Apresentação do livro "Varal de Poesias ao Sabor do Vento"

     O Varal de Poesias ao Sabor do Vento visa fundamentalmente colocar em evidência a poesia emergente dos anos 80, que caracterizam a época e, além disso, significa uma ruptura com o período imediatamente anterior.
     Esta poesia, se tem encontrado novos caminhos formais e temáticos, não vem obtendo veículos de divulgação que possibilitem, inclusive, uma avaliação mais profunda e uma crítica literária mais conseqüente.
     A partir dos anos 80, é necessário reconhecer, surgiu uma novidade na poesia brasileira: a oralidade, a ateatralidade e o espetáculo. Como proposta nova e inovadora teve inevitavelmente que buscar os caminhos marginais e pouco explorados para poder se realizar enquanto proposta. E assim buscou as praças, as ruas, as massas, único espaço disponível, então para que os poetas se apresentassem.
     Um marco histórico significativo foi a FEIRA DE POESIA INDEPENDENTE, iniciada em 29 de agosto de 1980, apoiada a princípio pelo Centro de Cultura Alternativa da Rio Arte, e que a partir de então, se instalou todas as sextas-feiras na Cinelândia, reunindo artistas e poetas, que declamavam seus poemas e expunham varais improvisados para o público. O evento ocorreu no período 80/83, sem nenhuma interrupção significativa, caracaterizando definitivamente o caráter da nova poesia.
Basicamente uma recusa à clausura, a nova poesia mostrou seus dentes na praça, exibindo seu texto não apenas na folha de papel branca e solitária e para consumo igualmente solitário. A busca da solidariedade se traduzia na criatividade exacerbada exposta nas praças para o público e o espetáculo era a própria alma do artista estendida no calçadão para aplauso ou escárnio público.
     Esta ansiosa procura promoveria inevitavelmente uma transformação formal na arte poética. O objetivo central desloca-se do livro para o espetáculo. É necessário, a partir de então, construir o espetáculo e o foco se desloca agora para o ator/poeta e não mais exclusivamente sobre o poeta/escritor. Evidentemente os textos poéticos não podem mais destinar-se apenas ao papel do livro e servirem somente à fruição individual. A busca da oralidade e da teatralidade promove o novo texto destinado ao espetáculo.
     Inevitavelmente o social e o político invadem a alma do poeta e já não bastam mais os dramas estritamente pessoais curtidos sob o tempero de drogas e solidão, circundados pelas quatro paredes dos apartamentos e dos quartéis, tão característicos da década de 70.
     O contato com o público passou a determinar certos caminhos novos ou redescobertos: a concisão do texto, o abandono da prolixidade, a busca da ludicidade, a descoberta do humor, a declamação descontraída e a recusa da declamatória formalista e empostada.
     Dentro deste novo universo poético gerou-se um novo veículo poético: o varal de poesia. Em diversas cidades brasileiras, os poetas passaram a expor seus poemas nas praças ou em ambientes fechados, através de varais, nos quais os poemas ficavam mais livremente expostos ao público e ao sabor do vento . . .
     A partir desta perspectiva passamos a selecionar poemas que pudessem expressar as características mais marcantes da época e que pudessem ser representados através de um varal. Portanto recusamos os poemas prolixos e redundantes e de baixa preocupaçào formal. Concentramos nossa atenção nos poemas concisos e contundentes e que refletissem a época da maneira mais abrangente e sintética possível, Inclusive a própria concisão já caracteriza de certa maneira a expectativa das pessoas, sempre ansiosas por mensagens rápidas e urgentes para se adequarem ao ritmo acelerado do turbilhão urbano.
      Assim a pesquisa dos poemas orientou-se fundamentalmente pela localização do poema que refletisse o que se buscava como características gerais da década e não do poeta, isto é, buscou-se poemas e não autores. Portanto, esta não é uma mostra de poetas e sem de poemas que se destacaram como os mais bem construídos e representativos do momento em que vivemos.
     Para isso estudamos a bibliografia surgida no período, proveniente de diversas cidades brasileiras, seja na forma de livro, seja na forma de de revistas e jornais.
Os textos foram desenhados manualmente à nanquim, através do normógrafo, acondicionados em sacos plásticos de fácil manuseio afixados ao longo de cordas de nylon. Assim com o varal estendido, as pessoas interessadas certamente formarão uma fileira de leitores de ambos os lados do varal.
     E se escolhemos a estação do Metrô para fazer a exposição, nossa intenção era justamente aproveitar um espaço talvez único, que se caracteriza pelo trânsito obrigatório de público, sem a necessidade, portanto, de convites explícitos para visitar a exposição, que porventura lá estivesse acontecendo. Com isso evitamos a realização de uma exposição em local fechado, de difícil acesso e raramente visitada pelo grande público, quase sempre pouco habituado a freqüentar exposições literárias.

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