UÍSQUE - PURO MALTE

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Pausa para saborear uma dose de uísque.
Primeira coisa: dispense o gelo.
Segunda: um pouquinho de água no copo.

E vamos a um drinque muito, muito especial.
 

Com toda a reverência e mesura que os blended uísques merecem – Chivas, Johnnie Walker Black Label, Ballantine’s, Dimple, Logan e tantos outros – peço licença para falar de algo não menos divino: os malt uísques – ou puro malte.
 
É uma bebida que está sempre na moda. Ao invés das sonoras pedrinhas de gelo nos copos, antes do deslizar macio e dourado dos blended, é despejado apenas um pouquinho de água mineral à temperatura ambiente, apenas o suficiente para suavizar o gosto forte e personalíssimo do malt. Os puristas dispensam esse tantinho de água.
 
A mudança das pedras de gelo para a suavidade da água à temperatura ambiente (ou sem ela) não é um simples modismo como muitos podem pensar. É preciso analisar as virtudes dessa bebida realmente pura, realmente única, verdadeira glória artesanal de algumas regiões da Escócia. E vamos fazer essa análise, tendo à frente um bom copo de malt.
 
Só para recordar, os blended são o resultado da mistura do malt whisky com outros uísques de cereais – de 15 até 50 ou mais – o que o faz atingir aquela característica final de paladar que nos leva a preferir esta ou aquela marca. 
 
Agora, olhe com atenção o copo à sua frente. O malt que está lá é puro, é filho único da cevada germinada artificialmente (que após esse processo se transforma no malt). Nasce – entre outros locais da Escócia – nas ilhas de Islay e de Jura, também escocesas. Chega-se, portanto à seguinte conclusão: para o gosto inigualável de cada puro malt, três elementos são inevitáveis: a cevada da Escócia, a água da Escócia e a turfa da Escócia.
 
Bem, talvez você esteja se perguntando após o primeiro gole: cevada e água, vá lá, é do país e pronto. Mas que negócio é esse de turfa? Seguindo com calma e com o segundo gole revelando um álcool de corpo inteiro, de gosto suavemente defumado, a dúvida poderá ser dirimida. A turfa é aquela espécie de carvão, formado pela decomposição de substâncias vegetais, que é empregada para defumar o green malt – que acabou de germinar – numa espécie de grelha de cobre. Acesa debaixo da chapa com pequenos furinhos, o odor característico da turfa irá conferir àqueles grãos uma personalidade que se revelará inteira quando forem esmagados e transformados numa espécie de “sopa” com água quente, fermentados e levados ao alambique. Na extremidade do alambique estarão caindo as gotinhas límpidas do álcool, esse puro álcool que dormitou longos anos em tonéis especiais até chegar a este copo à sua frente.
 
Vamos ao terceiro gole, pois já é o momento de começar a escolher os malt que nos acompanharão depois da descoberta. De início, vamos decorar alguns nomes: Glenleven, Glengrant, Milton Duff, Cardhu, Strathisla, Isle of Jura, The Blair Athol, Glenfiddich (um dos mais conhecidos no Brasil), Tomatih e Glenfarclas. Sem exagero, todos espetaculares.
 
Mas tenha em mente que o Royal Malt, o número um, aquele que provocava os elogios mais fervorosos de Rudyard Kipling, chama-se Glenlivet. É simplesmente o rei. E o vilão? Bem, se assim podemos dizer, tem esse nome: Laphroaig. Tem um forte gosto de turfa defumada, um sabor acre, que costuma levar seus degustadores a liberar as mais fortes imprecações ou... o mais profundo deleite. Não tem meios termos em relação a esse paradoxo. E para aqueles que preferem seguir por caminhos mais suaves, uma indicação: o Glenmorangie, com leve gosto de mel, suavemente perfumado, quase feminino.
 
Mais uma dose? A tentação é grande, mas deixemos que a lenta e suave companhia de muitas noites nos leve ao pleno conhecimento desse representante ilustre da Escócia, velho de séculos e relativamente novo neste copo brasileiro à sua frente. Saúde!
 
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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 09/05/2011
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