ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UM PROCESSO DE INTER-RELAÇÃO

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UM PROCESSO DE INTER-RELAÇÃO

Carolina Girardello Ballardin1

RESUMO- Este artigo, de caráter bibliográfico, tem como objetivo discutir a temática da alfabetização e do letramento, analisando seus conceitos e estabelecendo inter-relações entre ambos os processos dentro da Educação Básica do Brasil. A alfabetização é a base para uma educação de qualidade, sendo esta reflexiva, construtiva e crítica. Logo, o letramento utiliza-se da escrita para resolver problemas do dia a dia, contribuindo para que as diversas práticas sociais possam ser realizadas. Diante disto, o presente artigo abordará discutir a importância da alfabetização e do letramento, levando em consideração suas individualidades, mas também, estabelecendo elos entre esses processos. Foi utilizada como metodologia, uma pesquisa bibliográfica com fundamentos teóricos já publicados por diversos autores sobre o tema em questão. Mediante ao trabalho desenvolvido, concluiu-se que através de um trabalho de inter-relação, atividades lúdicas e o constate aprimorando do professor alfabetizar, podemos alcançar índices significativamente melhores com relação à qualidade de ensino-aprendizagem nos âmbitos da alfabetização e do letramento.

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização. Letramento. Alfabetizar letrando.

INTRODUÇÃO

O presente artigo discorre sobre a relevância de se refletir acerca dos processos de alfabetização e de letramento de modo a compreender que ambos não apresentam o mesmo significado, mas apresentam um processo de inter-relação, ou seja, embora cada um conte com objetivos específicos, são processos indissociáveis e que, podem ser trabalhados em sala de aula pelos educadores juntamente com seus educandos visto que ambos, apesar de respeitarmos as especificidades individuais de cada um e compreendermos que ambos desempenham, inicialmente, processos distintos, mas quando trabalhados em consonância atingem êxito nos resultados de ensino-aprendizagem.

Este trabalho de pesquisa tem como viés não apenas apresentar conceitos e concepções dos temas principais, mas também, ir além desses, verificando e aprofundando o eixo das contribuições, as quais os processos de alfabetização e letramento podem trazem para o ensino-aprendizagem tanto na Educação Infantil quanto nos primeiros anos do ensino Fundamental I, incentivando a forma lúdica, prazerosa, na qual o indivíduo consiga assimilar, acomodar e perpassar pelas zonas de desenvolvimento da melhor maneira possível.

Neste texto serão abordadas as possíveis consequências de não contarmos com um bom processo de alfabetização, no qual a qualidade é primordial para que não venha a comprometer o processo de alfabetização e letramento (alfabetizar letrando), e também, do conhecimento necessário à formação do professor alfabetizador para que esse auxilie o educando nesse processo complexo e abstrato que é o da alfabetização.

Serão apresentados conceitos e concepções de autores sobre a alfabetização e o letramento no contexto atual, o que nos levará a refletir sobre seus significados, seus elos e a necessidade da sincronia, argumentando e levantando hipóteses que visem sanar tais dificuldades encontradas durante o processo de ensino-aprendizagem na construção do desenvolvimento do conhecimento na qual resultem em leitores competentes e capazes de ir muito além de simples uma decodificação de símbolos para uma leitura de mundo, gerando sentidos, experiências e vivências entre ele o outro.

Objetiva-se, também, discutir a importância da qualidade do processo de ensino-aprendizagem da alfabetização e do letramento, trabalhando os mesmos de forma associadas, como partes integrantes o qual SOARES chama de “Aprendizagem inicial da língua escrita”, buscando desenvolver estratégias e ações para que haja êxito no processo de alfabetização-letramento.

A alfabetização e o letramento são temas que geram preocupação e instigam frequentemente a comunidade acadêmica e pesquisadores de diferentes áreas, mas principalmente, aos profissionais da área da educação a estudá-los, pois o Brasil, de acordo com levantamento divulgado pela Unesco, apresenta a oitava maior população de adultos analfabetos. São aproximadamente 14 milhões de pessoas (FUENTES, 2014, p. 1). Assim, gerando duas problemáticas importantes: a dos iletrados e a dos analfabetos funcionais.

Este artigo, de caráter bibliográfico, está divido em três tópicos: a alfabetização e o letramento no contexto atual; a inter-relação entre a alfabetização e o letramento e, por último, alfabetizar letrando, fundamentando que é possível ensinar levando em consideração as práticas sociais, tornando o ensino em sala de aula, funcional.

