"CAMINHADA" SURREAL

"CAMINHADA" SURREAL

"O Centro Cultural foi só

bandalheira, safadeza e

picaretagem". - depoimento

de ex-vice-presidente, 1991

"Faça a sua caminhada... (...) já fiz a minha"!. me declara recente professor de Capoeira, talvez mestre de um "estilo" dela. Tendo me interessado pela Arte-Luta por volta de 1972, estive nela mais como espectador do que como praticante. Como sempre detestei ginástica -- e isso não faltava nas aulas -- pagava o Ensino somente para TOCAR e cantar nas Rodas, cumprindo apenas o "aquecimento" geral e o treino de sequências e golpes. Se fiz alguma "trajetória" na Capoeira foi aqui em Belém, a partir da criação do citado Centro-CCCP em maio de 1988 (*1), que só nos trouxe inimigos e problemas.

Nossa "caminhada" -- com meu irmão ao lado, quase sempre -- entra para o rol das "ficções", estória de pescador, de tão inacreditáveis que foram determinadas situações. Certamente a mais impressionante foi a da FOTO da modesta casa de um super-mestre, de muita fama e pouca na Capoeira da capital, nem ouso falar em TRABALHO. Já o "conhecíamos" desde 1987...

Pois bem, alguém no/do Rio de Janeiro me pediu foto da magnífica Entidade criada por êle aqui, me cedendo o respectivo endereço. Emprestamos de um amigo sua máquina fotográfica, ainda com filme dele dentro e lá fomos nós numa bicicleta... como o sujeito era conhecido por sua "extrema delicadeza", deixei meu irmão na esquina da avenida e fui conferir o tal "prédio". Merda, era a acanhada residència da "maravilha", que eu também já conhecia pois estivera nela algumas vezes.

Dei azar... uma vizinha me viu fotografando e comunicou ao "mestrão" a "novidade"! Voltávamos tranquilos na bicicleta quando "voa" sobre nós um carro velho, êle na janela feito um "cowboy", revólver na mão. Nos deu uma "fechada"... saiu com o carro ainda em movimento e quase levou um tombo ! Perdeu as sandálias de couro, que ficaram conosco !

Nos apontando o revólver, exigiu a câmera, em pleno sábado, 10 horas da manhã de meados de 1991 ou 92, muita gente na rua. Como não era nossa, nos recusamos a entregar-lhe... mirou a perna de meu mano e atirou ! No último instante, meu irmão afastou com a mão o revólver. A coisa era séria mesmo... entregamos só o filme, para azar de nosso amigo. (Tentou conseguir de volta, inutilmente !)

De volta oa carro, descalço, o "mestrão" e seu comparsa foram para o lado contrário ao da casa dele... voltamos arrasados e assustados ! Daqui a pouco surge o carro em nossa casa, o tal mestre com uma Intimação na mão. Como eu o conhecia como um belo "picareta" -- e a Capoeira os tinha, aos montes -- desconfiei e devolvi-lhe o papelucho, argumentando "puto da Vida":

-- "Não valia NADA sem o carimbo da Delegacia"!

Não se deu por vencido... deixou na nossa porta um "galalau", para nos impedir "de fugir" (?!) -- "cárcere provado", aleguei em queixa-crime contra êle -- e voltou milagrosamente com o tal carimbo, de uma delegada de sobrenome igual ao dele. Lá fomos nós, preocupados... êle já se encontrava lá "fazendo a nossa caveira" com o Delegado, um certo Cavaleiro de Macedo. O tranquilo Delegado nem quiz conversar conosco... dispensou a "figura" e, mal êle virou as costas, nos dispensou também. O grande mestre, pelo visto, fizera um bocado de desafetos por lá.

NÃO DESISTIMOS... fomos para a "Instância Superior" (?!) com acusações pesadas contra o sujeito. "Voltem em dez dias", nos responderam. Foi o tempo necessário para avisá-lo sobre o "processo" e êle preparar sua "defesa", providenciando um bilhete mal escrito em papel de pão onde eu jurava "lhe matar e quebrar suas pernas", nessa ordem. Reconheci a letra do "energúmeno", datilografara eu rascunhos dele em 1988 e 89. Não pudemos contestar a grafia, meu irmão tinha caligrafia parecida. "Arquivaram" a queixa !

Recorremos à nova Instância, ainda maior, a Corregedoria das 2 Polícias... final da história: se eu continuasse insistindo com o processo, poderia ser acusado de... RACISMO ! (Ponto final !)

Uma pesquisadora aqui do bairro diz ter me entrevistado (?!) sobre o Centro Cultural, para tese ou ensaio de autoria dela. Seria IMPOSSÍVEL eu esquecer (?!) TODAS as perguntas que me fez, além de como era e onde ficava sua casa e, pior, numa época (1989? 90?) em que o CCCP nada tinha feito de concreto, não havia do que falar.

Sim, existiam "PICARETAS" no Centro Cultural e fora dele também... foi um espertalhão quem conseguiu fechar um contrato de apoio junto à LBA - Legião Bras. de Assistência, que tentei inutilmente por vários meses através do funcionário dela Renato Lu, cantor ou músico de Belém.

Falando em "picaretas", um instrutor de Capoeira tinha amigo policial em Delegacia no Centro, bem atrás da ENASA. Este me fez ir 4 ou 5 vezes lá, umas 3 horas de viagens (ida e volta) mais 2 hs de espera, sem decidir coisa alguma. Me queixei ao delegado, que "explodiu":

-- "Que merda, CHAVES, já disse 1000 vezes que briga de vizinhas, casos de dívida e bate-boca entre amigos é no "Pequenas Causas"... delegacia é pra coisa séria" !

Ano e meio depois o "picareta" (mero escrivão) perdia o emprego por ter "achacado" ali um comerciante. Estórias assim temos umas 10 !!! Pois é, "doutor UFPeano", há CAMINHOS e... "passeios" !

"NATO" AZEVEDO (em 5/fev. 2023, 21hs)

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OBS: (*1) - nosso Centro foi quase só FRACASSOS... exceto as Exposições ! Já no primeiro mês, junho/1988, contávamos com os instrumentos musicais (o atabaque, principalmente) de um Grupo de Capoeira, dos 6 ou 8 que fundaram o CCCP. O mestre passou a responsabilidade para seu contramestre, esse mesmo que "depoz" contra o Centro 3 anos depois. Deixei grana para que pegassem um táxi, menos de 1 km entre os dois locais... não levou coisa alguma (exceto um pandeiro, se bem me lembro) além de 2 meninos de uns 8 anos, que pouco atuaram na Roda, um "desastre", perto de 300 pessoas assistindo. Tivemos que pedir emprestado uma tumbadora de Banda de rock que se apresentaria em seguida. Por ironia do Destino, o tal "show" foi muito bem pago pelo CENTUR e o dito-cujo recebeu as cotas dele e dos garotos. Quanto ao dinheiro do táxi, nunca me devolveram... coisas da Vida !