A influência das concepções docentes ao construir uma prática pedagógica inclusiva com alunos com trajetória de insucesso escolar

Resumo: A presença do fracasso escolar, uma problemática que tem se materializado na vida de inúmeros alunos que frequentam as escolas de nosso país, é considerada historicamente como um dos maiores desafios para a qualificação do sistema educacional brasileiro. Os motivos que nos guiaram à realização desse trabalho devem-se às nossas inquietações vividas na infância e que, ainda, se faz presente em nossa formação e atuação docente e psicopedagógica. Sendo assim, devemos mencionar que essa situação sempre se fez presente em nossa trajetória escolar ao presenciar no Ensino Fundamental, repetidas vezes, as seguintes expressões proferidas pelos professores: Bando de burros, vocês não sabem nada!; Vocês não querem nada com vida, porque vêm à escola?. Com estes relatos concretos de desvalorização dos discentes, constatamos que os alunos com muita dificuldade na aprendizagem ou, então, com atraso escolar (distorção idade-série) muitas vezes eram considerados pelos professores como problemáticos ou como caso perdido em sala de aula. A partir dessa realidade vivida, é que nos propusemos a investigar a seguinte problemática: de que forma as concepções formuladas durante o exercício da prática docente podem interferir tanto no desempenho do professor como na aprendizagem dos alunos e, em particular, os provenientes de uma trajetória marcada pelo insucesso escolar. Para alcançar o objeto desse estudo, foi considerado como objetivo geral analisar as implicações das concepções docentes em relação ao fracasso escolar nas séries iniciais (2ª a 4ª séries) do Ensino Fundamental da Escola Municipal Mascarenhas de Morais, localizada na zona sul da cidade de Teresina-PI, tendo como objetivos específicos: identificar as concepções dos professores sobre o fracasso escolar no exercício da prática educativa e refletir sobre as concepções docentes e suas implicações nas relações interpessoais durante o processo ensino-aprendizagem dos alunos. O presente trabalho teve como referencial teórico os estudos de Patto (1999), Mantovanini (2001), Bossa (2002), Cordié (1996), Melchior (2004), Aquino (1996), dentre outros. Este referencial nos possibilitou reafirmar a importância da relação professor-aluno como forma de superar os obstáculos e os desafios vividos no cotidiano escolar. O trabalho foi baseado na pesquisa qualitativa de caráter exploratório, tendo com instrumentos de coleta de dados a observação não-participante, questionários e a entrevista semi-estruturada. De posse dos dados recolhidos, os mesmos foram submetidos à análise de conteúdo. Os resultados obtidos pela pesquisa apontam a existência de inúmeros fatores que contribuem para o fracasso escolar, dentre os quais destacamos: falta ou ineficácia de políticas públicas educacionais, indisciplina do aluno, descompromisso da família, má renumeração e jornada extensiva de trabalho dos professores e, em especial, que as concepções docentes no que diz respeito ao desempenho, a aprendizagem, o comportamento dos alunos em sala de aula, como também as competências, as habilidades e o papel da educação na vida dos sujeitos pesquisados interferem diretamente na aprendizagem do aluno e na eficácia da prática docente.

Palavras-chave: fracasso escolar; concepções docentes; prática pedagógica inclusiva; aprendizagem do aluno; relações interpessoais.

1 INTRODUÇÃO

Tratar a questão do fracasso escolar é aceitar que este fenômeno é um dos grandes desafios para a qualificação da educação em nosso país. Em termos educacionais, a expressão utilizada como “fracasso escolar” ou “insucesso escolar” geralmente representa um rendimento insatisfatório do aluno diante dos objetivos estabelecidos pela escola durante o período letivo. Nesta perspectiva, percebemos que essa triste realidade acaba desestruturando os ideais de inúmeros brasileiros como retrata Cordié (1996, p.35):

O fracasso escolar afeta o sujeito em sua totalidade. Ele sofre, ao mesmo tempo, com a falta de estima por não estar à altura de suas aspirações, ele sofre também com a depreciação. Quando não com o desprezo que lê no olhar dos outros. O fracasso atinge, portanto, o ser íntimo e o ser social da pessoa.

