Desafios para a práxis da educação docente

Desafios para a práxis da educação docente

Belaniza Acioly Varges

(belaacioly@hotmail.com)

Cleonice Alves de Sousa Tigre

(cleonicetigre@hotmail.com)

Gilmar Pereira Lima

(gilprofessor@yahoo.com.br

Jaivan Sousa Acioly

(aciolyviola@yahoo.com.br)

Márcia Alves Vieira Rocha

( marcinha_alves7@yahoo.com.br)

INTRODUÇÃO

A educação adentrou em uma história que buscou se alicerçar e ao mesmo tempo serviu para a transmissão de uma ideologia para ação transformadora da sociedade. Ela envolve, engloba as políticas públicas na concepção de que o docente é o instrumento direto da transmissão da educação, e que também está no centro desses conflitos. A maneira de seu trabalho e as condições deste resultará no tipo de educação que os alunos receberão, seja voltada para formar indivíduos capazes de se reconhecerem enquanto sujeitos ou para a reprodução do saber e formação/capacitação de mão – de - obra para o capital. Por isso, as condições de trabalho têm grande importância no efetivo trabalho do docente. Nessa circunstância, o docente necessita compreender a organização da sociedade capitalista e suas contradições, no intuito de realizar um trabalho junto com o aluno para emancipação de sua condição de explorado. O conhecimento nessa sociedade é poder, e a ideologia impingida por essa sociedade, refletirá na reprodução das ideias e de estrutura social da classe dominante. Segundo Moreira e Silva (2005) a noção de ideologia está vinculada com o poder e interesse, por isso as políticas educacionais destinadas para os professores acabam afetando não apenas estes, mas também aos alunos e a sociedade. Dessa forma, o estudo sobre as condições de trabalho do docente da educação básica torna-se importante para se entender como os governos atuam na disputa por uma ideologia. Para Hofling (2001), ora o Estado atua em favor do capital, ora da sociedade, mediando essa relação no sentido de manter a dominação.

Conceito de movimentos sociais.

Não há movimento social sem descontentamento social, pessoas necessariamente compartilham uma mesma sensação de inadequação e injustiça. Diante da impossibilidade de se adaptarem dentro dos mecanismos vigentes, e compartilhando um sentimento comum, pessoas se unem articuladamente na gerência de ações capazes de afetar os mecanismos dos sistemas sociais para viabilizar sua inserção social. Alguns agem numa ordem ativa, pois querem mudar o sistema político-social. Outros agem dentro de uma ordem passiva, no sentido de que não aspiram a mudanças no modo como a sociedade se encontra estruturada, apenas tentam a inclusão de pessoas marginalizadas no sistema vigente.

"Os Movimentos Sociais podem ser considerados como empreendimentos coletivos para estabelecer nova ordem de vida. Tem eles início numa condição de inquietação e derivam seu poder de motivação na insatisfação diante de uma forma corrente de vida, de um lado, e dos desejos e esperanças de um novo esquema ou sistema de viver, do outro". (LEE apud LAKATOS, 1990)

Nos anos 70 no Brasil começa o movimento de educação popular, inspirado no ideário construído a partir da junção de conceitos marxistas e do cristianismo, tendo em Paulo Freire o seu principal representante, pois este conseguia compreender como a educação deveria ser realizada para um homem simples, e percebia que a cultura dita popular era central nessa formação, e utilizava a alfabetização como um momento de conscientização e libertação, a leitura, a capacidade de interpretação liberta o homem para pensar e agir.

Nos anos 80 as organizações populares, setores progressistas da Igreja Católica e movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem - Terra que passam a ter estruturas educacionais com concepção própria de uma educação emancipatória e fortalecida.

