Que é Filosofia?

O QUE É FILOSOFIA?

INTRODUÇÃO

Henrique Jorge da Silva Sacramento

Diante do fragmento do texto de Platão intitulado “Teeteto”, nos deparamos com a condição de responder as seguintes questões: a) O que o texto narra? b) O que o texto revela? c) O que posso pensar a partir do texto? Sendo assim, somos levados á refletir o que tal fragmento nos condiciona a reflexionar frente aos desafios filosóficos. O texto, mesmo como fragmento nos é uma janela aberta, um convite ao entendimento do que seja a dialética socrática, narrada por Platão. E aqui abriremos uma hermenêutica flexiva à dialética anversa aos novos desafios emaranhados na Didática e Ensino da Filosofia compartilhando o pensar da filosofia grega antiga e pensar filosófico com Heidegger.

O que é Filosofia?

Frente ao grande desafio de entender “O que é filosofia?”, partindo do discernimento grego clássico , como nos é informado por Jaeger:

Todo povo que atinge um certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinado à prática da educação. Ela é o princípio por meio do qual a comunidade humana conserva e transmite a sua peculiaridade física e espiritual. Com a mudança das coisas, mudam os indivíduos; o tipo permanece o mesmo. (...) Só o homem, porém, conseguem conservar e programar a sua forma de existência social e espiritual por meio da vontade consciente e da razão. (JAEGER, 2010, p.3)

Indagamos, chegamos a tal amadurecimento sócio-educacional? Nisso perguntamos: “Que é Filosofia?” Partiremos das indagações platônicas com base em Teeteto e depois analisando o pensamento de Heidegger sobre o mesmo, o texto narra dialeticamente duas questões basilares, o saber e o conhecimento, o que é o saber? E o que é o conhecimento em si? Narra Sócrates, apresentando e desenvolvendo e aplicando o método maiêutico como método auxiliador paternejador ás ideias de seus “alunos” em seu próprio saber . Apresentando um caminho como proposta metodológica, ou melhor, uma didática pedagógica socrática, conhecida como maiêutica. Assim indagamos: a) o que o texto narra? É-nos narrado não apenas a presença da Filosofia e sim o fazer filosófico. b) o que o texto nos revela? Revela-nos pedagogicamente e didaticamente um Sócrates que escolhe seguir não transmitir seus saberes nem seus conhecimentos aos demais, toda via, provoca o mesmo em seus discípulos à excitação mental e filosófica de por si mesmo desenvolverem como que por dores de partos mentais e filosóficas, suas próprias ideias venham á luz . O mestre (aqui Sócrates) não se posiciona, não toma partido diante de opiniões de seus discípulos como detentor de saberes e conhecimento, no entanto, si proporcionava como um facilitador aos seus discípulos a alçar os saberes e conhecimentos que, já estava em si. O texto nos revela que a maiêutica como método de ensino no qual o educador não é visto como fonte do saber, antonimamente ele é aquele que auxilia o discípulo a gerar sua autonomia. O texto nos revela que o fazer filosófico é mais do quê apenas a apropriação de ideias alheias como sustentação para filosofa-lo, não que tais posturas não sejam necessárias, entretanto isso não faz por si mesma, ou não garante por ela mesma o ato de filosofar, pois o ato de filosofar dependerá do ato de iniciação filosófica, que vem ser isto?

A leitura filosófica supõe aprender a descobrir os pressupostos do texto, a desenvolver suas condições de inteligibilidade, a exercitar a capacidade de Problematização. Para tanto, é preciso apropriar-se dele de maneira metódica, rigorosa, sistemática. Façamos um breve apanhado do processo de uma leitura analítica. 1. Análise Textual: após a leitura atenta, mas rápida, o leitor levanta dúvidas (...) o autor no seu contexto histórico e na corrente de pensamento a que pertence (...); 2. Análise temática: (...) “ouvir” o autor, ou seja, a aprender o que ele diz e as ideias que defende; destacar a ideia central e as ideias secundárias, na tentativa de identificar com clareza o problema que o autor se propôs a discutir. 3. Análise interpretativa: (...) “ouvir” e começar a “dialogar” com o autor; lendo nas entrelinhas, levando hipóteses sobre os subentendidos no texto (diálogo) , examina seus pensamentos, relaciona as ideias do autor com outras concepções filosóficas. Desenvolve a crítica, examinando, a coerência (...) a originalidade... (SEVERINO, 2000, p.51-58)