Sendo assim, o fracasso escolar deve ser visto pelos professores como obstáculos a serem ultrapassado, pois, se porventura o aluno venha a fracassar nos estudos estará implicando, também, que o professor também fracassou na sua atribuição de ensinar. Neste sentido, Melchior ( 2004, p.10) ainda destaca que: “o professor deve ter consciência de que só será bem sucedido como profissional se seu aluno também obtiver sucesso, e que seu papel é determinante para a aprendizagem do aluno”. Diante desse quadro, o presente estudo buscou investigar como a concepção do professor sobre o insucesso escolar pode influenciar na aprendizagem do aluno e na prática docente? Neste aspecto, o trabalho foi norteado pelas seguintes questões: De que forma as concepções dos docentes influenciam na aprendizagem dos alunos com trajetória de insucesso escolar? e como a concepção que o professor atribui ao fracasso escolar interfere no desempenho de sua prática docente?

O presente trabalho trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório. Para alcançar o objeto desse estudo, foi considerado como objetivo geral analisar as implicações das concepções docentes em relação ao insucesso escolar nas séries iniciais (2ª a 4ª séries) do Ensino Fundamental, tendo como objetivos específicos: Identificar as concepções do professor sobre o fracasso escolar no exercício da prática educativa e refletir sobre as concepções docentes e suas implicações no processo ensino-aprendizagem dos alunos. Para discutir a presença do fracasso escolar a pesquisa buscou retratar os fatores que influenciam a aprendizagem dos alunos como também a prática docente dos professores e, consequentemente, na relação professor-aluno.

A pesquisa foi realizada 03(três) salas do Ensino Fundamental na Escola Municipal Mascarenhas de Morais, pertencente à rede de ensino público de Teresina-PI. Nesse sentido, a escolha por referenciais teóricos distintos deve-se ao fato de que, ao discutir sobre insucesso escolar, estamos tratando de um fenômeno complexo e polissêmico tanto pela sua constituição, como também pelas suas causas e consequências devido à multiplicidade de relações que permeiam essa problemática.

Tratar a questão do fracasso escolar requer, a princípio, uma análise crítica sobre a historicidade desse fenômeno como forma de compreendermos os dilemas vividos pelos sujeitos pesquisados. Consultando a literatura pertinente à problemática estudada, constatamos que o fracasso escolar é, ainda, nos dias de hoje um entrave social que continua perpetuando-se através dos altos índices de reprovação e evasão escolar. Cabe mencionar que para Bossa (2002, p. 12) o fracasso escolar é considerado como um sintoma escolar que significa “um entrave que faz sinal [...] que se refere a todo tipo de entrave que leva ao fracasso escolar, seja docente, seja decorrente de aspectos culturais, sociais, familiares, pedagógicos, orgânicos, intrapsíquicos”.

2 A TRAJETÓRIA PERCORRIDA: OPÇÃO METODOLÓGICA

A necessidade sentida de desvendar o cotidiano do professor ao lidar com alunos com trajetória de insucesso escolar encaminhou-nos a uma pesquisa de campo do tipo exploratória numa abordagem qualitativa. Segundo natureza da pesquisa, utilizamos como instrumentos de coleta de dados, a observação não-participante e entrevista semi-estruturada por acreditar que os mesmos são elementos riquíssimos para a apreensão de dados significativos para o alcance dos objetivos almejados. As entrevistas, após a permissão dos entrevistados, foram gravadas em fita cassete e transcritas para a elaboração da análise e discussão dos dados.