Assim, este tratará de discutir acerca do processo de ensino-aprendizagem e o modo como este deve ser organizado na área da leitura e da escrita, fazendo com que essas sejam desenvolvidas dentro de uma linguagem funcional, natural e significativa. Tornar o ato de ler e escrever de forma competente ainda é o grande desafio dos professores no contexto atual.

A ALFABETIZAÇÃO e O letramento no contexto atual

Por muito tempo na Educação Brasileira, a alfabetização e o letramento eram tidos apenas como momentos dissociados no ensino. Primeiramente ocorria o processo de alfabetização por meio da codificação e decodificação de um sistema de símbolos alfabéticos e ortográficos, e após este, iniciava-se então o letramento por meio da prática da leitura de livros ou outros materiais didáticos.

Os temas alfabetização e letramento foram e ainda são assuntos recorrentes dentre a comunidade acadêmica, pois, vem instigando diversos pesquisadores a estudá-los por diversos motivos. Mas, um desses principais motivos, seria o alto nível de analfabetismo no Brasil. Índices da Unesco apontam que cerca de 14 milhões de brasileiros são analfabetos, sendo que o país ocupa a oitava maior população de adultos analfabetos. Há que se acrescentar ainda um fator preocupante: muitos dos que são considerados alfabetizados são analfabetos funcionais, ou seja, leem e escrevem, mas demonstram não compreender o sentido do que leram ou escreveram mesmo que em textos simples.

A partir disto, percebe-se a importância de uma alfabetização de qualidade, pois ela é o alicerce para um a educação emancipadora, crítica e fundamental para a transformação da realidade como um todo. Para VAL (2006, p. 19) ao tratar do conceito de alfabetização:

A alfabetização é o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia. Noutras palavras alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e ouras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita. (VAL, 2006, p. 19).

Para FERREIRO (1999, p.47), “a alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é na maioria dos casos anterior a escola, ou seja, a criança começa a ser alfabetizada no ambiente familiar e no convívio social comunitário, e não termina ao finalizar a escola primária.”, desta forma, os primeiros contatos tanto com a língua falada quanto na língua escrita, iniciam-se no ambiente o qual a criança está inserida, pois é ali que ela recebe os primeiros estímulos linguísticos e sociolinguísticos, que por sua vez são contínuas e simultâneas.

A autora aponta que, dependendo do ambiente no qual a criança está inserida e da quantidade de estímulos é que se dará o fluxo processo de aquisição da construção do processo de alfabetização,

Há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da escola para apropriar-se da escrita. (Ferreiro, 1999, p.23)

Segundo Kramer (1986, p.17), a alfabetização "vai além do saber ler e escrever inclui o objetivo de favorecer o desenvolvimento da compreensão e expressão da linguagem”. Ou seja, não basta apenas saber ler e escrever, é preciso também entender o que é a leitura e a escrita.

A partir disto surge então a necessidade de falarmos sobre o processo de letramento, o qual se pode afirmar que tanto o termo quanto o conceito são mais recentes do que os da alfabetização na Língua Portuguesa no Brasil, pois surgiu apenas em 1986. Faremos uso neste trabalho dos conceitos de letramento na perspectiva de Magda Soares quando diz “o indivíduo que sabe ler e escrever é alfabetizado aquele que coloca em prática essa habilidade, que faz uso dela é letrado”.

Este conceito perpassa pelos âmbitos: social, cognitivo e linguístico, pois o letramento é um processo amplo que torna o indivíduo apto a utilizar a escrita de forma efetiva nas situações sociais:

Letramento é a palavra e conceito recente, introduzido na linguagem da educação e das ciências linguísticas há pouco mais de duas décadas. Seu surgimento pode ser interpretado como decorrência da necessidade de configurar e nomear comportamentos e práticas sociais na área da leitura e da escrita que ultrapassam o domínio do sistema alfabético e ortográfico, nível da aprendizagem da língua escrita perseguido, tradicionalmente, pelo processo de alfabetização. (SOARES, 2004, p. 20).

