ESCRITORES PORTUGUESES: FERNANDO PESSOA, MENSAGEM

AUTORIA: FERNANDO PESSOA
Data de publicação: 1934
Local de publicação: Lisboa

 
Mensagem é o mais célebre livro do poeta e escritor português Fernando Pessoa, e o único que publicou em vida, se descontarmos os livros de poemas escritos em inglês. É uma ode patriótica, uma obra quase tão importante como Os Lusíadas, de Camões, porque, se menos eloquente é tão ou mais simbólico, falando ao interior e não tanto ao exterior.

A obra trata do glorioso passado de Portugal de forma apológica e tenta encontrar um sentido para a antiga grandeza e a decadência existente na época em que o livro foi escrito. Glorifica, acima de tudo, o estilo camoniano e o valor simbólico dos heróis do passado e seus grandiosos feitos, como os Descobrimentos.
É composto por 44 poemas, escritos entre 21 de Julho de 1913 e 16 de Março de 1934. A sua publicação aconteceu a 1 de Dezembro de 1934 (quase um ano antes da morte do autor ), dia das comemorações da Restauração de 1640. O livro foi chamado pelo poeta de "livro pequeno de poemas".
O poema mais famoso do livro é Mar Português, no qual o poeta expressou por outras palavras a necessidade de provocar, de lutar contra as adversidades, de não ter medo de ir contra a corrente e de defender o que se acha justo e perfeito: “Para passar o Bojador / Há que passar além da dor...”

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram.
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosse nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu.
Mas nele é que espelhou o céu.

 
Pessoa constrói a palavra "mensagem" a partir da expressão latina: “Mens agitat molem”, isto é, "A mente move a matéria", frase de Virgílio, in Eneida, dita pela personagem Anquises quando explica a Enéias o sistema do Universo. Mensagem, é hoje reconhecida como uma obra capital da poesia portuguesa, um livro voltado para o "oculto" e para o místico, sobre a história de Portugal, a memória de um povo e a crença de um novo império civilizacional.

Os 44 poemas encontram-se agrupados em três partes, ou seja, as etapas da evolução do Império Português: nascimento, realização e morte. A primeira parte “Brasão”, representa, simbolicamente, a nobreza na sua essência. Encontramos referência aos mitos e figuras históricas até D. Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões. D. Sebastião, rei de Portugal, uma das grandes figuras da história portuguesa, símbolo da Loucura enaltecida pelo poeta:

Louco, sim. Louco porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia.
Cadáver adiado que procria?

A obra dá-nos conta de um Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinado a "grandes feitos". Começa pela localização de Portugal na Europa e em relação ao mundo, procurando atestar a sua grandiosidade e o valor simbólico do seu papel na civilização ocidental. Define, depois, o mito como nada capaz de gerar os impulsos necessários à construção da realidade; apresenta Portugal como pertença de um povo heroico e guerreiro, construtor do Império Marítimo; faz a valorização dos "predestinados" que construíram o país (Ulisses, Viriato, Conde D. Henrique e seu filho Afonso Henriques, D. Dinis, D. João I, D. Sebastião, Nuno Álvares Pereira, D. Henrique, D. João II e Afonso de Albuquerque); e refere as mulheres portuguesas, mães dos fundadores, como D. Teresa e D. Filipa de Lencastre, mãe da "ínclita geração".

A nobreza age no passado, na segunda parte, O Mar Português. Inclui o poema Infante, no qual o poeta exprime a sua concepção messiânica da história, mostrando que o sopro criador do sonho resulta de uma lógica que implica Deus como causa primeira, o homem como agente intermediário e a obra como efeito. Nos outros poemas evoca a gesta dos Descobrimentos com as personalidades Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães e Vasco da Gama, e acontecimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais, com as glórias e as tormentas, considerando que "valeu a pena".
No antepenúltimo poema evoca a partida de D. Sebastião na Última Nau e o último poema é a Prece, onde renova o sonho. No Mar Português procura simbolizar a essência do ideal de ser português vocacionado para o mar e para o sonho.

A nobreza age no futuro, na terceira parte, O Encoberto. Três elocuções em latim acompanham cada parte, no seu inicio. “Bellum sine bello” para a primeira, ou seja, guerra sem guerrear, potência sem ato, a parte que se mantém sempre eterna, como nobreza e caráter. “Possesio Maris” para a segunda, ou seja, a nobreza que toma e possui com um ato, mas que com esse ato não se esgota minimamente – apenas é uma posse do mar, o ter e não o ser. É na terceira: “Pax in Excelsis”, paz nas alturas, que o homem se ultrapassa finalmente a si mesmo e se realiza plenamente no que sempre foi.

Pessoa descreveu o nascimento, a vida e, inevitavelmente, a morte. Tal como o próprio nome sugere, nesta parte descrevem-se os tempos sombrios e o resvalar do Império Português. 
E já quase no final, o poeta olha para o futuro e profetiza que Portugal tornar-se-à no Quinto Império. Tal acontecerá quando D. Sebastião regressar para "guiar o seu povo". Até lá, Portugal terá que viver sob um “sol encoberto”.
 
Termina com o poema:

Nevoeiro:
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo fátuo encerra.
 
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora!

 
Neste poema, o poeta retrata uma nação em crise de identidade, política, valores e unidade sem, no entanto, perder a esperança. 
Fernando Pessoa termina esta sua grandiosa epopeia com o verso “É a Hora!”. Hora de quê? Pessoa não diz. Quiçá o povo um dia responda: É hora de agir e levantar Portugal!

 (01/11/2010)
Ana Flor do Lácio e Fernando Pessoa
Enviado por Ana Flor do Lácio em 01/11/2010
Reeditado em 27/07/2013
Código do texto: T2589778
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.