2.1 Caracterizando o campo de pesquisa e os sujeitos pesquisados

Quanto à identificação do sujeito, explicitamos que sua identidade profissional seria preservada e que os mesmos pudessem atribuir nomes fictícios (pseudônimos). Sobre este aspecto, os docentes não sabiam a que nome poderia se identificar, deixaram em branco a proposta e quando solicitados a criar seu personagem, disseram-nos que esse aspecto poderia ficar a nosso critério. Os sujeitos da pesquisa foram: uma pedagoga e duas professoras titulares. Uma das entrevistadas é responsável pelas 3ª e 4ª séries nos turnos da manhã e tarde enquanto a outra é professora da 2ª série da manhã. Para preservar a identificação dos sujeitos pesquisados adotamos nomes fictícios (pseudônimos) conforme foi solicitado pelos mesmos.

•A pedagoga foi denominada como Vitória, 52 anos, viúva, três filhos, mora no bairro Cristo Rei, é graduada em pedagogia e pós-graduada lato sensu em supervisão escolar, tem uma jornada de trabalho de 40 horas/aula semanais na escola pesquisada.

•A professora da 2ª série foi identificada como Rosa, 48 anos, solteira, residente no centro da cidade, tem somente curso pedagógico de nível médio, jornada de trabalho de 40 horas/aula semanais sendo que em duas escolas distintas.

•A professora de 3ª e 4ª séries foi denominada Clara, 41 anos, casada, com dois filhos, residente no bairro Cristo Rei. Formada em Pedagogia, está cursando especialização em Matemática, é professora titular da instituição tendo como jornada de trabalho 40 horas/aula semanais.

A Escola Municipal Mascarenhas de Morais, pertencente à rede pública municipal de ensino é localizada no bairro Ilhotas na Rua José Ommatti, nº 1345, zona sul da cidade de Teresina-Piauí.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Com base nas observações realizadas, as professoras mencionaram que os motivos são vários que justificam os alunos não se dedicarem muito aos estudos. O que comprova que com os relatos dos alunos ao assumirem que já foram reprovados destacaram que os mesmos apresentam o seguinte comportamento: não sabem ler nem escrever, não há acompanhamento familiar nas atividades, conversam muito durante as aulas, baixa frequência nas aulas, faltas durante o período de provas, não conseguem concentrar-se no momento em que o professor está explicando o assunto.

Em suma, o acompanhamento escolar realizado pela família, é apontado pelos professores como um ponto crítico para a postura do aluno, pois se não há um adulto para acompanhá-las quem poderá tirar as dúvidas sobre determinado assunto que não aprenderam durante os ensinamentos na escola, ou seja, a família acaba não sabendo de fato o que deixaram ou não de aprender. Maturano (2000, p. 107) destaca que para uma aprendizagem significativa dos alunos é de fundamental importância o papel da família porque:

As crianças mais atrasadas na escola são as que recebem menos supervisão dos pais (na lição de casa, no estudo para as provas e no acompanhamento das notas e frequências). Suas famílias têm menos rotinas com horário definido e menos oportunidades de se reunirem, quando comparado às famílias de crianças com pouco ou nenhum atraso escolar.

Por se tratar de um estudo de natureza qualitativa, abordaremos os discursos proferidos pelas professoras pesquisadas sobre a problemática em questão: de que forma o fracasso escolar influencia sua prática docente. A organização e a análise dos dados foram criteriosamente seguidos conforme as categorias gerais e suas respectivas subcategorias acerca da problemática estudada.

Primeira questão: De que formas as concepções dos docentes influenciam na aprendizagem dos alunos com trajetória de insucesso escolar?

Categoria 1

A- Falha no planejamento e no desenvolvimento da ação docente

1.1- Despreparo do professor

1.2- Conscientização

1.3- Indisciplina do aluno

Segunda questão: Como a concepção que o professor atribui aos alunos com trajetória de insucesso escolar interfere no desempenho de sua

prática docente?

