Informática educativa nas séries iniciais: o uso do computador e o papel do professor

Marcelo Fernandes de Miranda - EDUSESC Gama

Resumo

A informática educativa é uma ferramenta que é utilizada para auxiliar o estudante em sua formação acadêmica. O professor se torna um mediador no uso do computador em pesquisas acadêmicas e no dia-a-dia da formação do educando das séries iniciais. Sempre se reciclando, este profissional tem que ter a sensibilidade de aprimorar seus conhecimentos e adquirir humildade ao se deparar com situações em que o estudante saberá mais que ele em determinado assunto. Assim se construirá um ambiente cooperativo onde ambos, professor e educando, edificarão um sólido caminhar educacional. Este artigo apresenta percepções de como a informática educativa, por meio do computador e do professor, pode ser inserida nas séries iniciais. Tentaremos discorrer sobre o profissional da área e sua formação que deve ser continuada e aprimorada.

Palavras chaves: Informática educativa, Mediador, computador.

Introdução

A informática educativa é uma ferramenta que pode ser usada na formação e alfabetização dos estudantes das séries iniciais, pois é um tema que gera interesse entre os jovens. Aproveitar este interesse e acrescentar o aprendizado de forma suave e desamarrada de metodologias fixas torna o ensino divertido e prazeroso. O aprendizado acontece de forma gradual e deve ser sistematizado pelo professor de informática educativa, juntamente com o professor regente e a comunidade escolar. Deve-se atentar que “todas as experiências e aprendizagens fazem parte do processo de aprendizagem”. E estas experiências estão diretamente ligadas a formação do caráter e da interação e inserção do jovem à sociedade.

1. Informática educativa: Ferramenta de estímulo ao conhecimento

No mundo dinâmico de hoje a informática já está enraizada na sociedade como um instrumento ativo. Ela faz parte do dia-a-dia das pessoas e encontramos seu uso social nas lojas, nos bancos, em casa, na escola. O termo informática se origina na união de duas palavras: informação e automática. A primeira aparece na sala de aula mesmo sem a utilização de novas tecnologias quando a oralidade permeia o meio educacional e é quase automática no sentido literal. No meio tecnológico elas são expostas literalmente devido à rapidez com que as informações são transitadas na rede mundial ou internet. Tudo é muito rápido e dinâmico. O professor de informática educativa se torna um mediador na filtragem destas informações. Um olhar diferente encaminhado para terceiros ajuda na formação e no contato com a informação. Os estudantes das séries iniciais que ainda não possuem o hábito de pesquisa, podem se alienar com a superficialidade da informação e podem também se perder na navegação.

As novas tecnologias da informação se incorporaram na vida das novas gerações que se utilizam destas com muita facilidade. A chamada "geração Z", que são os filhos da "geração Y" , já nasceu com estas tecnologias em pleno desenvolvimento e uso. Crianças manipulam aparelhos eletrônicos quase de forma instintiva. Nas séries iniciais o educando, mesmo sem saber formar sílabas ou sequer conhecer as letras, pode se inserir no meio tecnológico através de celulares, tablets e computadores em geral. Pode ser introduzido a partir de então o momento da primeira investida na leitura interpretativa de imagens associadas, ou não, à letras e palavras. No entendimento de Larrosa (2003) esta é uma modalidade singular da experiência da solidão. Solidão esta que é importante no aprendizado e, mais especificamente, no que se refere à informática educacional, pois sozinha a criança procura, experimenta e, por conseguinte, aprende.

2. Computador em sala de aula: seu uso como ferramenta educacional.

A informática educativa contempla o aprendizado pedagógico se utilizando das novas tecnologias da informação. Segundo Almeida o computador deve ser entendido como “uma máquina que possibilita testar ideias ou hipóteses, que levam à criação de um mundo abstrato e simbólico, ao mesmo tempo em que permite introduzir diferentes formas de atuação e interação entre as pessoas.” (ALMEIDA, 2000). Nele podemos ver filmes, escutar música, fazer desenhos e trabalhos acadêmicos, mas ele não foi pensado pedagogicamente. Porém, com a introdução da informática educativa se começou a pensar e a desenvolver métodos educacionais em sua utilização. No Brasil temos como marco inicial o projeto Educom em 1971 produzido pela USP - Universidade de São Paulo. Neste projeto foram dados os primeiros passos da informática na educação.

No meio acadêmico o computador pode auxiliar no aprendizado como uma ferramenta a mais neste caminhar educacional, com o cuidado de não se tornar um mero repetidor de métodos tradicionais que se encontram enraizados ainda na sociedade. Hoje enxergamos o computador não somente como uma máquina que transmite e armazena informações.

Quando o computador transmite informação para o aluno, o computador assume o papel de máquina de ensinar e a abordagem pedagógica é a instrução auxiliada por ele. Essa abordagem tem suas raízes nos métodos tradicionais de ensino, porém em vez da folha de instrução ou do livro de instrução, é usado o computador.(VALENTE, 1992)

Dessa forma temos o modelo instrucionista, nome adotado por Seymour Papert (1985,1994) em que o computador se torna uma "máquina de ensinar". O processo de repetição é adotado e o estudante não é estimulado a resolver problemas. Não existe reflexão em como o computador pode alterar o cotidiano educacional. Assim a informática educativa, através do computador, fica menos atrativa para os jovens que esperam um mundo novo na utilização das novas tecnologias. Mundo este que eles têm contato em casa, lojas, bancos. Para o profissional da área é importante sempre estar atualizado neste processo, visto que o tradicionalismo se enraíza nas massas e, como comenta Valente (1999, p. 17) "tanto o ensino tradicional, quanto sua informatização preparam um profissional obsoleto".