Nada mais, nada menos do que a entrega do filosofando ou do filósofo a práxis do auto interrogar-se. No texto de Platão intitulado de Teeteto, isto nos fica claro; evidente, o sujeito – pensante, tanto quando o sujeito instigador do pensamento, nesse caso, Sócrates, representando o papel do docente e Teeteto o papel do discente, Sócrates nos é posto como um educador filosófico que não trás as respostas da filosofia prontas, ele por meio da dialética oferece ao seu discípulo (os), a (as) oportunidade (des) de pensar, de reflexionar por si mesmo, partindo das coisas simples ás complexas. O texto de Teeteto nos revela a lermos a filosofia com um olhar proposto por Sócrates, um olhar pessoal, diferenciado, dos olhares padrornificados e engessados do padrão corriqueiro educacional. Criando nossa maneira pessoal de fazer filosofia . Tal revelação nos faz questionar outra indagação: c) o que posso pensar a partir do texto? Partindo do ponto de vista do fragmento do texto de Teeteto:

Perante a reservada aquiescência de Teeteto, o próprio Sócrates exprime o seu espanto, que a seguir encarrega de esclarecer. É porque “nada é um em si e por si”, nem “algo ou qualidade”. Mas “tudo é, deslocação, movimento e mistura de umas coisas com outras”, destes tudo se gerando. É, “pois, um erro dizer que as coisas “são”, pois nunca nada é, mas tudo se transforma.” (152d).

Sócrates começa por apoiar esta tese na tradição, registrando a oposição de Parmênides a Protágoras e Heráclito, Empédocles, Epicarpo e Homero (152e). Mas passa a defendê-la por meio de argumentos “físicos”. Não só o movimento é tido como a causa da existência, através do calor e do fogo (153a), e o repouso da destruição, como o corpo é preservado pelo exercício, e a alma através da aprendizagem e da prática (153b-c). São ainda acrescentados outros exemplos. (153c-d). (PLATÃO, Teeteto, 2010, p.27).

Somos levados a entender e a pensar que Platão nos apresenta uma característica indispensável ao exercício filosófico cuja magnitude de sua realidade se faz na realização da consistência do ato platônico na valorização do filosofar e não tão amiúde no decorar e no reproduzir de saberes já preestabelecidos, é preciso pensar, gerar em si, ou buscar em si aquilo que já está gerado, apresentado pela maiêutica socrática, Platão abre espaço para que a dialética possa alcançar seu espaço dentro de uma pedagogia e de uma didática educacional filosófica onde o diálogo seja um meio e não um fim em si mesmo, considerando que a realização da ação filosófica por ela mesma, assim pensamos, está além da filosofia, ousamos á ter ousadia de afirma que pensamos ser a práxis o ato filosófico que precede a Filosofia, pois não existiria a Filosofia sem que antes houvesse como gênesis a ação de filosofar, ou ato filosófico. Pois o que é este ato filosófico? Nada mais do que reflexionar racionalmente, sobre bases lógicas e metodológicas e posteriormente por meio da ferramenta hermenêutica expor o próprio pensar filosófico, tal pensar, antes um embrião (aqui apenas como figura de linguagem) passa a se envolver na metamorfose da filosofia, passa pelo processo iniciático. Entendem se que por ela mesma a Filosofia é apenas uma disciplina, enquanto o filosofar uma maneira, uma configuração, um método, uma via, uma forma á ser posta como pedra angular na construção dos alicerces da Filosofia. Diante deste pequeno fragmento platônico, podemos pensar como esse ato filosófico pode nos ajudar a desenvolvermos em nossas ações práticas em sala de aula, no convívio com nosso corpo discente uma metodologia e uma didática pela qual venhamos produzir um encontro entre o docente e o discente, pela via da dialética, ferramenta essa, caso bem utilizada capaz de dilatar nossa relação interpessoal em sala de aula no desenvolvimento dos diálogos filosóficos, na produção de argumentos, contextualizando a filosofia ao contexto de nossa realidade, e assim entrelaçando um novo modelo didático filosófico que seja autêntico. Tal como foi autêntico a forma como Sócrates se propôs a filosofar com Teeteto. Passamos a compreender ser a Filosofia como uma ciência ou um saber cuja sua composição se dilata, essencialmente, na e pela dúvida, pela pergunta, pela inquirição. O sagrado: “O que é?” “Como é?” “Por que é?” “Para que é?” “Será que é? “Como pode?”. São por sua natureza inquirições natas próprias do fazer filosófico, fazem parte desse processo partenezante socrático, desse parto filosófico, dessas dores de parto maiêutico, se encontram na gênesis da atitude, no caráter e da práxis filosófica.

