O MOVIMENTO HIP-HOP E A RELEVÂNCIA DO RAP NA PROMOÇÃO DE CIDADANIA À JUVENTUDE DE PERIFERIA

Hip-hop é um movimento cultural sócio-político que surgiu na segunda metade dos anos 70, na predominantemente afro-americana e economicamente deprimida comunidade de South Bronx — distrito da cidade de Nova York —, alcançando internacional popularidade a partir de meados dos anos 80 e 90. O compositor e produtor musical Afrika Bambaataa, do coletivo hip-hop Zulu Nation, é conhecido por fundar e delinear os pilares do movimento hip-hop, cunhando os termos: "rap" (acrônimo de rhyme and poetry), um estilo vocal rímico e rítmico; “DJing” (ou turntablism), designação da arte de produção musical com toca-discos e aparelhos de mixagem utilizados por compositores de música hip-hop conhecidos como “DJs”; “breakdancing” — um estilo atlético de movimentação corporal/dança de rua; e a arte do grafite, uma forma de comunicação visual, geralmente considerada como vandalismo, a qual caracteriza-se por desenhos e/ou inscrições frequentemente com teor crítico-social aplicadas em muros, em espaços públicos, utilizando sprays de tinta e canetas hidrográficas como materiais.

O rap é o pilar de expressão mais popular dentre os componentes artísticos fundamentais característicos do movimento hip-hop. Através do rap, jovens de comunidades periféricas encontram uma forma de protesto autêntica contra o status quo, e de elaboração de narrativas urbanas que fazem alusão ao próprio cotidiano, as quais denunciam o racismo, a violência, a desigualdade e exclusão social, a opressão, a miséria – a saber: elementos característicos do insalubre cenário de precárias condições de vida em camadas menos abastadas dos grandes centros urbanos. Com a popularidade do estilo musical, muitos rappers do Brasil e do mundo conseguiram através de suas “músicas de gueto” tornarem-se artistas famosos na indústria fonográfica e personalidades bastante influentes dentro de suas comunidades de origem.

Por ser originário de um movimento cultural emergente de regiões urbanas periféricas, o rap possui potencial para promoção de cidadania, empoderamento, fomentação de uma rica cultura de resistência em resposta à pobreza e às variadas mazelas sociais as quais as comunidades menos favorecidas estão sendo violentamente submetidas. Entretanto, a violência lírica de alguns rappers, cujas letras fazem apologia à criminalidade e ao uso de drogas, exaltam uma vida marginal e fazem um desserviço a visão política progressista, e de contestação imbuída de valores humanitários, associada à essência contracultural que norteia muitos artistas engajados no movimento hip-hop.

O Brasil é considerado um país subdesenvolvido, onde há expressiva desigualdade social, e o sistema educacional é bastante precário. O movimento hip-hop apareceu no Brasil nos anos 80, primeiramente, na cidade de São Paulo, espalhando-se então por diversas regiões do país. Algumas escolas brasileiras implantaram o rap no currículo como recurso didático, visando tornar as aulas mais atraentes aos jovens carentes e contextualizar o ensino para construir uma educação mais próxima do cotidiano dos jovens.

Se construída através de um inteligentemente bem articulado projeto pedagógico, a união entre o sistema de escolarização nacional e o rap como elemento contracultural pode resultar em um mecanismo hábil para inclusão social de jovens desfavorecidos, incentivando a afirmação de suas identidades negras e aguçando os sensos críticos para torná-los cidadãos com voz ativa na reivindicação de direitos sociais, econômicos, culturais e políticos; fortalecendo o aspecto progressista do movimento hip-hop, e transformando a educação brasileira numa educação mais engajada politicamente na luta por cidadania e melhoria das condições de vida nas periferias.

Aislan Bezerra
Enviado por Aislan Bezerra em 05/05/2022
Reeditado em 05/05/2022
Código do texto: T7509804
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