PROPOSTAS DE ANÁLISES MORFOLÓGICAS NA OBRA "EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMATICA" DE MONTEIRO LOBATO

Autoras: Cáren Maiele Alves da silva

Fabiana Fernandes de Oliveira

Orientadora: Maria Felicia Romeiro Mota Silva

RESUMO:

O objetivo deste artigo é identificar através da obra “Emília no país da Gramática” de Monteiro Lobato como as relações morfológicas são estudadas dentro desse contexto. O livro aborda a gramática de forma criativa, visando assim uma nova aproximação dos educandos com a mesma. Lobato cria um país a fim de transformar as aulas de gramática, consideradas pelo personagem Pedrinho como desagradáveis, em aulas interessantes e interativas.

Palavras- chaves: Literatura infantil, pré-modernismo, estudo de gramática, morfologia.

1. INTRODUÇÃO

Emília no país da Gramática é um livro infantil escrito por um dos maiores escritores do país: Monteiro Lobato e foi publicado em 1934. A obra fictícia reproduziu a indignação do autor ao observar uma escola cuja metodologia reprime, e induz o aluno a viver rotulado de idéias que até aos próprios professores chocam.

O autor nesta obra dá vida e imaginação humaniza os personagens e personifica as palavras criando um país com a língua materna e suas regras lingüísticas, sugerindo que os personagens ao invés de estudar e decorar a retórica gramatical conheça-os profundamente analisando as suas essências. O motivo pelo qual levou Lobato a produzir tal obra foi o fato de que na infância ele passou por uma experiência desagradável no momento em que foi realizar duas provas de gramática (uma oral e outra escrita) e apesar de ter se saído bem nas duas o professor injustamente o reprovou em uma delas. Revoltado, com o ocorrido, Monteiro decidiu já então adulto inserir em suas produções literárias infantis noções relacionadas à gramática.

Sabemos que na escola a gramática sempre foi considerada um martírio para o aluno desde muito tempo, escrever corretamente, seguindo pontuações e regras faziam com que o educando não gostasse de tal assunto. A obra Emilia no país da Gramática fez com que as crianças (em especial) encontrassem uma maneira mais prazerosa de compreender ao mesmo tempo tanto a literatura como as regras gramaticais dentro de um mesmo contexto.

O intuito dessa pesquisa é entender como a morfologia, (definida como componente da gramática que trata da estrutura interna das palavras) é analisada na obra Emilia no país da Gramática.

2. A OBRA EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA

Dividida em vinte e sete capítulos, a obra Emília no país da gramática conta a viagem de Pedrinho, Narizinho, Visconde, Quindim, claro, Emília fazem até o país da gramática. Quindim, o rinoceronte, é quem leva todo esse pessoal até esse país e é ele quem tudo mostra e tudo explica. A boneca Emília protagoniza o papel principal ao lado do rinoceronte Quindim que é considerado o “paquiderme sabidão” e “grandíssimo gramático”, ambos resistem contra o uso exagerado das normas figurativas e exteriorizam o caráter didático pedagógico da obra estabelecendo assim o poderio da gramática. Lá eles aprendem a língua portuguesa de um jeito muito divertido, usando a imaginação e a criatividade. Como? Caminhando pelos bairros da cidade Portugália, brincando de criar palavras, interjeições, orações e conversando com as senhoras Etimologia, Sintaxe, Ortografia e muitas outras, que ensinam a origem e o significado das palavras e como escrevê-las corretamente, formando frases coerentes e coesas.

É interessante analisar o público personagem: são crianças moradoras do sítio do pica-pau amarelo que são moldadas para interceder também no pensamento adulto transportando os mesmos através da literatura infantil. Como o livro foi lançado peã primeira vez em 1934, muitas regras e conceitos gramaticais antigos foram atualizados comentados para que o leitor de hoje também viaje nesse país.

