EDUCAÇÃO E ENSINO: ADESTRAMENTO OU FORMAÇÃO CIDADÃ?

Se entendermos o ensino como mero adestramento para o vestibular ou como educação bancária, nos dizeres de Paulo Freire, realmente o ensino ficaria restrito à mesmice e ao “conteudismo” de uma sala de aula. Entretanto se nossa intenção ou compromisso é formar cidadãos participativos e que possuam autonomia suficiente para gerirem suas vidas com eficiência, neste caso, o papel da escola se expande para além de uma sala de aula e todos ensinam e aprendem.

Que importante lição sobre respeito e cordialidade podemos aprender com o porteiro ou a inspetora de alunos ao adentrarmos em um recinto escolar. Que excelente lição sobre limpeza e organização podemos tirar do trabalho e do exemplo dos agentes de limpeza e manutenção de uma escola e assim por diante, até chegar a figura do professor em sala de aula. As abordagens humanística, psicanalística, construtivista, das inteligências múltiplas e da inteligência emocional personificam a escola, se nos permitem a prosopopeia, tornando-a tal qual um organismo vivo e coletivo. Porém, para que todos cumpram este papel educativo na mais perfeita sintonia, é preciso considerar no planejamento a ação de todos os personagens envolvidos no contexto escolar, compreendendo que todos podem e devem promover educação, interação e conhecimento. Também é necessário quebrar a visão diretiva e engessada da prática escolar, concebendo o processo de ensino-aprendizagem como via de mão dupla, ou seja, numa perspectiva interacionista.

Aliás, o próprio léxico “aluno” deveria ser repensado, pois se atermos a antiguidade clássica, o termo, em questão, remete-nos aos significados de “a” (sem) e “lume” (luz), ou seja, “ser sem luz” ou “ser que está em busca de uma luz”. Bem sabemos que todo ser possui um contexto, uma história, uma personalidade, enfim, ninguém nasce desprovido, como se acreditava. Portanto, talvez devêssemos nomear estes seres que sentam-se nos bancos escolares como “profissionais do estudo” ou “profissionais da formação”, por exemplo.

E para termos êxito com os nossos “profissionais do estudo” (alunos, diga-se de passagem), precisamos considerar que o verbo ensinar possui dimensões e um currículo oculto que educadores mais descuidados podem não perceber. Para ensinar, primeiramente, é precisar despertar o outro para o ensino, ou seja, motivá-lo e tirá-lo da caverna de Platão e do ostracismo. E para motivar alguém, precisamos saber onde se encontra a libido deste ser. Que assuntos, temáticas ou práticas o mobilizam para o aprender e para a interação. Já dizia Caetano Veloso que “Narciso acha feio aquilo que não é espelho”, portanto precisamos partir do contexto do educando para conduzí-lo a patamares superiores de aprendizagem, mas o ponto de partida está na criança, no adolescente ou no jovem.

Questionamos a pouco o léxico “aluno”, mas também devemos ressignificar nossos conceitos sobre conhecimento e sobre inteligência. É comum uma hipervalorização dos conhecimentos linguísticos e lógicos-matemáticos, principalmente, por conta de avaliações externas como SARESP, ENEM, VESTIBULAR entre outras, promovendo até uma certa uniformização do conceito de inteligência e um relativo culto à erudição. Entretanto, questionemos, e as outras inteligências latentes em cada ser, que Gardner tão bem definiu em sua Teoria das inteligências múltiplas? E a Inteligência emocional, postulada por Daniel Coleman? Como diria Alexander Neil “Não seria melhor formarmos um varredor de ruas feliz, do que um erudito neurótico”?

Precisamos entender que aluno não é produto, não é cliente, não é consumidor. Pelo contrário, é muito mais, é um ser humano em formação, com potencialidades a serem desenvolvidas e aprimoradas e precisa de interação e de nossa mediação para construir um conhecimento significativo para sua vida. Portanto, mais do que ensinar e enriquecer currículo, o ensino tem que enriquecer o ser humano, tornando-o melhor, possibilitando caminhos para que desenvolva consciência crítica, cidadania participativa, ética e outros valores tão necessários para a nossa humanidade.

TRABALHO DE FACULDADE: ARTIGO

ANDRÉ LUIZ RAPHAEL - PROFIRMEZA - O MONGE OCIDENTAL