O PROFESSOR DE LEITURA

O professor de leitura

É preciso dizer que é quase impossível esperar que o aluno desenvolva habilidades competências de leitura e, principalmente, o apreço pelo ato de ler se o professor não for um leitor contumaz. Isso inclui o docente realmente gostar de ler, passando por diversos gêneros textuais, autores e épocas. Como diz Isabel Solé no livro “Estratégias de leitura”: “Não devemos esquecer que o interesse também se cria, se suscita e se educa, e que em diversas ocasiões ele depende do entusiasmo e da apresentação que o professor faz de uma determinada leitura e das possibilidades que seja capaz de explorar”.

Assim, o estudante adquirirá mais conhecimento e desenvolverá sua capacidade de interação e se inserirá efetivamente na sociedade, à medida que realizar mais leituras. Além disso, ampliará sua capacidade de fazer inferências, suposições, conclusões pelo fato de já dispor de um elevado conhecimento prévio e ser conhecedor de vários gêneros textuais.

Daí ser imprescindível que o professor seja subsidiado e subsidiário para desenvolvimento das habilidades de leitura que vão se associar à linguística textual. Cabe ao docente essa responsabilidade de levar o aluno/leitor a compreender o texto de maneira efetiva. Assim, vê-se o docente como um agente indicado e capacitado para reconhecer as deficiências na aprendizagem do alunado, para diagnosticar o grau de compreensão leitora e, posteriormente, indicar soluções para sanar as dificuldades/défices na aprendizagem.

É preciso que o professor estabeleça objetivos para as atividades, que podem ser desde fichas de leitura, indicação de obras, trabalho sistemático com tipos e gêneros textuais diversos, sequências didáticas, privilegiando nessas ações o texto, sobretudo. É imprescindível uma postura questionadora e reflexiva de ambas as partes. Para além da relação professor-aluno, o texto é a materialidade para a qual devemos nos voltar. A linguagem traz consigo um universo de possibilidades que podemos explorar. Por isso é tão importante que ampliemos nosso repertório sociocultural para que o conhecimento se expanda.

Não basta termos informações. Isso é pouco. A inteligência se desenvolve a partir da nossa capacidade de relacionar aquilo que nos chega, tornando esse torvelinho de referências uma teia, na qual cada fio é sustentado de modo consciente/racional. Daí, sim, haverá a consolidação do leitor como alguém que atravessa o status de ledor para ser de fato atuante na sociedade e engajado no processo de ser e vir a ser.

Ademais, devemos destacar que a leitura não pode ser apenas uma preocupação nos anos iniciais. É no mínimo ingênuo acreditar que, porque (em tese) o aluno já sabe ler não se deverá mais ter preocupações acerca do desenvolvimento das suas habilidades. Tal fato ocorre em virtude de o senso comum acreditar que aprender a ler se limita a ser alfabetizado, saber decodificar grafemas. O desenvolvimento do leitor deve se prolongar por toda a vida acadêmica.

Isso inclui o ensino universitário, em especial as licenciaturas. Negligenciar esse ensino pode comprometer a formação dos futuros professores, que precisam ter conhecimento suficiente para garantir aos seus alunos uma educação de qualidade. É mesmo de se questionar o porquê de a leitura não ser a prática de linguagem protagonista das aulas de Língua Portuguesa. O que tem se ensinado? Qual tem sido o fundamento dessas aulas? Não há formação continuada em larga escala para os docentes possam se capacitar e exercer as “ações concretas”? Até quando?

Sabe-se que muitos professores necessitam assumir cargas horárias intensas a fim obterem o complemento salarial para conseguirem honrar suas contas. Por vezes, o salário recebido em escolas públicas e particulares não é suficiente para que possam viver dignamente, tendo que recorrer a alternativas que lhes tomam o tempo que poderia ser destinado a cursos ou até mesmo a uma melhor preparação de suas aulas.

Como já foi dito, o professor precisa ser um leitor e, para que possa ter as experiências de leitura, o contato com os autores diversos, precisa de tempo, o que nem sempre sobra em virtude de toda a demanda – diários, provas etc. Diante disso, cabe ao docente a organização clara daquilo que objetiva alcançar com as atividades, quais são seus propósitos, o que deseja ver sendo aplicado por seus alunos, as competências e habilidades de leitura.

Leo Barbosa é professor, escritor e poeta.

(Texto publicado em A União em 21/04/2023)