Como melhorar a Educação Brasileira

Muito se discute sobre a educação mundial. Métodos de ensino, o psicológico da criança e do adolescente, a incógnita de como melhorar o processo de aprendizagem dos alunos. Com diversas pesquisas realizadas acerca dos altos níveis de estresse de estudantes do Ensino Médio, a constante despreocupação e desprezo para com os estudos e o desinteresse em relação à escola, pedagogos gastam anos criando teorias e explicações para tentar entender esse fenômeno.

Primeiramente, colocando-me aqui como uma estudante do oitavo ano do Ensino Fundamental, que frequentou a escola tradicional desde os cinco anos de acordo com o currículo nacional proposto pelo MEC, afirmo que tenho como intenção proporcionar o acesso dos senhores, professores, ao ponto de vista de uma aluna que não está contente com o sistema educacional brasileiro e, também, mundial.

Comecemos, então, pela definição de educação. Ao meu ver, educação engloba tudo aquilo relacionado ao crescimento intelectual, físico e emocional de um indivíduo, de forma que se encontre, futuramente, apto a conviver em sociedade de forma civilizada e culta.

Essa, pelo menos, é uma das definições oficiais, cuja escola tradicional utiliza para montar seu programa de ensino e determinar o que cada cidadão deve “saber” na vida adulta. Desse modo, é feito um currículo, divido em doze anos, que cobre os fundamentos de matérias como Matemática, Gramática, Ciências, História, Geografia, Filosofia, Sociologia, etc. Vistas como essenciais para a formação de um indivíduo que possa ser considerado devidamente educado.

No entanto, esquecemo-nos que, em uma escola, são crianças e adolescentes que aprendem, se é que podemos usar tal verbo para descrever o que se passa numa instituição educacional.

O professor entra na sala, pede silêncio de uma turma que claramente não está disposta a manter-se quieta, e somente depois de algum tempo consegue captar a atenção de todos os seus pupilos.

Começando então a aula, um texto ou explicação é escrito na lousa, junto com um monólogo do professor, que então passa alguns exercícios, corrige-os e diz para estudarem em casa, pois tal conteúdo há de aparecer na próxima prova.

Já no dia da prova, a maior parte dos alunos chega na sala cansada, com grandes olheiras pois ficaram até tarde tentando absorver o máximo possível da matéria. Claramente, não tiveram interesse de estudar mais cedo. Ao realizar o teste, alguns ficam ansiosos, outros nervosos, angustiados, tristes, preocupados com a nota (certamente ruim) que receberão. Já outros, mesmo tendo tido o mesmo tempo de aula, e talvez até mesmo estudado somente na noite anterior, respondem às questões sem maiores problemas, conseguindo pontuação máxima.

No entanto, poucas horas após o término do procedimento, as informações começam a sumir. O cérebro, naturalmente deletando aquilo que não é de grande importância, apaga a maior parte da matéria que era antes tão óbvia para o aluno. Dias depois, somente de dez a vinte por cento do conteúdo foi guardado na memória de longo prazo.

Por pior que possa soar, tenho certeza que grande parte de professores e até mesmo outros profissionais têm conhecimento destes fatos, pois o mesmo já aconteceu com eles, afinal, de que adianta um engenheiro lembrar-se de noções sobre organismos Poríferos ou o modo como se alimentam?

No fim, somente dez por cento de todo conhecimento recebido durante os anos escolares é mantido na idade adulta. Todo o resto, anos de aulas, provas, tarefas de casa, desperdiçados.

A maioria das crianças já se perguntou por que é tão importante que aprendam sobre área de trapézios ou teorema de Pitágoras, pois claramente não usarão tais conteúdos em sua vida, a não ser que pretendam dedicá-la a carreiras matemáticas. Então, por quê?

A esmagadora maioria dos estudantes, no mundo todo, nutre profundo desgosto pela atmosfera hostil apresentada pelos colégios, e temo que me encaixe nesse grupo. Estudos comprovam que o nível de estresse de estudantes do Ensino Médio, atualmente, equipara-se ao nível de estresse de internos em hospitais psiquiátricos nos anos cinquenta. Algo está claramente errado.

Estando envolvida nesse meio, constantemente checando blogs de adolescentes que lutam por métodos de educação mais convidativos, sei que o estresse, a ansiedade e depressão são reais. E, por mais que muitos culpem hormônios (não estando completamente errados, pois a puberdade é um período de muitas mudanças emocionais e mentais), esquecem-se que cada aluno é diferente, que cada “adolescente problemático” é um ser humano com mentalidade única, e não pode ser categorizado e padronizado com todos os outros na mesma faixa etária que ele.

