A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE FILOSOFIA PARA CRIANÇAS NA PERSPECTIVA DE MATTEW LIPMAN

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO EDUCACIONAL ALFA

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE FILOSOFIA

PARA CRIANÇAS NA PERSPECTIVA DE MATTEW LIPMAN

ROGILDO DE OLIVEIRA

Artigo científico apresentado ao Instituto Alfa como requisito parcial para obtenção do titulo de Especialista em Ensino de Filosofia.

Ibirataia – Bahia

2015

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE FILOSOFIA

PARA CRIANÇAS NA PERSPECTIVA DE MATTEW LIPMAN

*Rogildo de Oliveira

RESUMO

Este artigo traz uma reflexão profunda sobre o ensino de filosofia para crianças uma vez que o mesmo tem um papel fundamental na formação critica dos educandos a partir das séries iniciais segundo a perspectiva de Matthew Lipman. A investigação e o pensar são instrumentos da educação num aspecto onde o pensamento reflexivo precisa ser naturalizado no sistema educacional das crianças com a finalidade de melhorar sua formação intelectual. Partindo do princípio de que a filosofia provoca a busca do conhecimento de forma continua e transcendente, a mesma torna-se indispensável no processo educacional. Dessa maneira este trabalho busca apresentar a importância do ensino de filosofia para crianças como umas das vertentes que estimula a consciência a partir da atitude filosófica, estimulando no aluno o “ser” pensante e reflexivo.

Palavras-chave: Filosofia, educação, pensar, reflexão.

ABSTRACT

This article brings a deep reflection on the teaching of philosophy for children as it has a key role in the formation of critical students from the initial series from the perspective of Matthew Lipman. Research and education are thinking of instruments in one aspect where the reflective thought must be naturalized in the educational system of children in order to improve their intellectual formation. Assuming that philosophy leads to the search for a form of knowledge continues and transcendent, it becomes essential in the educational process. Thus this study aims to present the importance of teaching philosophy to children as one of the aspects that stimulates awareness from the philosophical attitude, encouraging the student to "be" thinking and reflective.

Keywords: Philosophy, education, thinking, thinking.

Introdução

O presente trabalho traz uma reflexão profunda sobre a importância do ensino de filosofia para crianças uma vez que as mesmas são o foco principal de todo o estudo aqui apresentado. Vertente essa que é tema de estudo de vários pesquisadores e educadores tanto na área de filosofia quanto em outras áreas do conhecimento, dentre os quais Matthew Lipman, educador norte-americano foi pioneiro no estudo, pesquisa e aplicação da “Filosofia para crianças” na década de 60, com sua extensa experiência na área educacional refletia que: “Era possível ajudar as crianças a pensar com maior habilidade? Eu não tinha dúvidas que as crianças pensavam tão naturalmente como falavam e respiravam. Mas como conseguir que pensassem bem?” (MATTHEW LIPMAN apud WALTER e ANA MIRIAM, 1999, p. 22).

A partir desta provocação, compreende-se o quanto é importante pensar sobre tais questionamentos relacionados ao tema aqui proposto, pois, eles nortearão a ideia central deste trabalho que é a importância do ensino de filosofia para crianças. Nessa perspectiva, desenvolver o senso reflexivo na criança trata-se de um desafio onde à curiosidade já faz parte da sua naturalidade, sendo assim a ponte indispensável para o conhecimento filosófico.

No final da década de 60, Lipman escreveu seu primeiro livro expressando de forma técnica e de simples compreensão, histórias para crianças onde instigava a reflexão de problemas filosóficos numa dimensão alcançável para as mesmas. Abordando assuntos que eram de seu interesse, servindo de ponto de partida para que os professores introduzissem o ato de filosofar de forma simplificada, sem muita dificuldade.

