*Análise da violência nas escolas sob uma óptica socioeconômica*

Muito se tem falado recentemente sobre o *bullying*, essa reprovável prática de hostilização que alguns jovens impõem a outros, notadamente em ambiente escolar. É matéria recorrente na mídia eletrônica, em jornais, revistas de grande circulação e, não raro, assunto de debate em programas de rádio, TV e mídia eletrônica. Certamente o assunto ganha proporção de polêmica porque incomoda, gera desconforto geral na sociedade. Recentemente, em casos extremos, temos visto adolescentes armados dando cabo da vida de colegas, matando e aleijando em pleno ambiente escolar. Acontece aqui, onde há leis que dificultam o acesso a armas, acontece nos EUA, onde há leis que facilitam, acontece na Escandinávia, onde sequer há problemas com leis...

Psicólogos expõem seus pontos de vista, invariavelmente passando pela qualidade da educação que os pais proveem a seus filhos. Educadores tomam medidas coercitivas. Autoridades criam sistemáticas e medidas de controle, cogitando-se e, em certos casos, a instalação detetores de metais na porta das escolas, paredes mais grossas, com placas de aço entre os tijolos, enfim, os recursos de guerra, em tempos de paz.

Sociólogos examinam as causas e as implicações do nefasto comportamento misantrópico. Lançado está o problema nas esferas judiciária e política. Enfim, não podemos mais ignorá-lo, já secularmente acobertado pela desídia coletiva, e que chega mesmo a ser, de certo modo, legitimado pela "tradição" do trote.

Mas, a despeito de tantas pessoas tomarem parte na busca da solução, o problema persiste. Lanço aqui um olhar para o cerne da questão, no afã de ver germinar uma boa vontade capacitada, hábil para fazer do mundo um lugar melhor aos nossos descendentes: Vivemos uma crise de valores que já não se pode desconsiderar. Prevalece o individualismo de uma sociedade escancaradamente consumista. A farinha é pouca, todos querem garantir primeiro o seu próprio pirão, o seu próprio quinhão, o seu próprio umbigo.

Não bastou atingirmos a facilidade do smartphone. Tornamos o mais moderno dos smartphones obsoleto em não mais do que seis meses. O modelo do ano passado já é motivo para chacota de quem ficou para trás na cadeia do consumo. Não bastou termos a informação plena, acessível de qualquer parte, pelo milagre da internet. Queremos a internet cada vez mais rápida, cada vez mais "especial", num círculo vicioso de tornar o especial em descartável segundo as regras de mercado, que toda a vida vai esterilizando. Puro ciclo de produto. Prever e antecipar o fim do que é bom, para eternizar o consumo.

Para longe de mim querer propor o fim do capitalismo. Ainda o considero, quando maduro, a melhor opção, em termos práticos, para que num tempo razoável se chega à democracia. Certamente as alternativas já se demonstraram muito piores, invariavelmente descambando para o totalitarismo.

Mas mesmo nessa perspectiva otimista, há desvirtuamentos grotescos. Um deles, por exemplo, é a sistemática de jogar as pessoas umas contra as outras, no mais competitivo coliseu já feito pelo homem: a ostentação do consumismo. E qual seria a relação entre esse senso de competitividade e o bullying? Simples, creio eu. A competição entre os indivíduos é estimulada desde tenra idade. É nas escolas, já desde o berçário, que o senso competitivo e conflitivo vai se desenvolvendo e se acirrando. Se há razão no pensamento do contratualista Thomas Hobbes, que dizia que "o homem é o lobo do homem", é na escola que os filhotes de lobo estão exercitando a arte de predar seus semelhantes.

Algo deve ser feito imediatamente. Diariamente ouvimos alguém alardeando sobre as maravilhas da evolução humana. Mas essa evolução, em grande medida, não é moral, mas puramente tecnológica. São os nossos microchips que estão ficando cada vez melhores, não a nossa ética. Se não corrigirmos o rumo dos valores morais, veremos a derrocada de toda a espécie humana. Crianças matando crianças é apenas um dos sintomas dessa doença social que há um bom tempo infecta todos os tecidos da nossa civilização. Vamos permitir?