PARECER TÉCNICO FISIOLÓGICO SOBRE DESGASTES PSICOFÍSICOS EM ATLETAS PROFISSIONAIS DE FUTEBOL SUBMETIDOS A TREINOS E JOGOS FREQUÊNTES EM CAMPEONATOS OFICIAIS.

Prof. Ricardo Lima dos Santos, MS.

 
                O futebol profissional praticado no século XXI ainda continua sendo visto por algumas estruturas responsáveis por sua prática como sendo uma atividade esportiva popular e, portanto não científica, ou seja, o modo como é conduzido pode ser entendido como um modo empírico.

            Acontece que nas últimas décadas inúmeros estudiosos deram um caráter científico a este esporte, recorrendo a experimentos rigorosamente controlados, observações metódicas, controles rígidos de treinamentos entre outras variáveis referentes às ações táticas, técnicas e psicológicas do jogo, sem mencionar nas valiosas interações do campo da nutrição e da medicina desportiva. Isto proporcionou um avanço considerável neste campo, o que colocou o futebol em dos mais altos patamares da performance da competição. Milhões e milhões de cifras são movimentados diariamente em todo globo terrestre, afirmando a popularidade deste esporte.

            O futebol do ponto de vista fisiológico pode ser caracterizado por exercícios intermitentes de alta intensidade, uma atividade física do tipo explosivo com acelerações entre 5-10 metros, que se repetem com elevada freqüência (até 70 vezes por partida). Ainda constituem de mudanças de direção, altíssimas freqüências de desacelerações e frenagens bruscas.

            Este quadro de exigência fisiológica nos reporta a afirmar que isto tudo possui um alto custo energético, necessitando de medidas recuperativas e profiláticas para o completo restabelecimento de seus atletas. A verdade é que em nosso país, e em particular em nosso Estado (Ceará), nem todo clube de futebol possui a estrutura necessária para oferecer um trabalho específico para os seus jogadores, o que acarretaria um apoio humano e logístico muito grande para o clube, e dependendo de seu aporte econômico e aquisitivo, se tornaria quase impraticável este trabalho.

            Outro fator interveniente que contribui sobremaneira para esta situação ser implementada com eficiência é a falta de conhecimento ou atenção por parte de alguns dirigentes de entidades do futebol.

            A falta de uma visão mais crítica e de um conhecimento mais aprofundado, por exemplo, das principais capacidades motoras envolvidas e utilizadas no futebol como a resistência, força, velocidade, coordenação e mobilidade. Também o metabolismo energético envolvido pelos sistemas aeróbio, anaeróbio lático e alático, que partilham da execução do futebol, que dura em média 90 minutos, com intensidade moderada alta, onde o atleta percorre uma distância variável entre 8 a 12 quilômetros, causando um enorme desgaste psicofísico destes, deveria ser levado em consideração quando da elaboração de uma tabela de campeonato ou competição.

            Além destes desgastes citados, todos ocorridos durante a competição propriamente dita (jogo), têm ainda o que chamamos de estados pré-competitivo negativo, ligados as muitas freqüências de competições e a fatores climáticos.

            Como conseqüência imediata a estas atividades freqüentes, o aparecimento da fadiga, que pode ser de forma aguda periférica e ou central, esta primeira causada principalmente pelo distúrbio do equilíbrio físico-químico de repouso (distúrbio da homeostase) pelo trabalho de contração muscular. Uma série de eventos pode ser enumerada, como por exemplo, o acúmulo de produtos finais e intermediários do metabolismo; esgotamento dos processos de geração e fornecimento de energia; alteração do estado físico-químico e fadiga dos neurotransmissores.

            Enquanto a fadiga central aguda consiste, em primeiro lugar numa redução da capacidade de executar movimentos coordenados com a mesma precisão que no estado em que não se está fadigado. Isto para o atleta de futebol seria uma causa primeira para seu fraco desempenho em campo. Alguns sintomas seriam a diminuição da capacidade coordenativa; diminuição da capacidade sensorial; distúrbios da atenção, da concentração e do raciocínio; redução das funções de impulso e regulação e o aumento do tempo de reação.

            A depleção dos estoques energéticos e a não complementação destes antes de uma nova competição ou carga de treino, levará certamente a um esgotamento crônico deste indivíduo. Assim, temos que para que se alcance novamente o nível de glicogênio de antes do início do exercício, são necessárias cerca de no mínimo 46-48 horas de descanso ativo ou passivo. Outro fator primordial neste contexto e que ser levado a sério é a perda de peso corporal, que aqui está baseado na desidratação, e que em condições normais leva aproximadamente 48 a 72 horas para se normalizar.

            Desta forma temos que equipes profissionais de futebol que realizam jogos freqüentes, assim como intercalam treinos e recuperações ativas inadequadas, estão expondo a saúde de seus atletas a algum tipo de abuso fisiológico, o que poderá acarretar em problemas para a mesma e para o baixo desempenho de seus jogadores. Seria necessário um novo repensar para jogos que aconteçam com até 48 horas de espaço de tempo, o que caso contrário, exigiria uma estrutura de meios humanos e de equipamentos e suplementação nutricional científica balanceada muito grande, sob pena de colocar em risco, de forma mais extrema, até a segurança da vida destes atletas.
 
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 28/08/2011
Reeditado em 28/08/2011
Código do texto: T3187254
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