O Brasil está no caminho certo para ter um melhor desempenho na Olimpíada de 2016?
 
           
            Acredito que não estamos. “Ver as coisas por fora é fácil e vão. Por dentro das coisas é que as coisas são!” Esta frase do poeta português Carlos Queiroz é de uma sabedoria ímpar, diria até impactante a primeira vista. Mas o que ela diz a respeito desta pergunta que não quer calar? Que a resposta não é fácil, mas também não é difícil de encontrar uma. Ter cautela nesta hora seria o mais sensato, portanto, não quero fazer de minha fala um discurso de cunho negativista nem moralizante, porque isto não se faz necessário, a realidade de tudo isto todos estão cansados de ver e acompanhar diariamente nos noticiários. Poderia iniciar invocando o irreverente e saudoso Raul Seixas, quando afirma para seu amigo Pedro que “... há tantos caminhos tantas portas, mas somente um tem coração...”. Isto nos remete a uma porta que parece estar fechada faz tempo, aquela que nos leva pelo caminho do patriotismo, para um resgate por este sentimento há muito esquecido pelo descomprometimento das autoridades com o esporte amador, por exemplo, o maior celeiro natural de atletas. Atrelado diretamente a isto está à valorização do ensino básico, conferindo-lhe uma qualidade superior, que garanta escolas aparelhadas, professor bem remunerado e com formação continuada, assim como currículos que supram as necessidades de uma sociedade já penalizada e castigada pelo descaso e a corrupção de políticos e gestores. Pra começar pelo caminho certo, uma educação de excelência em todos os níveis com a devida valorização de seus profissionais.
 
            Não podemos nos furtar de percebermos que nossos potenciais atletas estão dentro de escolas sucateadas, nas mãos de políticas educacionais burocráticas e modelos educacionais ultrapassados, deixando transparecer todo o descaso de forma medíocre, uma situação caótica agravada pelas drogas entre os jovens e desesperadora para aqueles que não compartilham com esta visão de mundo. Apontem um só país que apresente resultados satisfatórios olímpicos que não tenha resolvido estas questões básicas internas? Nós ainda estamos longe, mas a esperança por dias melhores ainda é verde e amarela. Na verdade, quem não tem presente vive no futuro. E o futuro? É algo que ninguém garante que vá existir.

            Seguindo esta linha de pensamento e confrontando com a realidade que temos percebido, podemos afirmar que não existe em nosso país um “Plano de Expectativa Desportivo Nacional”, como existe em países que levam a sério a prática esportiva em suas nações, que tenha por objetivo contemplar nossas necessidades a médio e longo prazo. O que temos são projetos passageiros e de cunho eleitoreiro com interesses muitas vezes escusos. Nós não temos presente. Mas já estão falando em primeira mão e prometendo ações agudas para mudar este quadro vexatório em quatro anos milagrosos que antecedem 2016 em detrimento de todo o tempo perdido que ficou para trás. Agora temos um futuro neste novo “Ciclo Olímpico”.
 
            Segundo o Ministro dos Esportes, O Sr. Aldo Rebelo, o qual esperava ansioso que nossos atletas subissem pelo menos vinte vezes ao pódio para representarem as 200 milhões de almas brasileiras, e que conquistou apenas 17 pódios, dois á mais do que esperava o COB, será investido muito mais dinheiro do que foi empregado para Londres. Investimento atual na ordem de pouco mais de 1 bilhão de reais. O discurso está explícito, “nossa tarefa é olhar para o futuro”, conclui o Ministro. Mais uma vez nós não temos presente, e o futuro aqui é coisa para se contemplar. Se a meta do COB em Londres era de 15 medalhas, que corresponde ao mesmo número de Pequim-2008, agora ele faz a projeção para em 2016, o Brasil figurar entre os 10 primeiros colocados no quadro de medalhas. Marcamos passo num tempo que não é utilizado de forma correta, aliás, que nunca foi utilizado de forma efetiva e de repente temos que dar um salto gigantesco com nossas pernas de paus.
 
            Fico a imaginar os milhares, milhões de atletas anônimos que deixamos de revelar ao mundo por falta de uma política séria e estruturada no setor esportivo. Apesar de criarem-se Leis de incentivo ao esporte, não vemos ações nem resultados satisfatórios. Fico a imaginar e a sentir a fome de atletas que morreram e continuam na inanição da desorganização que ainda perdura no nosso meio esportivo, onde as oportunidades são raras e escassas. Crianças com talentos genéticos os mais diversos desperdiçados no país do futebol que a cada dia despenca no ranking da FIFA. Nossas medalhas surgem muito mais por méritos de pais e atletas abnegados, que acreditam no que fazem e em seus sonhos do que de políticas estéreis esportivas. Elas existem, mas são incipientes, não satisfazem nossas necessidades como nação emergente que somos.
 
            Talvez o único caminho certo que estaremos a trilhar rumo a 2016, seja a solução de problemas antigos de infraestrutura da cidade postal de nosso país, o maravilhoso Rio de Janeiro, em sua urbanização, saneamento de sua baía lindíssima, segurança pública (?), e novos equipamentos esportivos. Fico na torcida para que não haja, e isso é uma esperança minha, que as obras a serem construídas sejam executadas dentro de uma transparência, que não haja desvios de verbas, superfaturamentos, que os prazos sejam cumpridos, que as licitações sejam lícitas e as empresas brasileiras tenham uma cota de participação maior do que as estrangeiras que chegarão por aqui em nome do know-how adquirido em outras olimpíadas. O Brasil está no caminho certo para ter um desempenho na olimpíada de 2016? Não sou pessimista nem negativista, mas espero que o nosso país tenha desenvolvido uma nova mentalidade esportiva em 2017.
 
 
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 24/09/2012
Reeditado em 15/12/2013
Código do texto: T3899381
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