Categoria 2

B- O desinteresse do aluno e o descaso da família compromete a eficácia da ação docente

2.1- Descompromisso

2.2- Jornada de trabalho

2.3- Desafio

Com base nas questões acima, a categoria geral deu origem e duas categorias que foram analisadas com análise de conteúdo. Na categoria 1, foi denominada Falha no planejamento e no desenvolvimento da ação docente, para resolver a primeira categoria da análise dos dados coletados utilizamos as seguintes questões:

O que vem a sua cabeça quando te falam de fracasso escolar? e A quem você atribui a responsabilização pelo fracasso escolar?.

Com base nessas questões surgiram três subcategorias: Despreparo do professor, Conscientização, Indisciplina do aluno. Cabe pontuar que as subcategorias mencionadas correspondem a recolha dos dados obtidos pela entrevista semi-estruturada. Com base nas falas dos sujeitos pesquisados e na análise de conteúdo deu-se origem os seguintes aspectos que influenciam a prática docente e a aprendizagem dos alunos. Vejamos, então, os discursos dos sujeitos pesquisados.

A professora Clara ao falar sobre o insucesso escolar, deixou bastante evidente que as expectativas do professor no que diz respeito à produção do aluno é bastante deficitária, ou seja, ela acredita que o saber do aluno é abaixo daquilo que ela espera e do que a escola propõe e que por conta dessa peculiaridade, o aluno acaba fracassando no processo avaliativo por não ter ou não cultivar os pré-requisitos essenciais para apropriação do conhecimento. Como podemos constatar na falta da pedagoga Vitória a ocorrência do fracasso escolar está atrelada a uma falha ocorrida no planejamento e na execução do trabalho pedagógico, ou seja, a metodologia do fazer pedagógico planejado não foi concretizada com êxito representando, portanto, o fracasso do professor e da própria escola. Ela, ainda, ressalta que não importa a quantidade de alunos que fracassaram na escola, mas, acima de tudo, a escola deve oferecer um ensino de qualidade, planejado e que não possa excluir o aluno.

Por outro lado, a professora Clara é bastante enfática em mencionar que o fracasso escolar é reflexo de uma boa qualificação docente, pois o professor que não tenha uma formação consistente e uma atuação eficaz em seu fazer docente jamais poderá reverter esse quadro. Em nossas observações, podemos presenciar que a mesma é bastante envolvida com seus alunos e que tenha estabelecer um contato mais próximo com os alunos que tenham dificuldades na aprendizagem, tentando sempre que possível dia longo com alunos para verificar se houve ou não a assimilação do conteúdo.

Nesse sentido, a família, a comunidade e a própria escola devem despertar no aluno o prazer de aprender a aprender. Como própria pedagoga menciona que: Está faltando a escola, a família, a comunidade mostrar que o estudo é tão fundamental quanto à vida. Está faltando o despertar. A escola está fracassando porque não está conseguindo atingir a todos os alunos, que o melhor caminho é o saber. Podemos constatar que o relato da pedagoga, o despertar representa o incentivo de conscientização aliada à reivindicação de direitos e deveres que só poderá transformar a realidade existente através da mobilização de todos.

Categoria 1 A - Falha no planejamento e no desenvolvimento da ação docente

Subcategoria Despreparo do professor

TRECHO DA FALA DA PEDAGOGA VITÓRIA

- Duas coisas: uma falha no planejamento ou na fase de execução. Alguma coisa não deu certo, porque a escola planeja e se organiza para atender a todos. Se houve fracasso para nós não interessa a quantidade de alunos, pois se houve um fracasso deve ser revisto.

- Pois, se temos 100 alunos e não conseguimos um ensino de qualidade para esses 100 alunos, o fracasso do aluno embora a família esteja diretamente contribuindo para que isso ocorra, não será visto do ponto familiar, mas o fracasso da própria escola.

TRECHO DA FALA DA PROFESSORA CLARA

- Incompetência, falta de investimento na educação, indisciplina na sala de aula.

