A ESCASSEZ DA INTELECTUALIDADE

Há tempos sinto que no Brasil falta viés ideológico distinto entre os jovens! Sem parâmetros para o debate, salvo raras exceções!!! Há uma valorização na cultura do Ter e um aviltamento na cultura do Ser, o que é prejudicial para o país e seu crescimento como Nação no mundo globalizado!!! Fui convidado pelo Coordenador da Unicesumar em Blumenau, creio eu que no ano de 2013, para fazer parte da banca avaliadora de um Engenheiro elétrico, que era professor do Senai e naquele ano, era pós graduando em docência no ensino superior!!! Gostei do nível cultural de instrução do mesmo, que dominava vários idiomas, era detentor de um saber profícuo na sua área, mas mesmo assim resolveu buscar a didática como fonte para aperfeiçoar suas aulas, por mais naturalmente que já possuísse grande domínio! Com esse ato, o mesmo valorizava o arcabouço acadêmico que brota na carreira de professor, na formação e principalmente no estudo sistemático das metodologias! Quem ganharia com isso no final seria o corpo discente(alunado) e como regra o local onde o mesmo lecionava, por poder contar com corpo docente ( professores) qualificado!!!

Como estudiosos da filosofia e Sociologia, sabemos que a divisão do poder dentro das sociedades é feita em três partes e um apêndice, que envolvem o espiritual, o econômico e o político que divide num sub grupo com o militar. Desde os primórdios da civilização, esses poderes emergem de acordo com a convivência de cada agregação. Em tribos de índios, podemos analisar as funções distintas divididas em sacerdotal, de comando guerreiro e de economia, nesse caso pautado na produção agropastoril.

Estes três elementos são poderosos se analisarmos com proficuidade qualquer livro de história, pois os veremos brotarem em Roma, com seus cultos, na Idade média e atualmente nas sociedades ocidentais democráticas modernas sobre a forma da intelectualidade ou inteligentzia, que usualmente referem-se a pessoas que executam e desenvolvem trabalhos intelectuais com complexidade e criatividade que tomam rumo ao escopo de desenvolver e disseminar cultura entre as classes.

Mas, hodiernamente nota-se que os professores das escolas e Universidades muitas vezes não preenchem o quadro de profissional apropriado ao ensino, mesmo dentro das novas perspectivas interacionistas, como seu papel de mediador. Em muitas conversas com professores universitários, percebo que há um distanciamento da didática e da composição de formação do profissional que vá além da tecnicidade da matéria específica para a qual leciona. Desta forma, nasce o professor compartimentado, termo esse, criado por mim e já descrito em vários artigos educacionais com o intuito de valorização da carreira do magistério.

Magistério é coisa séria e não admite percalços e professores sem a devida formação didática acadêmica, sendo que poderá com o famoso professor pego a laço e solto na sala de aula, surgir o desequilíbrio desses poderes existentes no cerne social, havendo inexoravelmente o enfraquecimento da classe intelectual. No Brasil não é diferente o que aconteceu em décadas de descaso educacional e vem acontecendo cotidianamente, transformando numa escassez intelectual! Isso, sem dúvida nenhuma refletirá nas gerações vindouras e ocorrerá maciçamente para uma desvalorização da meritocracia e uma cultura do fazer como se pode!!! Os alunos são heterogêneos e sua aprendizagem ocorre de forma também heterogênea, por isso o cuidado de evitar as aulas pacotes com professores compartimentados, sendo que as mesmas são por sí só homogêneas!!!

A sociedade em geral perde, porque o indivíduo mal formado instrucional, nos fará pagar caro pela sua falta de perspicácia, pois num país democrático, seu voto, seus direitos e seus deveres tem o mesmo valor que o seu. Aliás, no campo de dar e receber do Estado, o individuo que foge aos estudos recebe mais do protecionismo estatal criado com objetivo certo, diga-se de passagem, pois os governos precisam de massa de manobra, do que aquele que consegue galgar patamares mais altos na escala social, pois este último atinge sua independência e é sugado em seus impostos para carregar os outros que foram mal formados pelos instrumentos do Estado.

Nessa atual estrutura socioeducativa em que a educação faz parte, temos uma crise de identidade estabelecida. Os assuntos educacionais são discutidos inutilmente em inúmeras palestras e gastos públicos, com professores que “estão” e não “são”. Muitas vezes, fazem da educação um bico, apenas um meio para se virar em um curto período, sem a devida formação e pela flexibilidade das Leis, sendo que pode se averiguar por aí, um certo “estelionato educacional” aplicado pelas universidades e muitas vezes pelas escolas, e o pior: Com o aval do governo!!!

A mídia, os livros em geral, trazem uma transformação educacional, onde tudo funciona maravilhosamente, mas, na realidade, as ações não saem do papel e as raras aplicações, quando surgem, reduzidamente, são por poucos educadores que ousam colocá-las em prática, por meio de incentivos que quase nunca são governamentais.

Infelizmente não existe um projeto educacional eficiente e capaz de mudar a realidade dos jovens que estão à mercê do descaso e da valorização antes dos muros. Os currículos na maioria das vezes contemplam a realidade local e esquecem que o aprendizado para ser pleno, deve ser globalizado!!!

Não se formam indivíduos pensantes, escondendo debaixo do tapete os clássicos universais da literatura, da Filosofia, da sociologia!!! O ensino técnico direcionado é importante, desde que mesclado com o altamente intelectualizado!!! Ou formamos indivíduos com capacidade criadora ou estamos fadados ao insucesso e com rumo ao abismo educacional e cultural que assola nosso país. Não se vê jovens eruditos, salvo raríssimas exceções!!! Apenas compartimentados!!!

Há um desequilíbrio no terceiro poder, o que gera uma crise que afasta e desinteressa os jovens, eximindo-os e contribuindo com a falta de responsabilidade governamental que não terá capacidade no porvir de negociações para a evolução do país no campo externo!!! Sem professores qualificados e bem pagos, estamos caminhando para no futuro sermos enxovalhados em todos os campos da ciência e da tecnologia, fazendo com que sejamos altamente dependentes!!! O caminho é simples: valorização do professor e investimento em sua formação para que sobre tempo para o mesmo se desenvolver com mais tranquilidade e com uma vida mais digna, pois quem ganha é o país!!! A intelectualidade agoniza, e a fonte de cura, está cada vez mais seca!!! É uma escassez sem precedentes!!!

Telêmaco Marrace

Professor, com Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior pela UNICESUMAR de Maringá/PR