Muitos sofrem de ansiedade social, que só se agrava com a estrutura tradicional feita para alunos extrovertidos e não tímidos. Assim, ações simples como tirar uma dúvida, apresentar um trabalho, responder um exercício em voz alta, etc, podem causar extremo estresse e desespero, podendo levar à traumas, na pior das hipóteses.

Timidez, apesar de não chegar perto da gravidade da ansiedade social, também não é respeitada pelo ambiente escolar, e tampouco é a introversão. Enquanto fobia social é algo que deve ter acompanhamento médico e suporte psicológico, ser tímido e/ou introvertido é algo completamente normal e que deve ser respeitado. Não é algo que deva ser “consertado”, não é um defeito, é um traço da personalidade, como qualquer outro.

Forçar um aluno a falar quando ele claramente não está confortável é fazer com que este fique extremamente ansioso, somente aumentando a aversão à escola e situações em que tenha que falar em público.

Além disso, o currículo escolar é feito para um aluno-modelo, um estudante que deve gostar de todas as matérias e ter interesse o suficiente para prestar atenção nas aulas, fazer as lições, estudar em casa e se sair bem em provas. Entretanto, se é esquecido que cada pupilo é único, com verdadeira paixão por certas matérias, e desinteresse por outras.

É senso comum que o ser humano almeja a liberdade de escolha, o livre-arbítrio, o poder de decidir o que quer fazer. Não é diferente para nós, alunos. Em certo ponto de nossas vidas, já temos uma opinião formada sobre certos conteúdos, já sabemos que talvez amemos Biologia, mas tenhamos certeza que não seguiremos carreira de matemáticos, por exemplos, pois simplesmente não nos interessa.

O ser humano é naturalmente curioso. O cérebro busca conhecimento de todas as formas, fazendo com que analisemos todos os acontecimentos, criando hipóteses, explicações e teorias sobre tudo. Queremos entender o que ocorre, porque ocorre e como ocorre. Isso se manifesta principalmente quando somos crianças, na famosa fase dos “Por quês”, quando absorvemos todos os fatos e informações possíveis, desesperadamente caçando o funcionamento desse estranho e novo mundo ao qual somos apresentados.

Não é surpresa que crianças de primeiro e segundo ano sejam tão concentradas nas aulas, aprendam tão rápido, indaguem tanto e sejam tão boas academicamente falando. A ideia de ir para um lugar somente para aprender soa fascinante. E realmente é.

Há algo maravilhoso no ato de aprender. O momento em que passamos a entender algo, o momento que fazemos a relação entre dois eventos até então sem nenhuma ligação entre si, quando analisamos um acontecimento e imediatamente percebemos o que se passa.

Um exemplo disso é o estudo musical. Quanto mais se aprende sobre a dificuldade da composição, sobre como os confusos sinais numa partitura comunicam ao instrumentista tão incríveis arranjos, mais se aprecia a música. O prazer de estudar um novo idioma, e então ler uma frase e instantaneamente entender do que se trata. O ato de simplesmente ler algum livro de História e perceber que acaba de aprender um pouquinho mais da história do mundo, um pouquinho mais de tudo que nos trouxe ao que somos hoje.

Aprender por si só é maravilhoso. Aprender por aprender. Aprender porque me interessa o conteúdo, sem objetivos maiores, prazos, obrigações. Ler um livro de química por pura e espontânea vontade. Não há forma mais eficaz de entender novos conteúdos, que ficarão marcados em nossos neurônios até o fim de nossas vidas, simplesmente porque são interessantes para nós.

E é por isso que me dói tanto ver crianças e adolescentes, decerto com paixões, hobbies e talentos únicos, pequenos interesses prontos para serem estimulados, toda essa bagagem e potencial sendo lentamente corroída por uma repetitiva e autoritária rotina escolar. E no fim, para quê? Esquecemos tudo no mês seguinte.

Gastamos tanto tempo de nossas infâncias, dedicando-nos ao estudo de matérias que não utilizaremos, choramos e ficamos zangados por uma prova que na qual não passaremos, privando-nos de aprender e estimular nossos pontos fortes.

Não há nada mais triste do que um espírito que se cansou de indagar, de caçar conhecimento, que agora odeia aprender, odeia ler, sente-se exausto. E é assim que a maioria de nós nos sentimos. Aquela chama, antes tão viva, buscando o entendimento, agora mal brilha, substituída pelo constante senso de dever, estresse, ansiedade, tédio e inquietação.

E com isso, chegamos ao tópico dos métodos alternativos em outros países. Não posso não citar a exemplar Summerhill, fundada nos anos vinte na Inglaterra, com a brilhante filosofia de proporcionar às crianças, por menores que sejam, o senso de comunidade, democracia e liberdade.