- O fracasso escolar ocorre por inúmeros fatores. Muitas vezes, o professor não é bem preparado para trabalhar na sala de aula, faz Licenciatura curta ou não tem um curso superior, às vezes não é muito envolvido com a educação. Nesse sentido, o professor que não tem experiência suficiente, não vai conseguir nunca ajudar esse aluno. É preciso investir na qualidade da formação dos professores.

TRECHO DA FALA DA PROFESSORA ROSA

- O aluno apresenta um baixo rendimento, um nível de aprendizado muito aquém daquilo que se espera dele, os nossos objetivos não são alcançados e, no final, o retrato do fracasso escolar é representado na avaliação (Que é um terror!). As notas simbolizam que ele não aprendeu nada ou quase nada daquilo que ensinamos. São poucos os que têm um aproveitamento razoável.

Para a professora Rosa, aprendizagem do aluno é, acima de tudo, produto dos objetivos traçados pelo professor, pois o aluno que não aprendeu acaba não assimilando aquilo que foi ensinado, representando assim a consequência do desempenho do aluno através das notas que irão representar o sucesso ou fracasso escolar do aluno. Trabalhar a conscientização sobre a ocorrência do fracasso escolar é, sem dúvida alguma, um grande dilema para a prática educativa das escolas, pois, a ausência ou a não participação de todos os envolvidos pode contribuir decisivamente no processo de ensino-aprendizagem dos alunos que serão, por sua vez, penalizados com sucessivas repetências ao longo do seu percurso escolar. Nesse sentido, a escola poderá sofrer consequências desastrosas como: desmotivação dos alunos, desqualificação do ensino e falta de credibilidade da instituição pela sociedade.

Nesse sentido, a família, a comunidade e a própria escola devem despertar no aluno o prazer de aprender a aprender. Como a própria pedagoga menciona que: Está faltando a escola, a família, a comunidade mostrar que o estudo é tão fundamental quanto à vida. Está faltando o despertar. A escola está fracassando porque não está conseguindo atingir a todos os alunos, que o melhor caminho é o saber. Podemos constatar que o relato da pedagoga, o despertar representa o incentivo de conscientização aliada à reivindicação de direitos e deveres que só poderá transformar a realidade existente através da mobilização de todos. Ao destacar a importância da aprendizagem dos alunos, Clara esclarece que é de fundamental importância a tentativa de elevar a autoestima dos alunos que, apesar de todas dificuldades ocorridas no percurso escolar, possam lograr êxito.

Sem nenhuma pretensão de julgar a qualificação do trabalho pedagógico realizado pelas professoras, presenciamos que a professora Rosa destaca uma grande preocupação em torno da importância dos estudos como um único meio de transformação da realidade do aluno que, segundo sua visão os alunos já deveriam apresentar um nível de conscientização bastante acentuado sobre a sua condição socioeconômica relacionando em sua fala em sala de aula um discurso preocupado com o tempo presente e o futuro dos alunos, comprovando assim que a mesma anseia que seus alunos tenham consciência plena de suas atribuições de seu papel como estudante. É importante destacar que a pesquisa foi bastante complexa e muito ampla exigindo dos pesquisadores momentos de intenso trabalho para investigação e análise dos dados. Por motivos de adequação à submissão do trabalho proposto ao evento, não foi possível expor todas as categorias, colocamos apenas as mais importantes.

Categoria 2 - O desinteresse do aluno e o descaso da família compromete a eficácia da ação docente.

Subcategoria Desafio

TRECHO DA FALA DA PEDAGOGA VITÓRIA

- Primeira das estratégias é mostrar para os professores qual é a verdadeira função do educador. Antes de sermos professores, somos todos educadores. E que sobre nós temos 30 a 40 alunos na nossa responsabilidade. Diante disso, nos partimos para realizar o planejamento fundamentado no que o aluno já sabe para podermos saber até onde podemos levá-los para poder atingir nossos objetivos.

- A escola ainda tenta mostrar o outro caminho. Um caminho que não é tarde, que vai chegar a sua vez que ele é capaz e é possível ele superar esse déficit que ele não conseguiu no período normal.