No que tange a uma democracia participativa os movimentos sociais contribuem para um desenvolvimento político e para a emancipação social, demonstrando que não somente os partidos políticos e as elites estão aptos a discutir problemas sociais, visto que a esfera pública é o espaço de todos os cidadãos, que usando de comunicação e do direito de participação política podem usar os Movimentos Sociais como canal de reenvidicação para melhoria de suas condições de vida e a construção de uma sociedade sem desigualdades e injustiças sociais, valorizando os direitos humanos. Portanto a defesa de uma democracia participativa que dê voz as classes oprimidas e marginalizadas é uma necessidade do Estado Democrático de Direito. O diálogo social deve se tornar uma ferramenta para a ação reflexiva nas atividades produtivas e reprodutivas, na busca do consenso sobre problemas e desafios que a educação sofre, através da prática – política, na busca da unidade na diversidade como um pacto de diferentes que preserve a expressão do pensamento e do agir, em torno das questões centrais para a realização da luta social de uma política educacional. Essa ferramenta é fundamental para evidência das contradições no mundo do trabalho e dos limites e possibilidades de avanços das transformações educacionais, da busca de escolas públicas de qualidade.

Todavia, as práticas são reveladoras do quanto é preciso avançar em torno dessa abordagem. O que se observa nas ações de qualificação é a prevalência da orientação metodológica nas seguintes direções: da instrumentalização básica, ou seja, da socialização apenas de conteúdos técnicos específicos através de cursos tendo em vista a aquisição de competência, voltada para as novas necessidades do setor produtivo; ou da possibilidade de obtenção de renda ou de lucro gerada com a crise do emprego e expansão da economia informal; ou da expectativa das possibilidades de execução das políticas públicas como resposta também ao desemprego. Acrescente-se ainda uma implicação importante no que se refere à execução dessas vias: a ação desarticulada, fragmentada e até concorrencial dos diversos atores sociais, na forma de entes públicos e privados ou híbridos, encarregados das ações de qualificação. A necessidade de qualificação profissional e de geração de emprego e renda vem se tornando uma unanimidade frente ao desemprego estrutural, ao avanço tecnológico. Mas, é importante se perguntar: qual o tipo de qualificação profissional e como pode se constituir instrumento para construção de uma nova hegemonia?

A infraestrutura educacional

O problema que se apresenta exige que sejam criadas políticas e estratégias de enfrentamento, por parte de todos os responsáveis Estados nacionais e outros organismos, que contemplem mais investimentos quantitativos e qualitativos no atendimento pelos sistemas educacionais. Observa-se que um número de trabalhadores jovens e adultos, desempregados ou subempregados, apresenta baixos níveis de escolaridade ou escolaridades incompletas e este fenômeno dificulta a inserção nas atividades produtivas escolares. Estes trabalhadores são duplamente expropriados socialmente, ao mesmo tempo, e muitos não têm nenhuma qualificação profissional para o trabalho. Quando os mesmos conseguem realizar cursos de qualificação profissional, em geral apresentam grandes dificuldades de desempenho de aprendizagens, no campo formal, por falta de fundamentos básicos para compreensão dos conteúdos profissionalizantes e análise das realidades sociais. Em Gramsci é ressaltada a importância das classes subalternas terem acesso à formação geral ampla, a cultura histórica e ao conhecimento científico e tecnológico acumulados socialmente.

A infraestrutura educacional é um dos componentes fundamental no resultado da qualidade da educação como um todo. E quando essa questão básica não é preenchida, ou mesmo deixada de lado, além de acarretar aos profissionais da educação certo desconforto para realização do seu trabalho, os mantém de “mãos atadas” para o efetivo exercício do ensino.

“Existem duas razões principais para se estudar infraestrutura das escolas. A primeira trata das condições físicas de trabalho, no que tange à atividade-fim – a educação propriamente dita – diz respeito aos meios disponíveis para um trabalho mais confortável, menos desgastante, mais prazeroso e por isso mesmo mais produtivo, além de mais saudável para o trabalhador. A segunda razão é a de que estamos falando de educação, um trabalho de importância social inegável e colocado no centro das estratégias de desenvolvimento, particularmente para o Brasil, afinal melhor infraestrutura está relacionada com melhor qualidade de ensino” (ODELIUS E BATISTA, 1999, p.161).