De acordo com a autora, o processo de letramento tem início quando a criança começa a “letrar-se” tendo como referencial e base o convívio com pessoas que fazem uso da linguagem escrita ao seu redor, no seu dia a dia, ou seja, a criança vai (re) conhecendo a importância da prática da leitura e da escrita de maneira funcional desde os primeiros anos de vida, e após, estendendo-se à Educação infantil, ao Ensino Fundamental I e, por conseguinte, ao longo da vida.

Segundo SOARES (2004, p.43), “Letramento é usar a escrita para se orientar no mundo (o atlas), nas ruas (os sinais de trânsito), para receber instruções (para encontrar um tesouro, para consertar um aparelho, para tomar um remédio), enfim, é usar a escrita para não ficar perdido”, ou seja, a criança começa a perceber e a fazer usos sociais da leitura e da escrita, colocando em uso ou em prática o que se aprendeu durante o processo de alfabetização a fim de se localizar, orientar, compreender e interpretar tudo o que exija o processo de leitura e escrita.

O letramento está associado aos usos e às práticas tanto de leitura quanto de escrita, no qual o indivíduo desenvolve habilidades não apenas de ler e de escrever, mas também, de fazer uso da leitura e da escrita na sociedade.

O letramento focaliza os aspectos sócios históricos da aquisição da escrita, entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escrita de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as práticas “letradas” em sociedades ágrafas. Desse modo, o letramento tem por objetivo investigar não somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado, e, nesse sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social. (TFOUNI, 2002, p. 9).

Portanto, letramento é um “conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito” (MORAIS; ALBUQUERQUE, 2007, p. 7). Ou seja, o processo de letramento vai além de apenas conseguir e entender o que se lê e o que se escreve, ele está relacionado à sua experiência cotidiana. Assim, o letramento é um processo que transcende o do domínio dos códigos, o qual inicia com a alfabetização, sendo contínuo e se estende nas relações humanas. Para (FEITOSA, 2009, p.74):

“Através de temas e palavras geradoras, realizamos a codificação e decodificação desses temas buscando o seu significado social, ou seja, a consciência do vivido. Através do tema gerador geral, é possível avançar para além do limite de conhecimento que os educandos têm de sua própria realidade, podendo assim melhor compreendê-la a fim de poder nela intervir criticamente Do tema gerador deverão sair as palavras geradoras. Cada palavra geradora deverá ter sua ilustração que por sua vez deverá suscitar o debate.”

a inter-relação entre alfabetização e letramento

Analisadas e discutidas as especificidades dos conceitos de alfabetização e de letramento, tem-se agora o intuito de mostrar que, havendo conciliação entre ambos os processos e que esses visem uma prática reflexiva, podemos chegar a um processo de ensino-aprendizagem de qualidade. Pois, ao se tratar de prática pedagógica de ensino-aprendizagem, é fundamental reconhecer que os alunos já possuem conhecimentos prévios, assim, é importante que os professores alfabetizadores façam uma investigação do conhecimento prévio de seus alunos, para que esses sirvam de norte ou ponto de partida para o seu planejamento e a de suas metodologias de ensino.

De acordo com Rios e Libânio (2009, p. 33) “a alfabetização e o letramento são processos que se mesclam e coexistem na experiência de leitura e escrita nas práticas sociais, apesar de serem conceitos distintos”, portanto, alfabetizar e letrar são práticas pedagógicas que precisam ser desenvolvidas concomitantes, como um processo contínuo e sucessivo, o qual se constitui conforme o desenvolvimento da criança e, na medida em que elas crescem, elas percebem que tudo ao seu redor tem significado, iniciando assim, um processo de leitura de mundo e passam a interpretar e conhecer o meio em que vivem e estão inseridas.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) contempla diretrizes específicas para a etapa escolar de alfabetização, indicando os dois primeiros anos do Ensino Fundamental como sendo os ideais para ações pedagógicas com esse foco. Entretanto, o letramento deve perpassar todas as fases de aprendizado, sendo iniciado, inclusive, antes do começo formal do processo de alfabetização de uma criança. De acordo com a BNCC, é aconselhável que as práticas letradas sejam incitadas desde a Educação Infantil, além do contexto mais amplo de vida social do aluno e da inserção construção e da consciência do indivíduo.

Nesse sentido, a Base Nacional Curricular (BNCC) aponta a necessidade de atividades específicas para pensar o sistema de escrita alfabética e para além do uso desses como objeto de conhecimento. Por isso, surge a importância da contextualização do conhecimento escolar juntamente às práticas sociais as quais a criança esteja envolvida. Para a BNCC, os campos de atuação e as práticas de linguagem, por exemplo, apontam direcionamentos relacionados ao uso de linguagens situadas e contextualizadas ao universo do estudante.