O livro “A Língua de Eulália” de Marcos Bagno, que propõe discutir de um jeito “diferente” os conteúdos gramaticais à luz da Sociolingüística, faz alusão a personagem Emília de Monteiro Lobato, dando as mesmas características e nome a uma de suas personagens. Como podemos constatar no seguinte trecho:

– A Emília existe mesmo ou eu estou sonhando? – pergunta Irene, puxando a jovem para junto de si e abraçando-a com força.

- Existe, sim! Responde Vera. – É assim o tempo todo: impertinente, irreverente, inconveniente...

- Mas também inteligente... – completa Emília, aproveitando a rima.

- É mal do nome – explica Silvia. – A mãe dela leu Monteiro Lobato mais que devia... (BAGNO, 2005, p. 75-76)

Ressaltando a importância da obra “Emília no país da gramática” percebemos em outras leituras como no livro “A língua de Eulália” como a personagem Emília se parece com a da obra anterior, sendo aquela que é esperta, curiosa e muitas vezes irreverente, que se interessa em saber as coisas, também discorda quando não acha que algo está correto.

2.1 O PRÉ- MODERNISMO

“O Pré- modernismo (1902-1922), que não chegou a constituir uma “escola literária” marca a transição entre o parnasianismo, o simbolismo e o movimento modernista seguinte”. (YAMAMOTO, s.d., p.01). Na realidade, Pré-modernismo é o termo genérico que designa a produção literária de alguns autores que, não sendo ainda modernistas, já promovem rupturas com o passado, a realidade brasileira, regionalismo, tipos humanos marginalizados e ligação com os fatos políticos, sociais e econômicos.

Destacando-se Monteiro Lobato , o mesmo é estudado como pré-modernista por duas características fundamentais de sua obra de ficção: o regionalismo e a denúncia da realidade brasileira. Considerado também como introdutor da literatura infantil no Brasil

“Estamos com aqueles que dizem: sim; A literatura, e, em especial a infantil, tem a tarefa a cumprir nesta sociedade em transformação: a de cumprir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/ livro, seja no diálogo leitor/ texto estimulado pela escola”. (COELHO, 2000 p.45).

Fortalecendo de modo contínuo o processo criança/universo, mostrando a importância dos pequeninos na mudança da sociedade como um todo, possibilitando aberturas de informação e o estímulo no que diz respeito ao trato diário entre as pessoas que é fortificado pela literatura.

2.2 O ESTUDO DA GRAMÁTICA NA OBRA

O ensino de gramática sempre foi um martírio para os alunos; e Monteiro Lobato através da obra Emília no país da gramática nos mostra um novo estilo para tornar esse estudo mais prazeroso, propondo que os estudantes podem aprender gramática, brincando, viajando, propiciando uma aprendizagem mias rica e consistente.

A obra procura mostrar que o estudo da gramática vai além de uma simples divisão de conteúdos, pelo contrário, propicia novas possibilidades, tornando a aproximação aluno/gramática mais proveitosa e acima de tudo fixada nas palavras que nos permite formar novos horizontes, viajar num mundo onde cada descoberta proporciona uma sensação diferente e coberta de magias, imaginação.

Logo nos capítulos iniciais da obra percebemos como o personagem Pedrinho se refere à gramática.

Dona Benta, com aquela sua paciência de santa, estava ensinando gramática a Pedrinho. No começo Pedrinho resignou.

- Maçada, vovó. Basta que eu tenha de lidar com essa cacetação lá na escola. As férias que venho passar aqui são só para brinquedo. Não, não e não... (LOBATO, 1969 p.3).

Este trecho, presente no início da obra, mostra Dona Benta começando a dar lições de gramática diariamente ao seu neto Pedrinho que, a princípio, não gosta da idéia referindo à gramática como uma “cacetação”.

Pedrinho fez bico, mas afinal cedeu; e todo o dia vinha sentar-se diante de dona Benta, de pernas cruzadas como um oriental, para ouvi as explicações de gramática.