Para esses autores a infraestrutura escolar tem grande importância e tal constatação se fez por conta das observações e visitas realizadas nas escolas. Concluem que ainda há uma deficiência em relação a esse aspecto na educação brasileira. Faltam materiais básicos e de apoio ao ensino, condições de trabalho e ambientais precárias (como salas e banheiro para professores) e também a falta de recursos humanos. Esses são os tipos de dificuldades que muitos docentes têm enfrentado, principalmente, quanto ao quadro de funcionários. A falta de uns implica no trabalho dobrado de outros, desgastando profissionais que poderiam melhor desempenhar o seu papel se não fosse a necessidade de suprir a falta de profissionais. Não é a toa que encontramos professores, coordenadores e diretores exaustos, estressados, pois estão sobrecarregados, esgotados.

Dias (2004) afirma que: “a fim de poder funcionar, o sistema escolar precisa da colaboração de pessoas com diferentes graus e tipos de qualificação” (p.131). Essa falta de profissionais qualificados para atuarem nas escolas tem consequência no próprio ensino. A escola não funciona como deveria e as crianças são as que mais perdem. Perdem a possibilidade de desenvolver suas capacidades cognitivas, quando não se encontra um ambiente com uma estrutura sólida e adequada para usufruir a competência docente e perdem por não terem todas as suas necessidades atendidas.

Tais episódios nos apontam alguns questionamentos: Qual a razão de não se investi nos funcionários? De quem será a culpa, a responsabilidade? Do governo que não envia verbas para qualificação dos funcionários, dos estados e municípios que não promovem concursos? Será que as políticas públicas destinadas à educação estão sendo insuficientes? Perguntas essas que não são tão facilmente respondidas. Sabemos que não há um culpado, pois há todo um quadro de órgãos responsáveis pela a educação escolar brasileira e conforme nos elucida Faustine (2004):

“(...) é fácil imaginar a complexidade de problemas relacionados com o dia-a-dia da escola (...). Por isso, é necessário um grande entrosamento entre os diferentes setores e seus níveis administrativos: Secretarias e Conselhos, nos níveis municipais e estaduais, e estes como órgãos de nível federal” (2004, p.150).

As estruturas físicas das escolas deixam a desejar. Ela está longe de ser a escola dos “sonhos” de qualquer professor/a, aluno, pai, mãe e comunidade. À falta de biblioteca, deposito de merenda e o local onde são armazenados os livros e merenda totalmente inadequados. Professores e alunos dividem o mesmo banheiro, a secretaria e a cozinha dividem o mesmo espaço.

Não se pode generalizar em relação às condições das escolas públicas. Há diferenças em todos os ângulos educacionais. Existem escolas que possuem todas as condições necessárias, a sua equipe para o desenvolvimento do trabalho educacional, como também em questões concernentes ao ambiente e aos recursos básicos disponíveis para alunos e professores e a estes a disposição de todo um aparato que tornam seu trabalho como o dito por Odelius e por Batista (1999) “mais confortável, menos desgastante, mais prazeroso e por isso mesmo mais produtivo, além de mais saudável para o trabalhador” (1999, p. 161). Contudo, não foi essa realidade que encontramos na escola pesquisada.

Muito se fala em educação de qualidade. A sociedade a exige e aos professores cabe a responsabilidade de efetuá-la. Mas, o que envolve uma educação de qualidade? Segundo Moran (2000) três são as variáveis, duas das quais estão diretamente relacionadas com o educador:

“Uma organização inovadora, aberta, dinâmica, com um projeto pedagógico coerente, aberto, participativo; com infraestrutura adequada, atualizada confortável; com tecnologias acessíveis, rápidas e renovadas. Uma organização que congregue docentes bem preparados intelectual, emocional, comunicacional e eticamente; bem remunerados, motivados e com boas condições profissionais, e onde haja circunstâncias favoráveis a uma relação efetiva com os alunos que facilite conhecê-los, acompanhá-los, orientá-los.” [2] (MORAN, 2000, p. 14).

E como podem os educadores concretizar tal educação se a infraestrutura é inadequada. As salas de aula estão lotadas, expressão de um ensino de massa, com alunos espremidos em carteiras que não estão de acordo com seu tamanho, peso e idade, fazendo com que estes não se sintam confortáveis, interferindo diretamente no seu comportamento, na sua atenção ou falta dela. Exigindo do docente uma habilidade a mais para saber contornar a situação de forma que não prejudique a aprendizagem dos educandos.

