações como famílias de não leitores, custo dos livros, escassez de bibliotecas, acervos desatualizados e principalmente o papel da escola e do professor são listados como responsáveis pelo problema.
 
           O foco de culpa recai nos ombros dos profissionais, tidos como mal preparados, nos inexistentes “quando nos referimos às vagas que nunca são preenchidas” e no abandono do poder público quando se refere ao espaço físico da escola, que muitas vezes não comporta o número de alunos matriculados, restando a opção do improviso, em que salas de aula ocupam pátios, corredores e outros ambientes que comportem algumas cadeiras, um quadro e um professor.
 
          Voltando ao tema dos supostos culpados e analisando as condições descritas, não é possível vislumbrar profissional que se prepara para enfrentar tal situação como ofício, pois o improviso deforma o bom profissional, transforma o sonho de carreira em pesadelo e provoca uma grande deficiência na formação de leitores, ou apenas promove a produção de leitores funcionais, com baixo nível de interpretação textual, aqueles que leem mas não absorvem a mensagem do texto.
 
          Se levarmos em consideração a escola como o único espaço de contato com a leitura e que o livro didático é todo o acervo disponível para a realização do processo em muitos dos casos, caberá à escola viabilizar um trabalho pedagógico baseado na diversidade de gêneros discursivos que, de acordo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), afirmam a existência de um número quase ilimitado, com variações em função da época, cultura e finalidade social, sugerindo, assim, priorizar gêneros que favoreçam abordagens mais profundas, em função do compromisso de assegurar ao aluno o exercício pleno da cidadania.
 
          Cabe uma seleção de títulos com base em textos vitais, para a plena participação numa sociedade letrada, a partir de características que favoreçam a reflexão crítica e o exercício de formas de pensamentos mais elaborados, despertando nos alunos o gosto e o compromisso com a leitura, a partir do seu caráter desafiador, favorecendo a leitura crítica do texto e da própria condição humana vivida.
 
          É nesse contexto que surge o docente mediador da leitura. A ponte entre o livro e a leitura poderia ser uma travessia entre pais e filhos, irmãos mais velhos e avós, porém as condições apresentadas e todas as adversidades provocam um afastamento familiar do processo.
          Ao professor mediador cabe a tarefa de transformar a leitura em vivência e encantamento, promovendo descobertas de sentidos a partir do livro, pois é através do dialogo com a realidade que se forma a cidadania. De acordo Paulo Freire (1988) quanto mais um povo se torna consciente de sua história, mais facilmente perceberá as dificuldades socioeconômicas e culturais da realidade em que vive, consequentemente estará apto para o enfrentamento e a libertação.
 
          O docente que desperta em seu aluno o interesse pela leitura compreensiva, aquela que ensina, que dialoga com o leitor, estará oportunizando o desenvolvimento autônomo do processo de aprendizagem para as mais diversas situações.
 
 
 
Mediação de Leitura
 
            Mediar leitura é se colocar entre as partes envolvidas, é dar vida às palavras contidas entre capas, é deixar fluir os pensamentos, provocando a viagem mais fascinante que a imaginação puder criar.
            A paixão, a intensidade, a transmissão de sentimento é o que de fato permite a circulação da história, que se distribui numa espécie de consumo solidário, em que o público interage a cada novo acontecimento, cada gesto ou suspirar das personagens apresentadas.
 
            A forma como o livro é ofertado, a aparência de sua capa, a história do autor, as imagens impressas e as imaginadas, cada item passa a despertar no leitor o desejo de ler. A magia se faz a partir do carisma, das lembranças e conexões que o livro remete a outras histórias sejam vividas ou contadas.
 
            O autor e mediador de leitura Celso Sisto, em sua obra Textos e Pretextos sobre a arte de contar histórias nos apresenta com bastante entusiasmo como uma boa história é capaz de operar de maneira a adiar e prolongar o prazer para um outro tempo preciso, tirando a sua forma a partir da sua própria construção, tornando a aventura de ler num prazer ainda maior, possibilitando a formação da história na cabeça do ouvinte, pela construção de expectativas, frustrações, reconhecimentos e identidades.
 