TRECHO DA FALA DA PROFESSORA CLARA

- Eu ainda não descobri essa forma. Aqui na escola, as salas não têm grande quantidade de alunos, mas mesmo assim, ainda , ocorre o fracasso escolar. Eu ainda não tenho essa resposta. Para mim, esse tipo de prática voltada para alunos com trajetória de insucesso escolar é um desafio.

- Nós trabalhamos na perspectiva de aprovar os alunos. Nosso objetivo é esse, mas nem sempre conseguimos e por conta disso, o professor acaba frustrando-se. Nós tentamos elevar a autoestima desse aluno. Trabalhamos com os alunos em grupos ou dupla, para os que têm um bom desempenho escolar possam ajudar o outro que tem muita dificuldade. Apesar de ser difícil, na faixa etária da 4ª série (9 a 12 anos), eles são muito egoístas no sentido de dividir.

A partir da análise dos argumentos das professoras acima citadas, podemos inferir que todo e qualquer educador almeja trabalhar em uma escola idealizada e, em especial, com o imaginário de um bom aluno (aluno ideal). Isso significa que o plano real vivenciado pelos sujeitos pesquisados foge às suas aspirações e competências, pois quando o professor muitas vezes não tem a oportunidade de realizar sua prática pedagógica com acesso a um ambiente rico de recursos didáticos, com também de estímulos positivos para sua atuação profissional. O que pretendemos enfatizar com base na fala da professora mencionada que sua concepção acerca do fracasso/sucesso escolar é regida por uma visão determinista atrelada ao aspecto cognitivo e ao esforço do aluno, ou seja, quando o aluno é dedicado aos estudos, ele terá consequentemente grandes chances de trilhar um caminho de sucesso.

A esse respeito, constatamos que a professora está equivocada sobre a aprendizagem do aluno ao destacar que o mesmo é responsável por seu próprio futuro. Quanto a esse aspecto, Mantovanini ( 2001, p. 161) alerta que: “a aprendizagem escolar é um processo difícil, cheio de percalços e que não comportam causa únicas ou invariáveis”. Os sujeitos pesquisados têm a plena consciência que são múltiplos fatores influenciam a perpetuação dos altos índices do fracasso escolar que acaba gerando desqualificação do ensino devido aos escassos investimentos na educação brasileira. No entanto, está faltando despertar de todos os envolvidos neste processo, pois, a conscientização por si só não resolve as questões sociais é necessário, portanto, que se estabeleça de forma emergencial a interação entre todos para que possa atingir uma ação transformadora. Por outro, tanto na observação da prática docente como no discurso que a professora realiza em sua sala de aula aborda que a importância dos estudos está atrelada aos benefícios materiais que o estudo traz para um estilo de vida melhor, tanto para o aluno como para sua própria família.

Durante todas as nossas observações constamos que a professora Rosa sentia-se muito desvalorizada e insatisfeita com a situação de seus alunos. Esse mal-estar, essa sensação do professor não conseguir atingir aquilo que planejou, é originada por sua inconformidade ao apontarem o professor como culpado não-aprendizagem do aluno chegando, portanto, a declarar que: a Secretaria da Educação sempre atribui a culpa ao professor, no entanto, sabemos que essa culpa não é nossa. Fato esse expresso em diversos momentos durante nossas conversas. Com base nesse relato, Clara sentia-se inconformada com essa situação, principalmente porque sua turma é considerada como “problemática” e a própria família dos alunos não têm compromisso com as atividades escolares.