- Ah assim, sim!- dizia ele. Se um professor me ensinasse como a senhora, a tal gramática até virava brincadeira. Mas o homem obriga a gente a decorar uma porção de definições que ninguém entende. Ditongo, fonemas, gerúndios... (LOBATO, 1969 p.3)

Após alguns dias, Pedrinho diz que a gramática ensinada pela avó virava brincadeira opondo à da escola, em que o professor obrigava a decorar definições que, segundo ele ninguém entende.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p.28) fazem uma reflexão sobre o ensino de gramática:

[...] não se justifica tratar o ensino gramatical desarticulado das práticas de linguagem. É o caso, por exemplo, da gramática que, ensinada de forma descontextualizada tornou-se emblemática de um conteúdo estritamente escolar, do tipo que só serve para ir bem na prova e passar de ano – uma prática pedagógica que vai além da metalinguagem para a língua por meio de exemplificação, exercícios de reconhecimento e memorização de terminologia. Em função disso, discute-se se há ou não necessidade de ensinar gramática. Mas essa é uma falsa questão: a questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la. (PCN, 1998, p.28).

Reforçando o que foi citado acima, os Pcns concordam com Lobato no que diz respeito ao estudo de gramática ensinado na escola de uma forma descontextualizada, ou seja, sem situação dificultando assim o aprendizado do aluno, fazendo com que ele apenas memorize os conceitos somente para ir bem na prova e passar de ano. Na verdade os pcns enfatizam que é importante sim, estudar gramática, porém cabe ao professor saber como ensiná-la; criando situações que facilitam esse aprendizado de forma contextualizada.

2.3 COMO A MORFOLOGIA É TRABALHADA NA OBRA EMÍLIA NO PÁIS DA GRAMATICA.

A morfologia é uma área da Lingüística que estuda a estruturação e classificação das palavras. Segundo Sândalo (1999, p.181) “a morfologia é definida como componente da gramática que trata da estrutura interna das palavras”.

Em Emília no país da gramática analisaremos não apenas essa “estrutura” de palavras, mas também como elas são formadas e classificadas. Os dezessete capítulos inicias desta obra são destinados aos estudos morfológicos das palavras que de uma forma divertida Monteiro Lobato consegue passar esses conceitos ao leitor sem que o mesmo tenha dificuldade em compreender cada um deles.

Primeiramente definem as letras do alfabeto, o que são sons orais vogais, consoantes e assim por diante:

-“Esse país principia justamente ali onde o ar começa a zumbir. Os sons espalhados pelo ar e que são representados por letras, fundem-se ligo adiante em sílabas, e essas sílabas formam palavras.” (LOBATO, 1969 p. 6). Como está explicito as primeiras falas dos personagens já estando no país da gramática referem-se à formação de palavras.

Todo o grupo passeia por Portugália, cidade onde moravam todas as palavras da língua portuguesa, por lá encontraram palavras denominadas como “arcaicas”:

-“Essas coitadas são bananeiras que já deram cacho- explicou Quindim. Ninguém as usa mais, salvo por fantasia e de longe em longe. Estão morrendo. Os gramáticos classificam essas palavras de Arcaísmos. Arcaico quer dizer coisa velha, caduca.” (LOBATO, 1969 p. 10). Todas as palavras denominadas como arcaicas são aquelas que já existiram um dia, porém, não existem mais.

Segundo Câmara (1996, s.p.) “arcaísmos são vocábulos, formas ou construções frasais que saíram do uso da língua corrente e lá eram vigentes”. Traçando um paralelo ao que já foi exposto sobre o conceito de arcaísmo citado na obra Emília no país da gramática com o autor Mattoso Câmara Jr., consta-se que ambos dizem praticamente a mesma coisa, ou seja, denominam “o arcaísmo” como uma palavra que já existiu, porém, com a evolução da língua deixou de ser usada.

Mais adiante as crianças avistaram algumas palavras novas:

-Essas que aí vem são o oposto dos Arcaísmos- disse Quindim. São os Neologismos, isto é, palavras novíssimas, recém-saídas da fôrma. Estavam naquele grupo de neologismos diversos que os meninos já conheciam como CHUTAR, que é dar um pontapé; BILONTRA, que quer dizer um malandro; ENCRENCA, que significa embrulhada, mixórdia, coisa difícil de se resolver. (LOBATO, 1969 p.12).