A ideia central era abrir o pensamento filosófico para as crianças, já que a própria sistematização do legado filosófico não deixava nenhum espaço para as mesmas. E tratando-se da educação para “o pensar” de forma reflexiva, uma vez que as séries iniciais servem de base para a construção do conhecimento em sua forma prática, se fazia necessário um programa de iniciação filosófica que contemplasse as crianças, pois, elas já trazem consigo a curiosidade natural, fator esse que é o primeiro passo da atitude filosófica. Dessa maneira:

Incomodava-lhe o modo como os filósofos tinham sistematicamente fechado suas portas para as crianças. Considerou este impedimento insensível e injusto. Lançou a ideia de que as crianças podem e merecem ter acesso a filosofia. Não apenas lançou uma ideia, mas, criou uma instituição e desenvolveu materiais e metodologia para que esta ideia fosse uma realidade. (MATTHEW LIMPMAN apud WALTER e ANA MIRIAM, 1999, p. 09).

A filosofia é o instrumento com o qual se pode descobrir um mundo novo, cheio de situações que antes passavam despercebidas, porém com a prática do olhar reflexivo e investigativo as descobertas passam a ser consequência de si mesmo, do convívio existencial em busca da verdade e com as crianças não é diferente, já que estão em plena construção do próprio conhecimento.

A presente pesquisa se fundamentou em algumas analises da obra “FILOSOFIA PARA CRIANÇAS. A tentativa pioneira de Matthew Lipman” e de alguns comentadores do autor. Seu objetivo é responder e elucidar as seguintes questões. Qual a visão de M. Lipman? Quais os fundamentos para compreender a importância da filosofia para crianças? Qual o perfil do professor?

Qual a visão de M. Lipman?

Matthew Lipman lançou a ideia de que as crianças podem e merecem ter acesso a filosofia. Pois elas devem aprender a pensar por si mesmas, a construir o conhecimento alicerçado na atitude filosófica natural que é a curiosidade sobre as coisas. O processo educacional é um dos instrumentos mais importantes para a sistematização do conhecimento e a filosofia um mecanismo que vai possibilitar a provocação reflexiva sobre o modo de enxergar a realidade que nos cerca de forma diagnóstica, investigativa e consciente.

No âmbito educacional a ideia é que cada sala de aula fosse transformada numa comunidade de investigação e nelas também fossem desenvolvidas as inteligências emocional, cognitiva e social das crianças. Sendo assim:

Exploraríamos não só o que pensamos e como pensamos, mas também o que sentimos e exploraríamos o que pensamos que a sociedade deveria ser e como deveríamos nos relacionar na sociedade. (MATTHEW LIMPMAN apud WALTER e ANA MIRIAM, 1999, p. 19).

A busca pela formação filosófica dentro da realidade existencial, propondo através da própria educação situações que levem as crianças a ter acesso com as problemáticas do dia-a-dia de forma descomplicada, desmitificada e em um nível condizente ao entendimento delas não é algo impossível nem distante de se concretizar. Pensando nessa perspectiva Lipmam criou um programa onde o currículo da “Filosofia para crianças” se faz acessível às ideias filosóficas trabalhadas durante 2.500 anos de história da filosofia ocidental. Nessas histórias não são utilizados os nomes reais dos filósofos, mas as suas palavras, e seus pontos de vista são apresentados nas falas dos personagens-crianças. É uma forma de aproximar o contexto filosófico histórico a realidade prática das crianças uma vez que se trata de um diálogo entre os personagens abordando temas corriqueiros, porém com reflexões e provocações filosóficas, principalmente tratando-se da exploração de palavras que não se costuma a utilizar no dia-a-dia e que pode ser investigadas pelas próprias crianças.

Como um dos meios de comunicação e propagação de dados rápidos mais acessíveis que temos hoje que é a internet, estamos sujeitos a ser bombardeados de informações e dessa forma também se faz necessário que não esperemos que as crianças completem dezoito anos para educarmo-las a desenvolverem o bom julgamento sobre as coisas que nos são apresentadas, principalmente pelas mídias. Não podemos esperar que as crianças percam a oportunidade de iniciarem o contato com a filosofia nas séries iniciais e desenvolver por toda a educação básica a prática da atitude filosófica.