O letramento é a ampliação do conceito de alfabetização, ou seja, é uma prática que abrange os usos e as funções sociais da leitura e da escrita na sociedade letrada e deve ser introduzido muito antes do início formal do processo de alfabetização e essa prática tende a durar a vida toda.

Segundo SOARES, o processo de letramento é contínuo ao da alfabetização, ou seja, é a prática de ler e escrever:

Há, assim, uma diferença entre saber ler e escrever, ser alfabetizado, e viver na condição ou estado de quem sabe ler e escrever, ser letrado. Ou seja, a pessoa que aprende a ler e a escrever – que se torna alfabetizada – e que passa a fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita – que se torna letrada – que é diferente de uma pessoa que não sabe ler e escrever – é analfabeta – ou, sabendo ler e escrever, não faz uso da leitura e da escrita – é alfabetizada, mas não é letrada, não vive no letrado ou condição de quem sabe ler e escrever e pratica a leitura e a escrita (SOARES, 2008, p. 36).

A partir disso, para que uma criança entre no mundo da escrita, é necessário passar por dois processos interdependentes, e indissociáveis, a aquisição do sistema convencional de escrita, sendo esse a alfabetização e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, sendo essa, o letramento.

Segundo WEISZ, (2000, p.62) “o ensinar a língua escrita em contextos letrados, e observar a ação das crianças, é a função do professor, bem como, acolher ou problematizar suas produções, intervindo sempre que achar que pode fazer a reflexão dos alunos sobre a escrita avançar”. Assim, as práticas de alfabetização e letramento devem acontecer de forma reflexiva a partir de situações problemas, as quais, as crianças possam levantar suas hipóteses e serem conduzidas a refletir sobre a escrita, a participar, a ler e escrever contendo uma função social, pois, muito antes de ser capaz de ler, a criança entende e interpreta as funções dos objetos (sentido e significado). Dessa forma, podemos dizer que antes de entrar na alfabetização e letramento, ela já vem com um amplo conhecimento de mundo, com curiosidades e interesses que devem ser estimulados e aprimorados pelos professores.

Dessa maneira, um projeto político pedagógico alinhado às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular deve contemplar a articulação dos dois fatores essenciais: a alfabetização e o letramento. Assim, para SOARES (1998, p.47) “o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais de leitura e escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado”.

ALFABETIZAR LETRANDO

Partindo do pressuposto de que alfabetizar letrando seja uma proposta de ensino eficaz para alcançarmos um nível de qualidade no processo de alfabetização e letramento, pois o mesmo tende a conduzir a criança para que ela aprenda a ler e a escrever através do convívio com atividades e práticas genuínas de leitura e escrita, ou seja, tendo como referencial o seu dia a dia e o seu contexto social, assim, substituindo os tradicionais e artificiais manuais didáticos e cartilhas por livros, revistas, folders, jornais, embalagens, desta forma, fazendo uso de materiais de leitura que circulem pelos ambientes os quais a criança esteja inserida. É fundamental que o professor alfabetizador tenha domínio dos saberes necessários na condução das atividades a serem desenvolvidas com os educandos.

Para alfabetizar letrando, deve haver um trabalho intencional de sensibilização, por meio de atividades especificas de comunicação, como escrever para alguém que não está presente (bilhetes, correspondências escolar), contar uma historia por escrito, produzir um jornal escolar, um cartaz etc. Assim a escrita passa a ter função social (CARVALHO, 2011, p.69).

Segundo SOARES (1998), é de suma importância que os educadores alfabetizadores tenham os seguintes fundamentos: psicológicos, fonológicos, linguísticos, sociolinguísticos e que estejam baseados numa proposta de “alfabetizar letrando”, em que o ensino e a aprendizagem do código estejam relacionados pelas práticas sociais e funcionais de utilização da escrita. Desta forma, teríamos uma escola educando para as diversas práticas interacionais da vida social. Em outras palavras, teríamos uma inter-relação entre Alfabetização, Letramento e Práticas Sociais:

Assim, teríamos alfabetizar e letrar como duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado. (SOARES, 2012, p. 47)

