O VAR E O FUTEBOL

Nascido no Rio de Janeiro, na década de 40, sou do tempo áureo do futebol brasileiro. Morando nas proximidades do Maracanã, tive a oportunidade de ver desfilar no seu gramado os grandes craques do Brasil e também as grandes estrelas do futebol mundial. Claro que falamos da época romântica do futebol, em que se privilegiava a técnica ao físico dos jogadores. Hoje, o físico é muito mais importante e com isso o futebol empobreceu tecnicamente.

Quem viu as grandes jogadas de Didi, Danilo Alvim, Ademir da Guia, Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Tostão, Rivelino, Zico, Maradona, Figueiroa, Ronaldo, Ronaldinho, Puskas, entre outros, não pode se conformar com o futebol atual, baseado em força física e pouca técnica.

O futebol virou um grande negócio e se dispõe a mostrar um verdadeiro show para o público nos estádios ou em casa para quem assiste pela TV. No entanto, ainda engatinha em termos de espetáculo e vários fatores concorrem para que isto aconteça. O acúmulo de jogos e de competições, para fazer face aos altos salários pagos aos jogadores, contribui para tornar o espetáculo de baixo nível inúmeras vezes.

O futebol em si é um esporte muitas vezes entediante para quem assiste. É longo, 90 minutos, fora os acréscimos, com a inexplicável possibilidade de empate, torna uma partida do nosso soccer sem grandes atrativos.

Não fossem as regras obsoletas do futebol, como a regra do impedimento, da paralisação da partida para substituições, a de um só juiz para um terreno tão grande, da obrigação de um jogador mesmo lesionado seriamente por um adversário ter que ser retirado gramado no reinicio do jogo, regras que tornam o espetáculo ainda mais moroso. Resta, é claro, a paixão que ele envolve e o torna ainda atrativo.

Não bastassem tantas regras inibidoras do bom futebol, agora criaram o VAR, o chamado árbitro de vídeo. Sua criação foi influenciada em grande parte pela validação de um gol de Maradona, feito com a mão, (la mano de Dios), na copa de 1986, contra a Inglaterra. Veja que o VAR foi instituído para evitar que lances claros fossem validados pela arbitragem. Veja que esse lance ocorreu em 1986 e tantos anos se passaram até que a FIFA pudesse contornar a situação. Portanto, o mecanismo do VAR tem como objetivo evitar que infrações claras, mas que fogem à percepção do árbitro, possam trazer prejuízos para o adversário. Não foi feito para substituir o “juiz” em lances polêmicos ou de interpretação. Impedimentos absolutamente imperceptíveis e de difícil conclusão mesmo no vídeo, em que o jogo fica parado por muitos minutos, tiram a dinâmica do esporte e a emoção da plateia, que fica aguardando a decisão do VAR para soltar o grito de gol.

Já que o futebol tornou-se um espetáculo, seus mandatários devem cuidar para que ele seja agradável para o público, com um esporte mais dinâmico e que apresente um vencedor, sem empate, e que o seu espectador seja respeitado com estádios confortáveis e com absoluta segurança. A paixão do futebol das antigas gerações pode migrar para outros esportes, bem mais empolgantes e disputados, como o vólei, o basquete etc., como está acontecendo com as novas gerações, se providências urgentes de modernização não forem adotadas.