O caso do goleiro Aranha

O caso do goleiro Aranha, que foi xingado por torcedores do Grêmio, chama a atenção por vários fatores: o fato do brasileiro não gostar de admitir que é racista, a falta de educação dos torcedores que deveriam entender que o esporte exige que se respeite o adversário e que torcer não é xingar, a punição sofrida pelo clube, que muitos consideraram exagerada e a reação do goleiro, que muitos estão criticando. Pelé deu a entender que ele se mostrou extremamente ofendido.

Que podemos dizer do caso? Será que a punição sofrida pelo clube foi justa? Por que o Grêmio deveria pagar pelo racismo de alguns torcedores? É justo que todos paguem pelo erro de alguns? E o goleiro Aranha? Terá realmente se mostrado ofendido demais? Lembremos que ele não é o primeiro e, muito certamente, não será o último a sofrer ofensas racistas por parte de torcedores ignorantes e mal-educados mas, afinal, ele é um ser humano e tem sentimentos. Porém, ele deve lembrar que vivemos numa sociedade hipócrita e racista e que sofrerá injustiças por causa da cor de sua pele a vida inteira. Não cabe a nós criticar sua atitude, pois não estamos no lugar dele, entretanto, é bom que ele pense sobre a melhor forma de agir a partir de agora.

Reflitamos bem sobre o que fazer se nos xingam por causa da cor da nossa pele: mostrarmo-nos ofendidos não significaria concordarmos que ser negro ou mulato é uma coisa feia? Não é melhor mostrar superioridade, dizendo: "E daí? Sou negro, sim! Isso não é nenhuma vergonha!" E num pais como o Brasil, com um forte histórico de miscigenação, muita gente claríssima pode ter ancestralidade africana. Seria bom que qualquer um que fosse xingado de negro, ao ser comparado aos macacos, dissesse: "Quando Charles Darwin disse que o homem e o macaco tinham um antepassado em comum, ele não disse apenas o homem negro. Ele falou no ser humano como um todo. Então, tanto um homem branco quanto um negro têm parentesco com os macacos."

Assim, o goleiro Aranha deve passar a se mostrar superior e não mais se revelar ofendido. Às vezes, a melhor política é não mostrar o quanto estamos feridos em nossa sensibilidade, por mais difícil que isso seja.