O FUTEBOL

*Sineimar Reis

Resumo

Este artigo analisa como uma associação civil esportiva pode se tornar uma marca corporativa internacional, tendo como ponto de partida a mercantilização do esporte como resultado da política neoliberal, aqui vou concentrar e abordar como isso tem se relacionado aos vários clubes de futebol pelo mundo, as Instituições futebolísticas tem sido pioneira em relação as comunicações e gestão comercial dos clubes nos quais são percepções dos torcedores sobre as práticas econômicas. Durante os últimos anos, os clubes passaram por várias modificações em suas maneiras de organização para se adaptar à nova gestão no mundo dos negócios, inclinados para a ética e estratégias de lucro e marketing esportivo, priorizando um modelo de comunicação externa para agregar rentabilidade. Para isso, as líderes que comandam os clubes propuseram regras rigorosas e um modelo a seguir com uma missão, visão e valores que apoiem este modo de administração, incorporando gestão inovadora, departamentos e Secretarias necessárias para as novas diretrizes das partes interessadas. Isso constituirá a nova imagem das instituições, com a implementação destes planejamentos, as consequências serão imediatas para os dirigentes gerando mais lucros e menos papel social.

Palavras-chave: Associação esportiva, mercantilização, marca corporativa, comunicação, clubes de futebol.

Abstract

This article analyzes how a sports association can become an international corporate brand, starting with the commercialization of sport as a result of neoliberal politics, here I will focus and address how this has related to the various soccer clubs around the world, the Football institutions has been a pioneer in communications and business management of clubs in which fans are aware of economic practices. Over the past few years, clubs have undergone various modifications in their organizational ways to adapt to new management in the business world, inclined towards ethics and strategies of profit and sports marketing, prioritizing an external communication model to add profitability. To this end, leaders who run the clubs have proposed rigorous rules and a model to follow with a mission, vision and values that support this mode of administration, incorporating innovative management, departments and secretariats necessary for new stakeholder guidelines. This will be the new image of the institutions, with the implementation of these plans, the consequences will be immediate for the managers generating more profits and less social role.

Keywords: Sports association, merchandising, corporate brand, communication, football clubs.

O FUTEBOL

O futebol é um dos esportes mais populares do mundo. De acordo com pesquisas, até hoje não se tem um dado concreto de quando e onde surgiu o futebol, mas o que se sabe é que em muitas culturas os povos já faziam algo parecido com o futebol, ou seja, brincadeiras de chutar bolas, mas sem regras, e sem limites. Pode-se afirmar que o futebol chegou na América, e continente Europeu ou em várias regiões do mundo, por volta de século XIX através dos imigrantes ingleses que estavam a procura do novo mundo, e estendendo seus afazeres dentro da colônias formadas por seus habitantes, em escolas, empresas, alguns clubes e grupos da elite local. Foi no século XX, na Inglaterra, que o futebol passou a ser um jogo oficial, já com algumas regras, e o principal objetivo do jogo é chutar a bola e colocar ela dentro do gol. A prática deste esporte foi integrada em um conjunto de novas experiências de sociabilidade, onde o tempo livre recebeu uma determinada utilidade. Os executores deste movimento foram as crianças, jovens imigrantes e dos setores populares urbanos, ocupados a transferir a paixão pela identidade territorial e o esporte foi se tornando numa fundação de clubes-equipes etc. (Frydenberg 1996, 1997).

