A Apologia de Sócrates e o sofismo do "Escola Sem Partido".

Sofismo trata-se de um raciocínio falacioso, mediante os quais se quer defender algo falso e confundir o contraditor. Um dos maiores exemplos de sofismo pode ser visto no clássico texto, a "Apologia de Sócrates", escrito por Platão. Do qual, demonstra as acusações, o julgamento e a morte de um dos maiores expoentes da civilização ocidental, Sócrates¹.

O clássico texto de Platão trata-se de um símbolo em defesa da liberdade de pensamento em uma fase de decadência e fragilidade social em Atenas, onde que Sócrates defende-se mediante há uma série de acusações, sendo a mais notória feita por Meleto², que o acusa de corromper os futuros cidadãos de Atenas:

"Sócrates age injustamente ao corromper a juventude e em não acreditar nos deuses em que a cidade acredita e sim em divindades estrangeiras." (PLATAO, 2013, p.33)

Tal acusação, é de maneira bastante similar (para não dizer idêntica) a acusação feita pelos defensores do "Programa Escola Sem Partido" aos docentes brasileiros. Onde que, sob o discurso de impedir a doutrinação partidária e ideológica nas escolas, busca estabelecer, na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – através de um projeto de lei, princípios que regulem a pratica docente do professor em sala de aula:

"Art. 3º. São vedadas, em sala de aula, a prática de doutrinação política e ideológica bem como a veiculação de conteúdos ou a realização de atividades que possam estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudantes." (BRASIL – P.L, 2015)

As semelhanças entre passado e presente não cessam apenas nas acusações, mas também na concepção de realidade dos acusadores. Ambos acusadores - Meleto e os defensores do Escola Sem Partido - carecem da compreensão ao processo de instrução ou educação dos jovens, de modo que: se os segundos pensam que somente na escola as ideologias são adotadas de modo doutrinário, conforme o artigo 4°, demonstra de forma implícita:

" Art. 4º. No exercício de suas funções, o professor:

I - não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para esta ou aquela corrente política, ideológica ou partidária;" (BRASIL- P.L, 2015)";

O primeiro, mesmo que concordando com Sócrates, através do diálogo, que as instruções são proporcionadas por todos que compõe a sociedade, acusa-o ainda assim, como o único corruptor da juventude.

Deste modo, a ironia com que Sócrates refuta Meleto, cai como uma luva para refutar a acusação do Escola Sem Partido aos docentes de nosso país:

"(...) seria uma grande sorte para a juventude se uma pessoa apenas a corrompesse e que o resto a beneficiasse." (PLATAO, p.35)

Igualmente seria de tamanha sorte se somente a escola fosse corruptiva e o resto de toda sociedade fosse benfeitora aos jovens; se, por exemplo, a indústria cultural que tem tamanha influencia na juventude através das mídias, não os corrompessem mas sim os beneficiassem.

E do mesmo modo, com que Sócrates diz que: "Meleto nunca deu atenção a esses assuntos [a instrução dos jovens]..."(PLATAO, p.36); o Escola Sem Partido, por ignorar as reais e precárias condições com que os professores trabalham nas escolas brasileiras, também não desdenham de qualquer interesse a educação. Afinal, mal há estrutura para um ensino de qualidade nas escolas, o que dirá uma doutrinação.

Conclusão

Do mesmo modo sofista, com que Sócrates foi acusado por seus caluniadores, querem acusar os nossos corajosos professores, que lutam diariamente em condições deploráveis, de corromper a juventude. Como se a juventude fosse somente e exclusivamente instruída pelos professores, antes fosse; um dos últimos instruidores, desta juventude atualmente conectada e sob constante influencia midiática da indústria cultural, é o professor.

Sócrates acreditava fielmente em sua pratica de construção do conhecimento e na missão que os deuses do Oraculo lhe concederam; tal qual acreditam nossos professores na capacidade de transformação social que suas carreiras docentes possuem. E da mesma forma, com que Sócrates preferiu enfrentar a morte á ter sua pratica regulada; os professores não devem permitir que regulem seu papel docente.

NOTAS

1 – Sócrates (469 – 399 a.C) - filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Detentor do método dialético, cujo, não tinha nada de semideuses com superpoderes e historias de incrível coragem, tal qual, os métodos, virtudes e ideias dos poetas homéricos; mas, sim o combate retorico, no qual o melhor argumento filosófico era sempre o vencedor. Foi este original método filosófico que desencadeou a inveja e as calunias dos sofistas contra ele.

2 – Meleto (século IV e V a.C) - principal acusador e promotor no julgamento e eventual execução do filósofo Sócrates.

REFERENCIAS

BRASIL. PL. 867/2015, de 23 de março de 2015. Ementa: Inclui, entre as diretrizes e bases da educação nacional, o "Programa Escola sem Partido".

PLATAO. Apologia de Sócrates & Críton. Trad.: Alexandre Romero. São Paulo. Hunter Books. 2013.