Para as professoras, o bom aluno não precisa ser necessariamente o aluno inteligente, mas o esforçado, participativo e amigável. Retomando a mesma discussão sobre os fatores que interferem na prática pedagógica podemos constatar que a esse respeito, constatamos com base nas observações e nas entrevistas indisciplinado é considerado em um “aluno problema” que é capaz de desestruturar uma prática pedagógica eficaz, pois os alunos não respeitam o professor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos dados recolhidos e na fundamentação teórica deste estudo, constatamos que a presença do fracasso/insucesso escolar interfere tanto na eficácia da ação docente como também na “desestruturação” da relação professor-aluno durante todo o processo de ensino-aprendizagem, pois, segundo os depoimentos dos professores pesquisados há uma preocupação maior, em relação às expectativas referentes ao rendimento escolar do aluno que geralmente está atrelada aos aspectos relativos à aprendizagem do aluno que giram em torno dos problemas comportamentais que alunos apresentam em sala de aula.

Os resultados da pesquisa apontam que os problemas particulares do aluno é causado ainda por fatores extracurricular como desestruturação, descompromisso familiar, falta de interesse do aluno, a indisciplina do aluno, etc. Com relação a execução das prática pedagógicas dos professores, os sujeitos relatam que a disciplina do aluno e o compromisso da família são fatores decisivos para condução do processo de ensino-aprendizagem. Quanto a esses aspectos, os docentes enfatizam que necessário à integração da escola e a família para que os alunos possam lograr êxito na escola.

Sobre a utilização das atividades mais criativas e dinamizadoras, os professores destaca que a escola é carente de recursos didáticos, mas apesar dessa dificuldade durante a realização das atividades, os alunos estão bastante envolvidos para brincar com os colegas de turma ao ponto de não oportunizar uma aprendizagem efetiva por conta que um trabalho em equipe não ocorre de forma integradora. Segundo suas concepções, este tipo de metodologia em grupo acaba representando uma prática desafiante, pois somente o quadro e o professor acabam desestimulando os alunos diante das tecnologias contemporâneas.

Uma das falhas apontadas pelos professores deve-se ao fato de uma jornada de trabalho bastante extensiva que, por sua vez, compromete a eficácia do fazer pedagógico devido às muitas atribuições que os professores têm para aumentar sua renda salarial. No que diz respeito a esse aspecto, o professor reconhece que quando o professor tem muitas atribuições a qualidade do ensino acaba caindo por falta de tempo para o planejamento e a elaboração de recursos para dinamizar as aulas.

Com base nessas considerações, acreditamos que ao analisarmos o insucesso escolar e sua relação com a prática escolar docente constatamos que o fazer pedagógico de todo e qualquer professor há um conjunto de valores que orienta suas ações e atitudes, mesmo quando o professor não tenha plena consciência da influência dos seus valores na relação de suas atividades docentes.

Pensando assim, cabe ao professor e a escola adotar uma postura crítico-reflexiva ao lidar com os alunos e, em especial, os educandos com uma trajetória marcada pelos insucessos escolares quanto às suas reais funções desempenhadas. Quanto a essa questão, concordamos com Weisz (2001, p. 60) ao mencionar que “não é o processo de aprendizagem que deve se adaptar ao de ensino, mas o processo de ensino é que tem de se adaptar ao de aprendizagem.” Ao se destacar a importância da articulação do processo de ensinar e de aprender, que apesar de serem de naturezas distintas, são interdependentes. Com base nesta proposição argumentativa, pretendemos reafirmar que se não acreditamos no potencial dos nossos alunos, o professor poderá estar fadado ao fracasso escolar. Justamente pelo motivo que seu sucesso profissional deve implicar necessariamente ao sucesso escolar de seu aluno e da sua própria escola.

Nestas circunstâncias, acreditamos que a parceria entre professor e aluno, ainda pode transformar a realidade de inúmeras crianças que almejam atingir êxito escolar, porém acabaram presenciando seus lindos sonhos destruídos pelo fracasso escolar. Com base no estudo realizado, gostaríamos de pontuar algumas considerações para que as escolas possam direcionar suas ações para minimizar a presença, do fracasso escolar, tais como:

- ter maior contato com os alunos para entender seus problema , melhorando a relação professor x alunos;

- conscientização e acompanhamento efetivo por parte dos pais dos alunos sobre a importância da cooperação justo à escola. A escola pode estabelecer compromisso de família através de práticas significativas no cotidiano escolar;