É por meio dessa perspectiva que nossa ótica analisa o exercitar filosófico, a Filosofia é uma ciência, um saber, o filosofar uma ação, uma práxis, que excita, instiga o pensamento a se abrir os olhos ao pensar perenemente. O fragmento do texto de Teeteto de Platão nos aponta um Sócrates instigador, que motiva seus discípulos a pensar, ao invés de apenas apresentar meras respostas preestabelecidas como muitas vezes nos é comuns dentro do nosso atual conjunto educacional. Qual a grande diferenciação presente na didática socrática? A dialética. É essa metodologia, essa didática do dialogo, da discussão, da troca de ideias que faz ser possível a maturação das ideias, podemos ousar a pensar e assim agir filosoficamente de maneira dinâmica gerando nossas próprias metodologias, dinâmicas, didáticas, pois a Filosofia não está acorrentada por esse ou àquele método filosófico, quem faz acontecer a Filosofia não é o método filosófico, ou a didática filosófica, nem mesmo os guias os regras filosóficas, se é que existe um o que faz a Filosofia existir como Filosofia é como sempre foram os Filósofos, por ousarem cada um em seu tempo e sem seu contexto ousar criar novos métodos, novas didáticas, novos olhares, pôr vinho novo em odres novos. Platão no fragmento de Teeteto nos remete diretamente ao exercício dialético. Essa didática socrática por um lado decompõe certos valores de ideias preconcebidas, destroem valores e opiniões infundadas, ou mal construídas logicamente, por preconceitos por juízos pré-moldados, entretanto encaminha rumo á compreensões rigorosas e basiladas aos assuntos levados em conta. A fiúza, e a convicção que um aluno, um discípulo pode galgar, por seus próprios méritos, à construção e edificação de saberes e conhecimentos, frente á mera passividade receptora de informações e saberes já embutidos, fundados e formulados, que era o convencional da práxis educacional grega na época de Sócrates, e ao que parece, isso se repete nessa contemporaneidade.

É-nos aberto um convite em Platão, por meio de suas obras para um múltiplo agir, ou atitudes para com o fazer filosófico, em todas as suas obras onde encontramos o diálogo, da mesma forma como se faz na obra de Teeteto, encontramos o incentivo a entender a característica do axioma platônico que incide na valorização do filosofar e não no aprimoramento disciplinar da filosofia. Em todo tempo somos incentivados a pensar a proposição real do agente do filosofar, ou o filosofando, aquele que se propõe a não apenas a narrar sobre filosofia, e sim, entre tudo, a filosofar, nos provocando filosoficamente a filosofarmos á fazermos uma filosofia cuja sua ação seja constantemente ativa. Podemos aqui, voltar a questionar: O que é filosofa? Para nós, vermos ser desenvolver de modo prático uma práxis cuja metodologia nos conduza a reflexionar criticamente e racionalmente sobre um objeto em questão, buscando compreender a natureza geral de tal objeto ou sua essência, abrindo-nos sempre a novas perspectivas sobre o mesmo objeto, sobre novas concepções, a Filosofia é o fruto primogênito e caçula do ato filosófico. Sem abrir mão metodologicamente da metodologia da didática dialógica e da maiêutica na via processual do filosofar, entendendo ser primordial no que tange o amadurecimento do filosofar em si. Pensamos que partindo do texto de Teeteto, tais elementos podem e devem ser resgatados á didática filosófica contemporânea, no incentivo ao discente para que venham por eles mesmos construírem seus caminhos e descubram por eles mesmos as questões filosóficas levantadas em sala ou no cotidiano da vida, pois antes de tudo a Filosofia é além de uma disciplina escolar ou acadêmica, uma disciplina para o bem viver. E que o papel do docente volte a ser como foi o de Sócrates, aquele docente que instigava o discípulo-aluno á caminhar por si mesmo, excitando ao pensamento, dando-lhes a vara de pescar, mostrando-lhes onde os peixes estavam, cabendo os alunos, aplicarem os ensinos de como pescar ou não. Mas nunca lhe dando o peixe gratuitamente. Pois o saber tem seu preço, como diria Sócrates, o preço das dores de parto, das ideias a serem geradas. A Filosofia é essa que se contextualiza com a dialética e essa com existência e a existência com a vida e sua contextualidade. No dizer socrático:

Sendo assim a vida humana marcada pela oposição do mal ao bem, deve o homem livre tentar tornar-se semelhante ao deus, seguindo a virtude e buscando a sabedoria. De modo que, dos dois modelos de vida que há no mundo, posa ajustar-se ao divino, rejeitando o ímpio. Pois, dado que cada homem vive a vida de acordo com o modelo a que se a semelha, os que confiam na sua esperteza não chegarão ao lugar que se acha reservado aos puros. Mas, se, pelo contrário, se questionarem com virilidade, acabarão por desprezar a retórica que cultivaram. (Idem, p.41).