Em muitas regiões, o futebol foi conhecido como um cenário ideal para canalizar fervor e entusiasmo na juventude para consolidar um futebol divertido, para ganhar espaço na sociedade e admitir grupos de imigrantes em novos espaços de socialização. É assim que muitas associações esportivas das primeiras décadas do século XX se prevaleceram. As fontes indicam que grandes nomes do futebol tanto na América quanto na Europa se compartilharam a paixão pelo futebol e praticando-o nas ruas, margens de rios, e em outros locais como praças, praias etc. os jovens, seguiram a moda juvenil da época, levando a encontrar uma equipe de futebol para possuir a possibilidade de participar de torneios e ligas independentes. Já alterando o assunto, o objetivo perseguido pelas associações esportivas que não era lucrativa, mas estritamente social e recreativa, e sua intenção foi identificar-se em torno de um território local, de vizinhança, de bloco ou de canto, marcando também um sentimento de presença aos locais de eventos futebolísticos nos países, onde o sentimento e a razão de defesa dos próprios espaços, por esta razão que alguns clubes que foram fundados no início do século XX, aparecem ligados ao nome de bairros, ou uma cidade suburbana. Na Argentina por exemplo é onde tem a maior concentração de times de futebol das Américas e em Buenos Aires, cada esquina tem um time, cidade com quase 3 milhões de habitantes, ao todo são 29 clubes profissionais, alguns deles quase que amadores, mas participantes de uma das divisões do Campeonato Argentino. O que muita gente confunde, inclusive até alguns meios de comunicação, é mencionar clubes da Região Metropolitana de Buenos Aires como sendo da capital. Não é raro escutar ou ler que “tal time irá a Buenos Aires para enfrentar o Banfield, Independiente ou Lanús”, por exemplo, sendo que esses são times de fora da Capital Federal. Em Buenos Aires, diferente de vários lugares, cada clube representa seu bairro de origem. Torcer por determinado time significa defender sua gente, sua região, suas raízes. E daí é que temos vários clássicos dentro de uma mesma cidade, pois enfrentar um time de um bairro vizinho não envolve só futebol. Um exemplo é o clássico entre San Lorenzo e Huracán. Embora o campeão da Libertadores seja um dos grandes do futebol argentino, vencer seu vizinho regional às vezes vale mais do que bater Boca ou River.

De acordo com Frydenberg 2001, os clubes de vizinhança surgiram para cobrir as insuficiências do estado e gerar espaços de sociabilidade, cultura e esportes, tentando defender os direitos e garantir o bem-estar do indivíduo, ajudando seu desenvolvimento pessoal e fornecendo serviços que acompanharão sua identidade. Esta tradição de práticas e mentalidades associativas já foi promovida a partir da sociedade civil e começou a cristalizar na década de 1930, seguindo o modelo de funcionamento das sociedades de desenvolvimento dos bairros e locais principais dos times, bibliotecas populares, sindicatos e corporações empresariais, de onde exerciam virtudes cívicas, treinando na vida social e democrática. No início do século XX, quando a prática do futebol começou a se espalhar entre os jovens dos setores populares, o movimento fundacional dos times que estavam no mesmo clubes esportivos do tempo começam a abrir mais e mais à comunidade, dependendo do número de membros registrados para o seu crescimento.

Sampa afirma que o futebol não tenha se concentrado no pensamento e na organização econômica por um longo tempo, com o advento da globalização e a aplicação das políticas neoliberais durante a décadas, essa realidade foi modificada, consolidando um novo paradigma. Esta etapa do futebol resultou na execução de um drástico programa de reformas estruturais no funcionamento das instituições públicas, justificando sua privatização total ou parcial de desmantelamento e marcação como boa. Isso, tem acompanhado e facilitado pela instalação de um novo modelo de dominação política, produzindo uma forte reconfiguração de toda a sociedade. Com o passar dos anos, o avanço destas novas políticas modernas de gestão no futebol, os modos de organização das instituições de esportes administradas desde suas origens por seus dirigentes, foram modificados de acordo com a implementação de uma lógica de negócios. Além do mercado sempre existiu no futebol, desde o início de sua era profissional, o novo quadro político-econômico dos anos noventa, assim lançaram as bases que permitiram um processo acelerado de modernização no esporte. Assim ocorreu uma dinâmica que legitima a aplicação dos recursos atuais, atual e inovador, em algumas áreas na comercialização do futebol. Este uso de Técnicas e estratégias no campo do futebol podem ser chamadas de "mercantilização", ou “mercado da bola” no sentido da implementação ordenada, acelerada e sistemática de medidas de mercado contemporâneo, o processo de mercantilização marca um antes e depois, determinado por um desejo crescente de ganhar dinheiro, sob novas regras no esporte.

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1 Seguindo a teoria social de autores como Manuel Castells (1999), Maristella Sampa (2005), Emir Sader (2008) e Boaventura de Sousa Santos (2007), existem várias categorias para conceber uma sociedade em tempos de globalização: "sociedade de rede", "sistema mundial", "modernidade avançada" entre outras. Além das diferenças teóricas dessas denominações, a maioria dos autores coincidem em apontar que, nesse período, as transformações foram aprofundadas e as diferenças entre o precedente e a época atual. Por "globalização" entende-se a entrada para um novo tipo social, separando-se dos quadros regulatórios coletivos desenvolvidos na era “fordista”, nesse sentido, os padrões de inclusão e exclusão social foram modificados, refletidos no aumento das desigualdades e nos processos de fragmentação.

