Prosa para tempos de eleição.

"O Brasil não foi descoberto

O Brasil foi roubado!"

Este foi o desabafo de um índio Kaimbé, numa assembléia do Povo Xokó: "Os portugueses vinham com conversa mansa, parecendo amigos. Mas o que eles estavam querendo mesmo era dominar o nosso povo!" Estas referências estão relacionadas ao prejuízo de terras, língua e ao "padre-nosso" que o povo indígena teve de engolir, desde que o Cabral resolveu fazer uma visitinha aqui na aldeia com sua comitiva. Pelo que diz o índio, foi assim que começou o processo de contaminação da cultura indígena. Hoje, as cunhãs do Oiapoque ao Xuí tem pinta de Beyoncé, e os chefes de muitas tribos, quem diria, só andam com celular do lado e cobrem as vergonhas de jeans.

Mas, justiça seja feita, quando o Marquês chegou, por aqui, não havia Brasil nenhum nessas terras. Só havia índios pelados e pau-brasil. O fidalgo, maravilhado, olhava pras descobertas cunhãs, olhava pro pau (brasil) e... o seu entusiasmo ficou tão grande que ele decidiu meter o pau na floresta e o brasil no meio.

É claro que os Araribóias não gostaram daquela coisa daninha se espalhando nas matas. Tanto que meteram uma flechada fatal na idéia do Estácio, mas a idéia principal vingou. E a Casa Portuguesa, com certeza, venceu a batalha.

O resto da estória, você já conhece, né?

Um Pedro meteu a mão na espada e deu um grito; um exército de Pedros meteu a mão na picareta e defendeu o patrão sem dizer uma palavra; e D. João VI, que não era Pedro, mas tinha um Pedro, meteu a mão nos cofres do Banco do Brasil, tornando-se o pioneiro no assunto. Até hoje, o seu exemplo histórico é seguido por quadrilhas e mais quadrilhas de Pedros que, sem o menor constrangimento, metem a mão mesmo. Em Brasília, meteram a mão no placar eletrônico do Senado, lembram? Em São Paulo, meteram a mão nos cofres públicos em tempos malufistas...

Enfim, já meteram a mão em tanta coisa no país...

Só não meteram a mão no narco-tráfico, nos belicosos e poderosos... Mas estes, sem perda de tempo, metem a mão em nós todos.