O ministério de ensinar a pensar, não pode ser produto de uma espontaneidade, de um acaso, de fazer qualquer, mas de um proceder metodológico.

Não há conhecimento que possa ser aprendido e recriado se não mexer, inicialmente, nas preocupações que as pessoas detêm; é um contra-senso supor que se possa ensinar crianças e jovens principalmente, sem partir das preocupações que eles têm, pois, do contrário, só conseguirá que decorem (constrangidos e sem interesses) os conhecimentos que deveriam ser apropriados (tornados próprios). (CORTELA, 2001, p. 116)

Por metodologia filosófica, entendemos não a passagem definitiva, ou o caminho em si, mas a procura por caminhos, ou vias. Ao que pensamos é o que Cortela tenta nos dizer. Não o caminho por excelência, a via privilegiada, mas as vias possíveis, ou algo para se pensar. O método por ele mesmo não é receita pronta, algo acabado, no entanto, um modo de extração de um território. O nosso território já está evidenciado: o ensinar a filosofar, dentro de uma didática pedagógica. O que sabemos sobre isto? Ou ainda, qual é a nossa ignorância sobre este saber? Se não houver ignorância também já não há possibilidade de construção de saber. Eis o paradoxo: se, naquele que se sopesa ser sabedor de alguma coisa, não houver a consciência de sua própria ignorância, sobre isto mesmo que ele pensa saber, já não haverá o que pensar. O método não se constitui em uma atitude, mas com em uma bússola que me provoca quanto ao modo de eu desenvolver a minha investigação para que esta se constitua como filosófica. O método se apresenta para que eu através dele aprenda a interrogar. Ele é um instrumento de exploração.

Uma filosofia do ensino deve começar examinando as condições e as possibilidades da ação de ensinar e as relações internas (necessárias) e externas (possíveis) entre ensinar e aprender. As teorias da educação oferecem inúmeras contribuições para resolver esse problema, que, apesar, disso, permanece problemático. As análises minuciosas, de base empírica ou filosófica, confundem-se com crenças e posições ideológicas. As fenomenologias da educação pretendem alcanças a “essência” do ensino e da aprendizagem; a filosofia analítica procura esclarecer os conceitos – chaves, como “conhecer”, “pensar”, “compreender”; e as filosofias culturalistas examinam a educação com um conjunto de relações de bases socioeconômicas e políticas.” (PAVIANE , in Apud FÁVERO, 2002, p. 43)

Como podemos notar, existe toda uma conjuntura referente ao ensino, a didática e metodologia aplicada á Filosofia. Aqui não temos a aspiração de sermos contrafeitos; ao contrário, pretendemos ser o mais simples possível. Filosofar implica método, não é uma espontaneidade. “Como arrazoamos este método?” Uma vez que o nosso ministério oficial, ou seja, nosso ofício de práxis esteja irrevogavelmente atrelado ao uso da literatura filosófica, ou por sua vez, em cogitar reflexivamente em trabalhos, textos filosóficos, ou tópicos alvitrados pela tradição filosófica, entendemos que podemos tomar esses textos, frutos de filósofos, como se fossem pessoas mais informadas, doutrinados, culturalizadas, sábias, intelectualizadas, conhecedores do que nós mesmos e situarmos com eles um diálogo (dialética). E através dessa troca de ideias, oriunda desse bate papo filosofal, entre o leitor e o filosofo – texto filosófico, edificar uma atitude que, ao aprender com aquele que pode nós informar algo, venhamos nós construir os meios do aprender, o que aprendemos não é o substância enquanto conteúdo do que ele nos propõe a ensinar, mas como edificamos aquilo que se é possível ensinar. Perguntamos: “O que devemos procurar quando estamos lendo um autor?” Sempre o diálogo. “Em que consiste esse diálogo?” Em um treinamento no qual duas alteridades, por terem consciência do que são, desenvolvem uma conversa, onde o exercício de pensamento é constitutivo do próprio ato de conversar. Em uma conversa, não se estabelece quem sabe mais, quem pode ou não ter a razão, quem é ou não apropriado a ensinar, capaz de explicar algo, de tornar evidente um assunto. A conversa é uma troca e uma procura que aos poucos vai se tornando consciente, em busca de esclarecimento, para aqueles que nela estão envolvidos. Como foi o exemplo: Diálogo de Platão com Teeteto.

