Culto aos testes de QI versus método científico e realidade

Hipótese: (todos os) indivíduos (superdotados) que pontuam acima de 135 em testes de QI são "geniais" (muito criativos, perspicazes, perfeccionistas, talentosos... com grande potencial de realização...) e mentalmente equilibrados...

Método: científico...

(Famoso estudo longitudinal de Lewis Terman)

Em torno de 1500 crianças californianas, que pontuaram de 135 ou mais em testes de QI, são selecionadas para participar de um estudo de longo prazo que visa observar e analisar suas trajetórias de vida até à velhice.

Resultado: elas cresceram e, em média, se tornaram adultos profissionalmente bem sucedidos, mais saudáveis e socialmente ajustados do que o restante da população. Mas, não foi percebido neste grupo uma desproporção de realizações científicas, filosóficas e artísticas de grande impacto/relevância ou de "gênio"...

Detalhe: duas das crianças que foram rejeitadas por terem pontuado abaixo do limite estabelecido, de 135 ou mais, acabaram se destacando, quando adultas, por suas realizações criativas excepcionais (William Shockley e Luís Alvarez)...

Apesar destes fatos, tem sido fomentado um culto em torno dos testes cognitivos, obviamente marcado por incompreensão e/ou ignorância, e justamente sobre a inteligência humana. Eis aqui uma lista simples com os principais dogmas ou equívocos seguidos/cometidos por aqueles que cultuam o QI:

- Não existem múltiplas "inteligências" /a inteligência humana não é multifacetada ou é apenas aquilo que os testes cognitivos "mensuram" e estimam (potencial de aprendizado convergente);

--QI = inteligência;

--A criatividade não é um sub-domínio (psico)cognitivo separado do aprendizado//memorização convergente;

--Superdotados=gênios

- Pessoas de QI alto são [absolutamente] mais inteligentes que pessoas de QI médio ou baixo;

-- Pessoas de QI alto são "geniais" justamente por causa de suas pontuações;

-- Pessoas com pontuações relativamente baixas em testes cognitivos são "deficientes mentais";

- Se existem pessoas de QI alto [a maioria]  que não apresentam qualquer realização criativa relevante ao longo de suas vidas, a razão nunca é por não terem potencial para a criatividade per si, mas por culpa da sociedade ou, então, por falta de motivação;

- Apenas as pontuações nos testes principais que importam, porque diferenças nos sub-testes são irrelevantes;

- Por causa do fator G, a maioria das pessoas apresenta pouca variação em suas capacidades cognitivas...

O que os fetichistas de QI pensam, em essência:

"Uma pessoa que pontua alto a muito alto em testes cognitivos é automaticamente 'genial' "

Realidade:

Pontuações altas em testes cognitivos refletem, em média, maiores capacidades de memorização, de "inteligências" verbal, aritmética, espacial, de raciocínio e/ou aprendizado convergente. Estudantes que, nos tempos dos meus pais, eram chamados de CDFs, por serem os que, consistentemente, tiram as maiores notas na escola, também são os mais propensos a pontuarem alto nos testes de QI, porque ambas as avaliações estão focadas nas mesmas facetas da inteligência humana. Existem exceções a essa regra, por exemplo, de estudantes que pontuariam alto em testes de QI, mas que não se interessam pelo que é passado pelos professores e acabam se tornando mais desleixados quanto aos seus desempenhos na sala de aula, geralmente por serem mais auto-motivados na busca pelo conhecimento e/ou por estarem mais avançados em relação às suas classes.

A criatividade tem um papel decisivo para a genialidade de modo que, ainda é possível ser muito inteligente, dependendo para qual conjunto de capacidades, e não ser muito criativo ou de se tornar um ''gênio''. Mas todo ''gênio'' se destaca justamente por suas realizações criativas. Portanto, para buscar por indivíduos com maior potencial de criatividade, inclusive a nível extraordinário, talvez, fosse melhor focar naqueles com as maiores pontuações em testes cognitivos de pensamento divergente?? e/ou também associado a uma grande motivação intrínseca?? De, ao invés de apenas CDFs, de buscar por todas as crianças e adolescentes que apresentam paixões intensas (geralmente) por campos específicos: astronomia, artes, história, paleontologia ... ???

Mais um Thiago
Enviado por Mais um Thiago em 08/01/2021
Reeditado em 25/09/2022
Código do texto: T7154921
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