A PSICANÁLISE NOS CONTOS DE FADAS: SUAS IMPLICAÇÕES NA FASE INFANTIL

Ângela Luiza da SILVA

Universidade de Pernambuco, campus Nazaré da Mata.

O Conto de Fadas tem sido considerado na atualidade uma narrativa ilusória e até prejudicial à saúde das crianças. Porém, o presente trabalho tem por objetivo contestar esse pensamento, revelando a importância da leitura dos contos de fadas nas fases iniciais abordando os seguintes questionamentos: como uma narrativa que atravessa continentes e vence o tempo pode ser considerada um gênero sem valor e como os contos de fadas ajudam a criança a solucionar conflitos internos. Para tanto, tomaremos por base teórica os posicionamentos de Nelly Coelho (1987) no que se refere à origem e estrutura dos contos de fadas. As questões inerentes a psicanálse serão abordadas por Bruno Bettelheim (2009).

As Narrativas Mágicas

Dentre as Narrativas mágicas simplificadas como Literatura Infantil, onde a magia é tema para muitas aventuras, duas sobressaem: Os contos de fadas e os contos maravilhosos. A evidência dessas duas narrativas de acordo com Coelho (1987) deve-se ao fato das pessoas acreditarem na identificação entre as duas, fato que não se confirma, pois os contos de fadas e os contos maravilhosos possuem origem e problemática diferentes. A razão dessa ligação pode estar relacionada ao fato das duas pertencerem ao Mundo Maravilhoso.

Os Contos maravilhosos X Os Contos de fadas.

De origem Oriental, os contos maravilhosos possuem problemática voltada à realização exterior, geralmente o eixo gerador é o problema social ou o desejo de auto-realização, sempre ligada à conquista de riquezas e bens materiais. Seu ponto de partida para as aventuras em regra é a miséria e a fome. Essa narrativa desenvolve-se no cotidiano mágico onde não há a existência de fadas, mas há a presença de duendes, objetos mágicos, gênios, a exemplo: O Gato de Botas e O pescador e o gênio. (COELHO,1987,p.14)

De Origem Celta, os contos de fadas têm a sua problemática voltada para a luta do Eu, uma realização interior, que está geralmente ligada com a união homem-mulher. Sua trama desenvolve-se no espaço da Magia Feérica podendo haver a presença de fadas, reis, rainhas, bruxas, gigantes, objetos mágicos, a exemplo: A Bela Adormecida e Rapunzel. (COELHO,1987,p.13)

Apesar de uma não anular a outra, as duas devem se completar, pois ambas tratam de atitudes humanas e isso fará com que cada pessoa acabe por optar uma delas e para Coelho essa escolha é que define a luta de cada um pela vida.

Os Contos de Fadas

No ponto de vista de Bettelheim, tanto para o adulto quanto para a criança, nada é mais enriquecedor do que os contos de fadas. É na leitura dos contos de fadas que se pode aprender sobre os conflitos interiores e como solucioná-los.

A vida é tão complexa para a criança que esta precisa de uma oportunidade de entender a si própria, necessita de uma educação moral, feita implicitamente, e com isso poder ordenar a sua vida.

É nos contos de fadas que a criança consegue encontrar esse tipo de significado. Eles falam dos seus conflitos interiores de maneira que ela perceba inconscientemente. Os contos conduzem a criança a um comportamento moral e não por meios éticos, elas atingem o entendimento do certo e do errado a partir do que elas acham, portanto isso se torna significativo.

Os pais acreditam que o melhor a ser feito é expor as crianças só a realidade agradável, e se esquecem de apresentar as crianças os insucessos da vida. Os pais querem que as crianças acreditem que todos os homens são bons, a fim de que a criança seja boa. Todavia, as crianças sabem que elas não são tão boas e para Bettelheim ( 2009, p.15) elas se consideram monstros por isso.

Os contos de fadas conseguem revelar para a criança, que as lutas da vida serão inevitáveis, contudo a perseverança diante dessas aflições derrotará os obstáculos e fará dela uma vencedora.