- Reduzir o número de alunos nas classes de alfabetização e da 1ª série do Ensino Fundamental, como nas demais séries;

- Capacitação de professores e gestores da escola a fim de melhorar a qualificação do ensino;

- Reforço paralelo antecipado para não comprometer todo o ano letivo;

- A definição de prioridade para a utilização dos recursos através de planejamento pedagógico capaz de melhorar a aprendizagem do aluno;

- Detectar possíveis problemas no método de ensino e fazer a recuperação ainda dentro do período letivo e implantar um plano estratégico para a permanência dos alunos na escola;

- Aplicação de um questionário socioeconômico para toda a comunidade escolar para que a escola possa de fato conhecer seus próprios alunos e sua família descobrindo, portanto, as suas limitações e necessidade existentes.

- Desenvolver vários projetos com objetivos de acompanhar os alunos com desempenho insatisfatório, a fim de garantir a promoção dos mesmos no final do período letivo;

- Implantação de uma equipe multidisciplinar com – psicólogos, psicopedagogos, orientadores, etc. – com o propósito de conduzir o trabalho coletivo da escola;

- Reduzir o nível de analfabetismo dos pais no sentido de fazer um acompanhamento mais significativo;

- Implantação de um plano de carreiras de salários para suprir as necessidades dos professores no que diz respeito para que os mesmos possam investir na sua própria carreira profissional;

- Reduzir a jornada de trabalho dos professores que trabalham 2 ou 3 turnos na sala de aula;

- Maior tempo disponível no horário pedagógico para que os professores possa elaborar conjunto, tarefas pedagógicas.

Vale ressaltar que para que as recomendações acima citadas venham a se concretizar na prática é necessário que haja uma mudança de postura da escola e do próprio professor através da conscientização de suas atitudes e ações importante destacar, ainda, que não basta a conscientização que a escola esteja fracassando no desempenho de suas atividades.

É notório afirmar que, acima de tudo, é necessário e urgente que a equipe escolar possa implantar um plano estratégico para redução dos índices do fracasso seja minimizados. É preciso salientar que para mudar a realidade educacional de nosso país, é primordial que as escolas possam conduzir seus alunos durante todo percurso escolar, como objetivo de resgatar os valores, a autoestima e a força de vontade dos educadores e de seus alunos, para que possam juntos superar todos os obstáculos e desafios existentes em sua trajetória escolar.

REFERÊNCIAS

BOSSA, N. A. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. São Paulo: Artmed, 2002.

CORDIÉ, A., Os atrasados não existem: psicanálise de crianças com fracasso escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

MANTOVANINI, M. C. Professores e alunos problema: círculo vicioso. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.

MARTURANO, E. M. Ambiente Familiar e Abordagem Escolar. In:

FUNAYAMA, C. A. R. (org.). Problemas de aprendizagem: enfoque multidisciplinar. São Paulo: Alínea, 2000.

MELCHIOR, M. C. O Sucesso Escolar Através da Avaliação e da Recuperação. 2ª ed. – Porto Alegre: Premier, 2004.

WEISZ, T.; SANCHEZ, A.. O Diálogo Entre o Ensino e a Aprendizagem. São Paulo: Ática, Coleção Palavra de Professores, 2001.

* Lucília Santos – Formação Internacional em Professional e Self Coaching, Leader Coach, Analista Comportamental e Analista em 360º pelo IBC. Graduada em Pedagogia e em Psicopedagogia aplicada à Educação. Especialista: Neuropsicologia, Psicopedagogia Clínica, Institucional e Hospitalar, MBA em Gestão de Recursos Humanos e em Neuropsicopedagogia Clínica. Professora na Educação Básica e Ensino Superior. Atua como coach, professora, palestrante e escritora.

Lucília Santos
Enviado por Lucília Santos em 15/01/2015
Reeditado em 04/07/2018
Código do texto: T5102857
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