Arbitragem cearense

(Trecho transcrito da Coluna "Com Pé e Cabeça - Ano IV - Nº161 - de 21 set 2009)

Opinião

VIRTUDES E DEFEITOS DE UM MODELO ULTRAPASSADO DE ARBITRAGEM

Poucos são os que falam sobre o tema arbitragem com humanidade e responsabilidade.

Por onde ando e me deparo com o polêmico tema arbitragem, procuro tratá-lo dentro da real perspectiva que lhe é inerente. Ou seja, considerando as dificuldades que lhe são próprias, desconsiderando as imagens (principalmente as da televisão), pois não considero nem equânime nem lícito, a concorrência de pós-imagens nem sempre esclarecedoras (e mesmo que o fossem), confrontadas com as decisões instantâneas que a arbitragem tem de tomar.

Diante dos diferentes pontos de vista das câmaras e de exaustivas repetições, incontáveis são as vezes em que vemos a falta de consenso entre os comentaristas. Portanto, o que dizer da dificuldade de árbitros e assistentes que, sem direito a rever os lances nem a nenhum outro recurso de recuperação de imagem, têm de tomar decisões em um brevíssimo lapso de tempo? E o pior: tendo um único ângulo e perspectiva do lance.

Ademais, mesmo que levemos em conta a ótica maquiavelista, o ‘preço’ de um árbitro deveria ser o valor que ele recebe por uma partida, multiplicado pelo número potencial de todas as partidas que ele ainda realizaria em sua vida profissional. E como forma simbólica de restituir – como se isso fosse possível – a perda moral que a ele atingiria, o valor extraído como resultado da multiplicação seria duplicado. E talvez, quem sabe, valeria a pena dinheiro no bolso, reputação na lama, e, também, quem sabe, uma passagem de ida para o inferno. Será? Não sei!

Breve contabilidade

Um árbitro que trabalhe em apenas duas partidas por mês, ao fim de dez anos ganhando em média R$500 por partida, terá auferido R$120 mil. Árbitros de maior remuneração ultrapassam a soma mínima de R$360 mil.

Ficam as indagações: Quem estaria disposto a pagar o valor mínimo pela degradação de uma carreira? E quem estaria disposto a degradar sua carreira por um valor mínimo?

Sabemos, contudo, que a estupidez humana às vezes sucumbe ao poder de sedução do vil papel-moeda, em face da deformação do caráter individual. Mas, felizmente, isso não representa a regra.

A outra face da questão

Tenho acompanhado por amostragem, mas com maior proximidade, a conduta de nossa arbitragem, sobretudo nos jogos da 3ª Divisão Cearense de Profissionais. E o que me é dado observar, é suficiente para que eu possa elaborar alguns juízos acerca do nível dessas arbitragens, especialmente no que se refere à postura dos profissionais envolvidos (árbitros, assistentes, 4º árbitro e delegado ou representante).

Não pretendo neste espaço fazer uma retrospectiva sobre o que já falei em minhas colunas, tanto no Artilheiro como em meu blog, mas sim fazer acréscimos ao que já mencionei em oportunidades passadas.

Observando a mais uma partida, novamente me deparei com algumas atitudes que denotaram pusilanimidade por parte da arbitragem. Vale salientar neste ponto que essa característica (a da pusilanimidade) nem sempre toma conta de todo o grupo nela envolvida. E isto foi o que sentimos no sábado p.p., no estádio Juvenal Melo, em Crateús, quando do confronto pela Terceirona Cearense, entre as equipes do Crateús e do Caucaia.

De acordo com nossa observação, exceção feita ao árbitro Luzimar Siqueira, ficaram patentes alguns aspectos de uma arbitragem ‘caseira’. Senão vejamos.

a) Aceitação, por parte do 4º árbitro, da atitude imprópria dos atletas suplentes e principalmente do preparador físico da equipe local, que repetidamente adentravam à área técnica;

b) Atitude também imprópria foi vista com freqüência por parte do técnico da equipe local, conforme pode ser comprovado em foto publicada em nosso blog (www.blogdobenelima.blogspot.com);

c) Decisão acertada do 4º árbitro, em solicitar ao policiamento a retirada do auxiliar técnico e do roupeiro do Caucaia de um dos túneis de acesso ao gramado, todavia, a decisão mostrou-se tendenciosa por não ter sido estendida aos integrantes do Crateús, equipe local;

d) Registramos ainda o assistente número um dividindo uma garrafa que parecia conter água, ou algum outro líquido, com os atletas do time local, o que no mínimo configura despreparo do referido profissional;

Vale ressaltar que, alguns aspectos que envolveriam interpretação e a consideração de questões subjetivas de aplicação do árbitro Luzimar Siqueira, estão sendo deixados de lado, como por exemplo, os três minutos de acréscimos, seguidos de mais um, além de neste período a marcação de três faltas frontais a favor do time da casa.

Concluímos, pois, que pelo que vimos nas partidas dos mandantes América (17/10/09) e Crateús (17/10/09), que a arbitragem precisa ser reorientada e um pouco mais prestigiada, a fim de que um mais estável clima de neutralidade seja instaurado, o que certamente reprimiria o desejo sempre latente dos mandantes de obterem algum tipo de vantagem da arbitragem.

(...)