Uma professora agredida?

Para mim, é um absurdo tal situação, injustificável em qualquer hipótese. O caso ocorrido em Santa Catarina é mais uma evidência da falência do ensino público no Brasil.

No final dos anos 70 e durante boa parte dos anos 80, frequentei o primário e o ginasial (hoje fundamental). Naqueles idos, em que nos perfilávamos diante das bandeiras nacional, paulista e andreense e entoávamos os diversos hinos (Nacional, Andreense, à República, à Independência, à Bandeira, entre outros), as coisas eram um pouco diferentes.

Naquela época, costumávamos tratar professores como senhor, senhora. Tínhamos chamada oral sobre capitais, tabuada. Quando causávamos desordem, ficávamos de castigo ou íamos para a temida “Diretoria”. Ali tomávamos um belo pito, éramos advertidos verbalmente ou assinávamos um livro de registro disciplinar (nesse caso, os pais eram comunicados e o chicote estalava duas vezes). Nos casos mais graves, ainda existiam a suspensão e, após reiterações, a expulsão.

Vi colegas passando por todas essas etapas. Felizmente, nunca passei do pito.

Após ser expulso, o estudante teria dificuldade para ingressar em outra escola pública, haja vista seu prontuário. Se não conseguisse retornar ao ensino do Estado, sobravam duas opções: o ensino privado ou o chapéu de burro.

Ocorre que os casos de expulsão eram muito raros, pois, após algumas suspensões, os alunos e seus pais sabiam que, com a eventual medida mais drástica, o futuro seria certamente braçal, o que também é digno, mas bem mais difícil do que uma atividade com exigência intelectual, sem contar o salário, evidentemente.

Bem, em meados da década de 80 e nas seguintes, começou a ser aplicado no Brasil o chamado construtivismo, a partir de estudos do suíço Jean Piaget, do bielorrusso Lev Vygotsky e da argentina Emilia Ferreiro (aluna de Piaget). Outro famoso “educador” reverenciado no magistério e patrono da Educação no Brasil é o Sr. Paulo Freire, que criou um método de ensino próprio que leva seu nome: método Paulo Freire. Sua obra bibliográfica mais famosa é Pedagogia do Oprimido.

Os anos marcharam e assim chegamos ao quadro atual.

Minha mãe estudou até a quarta série do primário. Faz qualquer operação matemática entre as essenciais para as despesas do dia a dia (soma, subtração, multiplicação e divisão). Sabe calcular porcentagens, juros... Tudo isso de cabeça. Ainda lê qualquer texto e compreende aquilo que sua formação cultural permite.

Meu avô, que morreu aos 94 anos e nunca frequentou escola formal, apenas a uma escola noturna na roça, fazia tudo isso. Ele também administrava fazenda, controlava funcionários, sabia técnicas de plantio, colheita, ordenha, pastagem, até procedimentos básicos veterinários. Nos últimos anos da vida, lia um romance atrás do outro.

Os métodos que educaram meu avô, minha mãe e a mim são hoje considerados ultrapassados. A entoação de hinos, o Estudo de Problemas Brasileiros, a Educação Moral e Cívica são frutos de uma época ufanista, tida hoje como um atraso terrível para nossa educação, nossa cultura.

Hoje o professor não é mais quem ensina, mas um facilitador, aquele que apenas orienta o aluno, que é, este sim, o agente do processo de aprendizagem. Nele é centrado todo o sistema. Ele não deve ser constrangido com chamadas orais, que podem prejudicar sua autoconfiança. Se algo estiver errado em seu comportamento, todo o sistema deve ser colocado à sua disposição. Ele não deve ser repreendido, tampouco suspenso ou expulso, pois uma criança fora da escola é um problema social irremediável. Se praticar violência, devemos dar-lhe amor, afinal, conforme nos ensina a “pedagogia do oprimido”, ele é mais vítima do que qualquer outro agente no sistema.

Se a construção linguística de um estudante estiver em desacordo com a norma culta da Língua Portuguesa, não tem problema, afinal não existe certo ou errado, tudo depende do contexto. O aluno mais ensina do que aprende, pois ele traz do contexto social em que está inserido os seus riquíssimos “saberes”, sua cultura. Não devemos impor-lhe uma linguagem coercitiva, rígida; não. Devemos respeitar o determinismo social que o construiu assim e trabalhar com seu conhecimento de mundo, inserindo-o no universo das normas, mas sem constrangê-lo. Não devemos, sequer, reprová-lo, pois isso poderia provocar marcas profundas em sua personalidade e induzi-lo a aumentar a chamada evasão escolar.

Dito isso, fica aqui minha pergunta: será que o jovem de hoje, após os nove anos do ensino básico (moderno, humanista, fundado na pedagogia de alto nível), é capaz de fazer o que minha mãe aprendeu a fazer nos quatro em que frequentou os bancos escolares ou o que meu avô fazia com o ensino noturno obtido na roça (ambos arcaicos, desumanos, fundados na repetição, no castigo)?

Para finalizar, deixo a seguir o link da entrevista concedida pela professora catarinense agredida por um jovem de 15 anos. Ela atestou em sua fala: “... nós estamos no penúltimo lugar no ranking da educação no mundo e no primeiro lugar em indisciplina...”.

Ela é discípula de Paulo Freire, uma “progressista”, mas, curiosamente, conduziu o garoto à diretoria da escola e, após o trágico episódio sofrido, compareceu ao distrito policial para prestar queixa contra o educando.

A mestra considera a agressão que sofreu uma violência, mas entende que a agressão praticada, conforme o seu ideário, contra aqueles de quem discorda seja um ato revolucionário.

Se questionada a esse respeito, considera o interlocutor um neonazista.

Seria a professora vítima desse sistema que ela própria defende em sua concepção ideológica? Seria o aluno a vítima?... Seria o Brasil?

Boa reflexão a todos.

https://www.youtube.com/watch?v=SVzMBX70s44

Éder de Araújo
Enviado por Éder de Araújo em 24/08/2017
Código do texto: T6094019
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