“Não se trata só de introduzir uma disciplina no currículo escolar, como a ciência foi introduzida no sec. XIX. Trata-se de pedir aos professores e administradores escolares que repensem aquilo que entendem por informação e comecem a pensar em sentimentos apropriados e boas relações sociais, pois dessa maneira estaremos proporcionando as crianças oportunidade de fazer julgamentos inteligentes em suas vidas, estaremos apresentando-lhes opções para escolher e as ferramentas para pensar novas opções, novos sentidos, novos significados e novas relações.” (MATTHEW LIMPMAN apud WALTER e ANA MIRIAM, 1999, p. 19).

A responsabilidade é muito grande para os orientadores, pois o ensino de filosofia para crianças é algo transformador, com resultados que serão absorvidos pela sociedade naturalmente e paulatinamente uma vez que as crianças começarão a usar a prática da atitude filosófica para resolver problemas existenciais do dia-a-dia, de maneira mais justa, consciente e critica, partindo sempre da reflexão profunda para a consumação do julgamento inteligente.

Quais os fundamentos para compreender a importância da filosofia?

No final dos anos sessenta, Lipmam era professor de lógica e teoria do conhecimento na Universidade de Columbia, Nova York, EUA, e ao perceber as falhas no raciocínio de seus alunos achou necessário que eles tivessem um conato com a lógica e a filosofia bem antes da universidade.

Vale ressaltar que nos EUA a filosofia tem historicamente uma fraca presença nas instituições educativas, apenas nas universidades os estudantes poderiam optar em ter contato com a disciplina. Isso sem dúvida era um obstáculo a ser superado uma vez que a reflexão deveria se fazer presente no currículo antes de se chegar ao nível superior. A filosofia sempre foi essencial para o desenvolvimento do bom julgamento das pessoas sobre as coisas e seria muito interessante que os estudantes tivessem o contato com a mesma já que todos somos postos a julgar o que nos é apresentado frequentemente. Dessa maneira Lipmam precisava criar um espaço até então inexistente, e assim, era a oportunidade de levar aos alunos o contato com a lógica e a filosofia como supunha que eles teriam enorme interesse e adequada capacidade para lidarem com sua problemática.

Lipman não só considerava que os jovens necessitam da filosofia no currículo como também precisavam da prática filosófica direcionada por um programa que simplificasse o pensamento filosófico a um nível ideal de compreensão as crianças, e assim o fez, criou o “Programa Filosofia para crianças”. Dessa maneira:

“As regras e os princípios do pensar aparecem sempre ligados á experiência que as crianças estão vivendo: pergunta-se o que significa pensar para em seguida indagar o quanto e como se pensa numa escola e como deveriam ser as escolas, constatam preconceitos que habitam no pensar dos adultos e então pergunta-se quantos preconceitos existem na sua própria escola, aprende o valor do diálogo no processo de conhecimento e exigem o diálogo como modo de fazer frente aos problemas que se apresentam na escola dela.” (MATTHEW LIMPMAN apud WALTER e ANA MIRIAM, 1999, p. 86).

Sem dúvida a forma com que as crianças estão inseridas no processo educacional através das instituições, faz com que essa relação seja um laboratório perfeito de práticas e situações que as moldarão para o convívio em sociedade futuramente, porém, enquanto adultos. Se a partir daí as mesmas conseguem desenvolver o hábito do questionamento através do pensar reflexivamente o diálogo será espontâneo e consequentemente trará consigo a resolução dos problemas que as cercam.

O objetivo do programa “Filosofia para Crianças” de M. Lipman é além de subsidiar a proposta com materiais didáticos interativos e de fácil manuseio para professores/alunos trata-se também de que os docentes sejam reservados filosoficamente não deixando que seus pontos de vista interfiram na construção do ponto de vista do educando. Dessa maneira facilita a discussão ao mesmo tempo em que abre o espaço subjetivo de reflexão das crianças sobre a realidade, instigando-as a apresentar seus próprios pontos de vista sobre as coisas.

