FALAR

Judas Tadeu, também chamado de Judas Lebeu, nasceu na Galileia, era de porte físico agigantado e possuía também um grande coração. Aprendeu com Jesus que a nossa pátria é o universo, que a Galileia era igual ao mundo, sem benefícios especiais, que Deus era a luz do mundo, Pai de todas as criaturas e cuja lei se espalhava por toda a criação. Dessa forma ele atingiu a condição de cidadão universal, sustentado pelo amor, e adorava as reuniões que aconteciam em Betsaida.

Tadeu prestava muita atenção na fala de Jesus, na perfeição do tom, na beleza dos sons, no prazer de ouvir. Tiago dizia que Jesus era um fenômeno em tudo, não só na fala. Via os gestos dele, seu andar, tem uma cadência que fascina. Seu olhar diz tudo que ele pensa sem, contudo, manifestar suas ideias pela fala. O seu modo de ser, os seus cabelos, parecem dizer alguma coisa. Enfim, toda sua presença é uma mensagem. Tadeu dizia que todos os animais entendiam o Mestre, e ele, igualmente falava e compreendia suas línguas. João ficava muito animado, dizia que era muita responsabilidade para simples homens do povo. Agradecia a Deus pela dádiva.

As reuniões em Betsaida era uma verdadeira escola de aperfeiçoamento. Cada um manifestava um ponto de vista diferente sobre o assunto. Uma força poderosa se mesclava aos discípulos, para aperfeiçoar, para ajudar melhor. O Mestre advertia para que a vaidade não se intrometesse nas áreas de luz onde o Amor seria o rei, e a Caridade, a princesa.

Qualquer encontro dos discípulos era motivo de muitos assuntos referentes ao Mestre, e todos giravam em torno de ideias elevadas, que a compreensão e a ciência não dominavam. A fé se fazia presente para sustentar a esperança.

Tadeu estava com a cabeça cheia de perguntas, principalmente em torno de como falar e usar o verbo, na sua mais elevada expressão. Portanto, com tanta dúvida, Tadeu fez a pergunta: Senhor, já ouvi tua opinião acerca da palavra e da audição, que muito me comoveu. Se não fosse isso, talvez não ousasse perguntar novamente quase sobre o mesmo assunto. Mas como tua sabedoria é uma fonte inesgotável, se não for ousadia, queria e ficaria muito agradecido com uma dissertação tua em que o verbo fosse novamente o tema.

Tadeu, bem sabes que as escrituras nos contam, através de agentes de Deus, como o nosso Pai Celestial fez o mundo: falando! Fez a luz falando, e assim os animais e os homens. E ainda os céus e os anjos. A palavra tem um poder incalculável na formação das coisas, partindo do Todo-Poderoso até nós. É justo que purifiquemos o verbo, para que ele possa iluminar a alma.

O verbo é filho de Deus sob a administração do tempo. É no percorrer de milênios e milênios, de um esforço sem fuga, que a caridade vai se amoldando à palavra, no calor de todas as qualidades do amor. É pela palavra que ficamos sabendo da existência da grande luz que mora em nós e que se expressa pela sabedoria do amor. Chegareis em um ponto, todos vós que estais comigo, de usar os dons que começam a crescer em vossas almas. Se contrariardes a natureza, respondereis pelos impactos de forças que não conheceis ainda.

Os meios de fazer-vos crescer mais estão sendo dados dia-a-dia, na mesma marcha de que o tempo cuida. Exercitar o modo pelo quais deveis falar aos outros é de caráter nobre. Porém, resta-nos saber se esses meios não irão trazer-vos um certo rigor que o fanatismo aproveita para desmerecer os frutos do trabalho. Os ensinamentos dos céus, muitas vezes, chegam ao mundo dos homens por parábolas, para que não venham a servir de fogo na boca de incautos.

O segredo até hoje constitui a segurança das coisas. Já imaginastes se os homens pudessem dominar a ciência, de forma a que esta lhes oferecesse todos os tipos de frutos, com abundância que as árvores desconhecem? O que seria do equilíbrio da alma, desprezando o trabalho cada vez mais? Já pensastes se o homem tivesse em suas mãos o poder de aparecer e desaparecer onde e a hora que lhes aprouvesse? Essa chave divina é guardada somente para abrir as portas na hora em que a bondade de Deus disser: pode.

Meus filhos! A palavra abre muitas glórias em nossa ascensão, e destampa muita luz, para iluminar nossos caminhos, mas quando é educada. A educação é fruto de inenarráveis séculos de disciplina. Se começardes a conhecer alguns segredos do verbo, aplicando-os na satisfação orientada pelo egoísmo, se deixardes que a palavra seja escrava dos instintos inferiores, se não houver a vigilância evitando que a fala vos sirva como agente entorpecedor dos semelhantes, para que estes cedam a vossa usura e vos deem o que não mereceis, no comércio, havereis de responder por esses desastres, morais, materiais e espirituais. Se ainda vos sentir fracos, é justo que não quereis ficar fortes no verbo, pois este pode tomar caminhos inconfessáveis.

Assim como não podeis pegar peixe nas águas com um só quadrado de barbante, não podeis, igualmente, ter o equilíbrio de vossas emoções somente com a educação da fala. A rede que lançais ao mar tem centenas de quadrados firmes e unidos uns aos outros.

O mesmo deveis fazer com os dons espirituais, todos unidos, uns amparando os outros, dando condições ao espírito de trabalhar na verdadeira paz e na consciência do exercício das leis divinas.

Tadeu! Se pudésseis ver o que sai da boca de um homem quando está irado, quando a maledicência é a cogitação e quando a vingança se transforma em ódio, terias muito mais cuidado no falar e no pensar.

A panela que fabrica as tuas ideias, é a tua própria cabeça que faz canalizar para os lábios o seu verbo. Deve ser limpada da mesma forma como limpas a vasilha depois da comida.

Haveis de limpar a cabeça depois de pensamentos maus e impuros. Assim como não nos sentimos bem com comida e roupa malcheirosas, não podemos sentir alegria com a cabeça imunda de restos mentais que nos incomodam muito mais. Não queiras compreender essa ciência de falar bem de um momento para outro.

O Mestre de todos nós, é Deus, que é o dono do tempo.