Angústia na Psicanálise

....alinhavando os meus estudos em Psicanálise...

Na perspectiva psicanalista, o homem é insatisfeito por natureza. E, é essa insatisfação que o faz buscar mais e sempre mais...A angústia não é algo transparente para o sujeito, mas, é responsável por essa insatisfação. Faz parte da estrutura humana. Onde se faz enigmático algo que diz respeito ao desejo do sujeito.

Para Freud, a angústia está relacionada ao desamparo inicial em que o homem nasce, pode-se dizer, "normal" nos neuróticos. Dentro dessa linha, há a histeria, comum em muitas mulheres e, homens, neuróticos obsessivos. Nas estruturas histérica e neurótica obsessiva, a insatisfação é muito maior, e causa mais sofrimento do que nos neuróticos, causando sofrimento também nas pessoas mais próximas. São os tidos como "personalidades difíceis".

Para os neuróticos faltará sempre algo... o que chamamos na psicanálise de “falta ou perda do objeto” - a angústia. Isso entra na estrutura desde muito cedo, é quando a mãe falta em alguns momentos, - ela foge do olhar da criança. Ela sente medo e desamparo. A perda do objeto não está relacionada a uma ausência, mas, a uma presença portadora de um enigma que muitas vezes não é decifrado, pois em cada sujeito se instala de uma forma.

Mas, há também as estruturas doentias ou patológicas, elas também se instalam desde muito cedo, como é o caso da estrutura paranóica, psicótica, fólica e esquizofrênica. Casos que necessitarão de ajuda e orientação médica.

Em 1895, Freud articula algo sobre essa angústia, "o desamparo primordial do sujeito humano", - inscreve na dialética da relação com o outro. Freud o divide em duas partes: uma que pode ser reconhecida como significante e outra que se apresenta como estranha e mesmo hostíl, na medida em que não se deixa ser apresentado com transparência pelo sujeito.

Lacan, nesta mesma linha de pensamento, articula, diferentemente de Freud, que a angústia não está relacionada ao desamparo inicial, mas sim ao amparo que o sujeito recebe, a forma como se aliena a mãe, o que se faz enigmático diz respeito a algo do desejo do Outro sobre aquele ser que acabou de chegar; diz respeito aos primeiros discursos, com a forma como cada um é falado. Neste sentido a perda do objeto não está relacionada a uma ausência, mas, a uma presença portadora de um enigma...

Na neurose o que ocorre é uma falsa demanda. O neurótico faz de sua demanda o seu objeto de desejo. A angústia surge quando se dá a esta “falsa” demanda uma resposta obscura que não preserva esse vazio e causa do desejo, - uma resposta que não tem nada a ver com o conteúdo da demanda, com a falta que o sujeito sente e não sabe o que é. Se positivo ou negativo, é aí que surge esta perturbação onde se manifesta a angústia.

Mas a angústia de que tratam não se refere, certamente, apenas ao neurótico, estando ligada à própria estrutura do sujeito. O significante engendra um mundo, o mundo do sujeito que fala e desenvolve a linguagem.

Há o sujeito epistêmico e o desejante, cujo "inconsciente é estruturado como linguagem" para Lacan.

Estudos comprovam de que há uma característica essencial humana que é a capacidade de enganar-se. A angústia é como um corte mesmo, sem o qual a presença do significante, seu funcionamento, sua entrada no real é impensável. É este corte que se abre e que deixa aparecer o inesperado, a novidade - pressentimento, pré-sentimento – algo que vem antes do nascimento de um sentimento que não se traduz. Nesse sentido, a verdadeira substância da angústia é aquilo que não engana, o que não resta dúvida...há uma falta, mas que não se sabe de que.

Para Lacan, portanto, a angústia tem algo a ser desvendado.... algo que nem o próprio sujeito sabe o que é. A angústia introduz a função da falta. Falta algo e, há um enigma a ser desvendado é essa a sensação de falta, de incompleto mesmo que é o sentimento de angústia.

Nessa perspectiva, a angústia, é a falta para a psicanálise, a falta radical. Ela é radical para a própria constituição da subjetividade do sujeito, por isso o faz sofrer.

No nível do desejo, a angústia é introduzida como manifestação específica do desejo do Outro, onde ganha importância no sentido que se produz no eu, no lugar do eu, mas que diz respeito ao sujeito. Se isto aparece no eu é porque o sujeito foi advertido de algo – e este algo é um desejo que ele próprio desconhece,mas, está presente na sua estrutura, no seu inconsciente, por isso, sofre, a busca é por algo que não sabe o que é , e se desespera, se sente sem chão.

Por isso, que ouvimos dizer que algumas pessoas são "insatisfeitas por natureza". A insatisfação está na natureza humana ali latente. Ela vem, se instala, incomoda, e dói.

Há a insatisfação normal, necessária para o desenvolvimento humano, mas, se ela se instalar de forma doentia, que mexe com a estrutura do sujeito, ela precisa ser avaliada.

A dor da angústia para alguns, é um grito surdo no peito, vontade de dizer algo que o sujeito não sabe o que é, mas algo que simplesmente dói e angustia. Podemos dizer que é uma dor sentida na alma, é algo insuportável mesmo, que sufoca.

A angústia que imobiliza o sujeito não pode ser compreendida pela dor do dia a dia, pelas insatisfações comuns no neurótico. Tudo dependerá da estrutura de personalidade que se formou, ou se instalou em cada sujeito, em que fase ele se fixou, segundo Freud.

A angústia como dor da alma, dor profunda que incomoda e faz o sujeito sofrer demasiado, precisa ser investigada.

A dor da angústia pode ser comparada a dor que sentimos quando somos rejeitados ou desrespeitados por alguém, que as vezes, é confundida com decepção ou tristeza, essa, um dia passa, a pessoa elabora, até que outra decepção venha. Isso não se compara a dor de que estamos tratando. Essa dor da alma pode ser definida por alguns psiquiatras como a dor do ser mortal, é uma dor como "pulsão de morte", segundo Freud.

Saber lidar com a dor do dia a dia, a habilidade de resiliência, como a capacidade de se reorganizar frente ao fator estressor, leva-se em consideração a organização estrutural psíquica do sujeito de maneira a adaptar-se à sua realidade externa, é um processo íntimo que se integra a um processo social. Isso é diferente da dor da angústia.

A angústia como sensação constante de que sempre falta algo, é aquela insatisfação que dói, machuca, perdura, e, como o sujeito não sabe dizer de onde emana, precisa ter outro olhar, o olhar de um especialista. É aprender a lidar com a dor de forma menos dolorida, pois o sujeito precisa identificar de onde vem essa dor que incomoda, que sufoca, e que impede a pessoa de ser feliz.

Maria Teixeira, psicopedagoga e especialista em linguagem

(Leituras em Freud e Lacan)

m.teixeira@uol.com.br

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