A reflexão filosófica sobre as condições e s fontes do conhecimento pelo menos aos antigos filósofos gregos Platão (c. 427 c. 347 a.e.c) e Aristóteles (384 – 322 a.e.c). O Teeteto de Platão e os Segundos analíticos, mais do que quaisquer outros escritos, preparam o caminho para a epistemologia, na medida em que delimitaram o conceito humano. No Teeteto, por exemplo,vemos Sócrates, a figura central dos escritos de Platão, a discutir com alguns como alguns amigos sobre como certos mestres reputados conhecem as coisas nas quais se distinguem como especialistas, os amigos lhe perguntam qual é a característica geral que distingue aqueles que realmente sabem, como os mestres, daqueles que ainda não sabem estão em vias direta e indiretamente, boa parte das inquisições filosóficas acerca do conhecimento humano. (MOSER, 2008, p. 6.)

Com correspondência ao que Moser quer nos dizer, podemos afirma que a leitura filosófica não é uma ação ou atitude que se realiza tão apenas para aprender, é conversa – diálogo – dialética, que se estabelece com uma pessoa culta ou informada. O leitor adentra na atmosfera do egregoral do diálogo cônscio de si, é partindo desta sua consciência que o diálogo se dá ou não em sim mesma.

E, encetando de temas - questões bastante simplórias, á exemplo: o que o texto quer narrar? O que o texto quer nos revelar? O que podemos pensar, partindo do texto? E podemos ainda acrescentar uma quarta questão: O que podemos pensar com o texto, apesar do texto, contra o texto, por fim, construir com autonomia?

A autonomia da vontade é constitutiva da vontade mesma, pela qual ela é, para si mesma, uma lei – independentemente de como forem construídos os objetivos do querer. O princípio da autonomia é, pois, não escolher de outro modo, mas, sim deste: que as máximas da escolha, no próprio querer, sejam ao mesmo tempo incluídas como lei universal. (NASCIMENTO in Apud GALLO, 2004, p.62.)

É sobre essa autonomia que precisamos retomar os rumos da Filosofia, partindo de seu gênesis, o ato de pensar por si mesmo. Essas três perguntas nos são como chaves, no processo de desvendar para o discente em que consiste a especificidade do pensar filosófico, e ajudá-lo a perceber em que consiste a sua relação com este pensar.

A primeira pergunta trata do que é óbvio no texto, a partir dela podemos destrinçar o texto hermeneuticamente. Explorar o seu conteúdo. Por essa via nossos estudantes poderão se tornar primorosos. Aqui tanto podemos procurar o personagem ou personagens do texto, se houver, bem como sua tese, seus argumentos e modo como uma exegese filosófica, uma garimpagem. Heidegger em seu pensar nos afirma que estamos jogados aí no mundo, e como um agente filosófico poderia ver o modo como é como tal? O mesmo nos diz Kahlmey-Metens:

Traduzir o pensamento a uma disciplina. Entendida normalmente como uma apresentação explicativa que troca uma matéria em seus elementos, a introdução seria, inevitavelmente, reducionista, convertendo o pensamento a um produto palpável, passível de ser reproduzido de ser intercambiável e cheio de utilidade. A partir daí, pode ser reproduzido, de maneira técnica, só mais uma disciplina, já esquecida de sua dimensão mais radical. (KAHLMEYER-METENS, 2008, p.8)

É preciso submergir á fundo na ação filosófica para entender que seja filosofia, nisso podemos a cada texto filosófico lido, a cada autor lido inserir uma segunda questão: O texto nos revela o quê?

