Apresentação do livro "Libertas quae sera tamen ou Escravo, Portanto Escrevo"

     Sou forçado a tecer alguns comentários sobre este livro, já que utilizo alguns elementos pouco usuais nos livros de poesia brasileiros, tais como, a temática social e política e a estruturação em forma de quadros, semelhante a uma peça de teatro, ou uma programação de televisão.
     Quando elaboramos o livro, não pretendíamos construí-lo com poemas dispostos de maneira desordenada, no qual cada poema refletisse uma impressão ou sentimento isolado do autor, sem conexão com os demais. Para evitar esta tendência, na qual nossa literatura poética vem investindo com relativa redundância, buscamos, de certa forma, o enredo, a trama a ser desvendada, ainda que entrecortada por intervalos para os comerciais ...
     Evidentemente os poemas se bastam a si mesmos, mas ultrapassando-os existe uma linha de pensamento, que pretende contar uma história, que, na verdade, é a reflexão do poeta sobre a condição escrava, modernamente disfarçada, sob a ficção de liberdade que a eterna busca de um patrão melhor produz, culminando a farsa, na perda da identidade, na humildade subserviente. No passado, os grilhões nos pés; hoje, o relógio na cabeça. Mas tudo isto, de um ponto de vista urbano, isto é, do poeta que vive e sente na carne a realidade urbana, mas à maneira nativa, e numa atitude de resistência ante à dominação cultural.
     E nada melhor para refrescar a memória, quase sempre tão curta, de quem já se submeteu à dominação, do que colocar como epígrafe, a carta-poema do cacique dos índios Duwamish, Noah Sealth, de alguma forma eventualmente referenciado, mas do qual muito pouco se conhece, já que não é divulgado como mereceria, tal a sua importância como testemunho da visão indígena, quase sempre poética, a respeito das terras americanas, pelas quais morreram por amor, e da correspondente ambição e falta de amor à terra do branco colonizador.
     Espero, com este livro, estar contribuindo para que o espírito de resistência prevaleça sobre a idiotice subserviente e colonizada, dos lambe-botas da cultura dominante, com suas imitações grotescas e seus muxoxos de desprezo e desdém pela cultura nativa. Diante desta realidade sufocante, o poeta recusa os apelos fáceis e fartamente conhecidos e não acha graça nenhuma da encenação conformista e ser-vil do circo no qual querem nos envolver.
     A História, com certeza, nos dará razão.

                                                                              O autor

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