Os contos de forma honesta trabalham as dificuldades humanas. Eles falam de morte, velhice, abandono, temas geralmente evitados na frente de uma criança. De fato isso é uma característica dos contos de fadas. Eles expõem um problema existencial de forma contundente, fazendo com que a criança possa percebê-lo sem nenhuma dificuldade. Suas personagens são únicas. O bem e o mal não são tratados como algo abstrato, como são na vida real, eles são apresentados através das personagens e das suas atitudes. Essas personagens não podem ser ambivalentes, isto porque predomina na mente da criança a polarização, e assim também nos contos de fadas. A polarização permite a criança entender com mais facilidade a diferença entre as personagens, uma vez que uma personagem é de todo maldade e a outra de todo bondade.

Encontramos como forma atrativa do mal, o poder da bruxa, uma vitória temporária, e em alguns contos o vilão consegue por algum momento até usurpar o lugar do herói. Bettelheim (2009, p. 16) afirma que não é o fato do mal ser punido no final da história que acarretará na escolha da criança pelo bem, embora isso tenha grande relevância, a criança opta pelo lado da bondade pelo grande valor atrativo e apelativo que o herói tem para com ela. As escolhas delas não se baseiam no certo e no errado, mas em quem consegue despertar sua simpatia e antipatia. Elas não decidem pela bondade para ser o herói, elas decidem ser o herói e a partir daí resolvem ser boas, por que o herói é bom.

Os contos de fadas e seus principais representantes

• Os celtas

Os celtas iniciam sua imigração no mesmo momento em que há a expansão dos povos orientais no mundo ocidental. Por não ser um povo de característica guerreira sua principal atuação na formação da cultura ocidental foi a sua inteligência criativa e seus valores espirituais. De religião politeísta, os celtas costumavam fazer seus rituais ao ar livre, e foi em seu seio que surgiram as primeiras mulheres sobrenaturais que deram origem a procedência das fadas. É na poética céltico-bretã que a mulher revela-se poderosa, a Natureza é retratada como uma religião, dona de forças estranhas onde vagam heróis invencíveis e é nessa literatura que surge também o amor espiritual, eterno, mágico e indestrutível.

• Perrault – França, século XVII

Charles Perrault (1628-1703) foi o responsável pelas primeiras adaptações de alguns contos de fadas. As suas primeiras obras não tinham a intenção de ser uma literatura para crianças, só em 1694 onde publica Pele de Asno, que sua fama passa a se concretizar. Em 1697 Perrault publica Contos de Antigamente que mais tarde passa a se chamar Contos da Mamãe Gansa, com oitos histórias ainda famosas nos dias atuais: A bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho vermelho, Barba azul, O Gato de Botas, As fadas, A gata Borralheira, Riquete do Topete e O pequeno Polegar.

• Os Irmãos Grimm – Alemanha, século XVIII

Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) eram lingüistas e passaram 13 anos de suas vidas recolhendo histórias de tradição oral. Publicaram o seu primeiro volume em 1812 e teve o seu segundo volume finalizado em 1814, este teve a maior parte de suas lendas contadas pela a senhora Viedhmaennin, uma camponesa vinda da aldeia de Niedzwehn. Algumas das suas histórias adaptadas: Pele de Urso, A gata Borralheira, João e Maria.

• Andersen – Dinamarca, século XIX

Hans Christian Andersen (1802-1875), filho de sapateiro foi influenciado principalmente por sua mãe que era analfabeta e que lhe passou toda a tradição oral. Em 1835 publicou sua primeira obra Contadas às crianças, 1872, produziu 168 histórias. Seus temas geralmente falavam sobre infância sofrida e questões sociais. Suas histórias mais famosas são: A Roupa Nova do Imperador, O Patinho Feio, A Pequena Vendedora de Fósforos, Os Sapatinhos Vermelhos.

• Walt Disney – América, Século XX

Walt Disney (1901-1966) foi cineasta e produtor de vários filmes animados. Não escreveu nenhum conto, mas ficou mundialmente conhecido pelas adaptações feitas aos contos de fadas, trazendo-as ao cinema e facilitando a maior repercussão desses contos.

As estruturas do Conto de fada:

• Problemática existencial;

• Personagens (nomes e personalidades);

• Cenário distante;

• Cotidiano Físico e Psicológico;

• Final Feliz;

REFERENCIAS:

BETTELHEIM. Bruno. A Psicanálise dos contos de fadas. São Paulo,23º ed., Paz e Terra,2009.

COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. São Paulo, Ática, Série Princípios, 1987.

Angela Luiza
Enviado por Angela Luiza em 04/09/2010
Código do texto: T2478792
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