A resposta a essa questão exige um tipo de leitura do texto que já não está mais na ambiência de sua obviedade, mas um novo tipo de exploração. Exige de nós o exercício da faculdade de reflexão para explorarmos as múltiplas relações possíveis de serem estabelecidas, a partir do texto em si. Os alunos aprendem a dizer: o que está subentendido no texto, mas com esta expressão eles estão sendo enganados, pois o texto está todo posto em sua narrativa. Se algo estivesse subentendido, todos encontrariam este sub - entendimento. Ao contrário, quando debelamos o texto a pergunta: “o que o texto nos revela?” O que percebemos é a diversidade de afinidades que são trazidas ao cenário da conversa - dialética. De modo que, se não houver aquele que analisa e extrai do texto alguma relação, ou afinidade, essa relação não será sensível a nenhuma pessoa, nesse caso o filosofando. Neste processo de exploração procuramos perceber de que modo podemos dialogar com o texto; de que maneira ele está próximo de nós ou distante. Está-se próximo, como compreender esta proximidade? Por exemplo: Como discorrer um diálogo com um texto de Pitágoras? Como essa dialética é possível? Isto é possível? Como os fragmentos de Heráclito se fazem contemporâneos a aluno de Filosofia do nono ano do ensino fundamental II, no século XXI? Ou, como podemos dialogar com uma narrativa mítica? Por que podemos dialogar com tais narrativas? Necessitaríamos esquadrinhar e ambicionar encontrar o caminho pelo qual podemos desvelar estes dois entes tão distantes no tempo e no espaço, e tão próximo ontologicamente. O que o texto nos revela? – nos coloca diante de um esforço de imaginação e uso do conhecimento adquirido. O pensar filosófico não pode desprezar o conhecimento e a vivência, ou seja, o ser como historicidade em que o jovem já se constitui; mas deve provocá-lo para que se realize o esforço de instrumentalizar estes conhecimentos em função do exercício de pensar com propriedade. Para que não ocorra justamente o que Heidegger afirmava, observando justamente o fato de que “as filosofias platônicas e aristotélicas sucumbiram ao destino, do qual nenhuma filosofia escapa: elas se tornaram filosofias escolares” (HEIDEGGER, 2003, p.43). De modo que este desvelar está disponível segundo as circunstâncias de cada um. O que o texto revela, somos nós que devemos procurar e querer ver. Já não é mais o texto que narra, mas sou eu que procuro ver algo nele. Para que o texto não morar nele mesmo! E desse modo somos nós que fazemos brotar de tais textos uma dimensão que eles não narram, mas que somos capazes de ver. Esse processo de ver não ocorre espontaneamente, mas devemos aprender a ver. Mais do que isto podemos compreender esse processo a qualquer objeto sobre o qual nós resolvamos investigar filosoficamente.

O diálogo só é possível quando percebemos a proximidade do interlocutor, quando o ouvimos e compreendemos que ele se dirige a filosofando, não para nos ensinar, mas para dizer de sua existência. Lemos os textos filosóficos para interpretá-los, no entanto, os mesmo também nos interpretam. Sem esta percepção não há diálogo, não há reconhecimento do outro, não há interlocução. Eis como devemos nos relacionar com o texto. Não devemos querer ensinar aos estudantes, mas provocá-los a descobrir algum caminho que essa provocação possa apontar. Ou seja, Ele deve aprender a perceber que não é o texto que revela, mas é ele quem arranca do texto este revelar, ou seja, é ele quem desvela, a partir de suas circunstâncias. Da mesma forma, Heidegger alude: “(...) aprende-se na medida em que se traz o fazer e seu deixar ser humano à correspondência do essencial em cada caso. Aprendemos o pensar no atentar ao que é pensável” (HEIDEGER, 1984, p.1). Assim, se ensinamos algo, o que ensinamos se constitui em uma ajuda ao outro para que se perceba como alguém capaz de construir, a partir de suas circunstâncias, o entendimento acerca de algo. O texto só diz o que diz não se desdobra sobre si mesmo. Somos nós que arrancamos do texto as múltiplas relações possíveis. E cada um pode realizar este exercício. Então, o que devemos perceber como estudante de filosofia? Que essa competência pode pertencer a qualquer um, que ela está disponível a cada um. Mas ela deve ser trazida à tona, deve ser colocada diante de nós, deve tornar-se um hábito, para que possamos perceber que temos essa competência. Nosso esforço é de procurar amparar o estudante a revelar-se para si mesmo, como ato de pensar, como foi o ato socrático – maiêutico. A ideia de que, ensinar o conteúdo da literatura filosófica é o mesmo que instruir a pensar filosoficamente, está tão arraigada na massa, que nos impedem de questionar essa crença em si. Quer-se consigo fazer essa distinção. Entendemos, porém que essa distinção deve ser feita, deve ser trabalhada e desenvolvida. Não podemos ter uma ideia filosófica com fundação de um ato tão afetuoso: o lecionar a pensar filosoficamente.

