Conceito e Trajetória na Capoeira!

Conceito e Trajetória na Capoeira!

TRAJETÓRIA NA CAPOEIRA ?

Um leitor me propõe um desafio: falar de minha trajetória na Capoeira!

Tenho certeza que mais de 90% dos praticantes das décadas de 70 e 80 não estavam nem aí para sua trajetória na Capoeira! Estavam numa época de desprezo da Sociedade e perseguição implacável dos evangélicos!

O Lua conseguiu incutir em mim mais o amor à musicalidade do que à técnica. Assim "mandei ver" e passei a tocar e cantar em Rodas, por mais de 2 horas, me tornando o iniciador de Rodas em São Cristóvão, no Posto 9 em Ipanema, e na Cinelândia!

Das academias que visitei (entre 1978/82) todas com menos de 10-20 alunos, com exceção de Camisa e Pantera! Na Senzala era por causa do espaço: Classe A e um pouco pequeno! Trajetória com o Lua era impossível pois seu objetivo era ensinar para formar um Grupo folclórico.

Falei... Folclórico?

Houve um Batizado no mestre Pantera (1978?), presença ilustre de mestre Lilin, de Linhares (ES). Mestre Lilin fazia parte de um Grupo folclórico e seus alunos vinham uniformizados com a roupa do Grupo, que coincidia com a da Capoeira, calça e camisa brancas com uma faixa de pano vermelho do tamanho de uma corda de Capoeira, à guisa de cinto.

No meio da festa aparecem 2 gladiadores e a "peste" do momento: Amarelinho ! Findo o belo Batizado vem a espera da Roda livre, a hora do "Ponha lá, vaqueiro, o seu jaleco de couro"! Entra o primeiro corda-vermelha, digo, faixa vermelha e pula um Golias na sua frente. O "Golias" desce o cacete e quase transforma o "Davizinho" em 2! A turma do "deixa disso" entra em ação e êles vão embora. Só o Amarelinho fica até o fim da festa e provoca um qualquer, dá um tapa no rosto do mesmo e o chama pra fora. Não demorou para se ouvir a gritaria e o "corre-corre", pois Amarelinho -- que era PM na época -- puxou de um "tresoitão" carga dupla, "adubado" de pombos sem asas!

Trajetória na Capoeira não tem êrro:

Batizado e graduações até se chegar a mestre!

Portanto, eu não tenho trajetória na Capoeira porque só fui batizado... e mal! Além disso, conheço pessoas que não foram batizadas e sim, graduadas!

Palestras e Oficinas são partes da trajetória?

Acredito que não porque vários Mestres não fazem! E os que mudaram de Grupo e foram rebaixados de mestre para aluno? Então, se deduz que trajetória na Capoeira é (algo) raro!

Meu irmão treinou com mestre Camisa no Clube Guanabara 1 mês e meio somente e uns 6 meses com o contramestre do Índio (da Senzala) no Clube do Flamengo, aonde foi graduado. Qual foi/é a trajetória dele na Capoeira, já que depois nunca mais treinou?

Eu posso até imaginar que tenho conceito com mestres de renome como Lua Rasta, Guará, Toni, Poeira, Nestor Capoeira, Pantera, etc, mas meu irmão Cincinato se correspondeu com Mestre Canjiquinha, Limãozinho, Waldenor, Cigana, Itapuã (BA), Burguês, Nestor Capoeira, André Lacê, Alvinho Sucuri e Macaô, Gavião e teve a honra de escrever um texto de Abertura de um Batizado de mestre Suassuna em 1988, a pedido dele. Se não fosse os CORREIOS teria se correspondido com meio Mundo.

Resumo: para se ter conceito na Capoeira não é preciso ter trajetória, é preciso ter atuação ou trabalho relevante, ou prática admirável, ou Tudo isso junto!

Como disse desde o início, os antigos não estavam "nem aí" para a trajetória...

E o Conceito?

Era a "Era do Espartaco" rebimbando e abrir Rodas carecia de uma boa dose de coragem e muito de insanidade. As histórias corriam... pancadaria e tiros no beco da Lobrás, fulano acabou sozinho com Roda na Zona Norte!

Domingo de sol, Feira de São Cri-Cri "bombando" e eu já esperando... lá pelas tantas chegaram 3 gladiadores. O maior e mais famoso se abaixa ao pé do beriba e nenhum herói comparece! Se o Chaves estivesse presente diria: -- "E agora, quem poderá nos defender"!

Assim o Chapollin Colorado, no caso eu, largo o biriba e vou para o sacrifício. A cópia fajuta do Golias mostra as armas, fazendo a pose do Pensador de RODIN, só para me mostrar seus bíceps.

Eu sou doido mas não sou burro, ao ver que seu bíceps era da mesma largura de minha coxa de "frango" dei uma ré estratégica e me escondi na platéia congelada. Apareceu um mais doido do que eu, um Davizinho (que tinha vindo com êles) doido para fazer sucesso! Em menos de 20 segundos foi estatelado de costas no chão e o ensandecido Golias deita peito com peito, imobilizando-o com seu peso animal num autêntico IPON de Judô!

Finda a pantomina e vendo que daquele mato só sairia ovelha, se retiraram. E lá se vai mais uma semana, com o peso da minha covardia me martirizando. E chega outro domingo e lá vou eu desalentado para o meu Calvário. Como era de se esperar, quem estava no domingo anterior foi procurar lazer menos perigoso.

Quase 11 horas, hora em que a Roda estaria "bombando" e apenas 2 desconhecidos ao meu lado. Um era negro, 22 / 25 anos, razoavelmente forte. Eis que chega êle, o Espártaco em pessoa! Chama o negro, que nem pestanejou, dando a entender que era de outro Estado... ou estava em estado de graça!

Espártaco fingiu sair e agarrou-o pelos "tomates" e pelo cangote, levando-o uns 3 passos adiante. O negro não mudou de cor e postou-se sereno novamente no pé do biriba. Espártaco repetiu a patifaria e o negro seguiu à risca o que disse mestre Pastinha:

-- "O capoeira quanto mais calmo, melhor"!

Enfim, jogaram e o negro não deixou a desejar...

Espártaco conseguiu a má fama que tanto perseguiu e para seus detratores disse:

-- "Com as pedras que me atiram construirei meu castelo"!

O ponto alto dessa era nefasta para a Capoeira foi a morte do menino, cantada em prosa & verso pelo Jornal Nacional.

Tenho dito!

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