O Conto

SOBRE O CONTO

No conto devemos conseguir com o mínimo de meios o máximo de efeitos. E tudo que não estiver diretamente relacionado com o efeito, para conquistar o interesse do leitor deve ser suprimido.

(GOTLIB, 1999, P. 35)

Teorizar sobre o conto não tem sido uma tarefa muito fácil para os críticos literários e nem para os próprios contistas. Os livros que tratam de análise da narrativa em sua maioria tratam o conto como uma narrativa curta. Contudo, será que a brevidade do conto é a sua principal característica? Para entendermos melhor os elementos que constituem a estrutura do conto, devemos conhecê-lo a partir da sua origem.

Moisés (1997, p. 95) lança duas hipóteses para a origem da palavra conto: a primeira estaria em commentu - (latim) que significa “invenção”, “ficção”. A segunda, a palavra conto seria um adverbal do verbo contar (computare), que inicialmente significava “enumerar objetos” e que passou a ter com o tempo o significado de “enumerar acontecimentos”. Apesar de ser desconhecida a origem do conto, alguns estudiosos consideram o conflito entre Caim e Abel um exemplo de conto, o que nos remonta a milhares de anos antes da morte de Cristo. Eles ainda consideram contos algumas obras de autores da Antiguidade clássica como Fedro em O Naufrágio de Simônides, Petrônio em A Matrona de Éfeso e Plínio com A Casa Mal-Assombrada. Temos também como exemplo, a coletânea de contos maravilhosos de As mil e uma noites. Sua forma original deve ter se completado nos fins do século XV, mas só no século XVIII passa a ser divulgada no mundo europeu. Temos também na França o crescimento desse gênero, sendo lançados contistas como Perrault em Os contos da mamãe gansa, no século XVII. Mas é no século XIX seu momento de maior esplendor.

2.1. Definição e Estrutura

O conto é para Massaud Moisés (1967, p.100) uma narrativa unívoca e univalente, que constitui uma unidade dramática e uma unidade de ação. Como unidade dramática possui apenas um único conflito, um só drama e uma só ação. Devemos considerar que todos os elementos contidos no conto nos levam para um mesmo objeto, um mesmo ponto. O que está intimamente relacionado com a concentração de efeitos. Na unidade de ação, o que primeiramente deverá ser analisado é a noção de espaço, ou seja, “lugar geográfico por onde as personagens circulam” (MOISES, 1967, p.101), esse ambiente deve ser restrito. Após a noção de espaço, segue-se a de tempo. A narrativa deve dar-se em curto espaço de tempo, já que para o conto, nem o passado e nem o presente são importantes.

A brevidade

Norman Friedman (Apud: ABDALA Jr. p. 17) afirma que a brevidade apesar de ser considerada um fator diferencial, baseia-se apenas nos sintomas e não nas causas. Para Abdala Junior (1995, p. 17), a questão não é “ser ou não ser breve” e sim “provocar ou não o maior impacto no leitor. Isso só se dará a partir do efeito mantido sempre em suspense dentro do conto e essa questão de efeito é uma característica que atrairá para si outros elementos estruturais: objetividade e força.

A objetividade exige a condensação de elementos, tornando assim o texto breve. Mas essa brevidade não estará caracterizada pelo quantitativo de páginas que serão utilizadas pelo autor, ela se dará pelo impedimento de descrições desnecessárias e pelo afastamento do que é supérfluo para a narrativa. Já a força estabelece uma capacidade de marcar o leitor. É necessário fazer com que a narrativa seja interessante para o mesmo.

É exatamente nesse ponto que surge a finalidade da intensidade e da tensão no conto: conseguir caracterizar o desejo e a emoção no leitor mantendo esse interesse até o final da narração.

O conto necessita apenas de um único acontecimento, e esse acontecimento precisa ser impressionante. Seu enredo deve começar sempre próximo ao clímax, pois permite desprezar em sua estrutura uma grande quantidade de exposições e de personagens. A descrição poderá ser tanto psicológica quanto física, mas cabe ao autor policiar-se, pois descrições desnecessárias acarretarão em um mal fluir do enredo.

Angela Luiza
Enviado por Angela Luiza em 05/09/2010
Código do texto: T2479869
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