A terceira questão: o que o texto nos permite ou provoca o pensar? – É formulada para permitir ao educando um autoconhecimento. Ou seja, a acúmen de que existe uma atividade que se torna uma práxis, na qual ele possui, assim desejamos pensar, certa autonomia, portanto, há uma responsabilidade de expor a partir de seu próprio eu, de construir o esclarecimento, de ir além da atividade de aprender, de estresir, de narrar, de emitir juízos de valor, opinião, todavia pensar. Quanto mais aprisionamos os educandos aos textos, tanto mais os anteparamos de por eles mesmos de pensar, tanto quanto contribuirmos para que os mesmos se componham em exímios repetidores – decorativos de ideias alheias filosóficas, sem nenhum auto-senso crítico. Para os filósofos livres, á exemplo, um intérprete do pensamento de Nietzsche, é um repetidor de Nietzsche. Cunhar o próprio axioma, não é explanar homileticamente o pensamento de alguém, por mais expressivo que o tal seja para a relevância do pensamento filosófico, sopesar ou comentar este pensamento, não o é mesmo que filosofar! Dizer o próprio é ter a atrevimento de, assentar sobre os ombros de gigantes e pronunciar a própria fala, de modo pessoal, expor suas ideias.

Pensar sobre - “Que é Filosofia?” Nos conduz diante das leituras filosóficas a averiguar: “O que o texto nos permite pensar?” – Provoca-nos, convoca-nos e evoca-nos como filósofos em processo do filosofar ao deparar-se consigo mesmo, a colocar-se diante de si mesmo, antes de tudo, almejar ser patenteado de algum bem filosófico. Queremos sempre situar, ali cuja topografia do pensar é um repto para nós e para aqueles a quem é infligido o dever de aprender e apreender a pensar filosoficamente. Indivíduo algum aprende a arrazoar filosoficamente apenas pela literatura filosófica. Pois filosofar é um ato pelo qual o sujeito, questiona a essência, natureza, e a realidade de todos os seus objetos em questão, trata-se de uma ação que envolve o ser como um todo. Para atingirmos o mérito do pensar filosófico necessitamos compreender que vem ser isto: “O pensar filosófico”. O filosofando de imediato, aprende a aprender, e em seguida a aprender a decorar, como tem sido a práxis, a enunciar juízos de valor, ou como se profere, a ser o que chamamos de crítico, como se tais modos compusessem a obra de pensar. Isto é inexata, uma ação sofismagórica. Tais ações são atitudes preparativas da ação de refletir, pois pensar é na tradição do pensamento ocidental Greco - romana uma postura obrigatoriamente natural, precisamos volver aos clássicos, e arquitetar o juízo acerca do que seja “Que é Filosofia?”. Um retorno ao entendimento de como se fazia filosofia na Grécia antiga. Interrogando mais do que passando horas lendo o que outros já interrogaram.

A autonomia no pensamento não é algo que se agracie ou se oferte a alguma pessoa ou se permita acontecer, mas alguma coisa que se pode auxiliar a erigir e se edifica com o outro. Precisamos apenas encontrar a via pelo qual pensamos e provocar o outro para refletir sem reverência e si por ele mesmo. A via, ou o caminho é uma procura com o outro. Como Sócrates e seus discípulos, á exemplo de Sócrates e Teeteto. Nós não gerimos não o carregáramos pelas mãos, como se faz á crianças, tão somente o instigamos, para que o mesmo, por si descubra que há uma atividade nele que lhe compete, mas que está intacta, que até hoje não foi colocada sob sua visão: a sua atividade essencial, aquela que efetivamente o constitui como humano, que é pensar. Ou seja, podemos amparar o outro a conseguir uma nova realização, capital que constitua a sua autonomia e estabelece a sua personalidade: o próprio pensar filosófico. A submissão perante um autor filosófico, de uma teoria filosófica, ante de uma tese ou hipótese filosófica, de quem quer que ele seja o filósofo se compõe uma recusa do pensar. Ninguém possui prelado suficiente para dizer qual é o pensar verdadeiro.