3. O papel do professor de informática educativa nas séries iniciais

A informática educativa surge para suprir as vivências que antes não eram discutidas. É preciso a participação ativa do professor da área com uma visão de novas perspectivas para a implantação de um projeto no plano educacional da escola. A aprendizagem, para os estudantes das séries inicias, se estabelece na formação do caráter crítico, participativo e criativo. Isto está bem claro na proposta pedagógica do SESC da qual faço parte e desempenho meu trabalho. Esta proposta abre margem para se abordar algo do modelo instrucionista, quando se utiliza de jogos em momentos de lazer, mas principalmente implementar o modelo construcionista para a realização de atividades que estimulam o pensamento. O Construcionismo se contrapõe ao instrucionismo. Naquele o estudante é estimulado a construir seus objetivos através de trabalhos em equipe ou mesmo sozinho, mas em um ambiente desafiador que o faz pensar e agir de forma criativa. Para Valente (1999, p. 137) o termo Construcionista significa "a construção de conhecimento baseada na realização concreta de uma ação que produz um produto palpável (um artigo, um projeto, um objeto) de interesse pessoal de quem produz."

O estímulo à pesquisa é fundamental neste processo e pode ser aprimorado com o uso do computador. Ele pode ser realizado com o suporte do professor de informática educativa, que também deve ter formação pedagógica, visto que muitas vezes é ele quem conduzirá a aula, juntamente com o professor regente. O constante apoio destes profissionais dão riqueza às regências. Cada um com suas especificidades vão construindo a aula com recursos tecnológicos e pedagógicos. Isso gera um ambiente cooperativo. "A cooperação é contribuinte direto para o estabelecimento de construções cognitivas sobre os atos e suas consequências. E fonte inesgotável de reflexões críticas sobre as ações" . Estas ações da proposta do SESC contribuem diretamente na forma como o educando enxerga o ambiente cooperativo.

A Informática na educação não é apenas equipamentos novos em um laboratório equipado com as melhores máquinas e utensílios. Ela está ligada diretamente à formação do professor mediador e sua sensibilidade que é de muita importância para o andamento das aulas. Tentar mostrar para os estudantes que a informática não se resume a equipamentos modernos com jogos e redes sociais é primordial para o profissional da área. Temos uma gama de possibilidades utilizando a ferramenta auxiliada pela internet. MACLUHAN E FIORE (2003, p. 315) nos faz entender que a internet "é uma rede mundial, que interliga o mundo inteiro, que cristaliza a ideia de aldeia global." Nela muito conhecimento pode ser difundido, mas o cuidado de este ser filtrado tem que ser pensado e repensado continuamente. Entra aí o papel do professor mediador que, junto ao estudante, encontra os melhores caminhos na navegação em rede. Seu uso deve ser monitorado e aprimorado sempre com a filtragem em mente. Separar o que pode ser aproveitado é papel do mediador e do estudante. A proposta do SESC relata que:

O professor age, deste modo, como parceiro no caminhar do aluno, e tem um papel indispensável: o de mediador. Cooperativamente, ajudará seu aluno a perceber procedimentos indevidos e inadequados (fazendo-o interrompê-los ou reformulá-los) e, ainda dará a ele chances de se colocar, de explicitar suas razões, opiniões. SESC (2001)

Assim a valorização do educando será apreciada e seus objetivos aprimorados pela mediação do profissional da área de informática educativa.

Considerações Finais

Muitas vezes, o professor de informática educativa é visto como um técnico sem experiência pedagógica. Isso se deve ao fato de ainda não se ter bem claro qual a formação específica para a área. Encontramos vários tipos de formações acadêmicas se adaptando à matéria com o decorrer das aulas. O profissional precisa ter preparo técnico, mas o suporte pedagógico também deve fazer parte de sua formação. Valente recorda que "o preparo do professor não é trivial não acontecendo do dia para a noite." (VALENTE, 1999). Isso é claro em todas as disciplinas e não poderia ser diferente na informática educativa.

É preciso um processo de formação continuada do professor, que se realiza na articulação entre a exploração da tecnologia computacional, a ação pedagógica com o uso do computador e as teorias educacionais. O professor deve ter a oportunidade de discutir como se aprende e como se ensina. Deve também ter a chance de poder compreender a própria prática e de transformá-la. (ALMEIDA, 1998)

Transformação esta que acontece todos os dias. Nascimento (2007) observa que agora o professor não é mais o único detentor do conhecimento, ele deve estar preparado para encontrar estudantes com conhecimento igual ou até superiores aos dele. E em se tratando de computador isso pode ocorrer com frequência, pois a criança está sempre a procura de novas ações e componentes. O professor tem que estar apto a aprender a aprender, e ter sempre em mente que quando isto ocorre as duas partes podem se unir em prol do bem maior: o aprendizado em via de mão dupla, onde professor e estudante são mediadores e apreciadores do ensino. Juntos neste ambiente de cooperação é construído o caminhar educacional.

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Marcelo Pompom
Enviado por Marcelo Pompom em 22/10/2015
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