A partir disso, corroborando a necessidade de conhecimento deste tema tão complexo e abstrato que é a alfabetização e o letramento, a qual muitas vezes a sua formação não contempla, faz-se necessário que, por parte dos docentes, haja programas de formação continuada que visam tais capacitações que auxiliem nesta etapa da tão importante da Educação Básica. De acordo com Tasca e Guedes-Pinto,

Nesse cenário, as discussões se direcionam para o desafio de elevar a qualidade do ensino e da aprendizagem dos alunos, especialmente do processo de alfabetização. No Brasil, a escolarização obrigatória tem acumulado índices elevados de analfabetismo, tornando ainda visível o fenômeno do fracasso escolar. Os investimentos na ampliação do ensino fundamental e na melhoria da formação inicial e continuada de professores apresentam-se como uma das medidas para reverter esse quadro. Temos visto iniciativas nos âmbitos federal, estadual e municipal quanto ao oferecimento de programas e/ou cursos para os professores. (2013, p. 259)

Há que se destacar também o que SOARES (2004) diz sobre o que ela própria denomina de “aprendizagem inicial da linguagem escrita”, o qual envolve dois processos: o da alfabetização como aquisição de uma tecnologia: o sistema alfabético e ortográfico e, do outo, o letramento como o desenvolvimento de uso da tecnologia da escrita no contexto social e cultural em que vivem.

Esse alfabetizar letrando, ou letrar alfabetizando, pela integração e pela articulação das várias facetas do processo de aprendizagem inicial da língua escrita, é, sem dúvida, o caminho para a superação dos problemas que vimos enfrentando nesta etapa da escolarização; descaminhos serão tentativas de voltar a privilegiar esta ou aquela faceta, como se fez no passado, como se faz hoje, sempre resultando em fracasso, esse reiterado fracasso da escola brasileira em dar às crianças acesso efetivo e competente ao mundo da escrita.

Entretanto, há que se destacar a relevância de se trabalhar de forma lúdica, podendo o professor construir uma visão ampla do processo de desenvolvimento de seus alunos. As atividades desenvolvidas por meio da ludicidade tendem a auxiliar no desenvolvimento do raciocínio, da interação e do autoconhecimento. De acordo com Kishimoto (1994), o lúdico é uma forma de desenvolvimento da linguagem e do imaginário, é um meio de expressão de qualidades espontâneas, que tem como papel aprender valores importantes, socialização e a internalização de conceitos de maneira significativa, assim, você consegue contextualizar um conceito através de jogos, brincadeiras, dentre outros.

O educador deve oferecer formas didáticas diferenciadas, como atividades lúdicas para que a criança sinta desejo de pensar. Isso significa que ela pode não apresentar predisposição para gostar de uma disciplina e por isso não se interessa por ela. Daí a necessidade de programar atividades lúdicas na escola (SANTOS, 1999, p. 4).

Portanto, compreende-se que, dentre os diversos métodos de alfabetização os quais o professor educador poderá basear-se ou inspirar-se, os mesmos deverão ser conduzidos por um trabalho de ensino-aprendizagem lúdico e que proporcione ao educando atividades crítico-reflexivas, tornando-o ser integrante e fundamental no processo de alfabetização e letramento.

conclusão

Considera-se essencial que o professor alfabetizador compreenda a importância de trabalhar a alfabetização e o letramento de maneira integrada, buscando a inter-relação que existe entre os processos de alfabetização e letramento. Levando em consideração que, apesar de serem momentos distintos ambos entrelaçam e inter-relacionam-se.

Acreditamos que uma metodologia variada e que contemple uma vasta gama de atividades possa contribuir para o desenvolvimento de saberes e conhecimentos necessários para o êxito e para a qualidade da educação no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem da alfabetização e do letramento. Dever-se-á, também, levar em consideração o contexto histórico atual, uma vez que entendemos a língua e a linguagem como um organismo vivo e que está em constante transformação, assim como, o ser humano e suas relações.

Por fim, cremos que seja viável atingir um padrão de qualidade superior aos que possuímos atualmente, desde que, contemplemos práticas educacionais que utilizem diferentes metodologias, práticas que levem em consideração o ambiente e as vivências as quais os alunos estão inseridos, fazendo com que haja apropriação do sistema de escrita e que propiciem o uso social da leitura e da escrita na perspectiva que aponta para o que entendemos ser alfabetizar letrando.

REFERÊNCIAS

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