Deste modo, não podemos sentir satisfeito com o silêncio do estudante como resposta, nem a sua modéstia às convicções já estabelecidas a partir de um texto, contexto ou algo que o valha, mas desejamos o seu ato de pensar, o seu esforço de explicitar algum entendimento. Esse esforço não se dá a partir de um ambiente distinto. Antagonicamente, qualquer lugar, qualquer objeto possui, para pensá-lo, a mesma decência. Diz-se que se aprende a pensar criticamente, isto é uma redundância, quem aprende a pensar, só o faz criticamente. Não há um pensar pueril. Se o for, não é pensar, pois este desvela ao rasgar do véu, para si mesmo o seu objeto. O pensamento que não desvela é uma simulação, um faz de contas. Somos imbuídos em auxiliar a desconstruir o aparente pensar que envolve os alunos. Estes são guiados como as ovelhas ao encontro de verdes pastagens. Aprendem a crer que pensar é se apropriarem de informação ou a repetir com os comentadores. E falam solenemente: o eu poético quis dizer..., Ou ainda: conforme fulano de tal; e deslancha um rosário de citações para fundamentar suas mais profundas teses sobre o que fulano de tal quis dizer. Iludidos de que esta busca de fundamentação é pensar. Estão convencidos, são crentes e estão certos, pois este é o paradigma de sua formação. Tirai-lhe as citações e a literatura filosófica e eles já não sabem o que fazer para pensar, e, portanto, acaba-se o próprio pensamento.

Tudo que está posto diante de nós, vem da imaginação, que serve para alimentar o pensar do outro, que o faz pensar; mas não serve para nós nem nos faz pensar, porque sermos pensadores através do pensar do outro. Temos, no entanto, ao menos um ponto de apoio para pensá-lo como atuação. É a reflexão - imaginação que nos faz pensar. A imaginação não está em cargo do enleio, mas da criação. O método é apenas, (seja ele socrático, platônico, cartesiano, husserliano) ferramenta ou meios a serviço da imaginação. O que podemos pensar até aqui é que a práxis filosófica de Sócrates apresentada no fragmento de Platão no diálogo de Teeteto, nos aponta uma filosofia socrática que incide não exclusivamente em uma mera efetivação de um perpetrar filosófico, enquanto educação voltada á filosofia, contudo um enlaço filosófico que desemboca em um perpetrar filosófico, levando em uma global consideração e estima que Sócrates tinha em seus diálogos uma ferramenta metodológica e didática para atingir uma finalidade prática e objetiva, á de extrair de seus discípulos o saber e o conhecimento que já estavam de uma certa forma latente em cada um deles, bastava excitá-los a pensar. E o fazer filosófico nos permite pensar ser isso, um poder pensar, um poder interrogar, um poder buscar nas inquirições e nas interrogações ás inquietações das dúvidas que carregamos dentro de cada um, de modo a fazer desse método um fazer filosofia, um fazer filosófico, um fazer dialético e maiêutico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação filosófica em nosso contexto ela é nova, levando em consideração a longevidade e longa história do processo educativo do velho continente frente á nossa realidade educacional, e vivenciamos uma realidade de desafios diante de tantos outros que faz com que o desafio da educação do Ensino da Filosofia seja por nós repensada com devoção á essa causa, dizemos devoção por uma simples razão, o debruçar no exercício filosófico é um sacrifício voluntário, não há grandes méritos sociais á serem reconhecidos pela massa social, entretanto há uma suma importância no papel de modo geral na contextualidade da Educação, considerando a importância da Filosofia para todas as demais áreas do saber humano, pois ela interliga todos os demais saberes e conhecimentos, ela poder levar a tocha de Prometheus á todos os lugares, á todas as disciplinas e assim a iluminá-las dando-as outras perspectivas e novos olhares, sem o olhar filosófico todo saber humano enxergará um mundo em preto e cinza, sem as cores vibrantes, sem as tonalidades que só ela nos pode apresentar, sem os “porquês?” Sem os: “O que é?” Sem o “Como é?” Sem o “Por que é?” O mundo do saber perde seu pai e sua mãe! Perde seu progenitor e sua progenitora. Esse fragmento platônico referente o diálogo de Teeteto, nos evidência isto, Filosofia, vista pela ótica socrática é a Filosofia que nos permite olhar as coisas como elas são e nos permite perguntar, o que já foi perguntado, e re-preguntar, como também, perguntar o que não foi perguntado. E assim perenemente sempre perguntar. Somos levados a repensar uma metodologia, didática e pedagogia do ensino da filosofia adequada ao nosso contexto que corresponda a nossa realidade socioeducacional, que não seja a mesma ainda reproduzida da mera repetição da decoração de textos e nomes filosóficos sem maiores influências na própria realidade do filosofando. Um Filosofia que possa retornar á Grécia e aos mesmo tempo se corresponder com os areópagos da contemporaneidade.

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Henrique Sacramento
Enviado por Henrique Sacramento em 27/04/2015
Reeditado em 27/04/2015
Código do texto: T5222273
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