No entanto, apesar das intenções privatizantes deste novo modo de organização e renovação, as organizações desportivas dificilmente permanecem alienadas ou rejeitadas. O problema dos clubes de futebol, se agrava durante a crise econômica e financeira do passado (para manter o modelo neoliberal), assim promoveu a implementação de ideias e estratégias para tornar sua administração mais "efetiva e eficiente", afastando-se do modelo "tradicional", vinculado ao discurso de atraso econômico. Além disso, com a implementação dessas políticas, uma reconfiguração em relação ao indivíduo e sociedade, propondo novos modelos como cidadão-consumidor. Outro aspecto relacionado a esta ideologia foi a chegada e a incorporação de líderes do mundo empresarial, que se apresentou a clubes esportivos políticas diversas ligadas ao marketing e ao mundo dos negócios. No âmbito deste processo, a medida que for aprofundar, a ideia de privatização de clubes esportivos surge, com tentativas para convertê-los em sociedades anônimas.

De acordo com Cruz, através do

desempenho desses diretores, as

sociedades esportivas foram

estabelecidas como empresas prescritas

por lógica e eficiência da concorrência.

O modelo que pretendia seguir estava ancorado na Europa. Desde o século XIX, os clubes esportivos da Inglaterra já eram taxados como uma empresa e cada instituição era administrada por membros da mesma família, mas esta operação começou a mudar quando gradualmente, nos idos dos anos sessenta, diretores e dirigentes assalariados apareceram no auge do negócio, priorizando o mercado competitivo. CRUZ, 2005. P, 79 e 80.

Proni (2000) afirma que a experiência da Itália na organização de empresas de futebol, tem trabalhado como modelo para outros países da Europa. Em março de 1981, a legislação italiana de esportes profissionais deu liberdade aos clubes de futebol para se tornarem empresas comerciais, pertencente a grupos econômicos privados. Em troca disso, uma comissão de supervisão de estado exercerá forte controle sobre a administração e auditoria dos balanços das instituições. Debatendo à ideia de que a transferência do patrimônio dos clubes para empresas privadas reorganizaria as finanças e moralizaria a gestão nas entidades de esportes que eram e são suspeitas de corrupção e tem laços com mafiosos. O processo de intervenção governamental e controle público do futebol, o profissional tem peculiaridades e cronologias de acordo com cada país na Europa, assim o autor afirma que foi na década de noventa que a iniciativas de legislação específica para o futebol obrigaram os clubes a se transformarem em sociedades de esporte comercial ou para apresentar periodicamente suas contas aos órgãos de controle, embora enquanto na Espanha foi imposto um sistema opcional que contempla a continuidade do associações desportivas sem fins lucrativos fortemente controladas pelo Estado como Real Madrid, FC Barcelona e Atlético de Bilbao e a formação de sociedades anônimas de esportes (SAD). Na Itália, os clubes escolheram o modelo Football S.A.

Os motivos que levaram os países da Europa a adotar o modelo da sociedade de esportes anônimos não diferem muito do que acontece hoje na América Latina. Clubes que passaram por fortes crises financeiras foram a cargo de necessidade para financiamento, levando a vontade de criar empresas viáveis ao mercado global do futebol, isso foi o que provocou a mudança no modelo de mercado.

Desta forma, o processo de modernização nascido na Europa configurou um largo espaço regimental: renda em marketing esportivo, teorias empresariais, instalação de clube como marca, crescimento de empresas patrocinadoras, venda de produtos e a remodelação dos estádios para transformá-los em centros de conferências e passeios turísticos. Enquanto o clube (ou a empresa) realizasse negócios frutíferos e bem-sucedidos, seria grande a credibilidade, assim aumentaria o número de seguidores, consumidores e/ou parceiros (as) e usaria uma marca (planejado por especialistas em marketing) para apoiar a linha de produtos, aumentar o consumo e gerar novos lucros. Apoiar este discurso de modernização da gestão e comercialização das entidades futebolísticas, estima-se que os clubes esportivos seguem esses padrões de gestão empresarial, liderada pelo departamento profissional, alcançando resultados econômicos que implica com situações de crescimento em todas as áreas das instituições, aumentando-se como marcas dentro do mercado. Vale ressaltar que o futebol mundial é hoje um grande negócio. De acordo com o relatório final do Plano de Modernização do Futebol Brasileiro (2000) da Fundação Getúlio Vargas2 (FGV), que inclui os agentes diretos, como clubes e federações, e indiretos, como indústrias de equipamentos esportivos e a mídia, o futebol mundial movimenta, em média, cerca de 250 bilhões de dólares anuais.