As condições de trabalho docente da educação básica

As modificações que têm ocorrido no campo do trabalho trazem no bojo novos desafios para a educação. Às novas exigências de competitividade que marcam o mercado globalizado a exigir cada vez mais qualidade com menor custo, a base técnica de produção fordista, que dominou o ciclo de crescimento das economias capitalistas no pós 2ª guerra até o final dos anos sessenta vai aos poucos sendo substituída por um processo de trabalho resultante de um novo paradigma tecnológico apoiado essencialmente na microeletrônica, cuja característica principal é a flexibilidade. Este movimento, embora não seja novo, uma vez que se constitui na intensificação do processo histórico de internacionalização da economia, reveste-se de novas características, posto que assentado nas transformações tecnológicas, na descoberta de novos materiais e nas novas formas de organização e gestão do trabalho.

Estabelecem-se novas relações entre trabalho, ciência e cultura, a partir das quais se constitui historicamente um novo princípio educativo, ou seja, um novo projeto pedagógico através do qual a sociedade pretende formar os intelectuais/trabalhadores, os cidadãos/produtores para atender às novas demandas postas pela globalização da economia e pela reestruturação produtiva. O velho princípio educativo, decorrente da base técnica da produção taylorista/fordista vai sendo substituído por outro projeto pedagógico determinado pelas mudanças ocorridas no trabalho.

O trabalho docente, resumidamente, consiste em uma mobilização, pelo professor, de seu ser integral, em diferentes situações – de planejamento, de aula, de avaliação -, com o objetivo de criar um meio que possibilite aos alunos a aprendizagem de um conjunto de conteúdos de sua disciplina e o desenvolvimento de capacidades específicas relacionadas a esses conteúdos, orientando-se por um projeto de ensino que lhe é prescrito por diferentes instâncias superiores e com a utilização de instrumentos obtidos do meio social e na interação com diferentes outros que, de forma direta ou indireta, estão envolvidos na situação.

Conclusão

Por abordar o conceito de trabalho ressalta-se que a função do trabalho – educação é servir para educar os trabalhadores (as), movimentos sociais a dominar e humanizar a natureza e a sociedade, em colaboração com os demais. “Se historicamente, o trabalho, de manifestação de si tornou se perdição de si, o processo educativo precisa inverter esse movimento, recuperando o sentido e o fato do trabalho como libertação do ser humano”.

Compete a “escola – do – trabalho” educar o ser humano para realização do processo completo do trabalho: se comunicar, produzir e usufruir da produção. Estes elementos são pilares no desenvolvimento da cultura do trabalho

Muitas pessoas que sonhavam com um mundo mais justo se levantaram tendo como meta transformar a educação e a escola em instrumento de reapropriação do conhecimento, e possibilitar, através desse conhecimento, a inserção do indivíduo na sociedade. Segundo Romanelli (2000, p. 109), nesse caso a educação passa a ser vista por dois ângulos que atendem a interesses diferenciados de acordo com as camadas sociais em fase de polarização. Conforme argumenta a autora, a mudança significa um risco para as camadas dirigentes, uma crescente ameaça à sua estabilidade, portanto é preciso manter a opção por uma educação conservadora e centralizada. Por conseguinte, pode-se dizer que para as camadas emergentes a mudança na educação deve caminhar em direção aos seus anseios. Nessa linha de pensamento, superar as condições que impedem o acesso à escrita e à leitura é um dos grandes desafios para esse momento histórico, onde toda forma de pobreza e exclusão social deve ser eliminada. Por conseguinte, é preciso pensar em uma educação que garanta a qualidade, pois, aprender a decodificar e ter posse do comprovante de escolarização não é o suficiente. Interpretar, analisar, conhecer, acrescentar, entender e, por fim, participar, interagindo em seu meio social é o que deve ser problematizado, levando o homem a avançar nas suas necessidades pessoais e profissionais. Dentro dessa ótica, Paulo Freire afirmava a importância da educação como um espaço de construção e de novas esperanças, rumo às lutas mais amplas, de forma que ninguém seja excluído.

Referencias

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Enviado por cleutigre em 04/08/2015
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