Todas as palavras que Emília e sua turma habituavam falar no seu cotidiano eram consideradas como neologismos. Por outro lado, Carvalho (1987, p.9) ressalta que “quando se fala em neologismo, temos sempre como referência, conceitos como mudança, evolução, novidade, novo, criação, surgimento, inovação”.

Diante do conceito analisado na obra com o de Carvalho citado acima, percebemos que ambos assemelham-se, porém esta autora abrange essa definição utilizando outras terminações como evolução, novidade, criação dentre outras.

No decorrer da viagem, os garotos encontraram um bairro muito importante: O bairro dos Nomes ou Substantivos.

- Que emproados! Observou Emília. Até parecem as vogais da terra do alfabeto. E são de fato as vogais das palavras. Sem eles seria impossível haver linguagem, porque os substantivos é que dão o nome a todos os seres vivos a todas as coisas. Por isso se chamam substantivos, como quem diz que indicam a substância de tudo. (LOBATO, 1969 p.19).

A classificação das palavras a partir da morfologia inicia-se nesta obra no capítulo Em pleno mar dos substantivos e segue-se definindo e exemplificando cada essência desse componente da gramática tão importante que é a morfologia.

Emília, apressada, já queria visitar de imediato as interjeições sem antes saber o que havia no bairro dos substantivos:

- Espere bonequinha aflita! Disse Quindim. Inda há muito pano para mangas aqui. Vocês ainda não observaram que estes senhores nomes estão divididos em dois gêneros, o masculino e o feminino, conforme o sexo das coisas ou seres que eles batizam. Paulo é masculino porque todos os Paulos pertencem ao sexo masculino. – Mas Panela? Advertiu Emília. Porque razão Panela é nome feminino e garfo, por exemplo, é masculino? Panela e garfo não têm sexo? – Isso é uma das maluquices desta cidade, respondeu o rinoceronte. (LOBATO, 1969 p. 23).

O trecho presente a cima trata da questão dos gêneros dos substantivos que, em alguns casos apresentam uma forma para o feminino e outra para o masculino.

Quanto ao gênero do substantivo citado na obra Emília no país da gramática, percebemos que havia uma confusão quanto a definição quanto à forma dos gêneros dos substantivos. Segundo a gramática contemporânea portuguesa (1989. p.160) “os substantivos que apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino são denominados biformes”. Garfo e panela, portanto são biformes e pelo fato de a obra ser publicada há muitos anos atrás, provavelmente essa classificação quanto ao gênero ainda não existia ou tinha outra denominação.

Mais adiante em suas andanças o rinoceronte continuou:

- E ainda há nomes que possuem dois sexos, isto é, que tanto servem para indicar seres ou coisas do gênero feminino como do masculino. Nós gramáticos, usamos um nome muito feio para designar tais substantivos- Epicenos. - Nomes como onça, conjugue, jacaré e tanto outros tem o defeito de servir para dois sexos. (LOBATO, 1969 p. 27).

Percebe-se a “soberania” da gramática nos sentido de englobar tantos conceitos, divisões em uma única classificação de muitas que ela possui. Posteriormente os meninos foram andando até encontrarem o bairro dos adjetivos.

No bairro dos Adjetivos o aspecto das ruas era muito diferente. Só se viam palavras atreladas. Os meninos admiraram-se da novidade e o rinoceronte explicou:

- Os adjetivos coitados, não tem pernas; só podem movimentar-se atrelados aos substantivos. Em vez de designarem seres ou coisas, como fazem os nomes, os adjetivos designam as qualidades dos nomes, ou alguma diferença que há neles. Daí vem a divisão em adjetivos qualificativos e Determinativos. (LOBATO, 1969 p.34)

Na obra cada detalhe é de suma importância para que o leitor possa compreender cada ícone referente ao temas expostos na mesma. Como está explicito, o adjetivo é aquele que serve para qualificar ou diferenciar um substantivo. Por isso que vêm as denominações em Adjetivos Qualificativos e Determinativos, vejamos o que diz a obra.