Neste enfoque, as variáveis políticas tanto internas à indústria de futebol, como à estrutura do poder nas organizações esportivas, quanto externas, como as relações destas com o ambiente social e institucional, não são analisadas. Contudo, são variáveis importantes para explicar como surge a necessidade de mudança e de profissionalização dos dirigentes de clubes e federações de futebol. Por exemplo, com recorrência, várias questões relacionadas com tais variáveis são elevadas à condição de destaque como tema de interesse público estampado na imprensa escrita e falada. Dentre elas, o descaso com o cliente-torcedor caracterizado pela violência nos estádios, o excesso de negociações dos melhores jogadores para a Europa, em que o interesse de alguns prevalece sobre o interesse de muitos, às vezes por vias ilegais, as manobras políticas de dirigentes de federações mudando regras de acesso e descenso entre divisões dos campeonatos nacionais de futebol, etc. Todas essas ações representam políticas administrativas ou posicionamentos estratégicos tidos como equivocados e que, ao mesmo tempo, dificultam a mudança de comando no poder de clubes e federações e desvalorizam o potencial de geração de renda dessa indústria. LEOCINI, 2005. p,13.

A estrutura e a lógica do negócio futebol representam o pano de fundo micro-econômico para a atuação dos clubes de futebol e são condicionantes estruturais diferenciadas e mais complexas do que a de outros setores econômicos mais tradicionais. Por exemplo, a caracterização da cadeia de produção da indústria de futebol, com seus vários agentes interdependentes e com interesses muitas vezes conflitantes, representa uma das principais condicionantes dessa indústria. Se, por um lado, os torcedores ou o mercado de torcedores gostariam que alguns jogadores permanecessem no “seu” clube por bastante tempo, por outro, empresários de jogadores lucrariam mais a curto prazo com a transferência deste mesmo jogador para outro clube. Assim, o estabelecimento de políticas e diretrizes a longo prazo dentro da indústria estará sempre condicionado por tais características. Outro aspecto importante deste cenário é a importância do âmbito cooperativo dos clubes de futebol.

CONCLUSÃO

O resultado deste trabalho nos permite uma visão mais clara do negócio futebol como um sistema de produção de renda para os clubes, apesar das poucas informações esclarecedoras sobre o funcionamento das operações de negócio, além disso, permite que se perceba as principais condicionantes estratégicas da indústria de futebol que influenciam a concepção do modelo de gestão de um clube de futebol atualmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRUZ, A. (2005) A nova economia do futebol. Uma análise do processo de modernização de alguns estádios brasileiros. UFRJ/PPGAS. Museu Nacional. Rio de Janeiro.

LEOCINI, Márvio Pereira. Entendendo o futebol. 2004. São Paulo.

FRYDENBERG, J. D. 1996 “Novos estudos em torno da história do futebol”, publicado originariamente na Revista Digital de Educação Física e Esportes, Vol. nº 1, Buenos Aires.

PRIMEIRO CONGRESSO INTERNACIONAL EAESP DE GESTÃO DE ESPORTES. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 1998.

PRONI, M. W. & Zaia, F. H. (2007) “Gestão empresarial do futebol no mundo globalizado” em Ribeiro, L. (Ed.) Futebol e globalização, Jundiaí, SP: Fontoura.

PRONI, M. W. 2000 A metamorfose do futebol, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, San Pablo, Buenos Aires.

SAMPA, M. 2005 a sociedade excluída: A Argentina e o neoliberalismo, Buenos Aires: Taurus.

Sineimar Reis
Enviado por Sineimar Reis em 13/06/2018
Reeditado em 13/06/2018
Código do texto: T6363605
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