QUEM DISSE QUE ESCOLA NÃO EDUCA?

Se a escola não educa, por que pais matriculam nela crianças de quatro anos?

Claudio Chaves

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Francamente falando, a sensação que tenho, vez por outra é que, por aqui (Brasil), de certo tempo pra cá, a Terra começou a girar em sentido anti-horário.

É tanta informação e contra-informação, tanto sensacionalismo, oportunismo, populismo e um fanatismo político-religioso anacrônico, desenfreado e bestializante que, às vezes, tenho a sensação de estarmos num hospício.

É ideologia de gênero (marxista, ainda mais), erotização de crianças em escolas, kit gay em material didático, professores doutrinadores, mamadeiras eróticas, satanismo no currículo escolar, pedofilia nas artes, campanha de destruição da família... Parece que realmente estamos diante de uma hecatombe sem precedente em nossa história.

Neste cenário meio Hollywoodiano de conspiração e contraconspiração, o mantra da vez é: “a escola não educa; apenas ensina”, mais uma pieguice no corolário de fantasias formado em torno da atuação dos professores da rede pública de ensino que, segundo os propaladores de tais sandices, há muito, deixaram de ser mediadores do conhecimento e se transformaram em bruxos ou uma espécie de encantadores de serpentes, com poderes sobrenaturais e capazes de mundiar os alunos, transformando-os em verdadeiros zumbis adestrados, prontos a serem por aqueles teleguiados. A escola, teria se transformado, portanto, em um grande centro de recrutamento e adestramento das pessoas mais perigosas do mundo: esquerdistas comunistas e moralmente desajustadas; potencialmente maléficas, com capacidade para destruir toda cultura cristã ocidental, incluindo, é claro, a Família judaico-cristã burguesa, a Igreja e todos os valores dessa tradição... um verdadeiro exército terrorista.

Repetir o mantra “a Escola ensina, e a Família educa” seria, no entendimento desses novos iluminados, um dos antídotos para evitar a contaminação da futura geração de adultos com o perniciosíssimo lixo ideológico comunista capaz de implodir todos os milenares valores cristãos ocidentais.

Curiosidade ou dissimulação flagrante, as pessoas que dizem, cheias de pompa, que escola só ensina, e quem educa é a família – justificando que não admitem o Estado ou determinado partido político doutrinando seus filhos – são as mesmas que exigem que, nessa mesma escola, se cante religiosamente os hinos oficiais, se idolatre a Bandeira Nacional e se ensine religião confessional por meio do conteúdo definido pelo Governo; tudo isso idealizado e supervisionado pelo mesmo Estado e por outros partidos igualmente políticos. E mais: o Estado não pode interferir na formação política de seus filhos, mas pode criar um ministério para regular a Família. Pode parecer (e eu não duvido que seja) um estado coletivo de necedade, mas tudo isso é fato, e está acontecendo, exatamente agora, no Brasil.

Agora, convenhamos: se a escola não educa, apenas ensina (aqui apreendido no sentido tecnicista) por que ou para que os pais matriculam seus filhos a partir dos quatro anos de idade (sem considerar creche e maternal)? A menos que se trate de superdotados, que conhecimento técnico ou científico a escola vai transmitir para crianças dessa idade? Seria, por ventura, já uma forma de enquadrá-las nas futuras regras previdenciárias do País?!

É claro, óbvio e incontestável (até porque isso não é questão de opinião, mas de constatação) que a Escola, assim como a Família, a Igreja, a fábrica, o comércio, o clube de futebol, a academia de ginástica, a Polícia, o cinema, a rádio, a televisão, a internet, o museu, o teatro e até o cabaré, se quiser, tanto ensina quanto instrui e educa. Isso porque a educação não é apenas um processo formal, que só acontece dentro de um planejamento hermético, rigorosamente organizado e hierarquizado, monitorado por alguma entidade ou ser a todos superior. Essa premissa é falsa, fantasiosa e, pedagógica e socialmente, irresponsável e perniciosa por induzir, além de uma distorção no conceito de educação e das funções da Escola, ao desencadeamento de uma onda difamatória e persecutória contra os professores (em especial os mais críticos), baseada em ilações, diversos tipos de preconceito e pura manipulação com os fins mais escusos possíveis.

A educação (in lato sensu) é um processo, antes de tudo, espontâneo e involuntário, que ocorre, naturalmente, na medida em que nos relacionamos uns com os outros e com o mundo ao nosso redor.

Não tem como ser diferente – ainda que quiséssemos. Somos seres sociáveis e sociais, não robôs. A Escola – pelo menos enquanto for um ambiente composto por seres humanos – nunca será, jamais, uma ilha, uma bolha, um mundo isolado, apartado da sociedade, de onde, aliás, ela se origina; bem como jamais deixará de ser um lugar plural, de múltiplas influências, de conflitos, de interesses diversos (muitos escusos, inclusive), de controvérsias e de permanente tensão e caos.

Pensá-la ou projetá-la de outra forma – homogênea, una, monocromática, pronta e acabada, pura, sagrada, singular (um rebanho e um pastor) – é muita ingenuidade, loucura ou pura demagogia e sensacionalismo barato, características próprias de regimes autocráticos, populistas e manipuladores.