Foi a primeira escola democrática, estilo de ensino famoso por permitir que crianças decidam quando estudar, quando brincar e basicamente façam o que quiserem. À primeira vista, pode até parecer um desastre, mas funciona muito bem, com alunos muito mais satisfeitos e felizes, com bolsas em faculdades renomadas e carreiras de sucesso. Como? Simples. Ao ter liberdade, o gosto pelo aprender volta naturalmente, e o adolescente, por si só, sai à procura do professor que possa lhe instruir sobre o assunto que o interessa, seja este Matemática, Ciências, Esportes, até mesmo Música ou Pintura.

A curiosidade torna-se insuportável, e estudantes começam a ir em diversas aulas, só por querer aprender, e dedicam-se, estudam, prestam atenção, e nem necessidade de provas há. No fim, eles aprendem muito mais que nós, são mais felizes e criam melhores memórias.

Outros exemplos são o homeschooling e unschooling, termos da língua inglesa que se traduzem, literalmente, para Ensino Domiciliar e algo em torno de “Deseducação” ou “Desescolarização”. Muito famosos internacionalmente, tais métodos consistem no estudo personalizado e exclusivo do aluno, que estuda por si só, de sua casa, focando naquilo que lhe interessa, muitas vezes com programas online desenvolvidos justamente para isso. Apesar de tais medidas não serem expressamente proibidas no Brasil, ficando à mercê da interpretação do juiz do caso, muitas das 4000 famílias brasileiras que praticam essa forma de educação preferem o anonimato, educando seus filhos da maneira que julgam melhor.

A Aned, associação defensora do movimento homeschooler, luta pela legalização do ensino doméstico há anos, intervindo a favor de muitas famílias que acabam indo para o tribunal. A grande maioria dos homeschoolers termina o conteúdo escolar muito mais cedo, às vezes passando em vestibulares em idades mínimas, com doze ou treze anos, e mesmo assim tendo longos períodos diários para brincar e se socializar.

E por que esses métodos são tão eficazes?

Primeiramente, pela liberdade e confiança proporcionadas ao aluno, que se sente compelido a dar seu melhor e dedicar-se àquilo que lhe interessa. Além disso, são respeitadas as individualidades da criança, como ritmo de aprendizado e modos de ensino, levando em consideração que certas pessoas são estudantes auditivas, outras visuais, outras emocionais e algumas precisam tocar em objetos para realmente entender novos conceitos.

As primeiras escolas não apresentavam salas de aula, professores rígidos, regras, apostilas, exercícios ou provas. Eram simplesmente encontros, ao ar livre, com alguém mais culto, que proporcionava uma pergunta e levava o discípulo a descobrir a resposta dentro de si mesmo. Em outras palavras, criar o conhecimento, e não receber tudo pronto e somente decorá-lo. Isso não é aprendizagem, é memorização. É vergonhoso. É errado.

Muitas vezes, alunos se sentem mal, depressivos, começam a se autocriticar por não irem tão bem academicamente, sente que nasceram defeituosos, sem a inteligência necessária. Ninguém lhes diz, porém, que além da acadêmica, há a inteligência emocional, musical, artística, espacial, etc. Tais alunos muitas vezes têm talentos ocultos que nunca serão descobertos.

Como disse Albert Einstein, “Todos possuem potencial para gênios. Você não pode, porém, medir a inteligência de um peixe pela habilidade com a qual ele sobe uma árvore”.

Não é aprendizado se não é prazeroso. Simples assim. Tantos adolescentes emocionalmente e mentalmente instáveis, por causa da escola, não é algo certo. Isso precisa mudar, pois a sociedade continua evoluindo.

Somos todos diferentes. Todos temos gostos, paixões, talentos e hobbies. Respeitem que alguns são extrovertidos, outros gostam de ficar sozinhos. Entendam que não gostamos de ir para a escola todo dia. Que não precisa ser assim e que, deste modo, não somos felizes.

Não temos idade para lutar por nossos direitos ainda. Não seremos ouvidos. Não nos será prestada atenção. Por isso, terminando aqui essa redação, afirmo, em nome de tantos estudantes no Brasil e no mundo:

Quer melhorar a educação? Ajude-nos a adaptá-la, de forma que seja algo que animador, interessante e que nos estimule a aprender cada vez mais. Por enquanto, só vocês podem fazer isso, professores.

Sugestões de links:

“Don’t Stay In School” (https://www.youtube.com/watch?v=8xe6nLVXEC0)

“Educação Proibida” (https://www.youtube.com/watch?v=OTerSwwxR9Y)

Website da Aned (http://www.educacao-domiciliar.com/aned-associacao-nacional-de-ensino-domiciliar-quem-somos/)

Livro “Conversas sobre Educação”, Rubem Alves

Livro “Transformando a escola para se fazer educação”, Marco Túlio B. S. Procópio

Elisa Flemer