Nesse momento os meninos viram o nome HOMEM, que saía duma casa puxando um adjetivo pela coleira:

- Ali vai um exemplo disse Quindim. Aquele substantivo entrou naquela casa para pegar o adjetivo magro. O meio de agente indicar que um homem é magro consiste nisso- atrelar o adjetivo magro a um substantivo que indica o homem. – Logo, magro é um adjetivo qualificativo- disse Pedrinho- porque indica qualidade de ser magro.

- Olhem/- disse Quindim. Acaba de atrelar a si mais um adjetivo, desta vez um determinativo, o ESTE. Conseguiu assim formar uma frase- Este Homem magro.

O adjetivo Este não indica nenhuma qualidade, mais indica uma diferença, e por isso a gramática o classifica de Determinativo. (LOBATO, 1969 p.34).

Como foi ressaltado acima, os personagens dialogam-se entre si, aprendendo com Quindim como os adjetivos são classificados e dando exemplos de cada denominação para facilitar o entendimento das crianças que passeavam por aquele bairro. Conta-se o poder gramática existente nas palavras e suas dimensões retrata na obra Emília no país da Gramática.

Dando continuidade à viagem, a turma do sítio chega ao bairro dos pronomes: definidos no livro como palavras que não possuem pernas e só se movimentam amarradas aos verbos. Eu, tu, nós, vós...

Emília bateu na porta- toque, toque, toque.

Veio abrir o pronome EU:

- Entrem, não façam cerimônia. Narizinho fez as apresentações.

- Tenho muito gosto em conhecê-los, disse amavelmente o pronome Eu. Aqui na nossa cidade o assunto é justamente a presença dos meninos e deste famoso gramático africano. Vão entrando e nada de cerimônia.

- Pois é isso, meus caros. Nesta república vivemos a nossa vidinha, que é bem importante. Sem nós os homens não conseguiriam entender-se na terra. (LOBATO, 1969 p. 41).

Nesse aspecto ressalta-se como o autor dá relevância à importância dos pronomes para a comunicação dos seres humanos uns com os outros. Quanto à estruturação das palavras, faz-se um apanhado geral de sua formação, colocando de maneira sucinta cada parte dessa estrutura. Vejamos o que diz o trecho:

- Em gramática se chama Derivação, querendo dizer que uma palavra sai de outra ou deriva de outra. Nesse processo de derivação há umas palavrinhas sem sentido próprio que possuem uma função muito importante. São os prefixos e os sufixos. Os prefixos grudam-se no começo da palavra e os sufixos grudam-se no fim. Estes constituem verdadeiros rabinhos, que por si nada dizem, mas que pregados a outras palavras servem para dar-lhes uma forma nova e um sentido novo. (LOBATO, 1969 p. 81).

Destaca-se acima a importância da estruturação e formação das palavras e como através de um simples prefixo ou sufixo conseguimos formar novas palavras e atribuir-lhes um novo sentido. Ainda nesse mesmo aspecto a dona Etimologia explica a Emília como a palavra se divide:

- Cada palavra se divide em duas partes- a raiz e a desinência. Raiz é a parte fixada da palavra. Desinência é a parte final, mudável. Reparem que em todas as palavras fundadas de CAVALO, a raiz è CAVAL e notem que essa raiz nunca muda. CAVAL- EIRO, CAVAL-ARIA, CAVAL-GADURA, CAVAL-HADA... (LOBATO, 1969 p. 82).