            O processo de mediação é estratégico, empreendedor, dinâmico e contínuo. Supera a simples reunião de pessoas em torno do objeto livro e do ato de ler.
 
            Alguns aspectos devem ser levados em consideração para serem explorados ou evitados durante o exercício de contar uma história, como o olhar para a plateia que precisa ser distribuído igualmente a todos. A linguagem a ser utilizada deve ser de acordo com o público, evitando exagerar em diminutivos; além de visualizar a história enquanto narra, criando um roteiro visual e verbal por episódio, na sequencia, evitando a fala mecânica, utilizando gestos expressivos que acrescentem algo ao entendimento, sem a necessidade de maiores explicações, acreditando exatamente na história que está contando, aguçando os sentidos de quem ouve e passa a desejar o que outros livros, jornais e revistas podem oferecer e provocar.
 
 
 
“Abrimos os olhos, a vida se coloca à nossa frente. Inevitavelmente começamos a formar um repertório de histórias: a nossa história. Somos crianças e queremos o brinquedo, os bichos, as outras crianças, o doce, a fantasia. Somos jovens e queremos a aventura, a ação, a prova, o desafio, o ato heroico, o primeiro amor, o riso. Somos adultos e queremos tudo. Somos velhos e queremos tudo de novo.”
                                                                        (Celso Sisto, 2012)

                                                                                  
          O fascínio por mediar leitura e contar histórias nasce exatamente do prazer pela leitura, seja um conto, uma crônica, fábula, mito, romance, poema, notícia de jornal ou texto do livro didático. A mediação de leitura é um processo de encantamento, interação, descobertas e  aprendizado recíproco.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
          Foi conhecendo que se descobriu que era possível ensinar e aprender, e assim tem sido desde então. A leitura significativa, repleta de sentidos, que se relaciona diretamente com o cotidiano, transforma a realidade e promove a ascensão do sujeito a cidadão, a partir do conhecimento adquirido.
 
          O artigo aqui apresentando não possui a pretensão de se colocar como derradeira solução das questões centenárias que envolvem a educação da sociedade brasileira nos aspectos relativos à formação do leitor crítico.
 
          O objetivo é refletir a respeito da Formação do Leitor e submeter a crítica aspectos como a mediação de leitura como ferramenta de apoio ao desenvolvimento do cidadão leitor, como possibilidade de favorecimento ao contínuo processo de ensino aprendizagem. 
 
 
 
REFERÊNCIAS
 
BORGES, Pedro Faria, Queridos pais- Belo Horizonte: Vereda Editora, 2011.
 
DIMENSTEIN, Gilberto, ALVES, Rubem. Fomos maus alunos; Campinas, SP: Papirus, 2003.
 
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam/ São Paulo: Autores Associados:Cortez.1989.
 
____________. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 42ª edição.

MARTINET. André. Elementos de linguística geral, 8. Ed. Lisboa:Martins Fontes, 1978 - disponível em www.brasilescola.com/portugues/linguistica.htm, acesso em 02.11.2014
 
SISTO, Celso. Textos & pretextos: sobre a arte de contar histórias; ed. Aletria, 3ª ed. Belo Horizonte, 2012. 
 
TIBA, Içami. Pais e educadores de alta performance, 2.ed.-São Paulo: Integrare Editora, 2012.
 
A leitura que transforma; Márcia Patrícia Barboza de Souza – disponível em www.profala.com/arteducesp139.htm. acesso em 07.11.2014.
 
Caminhos do direito de aprender; Boas práticas de 26 municípios que melhoraram a qualidade da educação/Coordenação UNICEF- Brasília, DF, 2010.
 
Formação de leitores de literatura na escola brasileira: caminhadas e labirintos; Alice Vieira, Cadernos de Pesquisa, v. 38, n. 134, maio/ago. 2008.
 
Mediação de leitura, mais que uma história, um processo de encantamento; Renata Rimet, disponível em http://www.renatarimet.com/visualizar.php?idt=4559281 acesso em 22.10.2014.
 
Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa /Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília 1997 disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf
 
 
 
 
 
 
 
Renata Rimet
Enviado por Renata Rimet em 19/12/2014
Código do texto: T5074808
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