Segundo Lipman, qual é o perfil do professor?

O docente deve desenvolver um trabalho de acordo com o que a filosofia se propõe a partir de uma postura adequada aos métodos de ensino que utilizará para instigar a atitude filosófica de forma espontânea. O papel do professor é provocar nos alunos a curiosidade sobre as coisas, o questionamento da realidade que estão inseridos, a reflexão dos problemas que lhes são apresentados a partir de situações do dia-a-dia que consequentemente irá gerar discursos, debates, diálogos.

A tarefa não é fácil uma vez que a disciplina de filosofia vem ganhando espaço aos poucos, através da sistematização de programas que atendam uma demanda que muitas vezes só vão ter acesso a disciplina no ensino médio, mesmo assim o papel do professor além de tentar superar esses percalços é se dinâmico, interativo para dominar os conhecimentos que cada alunos trás consigo e transformá-los em um novo conhecimento, um novo ponto de vista, uma nova forma de ver as coisas.

Cabe ao professor usar a filosofia como um instrumento de transformação onde a teoria e a prática se dissolvam na atitude filosófica, fator esse que irá fazer o educando aplicá-la nas relações com outras pessoas e com o próprio mundo, porém de maneira mais dinâmica e sistemática.

O educador não é o dono do saber, mas sim o mediador do conhecimento, responsável por promover discussões, reflexão sobre o que acontece no dia-a-dia, para que o bom julgamento seja alcançável, justo e humano.

O professor é uma das peças fundamentais no processo educacional, sendo assim o mesmo precisa está se atualizando sempre, para que dessa maneira seja possível a abertura de novos caminhos para a democratização do conhecimento filosófico, a investigação filosófica é a ponte para se chegar ao novo, para se quebrar paradigmas, para compreender e tentar solucionar as problemáticas que nos cercam usando a racionalidade para se chegar ao bom julgamento. E fazer os alunos terem consciência desse processo é mais do que ensinar, é fazê-los transcender para a vida.

Considerações finais

O presente trabalho aspirou fazer algumas considerações sobre a importância do “Ensino de Filosofia para Crianças” segundo Matthew Lipman e mostrar o quanto os educandos podem desenvolver suas capacidades uma vez que tiverem contato com a filosofia de forma simplificada, direcionada para sua realidade no decorrer do ensino básico desde as séries iniciais.

Um dos objetivos também foi o de analisar e perceber a aproximação do contexto filosófico a partir de seus pensadores com as próprias crianças, além da responsabilidade dos professores de desenvolverem um trabalho em que as crianças tenham consciência e sua identidade dentro da sociedade, enquanto cidadãos.

Matthew Lipman desenvolveu seu projeto depois de muito estudo, muita pesquisa, e consequentemente criou esse método com a finalidade de ensinar as crianças a pensarem, a terem opinião própria.

A partir de sua proposta o ensino de filosofia nas escolas se tornou um atrativo para a democratização da própria filosofia, reforçando a prática filosófica tendo como base à educação de qualidade, os valores éticos, a ligação entre professores e alunos através do diálogo que leve até a atitude filosófica. Acrescentando a vida do educando a experiência prática para o pensar reflexivo, não apenas como um simples observador, mas, como um ser pensante pronto para transformar o seu meio.

Referências

LIPMAM, M. Filosofia para Crianças. A tentativa de Matthew Lipman. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

SILVA DE SOUZA, T. O ensino de Filosofia para crianças na perspectiva de Matthew

Lipman. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orientador: José Carlos da

Silva. Vol. 6, nº 2, 2013.

Rogildo de Oliveira
Enviado por Rogildo de Oliveira em 09/09/2017
Código do texto: T6109315
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