Tanto a estruturação quanto à classificação das palavras auxiliam-nos nos estudos de português, por isso é de suma importância aprender todos esses conceitos que fazem parte dos estudos morfológicos da gramática e saber como utilizá-los não só no âmbito escolar como no dia-a-dia. Vale enfatizar ainda que não só nesse aspecto como em todas as denominações referentes à morfologia já citadas, o autor Monteiro Lobato consegue prender a atenção do leitor para com este assunto, pois transmite através da obra conceitos que por um lado são difíceis de entender (ou seja, por meio das gramáticas tradicionais), mas que usando um pouquinho de imaginação, brincadeira e descontração conseguimos memorizá-los sem termos dificuldade nenhuma com relação ao aprendizado dos mesmos.

3. CONSIDERAÇOES FINAIS

Tendo em vista que o estudo da gramática é importante no que diz respeito à aprendizagem escolar, Monteiro Lobato enfatiza em sua obra Emília no país da gramática que a mesma pode ser fixada de forma mais prazerosa e divertida, esquecendo um pouco do que geralmente é cobrado na escola, decorando cada classificação por exemplo, e tornado o estudo mais eficaz, afinal, na obra se aprende gramática brincando, viajando...

A morfologia é analisada na obra de uma forma com que o leitor possa entender clara e objetivamente como a palavra é estruturada, formada e classificada num determinado contexto. Através de exemplos fáceis o autor consegue passar para o leitor conceitos que antes não eram bem entendidos na escola, por exemplo, mas que através de um pouco de diversão o mesmo consegue não só brincar com os personagens e palavras humanizadas na obra como também entender o que realmente o autor quer transmitir.

Como foi apresentado na narrativa, vimos que a morfologia trabalhada na mesma foi dividida por partes, ou seja, cada capítulo era destinado a uma definição. Inicialmente trataram da classificação das palavras (nome, substantivo, adjetivo pronome, etc.), e num segundo momento o autor definiu como as palavras eram estruturadas (derivação, prefixo/ sufixo, raiz e desinência). A forma lúdica, como o passeio pelo país da gramática foi realizado, as relações estabelecidas, a contextualização e a abordagem do tema mostram a sensibilidade de Monteiro Lobato frente a questões relevantes e atuais sobre o ensino de línguas.

Apesar de não ter tido uma boa experiência com os estudos de gramática na fase escolar, Lobato conseguiu de fato mostrar através desta obra que estudar gramática não é uma coisa tão difícil assim, pelo contrário, o estudo da mesma é de suma importância para a aprendizagem, cabe ao aluno saber como estudá-la deixando de lado aquela velha e repetida frase: é preciso decorar a gramática para passar de ano, ganhar nota 10 dentre outras terminações, mas sim saber utilizar cada conceito em determinada situação. O que nos interessa realmente é o aprendizado e isso basta para a formação educacional de qualquer aluno.

4. REFERÊNCIAS

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COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. 1 ed. São Paulo: Moderna, 2000.

CAGNETI, Sueli Souza. Livro que te quero livro. Rio de Janeiro: Nodica, 1996

TASSI, Adelaide da Rosa. A importância da Literatura Infantil para o

desenvolvimento e aprendizagem da criança. Disponível em:

<http://www.cce.ufsc.br/~neitzel/literinfantil/adelaide.htm. >Acesso em: 16 dez. 2009.

LOBATO, Monteiro. Emilia no país da Gramática. Vol. 6, 15 ed. São Paulo: 1969.

CARVALHO, Nelly. Empréstimos Lingüísticos. São Paulo: Ática, 1989.

CÂMARA Jr, J. Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. 17ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996.

INFANTE, U. ; NICOLOLA, J. Gramática comtemporêa da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 1989.

VILARINHO. Sabrina. Monteiro Lobato. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/literatura/monteiro-lobato.htm> Acesso em 02 mar. 2010.

YAMAMOTO, Sônia. O pré modernismo. Disponível em: <http://www.sinodal.com.br/download/monteirolobato.pdf> Acesso em 03 mar. 2010.

NASCIMENTO, S. Olívia. A gramática de Emília. 2008. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/1123367 > Acesso em 09 dez. 2009.

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Enviado por fabyanafolive em 19/05/2010
Reeditado em 19/05/2010
Código do texto: T2267201